Por que Valois abandonou o Twitter

Luís Carlos Valois

Já sofri muito por estar nas redes sociais. Nelas passamos por uma espécie de exposição que, no meu caso, como juiz de direito, não precisaria passar, porque é muito mais fácil ficar do gabinete para casa, de casa para o gabinete, e viajar nos meus dois meses de férias por ano. Mas, por causa das redes sociais, já fui acusado de participar de facção, porque defendo o direito dos presos, já fui acusado de maconheiro, porque defendo a descriminalização da maconha, já fui acusado de bandido por defender a Constituição, e inclusive paro por aqui por relatar do que já fui acusado porque respondo a processos em razão de manifestações minhas, todas em defesa do devido processo legal e das garantias individuais. Contudo, nestes tempos em que, apenas como exemplo, pessoas que fumam maconha são contra a descriminalização (pensam que a maconha que fumam cai do céu), é muito difícil defender direitos, pessoas em que a gente pensa se voltam contra a gente quando defendemos o seu próprio direito, nestes tempos o risco é maior. 

Foi por isso que saí daquela outra rede, onde o pouco espaço para texto acaba deixando espaço para interpretações enviesadas, estimulando o ódio, as agressões, a violência mesmo. Lá eu tinha 75 mil "seguidores", mas nunca quis seguidor, sempre quis parceiros para apoiar e ser apoiado, reforçar ideias, ser um a mais a lutar por algumas questões que achamos importantes, inclusive com relação ao judiciário, seus defeitos, e suas mazelas, sempre pensando na sociedade de uma maneira geral, porque, repito, se pensasse só em mim, ficava do gabinete para casa, com meus filhos, minha família. Assim, pensei que lá eu estava me expondo desnecessariamente, me arriscando, inclusive arriscando as pessoas que ajudo tentando fazer um trabalho no sistema penitenciário voltado ao ser humano, escrevendo sobre o superencarceramento e sobre drogas. No Twiter a impressão que tenho é que o ódio sai com alguma vantagem nas discussões, e, às vezes, isso tudo cansa, a gente tem que se preservar, até para preservar o objeto de nossa luta. Vou ficar por aqui, onde a possibilidade de escrever um texto maior possibilita também colocar sentimentos, e eu não sou nada sem poder colocar sentimentos no meu texto. Um beijo a todos.