terça-feira, 30 de abril de 2019

O efeito Bolsonaro


Quando Bolsonaro mentiu em rede nacional ao falar sobre o "Kit Gay", acusando escolas de professores de "sexualizar" as crianças, ele contribuiu para que professores e educadores fossem desrespeitados e perseguidos.

Quando eleitores de Bolsonaro inventaram e espalharam outra fake news, dizendo que "mamadeiras de piroca" estavam sendo distribuídas nas escolas pelo PT, ele contribuiu para que professores e educadores fossem desrespeitados e perseguidos.

Quando Bolsonaro e Luciano Hang, o burguês safado e sonegador que é dono da Havan, disseram que as universidades federais destruíram o Brasil, eles contribuíram para que professores e educadores fossem desrespeitados e perseguidos.

Quando Bolsonaro e seus seguidores atacam Paulo Freire e o culpam pelos problemas na educação que são causados pela histórica falta de investimentos em educação, ele contribuiu para que professores e educadores fossem desrespeitados e perseguidos.

Quando Bolsonaro votou a favor da PEC 55, que congelou gastos em Educação Pública por 20 anos, e quando, em 2019, ele cortou 5,8 bilhões dos recursos da educação pública, ele contribuiu para que professores e educadores fossem desrespeitados, perseguidos e desvalorizados.

Professor Barbudo

As vozes na cabeça do sinistro Weintraub



Matar negro é adubar a terra

 Comentarista de arbitragem da Globo denuncia agressões racistas 

MÁRCIO CHAGAS DA SILVA para o UOL

Um dia meu filho de cinco anos me perguntou por que os pretos dormem na rua e são pobres. Expliquei que é um resquício da escravatura, que estamos tentando mudar isso, mas que é difícil. Não sei se ele entendeu. Às vezes nem eu entendo. Sendo negro em um estado racista como o Rio Grande do Sul, eu me acostumei a ser o único da minha cor nos lugares que frequento.

Fui o único negro na escola, o único namorado negro a frequentar a casa de meninas brancas e, como árbitro, o único negro apitando jogos no Campeonato Gaúcho. Hoje sou o único negro comentando esses jogos na TV local. Durante muito tempo, me calei ao ouvir alguma frase racista. Engolia, como se não fosse comigo. Mas era comigo. A verdade é que estou puto com os racistas. Todo fim de semana escuto gente me chamando de preto filho da puta, macaco, favelado. "Matar negro não é crime, é adubar a terra", eles dizem. Estou de saco cheio dessa história.

A galera saiu do armário total, não tem vergonha nenhuma. As manifestações racistas estão vindo cada vez mais ferozes e explícitas. O fato de eu estar na TV agride muito mais as pessoas do que quando eu apitava. O racista não aceita que você ocupe um espaço que você não deveria ocupar.

Dá vontade de sair na mão com esses caras, mas sei que se eu fizer isso vou perder a razão.

Em um Avenida x Internacional, em Santa Cruz do Sul, o juiz marcou um pênalti que não aconteceu e eu comentei no ar que o pênalti não aconteceu. Um torcedor foi no meu Instagram e escreveu: "Não gosta de ser chamado de preto, mas tá fazendo o quê aí?" O que tem a ver a minha cor com o meu comentário? Outro cara me chamou de "crioulo burro" e um terceiro disse que, se pudesse, me enfiaria uma banana no rabo. Os caras escrevem isso em público, com nome e sobrenome. Já acionei o Ministério Público.

Caxias do Sul, para mim, é uma das cidades mais terríveis para trabalhar. Há algumas semanas, fui transmitir um jogo no estádio Alfredo Jaconi e passei uma tarde inteira ouvindo xingamentos. Tive que ouvir que era um preto ladrão, que estaria morrendo de fome se a RBS, a Globo local, não tivesse me contratado, que eles tinham trazido banana pra mim. A cada cagada que o árbitro fazia em campo, eles se voltavam contra mim na cabine e xingavam. Eu virei um para-raios pro ódio deles.

Um dia, em um Juventude x Internacional, a arbitragem estava tendo uma péssima atuação. Houve um pênalti não marcado para o Juventude, e uns torcedores que ficavam perto da cabine se viraram para mim dizendo coisas como: "E aí, preto safado, vai falar o quê agora?" Eu já tinha dito no ar que o juiz tinha errado ao não marcar o pênalti. O clima já estava pesado desde o começo, e eu me segurava para não descer lá e ir pro soco com os caras, mas é tudo que eles querem, não é?

Uma mulher com uma criança de colo se virou para mim e começou a xingar: "Negro de merda, macaco, fala alguma coisa". Ela veio em minha direção, achei que ia me dar uma bofetada ou cuspir na minha cara, que é uma coisa que eles costumam fazer na serra gaúcha.

"O que eu fiz para você", perguntei quando ela se aproximou.

"Você não está vendo que ele está roubando, que não marcou o pênalti?", perguntou de volta, apontando ao árbitro em campo.

"Moça, tudo que você está falando eu disse na transmissão. Por que você está dizendo essas coisas para MIM?"

"É que você colocou ele lá", ela respondeu. E eu tive que explicar que quem escala os árbitros é a Federação Gaúcha e que eu não tenho nenhuma influência sobre ela.

No intervalo, um rapaz que estava com a namorada virou e disse: "Aprendeu direitinho como roubar o Juventude, né, preto de merda? Se não fosse a RBS, estaria na Restinga roubando ou morrendo de fome." Os racistas costumam usar o bairro periférico e violento da Restinga, em Porto Alegre, para me atacar. Quando essas coisas acontecem, os colegas brancos dizem para eu deixar pra lá, que eu sou maior que isso, que estamos juntos, que bola pra frente. Juntos no quê? Deixar pra lá como? Quem sente a raiva e o constrangimento sou eu. Como "estamos juntos"?

Depois de muito tempo ouvindo esse tipo de coisa, eu desenvolvi uma forma de defesa, que também é uma forma de ataque. No final do jogo, quando um cara disse que tinha trazido uma banana ("porque eu sei que tu gosta"), eu falei que gostava mesmo. "Já brinquei muito de banana com tua mãe." Os amigos dele riram, e o cara saiu com o rabo no meio das pernas.

Tem um motivo de eles sempre se referirem a bananas quando querem me agredir.

No dia 5 de março de 2014, o Esportivo jogou contra o Veranópolis, em Bento Gonçalves, uma cidade perto de Caxias, também na serra gaúcha. Essa é a região mais racista do estado. Logo que saí do vestiário já fui chamado de macaco, negro de merda, volta pra África, ladrão. Falei pros meus colegas:

"Se nem começou o jogo os caras já estão assim, imagina no final."

Acabou a partida. Jogando em casa, o Esportivo venceu por 3 a 2, e não teve nada anormal no jogo: nenhuma expulsão, nenhum pênalti polêmico, lance de impedimento controverso, nada. Mesmo assim os torcedores se postaram na saída do vestiário para me xingar.

A uma distância de uns dez metros, questionei um senhor que estava com o filho:

"É isso que você está ensinando pro seu filho?"

"Vai se foder, macaco de merda."

"Uma ótima semana pro senhor também", respondi e desci ao vestiário. A polícia não fez menção de interpelar os torcedores, mas registrei os xingamentos na súmula.

Tomei meu banho, esperei meus colegas e saí do vestiário pra pegar meu carro, que estava em um estacionamento de acesso restrito à arbitragem e funcionários dos clubes. Encontrei as portas do carro amassadas e algumas cascas de banana em cima.

Ao dar partida no carro, ele engasgou duas vezes. Na terceira tentativa, caíram duas bananas do cano de escapamento. Alguém colocou duas bananas no cano do escapamento. Meu colega Marcelo Barison ficou horrorizado.

Caminhei revoltado para o vestiário. O atacante do Esportivo Adriano Chuva, negro, me pegou pela mão e me levou um pouco mais afastado. Ele disse que ali aquilo era normal. "Você tem que ver o que eles fazem com a gente no centro da cidade." Ele dizia que os negros do time preferiam jogar fora de casa para não ser chamados de macaco em seu próprio estádio.

Ao chegar em Porto Alegre, refleti sobre o que deveria fazer. Encaminhei um texto para uns jornalistas que eu conhecia, e o caso veio a público. Francisco Novelletto, o presidente da Federação Gaúcha, me ligou, dizendo que eu deveria tê-lo procurado antes de falar com a imprensa, porque a denúncia estava prejudicando a imagem do campeonato. Ele disse que poderia pagar para consertar meu carro.

"Não quero seu dinheiro, quero respeito", eu lembro de ter dito. Novelletto também sugeriu que se eu continuasse com a denúncia, isso poderia prejudicar a minha carreira. Eles fazem essa chantagem emocional. Eu continuei com a denúncia.

No Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o Esportivo perdeu três pontos por causa desse jogo e acabou rebaixado naquele campeonato. Até hoje, quando querem me atacar, os racistas dizem que fui eu quem rebaixei o clube. Mas eu não rebaixei ninguém. O que eu fiz foi denunciar o ataque absurdo que sofri. O clube nunca entregou a pessoa que colocou as bananas no meu carro.

Ao longo do processo, me senti desamparado e desvalorizado pela federação. Eu tinha 37 anos e era aspirante à Fifa, imaginava que ainda podia ter uma carreira internacional. Mas, por causa desse episódio, fiquei tão de saco cheio que resolvi largar o apito. Apitei a final do campeonato e parei. Até hoje não posso pisar na federação. A federação nunca mais teve um árbitro negro.

Na esfera cível, processei o Esportivo por danos morais. Durante o julgamento, o advogado deles debochou do racismo que sofri no estádio. "Chamar negro de macaco não é ofensivo", ele disse. "Ofensivo é amassar o carro porque, como diz a propaganda do posto Ipiranga, todo brasileiro é apaixonado por carro." Essa frase me fez decidir abandonar o futebol. Em janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul condenou o clube a me pagar R$ 15 mil. Até hoje não pagaram.

Eu refleti muito antes de vir aqui contar tudo isso. No futebol, existe uma tendência ao silenciamento quando o assunto é racismo. Muito jogador negro que passa por isso prefere ignorar os ataques temendo ter problemas na carreira se abrir a boca. Outro dia um jogador saiu de campo na Bolívia. Todos deviam fazer o mesmo, principalmente os medalhões.

Eu posso até me prejudicar no trabalho, mas resolvi comprar a briga porque nos fóruns que reúnem negros, costumamos dizer que os racistas podem nos fazer duas coisas: ou eles nos matam ou eles nos adoecem.

Eu me recuso a morrer ou adoecer. Prefiro lutar. Quando esses ataques acontecem, minha mulher, que é negra, me dá a força que ela consegue. Ela sabe muito bem o que é isso. Meus filhos ainda não sabem. Eu fortaleci a consciência da minha negritude principalmente pelo rap, ouvindo aquela música, analisando aquela letra e me identificando com aquela situação retratada.

Os racistas não sabem, mas eles só fortaleceram minha consciência racial. Eu falo pro meu menino que ele é lindo. Enalteço o nariz e o cabelo "black power" dele, digo para ele sempre valorizar a negritude que ele tem. Minha filha tem dois anos e vou procurar fazê-la ter orgulho de si mesma, assim como eu tenho da nossa raça.

Minha briga é por mim, mas também por eles. Os racistas não vão nos matar.


Fotos de Tiago Coelho/UOL

Beth Carvalho morre no Rio


G1

A cantora e compositora Beth Carvalho morreu no Rio nesta terça-feira (30), aos 72 anos. Ela estava internada no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, Zona Sul da cidade, desde o início de 2019. A causa da morte ainda não foi divulgada.

Com mais de 50 anos de carreira e dezenas de discos gravados, Beth Carvalho é um dos maiores nomes do samba e considerada madrinha de artistas como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e Jorge Aragão – daí o apelido "Madrinha do Samba".

Um problema na coluna já afligia a cantora havia algum tempo. Em 2009, Beth Carvalho chegou a cancelar sua apresentação no show de réveillon, na Praia de Copacabana, por causa de fortes dores. Em 2012, a cantora se submeteu a uma cirurgia na coluna. No ano seguinte, Beth foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos do Tatuapé, no carnaval de São Paulo, mas não participou do desfile já por motivos de saúde. Lu Carvalho, sobrinha de Beth, foi quem representou a tia na ocasião.

Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio, em 5 de maio de 1946. De acordo com o site oficial da artista, seu contato com a música foi incentivado pela família, ainda na infância. Aos 8 anos, apareceram o gosto pela dança e o primeiro violão, que ela ganhou dos avós. Após a prisão do pai no período da ditadura, em 1964, Beth passou a ministrar aulas de música.

Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples, com a música “Por quem morreu de amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Seu grande sucesso, “Andança”, é o título de seu primeiro LP, lançado em 1969.

Beth participou de quase todos os festivais de música da época. Em 1968, conquistou a terceira posição no Festival Internacional da Canção (FIC), justamente com “Andança”.

A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e emplacou vários sucessos como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho por Olho”, “Coisinha do Pai”, “Firme e Forte” e “Vou Festejar”. Também gravou composições de Cartola, como “As rosas não falam”, e “Folhas Secas”, de Nelson Cavaquinho.

A cantora era apaixonada pela Mangueira, sua escola de samba do coração, e pelo bloco Cacique de Ramos, onde conheceu muitos de seus apadrinhados. “Beth é inquieta. Não espera que as coisas lhe cheguem, vai mesmo buscar. Pagodeira, ela conhece a fertilidade dos compositores do povo e, mais do que isso, conhece os lugares onde estão, onde vivem, onde cantam, como cantam e como tocam”, diz a biografia publicada em seu site oficial.

Em 1979, Beth se casou com o jogador de futebol Edson de Souza Barbosa e, dois anos depois, deu à luz sua única filha, Luana Carvalho.

A cantora já fez inúmeras apresentações em cidades ao redor do mundo, subiu ao palco do Carnegie Hall, em Nova York, e até teve sua música representada no espaço sideral. Em 97, “Coisinha do pai” foi programada pela engenheira brasileira da NASA, Jacqueline Lyra, para “despertar” um robô em Marte.

Em junho de 2002, recebeu das mãos de Dona Zica, viúva de Cartola, o Troféu Eletrobrás de Música Popular Brasileira, no Teatro Rival do Rio de Janeiro. Seu 26º disco, “Pagode de mesa 2” (2000), concorreu ao Grammy Latino na categoria melhor disco de samba.

Em 2004, ela gravou seu primeiro DVD, “Beth Carvalho, a Madrinha do Samba”, que lhe rendeu um DVD de Platina. O CD, que teve lançamento simultâneo ao DVD, recebeu Disco de Ouro e foi também indicado ao Grammy Latino de 2005, na categoria “Melhor Álbum de Samba”.

Beth Carvalho foi homenageada na edição 2009 do Grammy Latino, em Las Vegas. Na ocasião, a cantora foi a primeira sambista a receber um dos reconhecimentos mais importantes do Grammy, o prêmio Lifetime Achievement Awards.

Adeus, Beth. Obrigado por tudo

Venezuela resiste

Bandidos armados tentam derrubar governo eleito

Leandro Fortes

É GOLPE, QUE CHAMA

A mesma mídia que chama a Venezuela de ditadura naturalizou, como um bem imaterial, o poder de intervenção dos Estados Unidos em uma nação soberana por meio de uma ação chamada, previsivelmente, de Operação Liberdade.

Os americanos têm levado essa liberdade para muitos países, nas últimas seis décadas, deixando para trás um rastro de sangue, tortura e miséria.

O petróleo tornou-se uma maldição, para a Venezuela, no momento em que Hugo Chávez decidiu usá-lo para levar desenvolvimento social e político para os mais pobres de lá. Por sorte, ao contrário do Brasil, população e Forças Armadas venezuelanas criaram uma consciência nacional poderosa.

A Venezuela tem resistido, até agora, a todos os movimentos golpistas impostos pelos EUA, com a ajuda de hienas domésticas recrutadas junto à classe dominante local, os traidores de sempre.

Não é fácil resistir ao império, ainda mais com vizinhos lacaios por todos lados. Mas a Venezuela ainda está de pé.

120 dias de imbecilidade, vingança e ódio


120 dias de mundo cão: governo Bolsonaro é movido a vingança e ódio

Ricardo Kotscho

Foram 120 dias que vão marcar a história do Brasil para sempre: antes e depois de Bolsonaro.

Nenhuma potência estrangeira seria capaz de promover no nosso país tamanha destruição em tão pouco tempo.

É uma verdadeira guerra de extermínio contra inimigos reais ou imaginários, para não deixar pedra sobre pedra da antiga civilização brasileira.

Os alvos principais são as mulheres e os gays, os professores e os aposentados, os sem terra e os defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, os artistas e os intelectuais, as universidades e os estudantes, os índios e os negros, os jornalistas livres e todos os que tiveram a ousadia de conquistar a cidadania nos últimos anos.

Vivemos dias de cão, sem tréguas, desde a posse do tenente aloprado promovido a capitão, depois de ser reformado pelo exército por graves atos de indisciplina.

Sem nenhum programa de governo, Bolsonaro assumiu apenas com uma lista de vinganças:


  • contra os fiscais do Ibama que o multaram por pescar em local proibido no litoral fluminense.
  • contra os radares e os fiscais de trânsito que multaram sua família por variadas e graves infrações.
  • contra o movimento dos sem terra que ocuparam fazendas dos seus aliados das bancadas do boi, da bala e da bíblia.
  • contra o Mais Médicos, o Minha Casa Minha Vida e todos os programas sociais que melhoraram a vida dos mais pobres.
  • contra o movimento LGBT e o “paraíso gay”, sua obsessão dos tempos de deputado do baixo clero.
  • contra a procuradora-geral Raquel Dodge, que o denunciou ao STF por crime de racismo.
  • contra o “marxismo cultural”, uma fantasia delirante inventada para combater a Educação e a Cultura.
  • contra a política externa independente do Itamaraty que abriu o Brasil ao mundo.
  • contra os jovens negros que dançavam alegres num anúncio do Banco do Brasil.
  • contra todos os conselhos federais formados pela sociedade civil.

A lista é muito maior e não cabe neste espaço, mas os caros leitores poderão completar na área de comentários deste blog.

Como resultado dessa guerra ideológica insana, assistimos, impávidos, à liberação da posse e do porte de armas pelos proprietário rurais para estimular a guerra no campo; o avanço da miséria, da fome e do desemprego nas cidades e às ameaças para criminalizar movimentos sociais.

O governo do capitão é, acima de tudo, anticivilizatório.

É antieducação, anticultura, antinatureza, antisoberania, antisocial, antiprogresso, antidireitos, antidemocrático, antifeminismo _ antipovo, em resumo.

Quem vê o capitão discursando de improviso para plateias amestradas, nos palanques de onde ainda não desceu, falando aos berros, com os olhos injetados, ameaçadores, logo se lembra de Fernando Collor em seus últimos dias de agonia antes do impeachment.

O pior é que este governo ainda está só no começo e não há nenhum sinal de reação da sociedade e dos líderes da oposição, divididos e perdidos.

Como escreveu o Jânio de Freitas, domingo, na Folha, o Palácio do Planalto virou picadeiro de um circo de horrores.

A cada dia, apresentam um novo espetáculo grotesco, com pernadas, tuitadas e puxadas de tapete, envolvendo generais e filhos do presidente, bobos da corte e deslumbrados olavetes.

Se o governo não tivesse feito nada nestes quatro meses, estaríamos no lucro, mas é inesgotável sua caixa de maldades.

Alguém poderá perguntar: se o governo é contra tudo, é a favor do que, defende quem?

Basta ver quem bancou a vitória do capitão nas urnas: o mercado financeiro daqui e de fora, a turma do dinheiro gordo da Fiesp e os latifundiários, além dos seus fanáticos seguidores da extrema direita cabocla que continuam promovendo guerrilhas nas redes sociais.

É só para eles que Bolsonaro governa.  O resto que se vire nos 30.

Ainda bem que hoje é aniversário da minha neta caçula, a linda e capeta Olguinha, a única efeméride que tenho para comemorar neste dia.

E vamos que vamos. Para onde?

Vida que segue.

Laerte e a hidra da desinformação


Dieta frugal



Governo de milicianos promove balbúrdia na educação


Universidade que debate os desafios do país e forma jovens para a cidadania deveria ser premiada. Punir instituições com corte de verbas porque se discorda dos eventos promovidos é de um autoritarismo atroz. Qual o próximo passo? Invadir o campus com o Exército, como na ditadura?

A alegação do ministro-censor é de que há "balbúrdia" nas universidades. Balbúrdia é corte no bandejão, nas bolsas de estudo. É perseguir professores. É, do alto da ignorância, atacar áreas do conhecimento como inúteis. Balbúrdia é o que esse governo promove na educação.

#AOVIVO - Acompanhe pela teleSUR a situação com a tentativa de golpe na Venezuela

Presidente sociopata incentiva criminosos no país inteiro

Bolsonaro agora incentiva as milícias rurais


Jair Bolsonaro recebeu apoio maciço dos ruralistas. Agora usa o cargo para pagar a fatura eleitoral. Ontem o presidente foi a uma feira agrícola e atacou os fiscais do Ibama. Criticou as multas a desmatadores e prometeu “uma limpa” no órgão que protege as florestas.

Num ambiente em que ainda é tratado como “Mito”, Bolsonaro não precisou se esforçar para agradar. Ele sinalizou uma nova interferência no Banco do Brasil para baixar juros cobrados aos ruralistas. Em seguida, anunciou uma espécie de salvo-conduto para o fazendeiro que matar alguém em sua propriedade. “Ele responde, mas não tem punição”, explicou.

Os afagos do presidente às milícias urbanas já eram conhecidos. Agora ele incentiva a atuação das milícias rurais. O Brasil tem uma longa tradição de pistolagem no campo. Com a mudança proposta ontem, os matadores podem se livrar de qualquer punição — desde que o alvo dos tiros seja rotulado como “invasor”.

O discurso de Bolsonaro alarmou religiosos que acompanham os conflitos pela terra. “Não sei se ele percebe a consequência dessas declarações irresponsáveis, que insuflam a violência”, critica a freira americana Jean Anne Bellini, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra. “É um sinal verde para resolver os conflitos na base da força”, acrescenta.

Há 42 anos no Brasil, a freira diz que os relatos de intimidação armada têm aumentado nos últimos meses. “Os ânimos estão exaltados, e um pronunciamento desses só piora as coisas”, lamenta. “Já havia muito fazendeiro que pensava assim, mas eles tinham pudor de dizer. Agora perderam esse pudor”.

Mestre em educação pela Universidade Duke, ela explica que os bandos rurais costumam ter ligação com o Estado. “Há uma mistura entre pistoleiros, grileiros de terra e policiais de folga. São milícias de fato”, afirma.

Jean Anne era amiga da missionária Dorothy Stang, assassinada a mando de fazendeiros em 2005. O crime chamou a atenção do mundo para os riscos que os defensores da reforma agrária correm no Brasil. Passados 14 anos, perguntei à freira se ela se sente mais ou menos segura. “Menos segura, com certeza”, respondeu.

Comportamento do Sinistro da Educação é criminoso


Luis Felipe Miguel

Não se trata apenas de incompetência, burrice ou cegueira ideológica. O comportamento do ministro é criminoso. Trata-se de um projeto de destruição da educação superior brasileira.

Ele diz que vai cortar verba de universidades que fazem "bagunça e evento ridículo", como eventos políticos, manifestações partidárias e festas. Mostra, com a declaração, limitação de vocabulário e desconhecimento do dia a dia universitário, ambos chocantes em alguém que ocupa o cargo que ocupa.

Já foram atingidas a UnB, a UFBA e a UFF.

Instado a definir "bagunça", Weintraub explicou: "Sem-terra dentro do campus, gente pelada dentro do campus".

Sem-terra no campus é a universidade cumprindo seus deveres de inclusão social e diálogo com a sociedade. Gente pelada no campus é um tributo às fantasias do olavismo, que nem Freud explica.

Imagino que intuindo que suas explicações eram bem insatisfatórias, ele improvisou, dizendo que as instituições atingidas, presumivelmente por causa da "bagunça", estavam apresentando desempenho aquém do exigido. Mas não apresentou nenhum dado.

Até porque os dados o contradizem. Cito a matéria do Estadão:

"No entanto, elas se mantêm em destaque em avaliações internacionais. O ranking da publicação britânica Times Higher Education (THE), um dos principais em avaliação do ensino superior, mostra que Unb e UFBA tiveram melhor avaliação na última edição. Na classificação das melhores da América Latina, a Unb passou da 19.ª posição, em 2017, para 16.ª no ano seguinte. A UFBA passou da 71.ª para a 30.ª posição. A UFF manteve o mesmo lugar, em 45.º. Segundo a publicação, as três se destacam pela boa avaliação em ensino e pesquisa. E Unb e UFBA aparecem entre as 400 melhores instituições do mundo em cursos da área da saúde."

O que há, pura e simplesmente, é perseguição ideológica. Não atinge só UnB, UFBA e UFF: é toda a autonomia universitária que está sob mira.

Governo fascista ataca as universidades


Se não ficou claro: o que o Weintraub quer fazer é implantar censura usado do aparato estatal. Não houve qualquer queda de desempenho, ele está esperneando e ameaçando cortes draconianos porque algumas universidades sediaram eventos críticos ao governo.

Quando o MEC do governo Temer ameaçou a UnB por causa de um curso ELETIVO que descrevia os eventos de 2016 como golpe, não faltou ingênuo pra achar a ingerência normal. Agora tenham certeza que esse novo arbítrio vai ser apoiado pela turminha das 'liberdades individuais".

Existe também a óbvia tentativa de dividir (ainda mais) a comunidade universitária. Weintraub vai punir universidades por causa de eventos estudantis ou de certos departamentos, continuando sua cruzada contra as humanidades e qualquer campo que não esteja na cartilha do guru.

No futuro, esperem retaliações contra instituições que queiram discutir mudanças climáticas, contaminação por agrotóxicos, perda de biodiversidade, desmatamento, impactos das reformas. As universidades não terão direito a fazer ciência que não esteja de acordo com a cartilha.

Essa declaração de Bolsonaro é uma forma de legitimar os farsantes que eles têm ema alta conta (como o já célebre Ricardo Felício) e dizer que toda discussão deve ter "dois lados". O ataque começa contra as Humanas mas vai atingir todos os campos.

Se escola tiver partido, que seja dos dois lados, defende Bolsonazi
Mais cedo, presidente divulgou o vídeo de uma aluna que confrontou professora


Sabe aquele lobby do amianto? Pois é, as instituições médicas logo serão acusadas de "esquerdismo" se não chamarem o lobista, quer dizer, o ESPECIALISTA INDEPENDENTE de um Instituto Amianto do Bem para "debater" se ele é cancerígeno ou não.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Água e sabão é pouco



Chico Caruso, cartunista de extrema-direita de jornal de extrema-direita, retrata Lula de forma inusitada

Bolsonaro trabalhando pelo povo


Veja o pronunciamento que Lula fez antes da entrevista e foi censurado pela Folha de S. Paulo

Minha condenação injusta e minha prisão ilegal há mais de um ano são mais que o resultado de uma farsa jurídica. São consequências diretas do fracasso social, econômico e político do golpe do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Aquele golpe começou a ser preparado em 2013, quando a Rede Globo de Televisão usou sua concessão pública para convocar manifestações de rua contra o governo e até contra o sistema democrático. Tudo valia para tirar o PT do governo, inclusive a mentira e a manipulação pela mídia.

Isso aconteceu quando nossos governos tinham alcançado nossas maiores marcas. Multiplicamos o PIB por várias vezes, chegamos a 20 milhões de novos empregos formais, tiramos 36 milhões de pessoas da miséria, levamos quase quatro milhões de pessoas às universidades, acabamos com a fome, multiplicamos de modo espetacular a produção e comércio da agricultura familiar, multiplicamos por quatro a oferta do crédito, e isso em meio a uma das maiores crises do capitalismo na história. E ainda assim praticamente quadruplicamos as nossas exportações.

O Brasil que estávamos criando junto com o povo e as forças produtivas nacionais foi retratado pela Rede Globo e seus seguidores da imprensa como um país sem rumo e corroído pela corrupção.

Nem em 1954 contra Getúlio, nem em 1964 contra Jango se viu tanta demonização contra um partido, um governo, um presidente. Centenas de horas do Jornal Nacional e milhares de manchetes e capas de revistas contra nós sem nenhuma chance de defender nossas opiniões.

Mesmo assim, em 2014 derrotamos os poderosos nas urnas pela quarta vez consecutiva.

Para quem não conhece o Brasil, nossas elites dizimaram milhões de indígenas desde 1500, destruíram florestas e enriqueceram por 300 anos às custas de escravos, tratados como se fossem bestas, colonos e operários tratados como servos, divergentes como subversivos, mulheres como objetos e diferentes como párias. Negaram terra, dignidade, educação, saúde e cidadania ao nosso povo.

Mas a Globo, o mercado e os representantes dos estrangeiros, os oportunistas da política e os exploradores da gente simples disseram que era preciso tirar o PT do governo para resolver os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Hoje, o povo sabe que foi enganado.

Criamos o PT em 1980 para defender as liberdades democráticas, os direitos do povo e dos trabalhadores. O acúmulo das lutas do PT e da esquerda brasileira, do sindicalismo, dos movimentos sociais populares nos levou a consolidar um pacto democrático na Constituinte de 1988.

Esse pacto foi rompido pelo golpe do impeachment em 2016 e por seu desdobramento que foi minha condenação sem culpa e minha prisão em tempo recorde para que eu não disputasse as eleições.

Reafirmo minha inocência, comprovada por todos os meios de prova nas ações em que fui injustamente condenado pelo ex-juiz Sérgio Moro, sua colega substituta e três desembargadores acumpliciados do TRF-4.

Repudio as acusações levianas dos procuradores da Lava Jato e denuncio Dallagnol, que nunca teve a coragem de sustentar, ante meus olhos, as mentiras que levantou contra mim, minha esposa e meus filhos.

Mais de um ano depois de minha prisão arbitrária está cada dia mais claro para o povo brasileiro que fui injustiçado para não ser candidato às eleições presidenciais no ano passado, nas quais, segundo todas as pesquisas de opinião pública, teria sido eleito em primeiro turno contra todos os adversários.

O povo sabe que minha prisão teve motivos políticos. Posso reafirmar com a consciência tranquila por ser inocente. Os que me condenaram, não.

Fui condenado sem prova e sem crime. Minha pena ilegal foi agravada pelo arbítrio de três desembargadores do TRF-4, tão parciais quanto o juiz Sérgio Moro.

Os recursos de minha defesa laceados em argumentos sólidos foram ignorados burocraticamente pelo STJ. Meus direitos políticos foram negados, contra a lei, a jurisprudência e uma decisão da ONU pela justiça eleitoral.

Mesmo assim, minhas ideias e meus ideais continuam vivos na memória e no coração do povo brasileiro. Mantenho minha esperança e confiança no futuro num julgamento justo, por causa das generosas manifestações de solidariedade que recebo todos os dias aqui em Curitiba por parte dos companheiros maravilhosos da Vigília e de todos os cantos do Brasil e do mundo.

Eu sei muito bem o lugar que a história nos reserva, meus companheiros e companheiras. E sei também quem estará na lixeira dos tempos, quando o povo vencer mais essa batalha. Mais importante do que isso: sei que a injustiça cometida contra mim recai sobre o povo brasileiro, que perdeu direitos, oportunidades, salário justo, emprego formal, renda e esperança num futuro melhor.

Hoje, estou aqui para falar com jornalistas, como sempre fiz ao longo da minha vida. Na verdade, para falar com o nosso povo. Esse direito me foi negado por sete meses e durante o processo eleitoral, o que estava absolutamente fora da lei.

Mas guardo comigo uma certeza: preso ou livre, censurado ou não, tenho com o povo brasileiro uma comunhão eterna que o tempo não vai apagar. Contra todos os poderosos, contra a censura e a opressão, estaremos sempre juntos por um Brasil melhor, mais justo, com oportunidades para todos.

Obrigado!

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Bolsonaro dirige o país como ele e sua família conduzem os próprios carros

O motorista do Brasil 

“Decisão nossa: não teremos mais nenhuma nova lombada eletrônica no Brasil”, declarou o presidente Jair Bolsonaro no dia 7 de março. Segundo ele, “é quase impossível viajar sem receber uma multa”.

Na visão do chefe da República, o problema não é o motorista imprudente, mas o suposto excesso de vigilância com objetivo de dar lucro a quem explora o setor.


Dias depois daquela declaração, o governo anunciou o envio ao Congresso de projeto para aumentar de 20 para 40 pontos o limite exigido para a suspensão da carteira de habilitação, em um período de 12 meses.

Bolsonaro já tentou, sem sucesso, emplacar uma proposta parecida quando era deputado. Além de diminuir o rigor da punição, ele pretende aumentar o prazo de renovação da CNH de cinco para dez anos.

Reportagem publicada pela Folha neste domingo (28) mostrou que a família do presidente está longe de ser um exemplo de boa conduta no trânsito. Tem de tudo nos prontuários: avanço no farol vermelho, excesso de velocidade, estacionar em local proibido, falar ao telefone durante a viagem e falta de licenciamento.

A primeira-dama, Michelle, e Flávio Bolsonaro, senador e filho do presidente, estouraram o limite de 20 pontos. O Detran-RJ alega que ainda não abriu processo para suspender a carteira da mulher do presidente por causa de um inacreditável passivo de 697 mil ações do tipo.

Em cinco anos, Bolsonaro cometeu seis infrações, duas delas “gravíssimas”. O presidente, segundo os registros do Rio, trafegou em uma faixa exclusiva para ônibus, em Niterói.

Bajulado com motoristas e carros oficiais, Bolsonaro nem precisa dirigir mais. Mesmo assim, conseguiu a proeza de cometer uma infração ao dar uma escapada de moto no Guarujá no feriado de Páscoa.

A Folha mostrou que caiu o número de mortes onde há radares. Bolsonaro não está nem aí. Age com argumentos e teorias que muitas vezes não fazem sentido. Dirige o país como ele e sua família conduzem os próprios carros

Os expulsos do Banco do Brasil


Sexismo virou critério para a estética publicitária 
Eugenio Bucci

O presidente da República já deu mostras enfáticas, reiteradas e indisfarçáveis de que não hesita em atear fogo no interesse público para promover suas predileções moralistas, antiquadas e fascistizantes.

Foi assim quando, para bajular o governo de extrema-direita de Israel, criou uma enorme confusão nas relações comerciais do Brasil com os países árabes. Foi assim quando abriu mão do princípio da reciprocidade e, unilateralmente, dispensou os americanos de terem visto para entrar no Brasil (embora os brasileiros sigam obrigados a trilhar as catacumbas da burocracia para ter um carimbo no passaporte que lhes permita pisar em solo estadunidense) --tudo para prestar vassalagem ao seu ídolo Donald Trump, eleito pelas falanges bolsonáricas como o farol do conservadorismo mundial. Foi assim, de novo, quando interveio atabalhoadamente numa decisão interna da Petrobras e travou o reajuste do preço do diesel e derrubou o valor da companhia em dezenas de bilhões de reais.

A mesma coisa aconteceu na semana passada, quando Bolsonaro ordenou que o Banco do Brasil tirasse do ar um anúncio de TV dirigido ao público jovem, cujos hábitos são menos caretas do que preconiza o discurso hoje em voga no Planalto.

De uma tacada, o presidente desrespeitou a Petrobras, enxovalhou (de novo) suas vãs promessas liberais, humilhou gays, trans, bissexuais e jovens em geral, feriu a dignidade de todos e todas que não cultivam intolerância sexual de nenhuma espécie e decretou a expulsão simbólica do Banco do Brasil de todos os homens que não se definam por usar apartamentos funcionais para "comer gente" e de todas as mulheres que não achem que as meninas devam se vestir de rosa e os meninos de azul.

Para o presidente, qualquer pessoa que não partilhe de sua doutrina de gênero é "persona non grata" no Banco do Brasil. Com ele, o sexismo se tornou critério ordenador da estética publicitária e filtro de seleção de correntistas de uma casa bancária que se definia como pública. Ele quer um Banco do Brasil em que somente os heterossexuais possam abrir conta, e se isso implicar perda de clientes, de valor, de capital, não importa. Para ele, o patrimônio do povo brasileiro está hierarquicamente subordinado à moral sexual que ele professa (ou acha que professa).

Sigmund Freud, certa vez, em correspondência ao amigo suíço Oskar Pfister, escreveu que às vezes era preciso agir como o artista que compra suas tintas com o dinheiro do orçamento doméstico e depois, ao pintar suas telas, põem fogo nos móveis para que sua (ou seu) modelo não sinta frio. Freud via nessa atitude do pintor um compromisso radical com a arte. O artista, porém, queima os móveis da casa dele, particular. Freud jamais fez a mesma recomendação a um governante.

Já tivemos por aqui presidentes que vendiam estatais para pagar salários correntes e outros assaltavam o erário para comprar gravata de butique e financiar divertimentos de pouco decoro. Mais raros são os que põem fogo na coisa pública. O imperador romano Nero fez isso em Roma, já sabemos, mas ele pelo menos achava bonito ver a cidade em chamas. O caso presente está mais para a feiura do que para a beleza. O presidente não se deleita ao ver as cifras em combustão, apenas acha feia, repulsiva, a imagem de quem não é como ele acha que é, acha feio o marcador sexual que não é igual ao que ele julga ser o seu.

O chefe de governo age como se precisasse, doentiamente, extirpar de seu horizonte visual qualquer signo de sexualidades não convencionalíssimas. Contemplá-las, para ele, parece ser insuportável. Freud certamente não o classificaria como um "artista" doido. Talvez tivesse outra pista para interpretar tamanha obsessão, mas isso não é da nossa conta.

Voltando então ao estrito interesse público, é o caso de alertar: se deixarmos --e até aqui estamos "médio" deixando--, esse governante vai seguir usando o Estado como combustível de suas fogueiras inquisitoriais. Primeiro, vai lançar suas labaredas obscurantistas (que as há) para expulsar a homoafetividade do Banco do Brasil. Depois, vai passar aos expurgos mais definitivos.

O ultradireitismo da Folha e a ordem unida da Globo

Jânio, Singer e o alinhamento da Folha com o Instituto Millenium

Luis Nassif

O impeachment foi o fator de coesão de grupos dos mais diversos, que tinham em comum o antilulismo. Completado o golpe, com a eleição do inacreditável Jair Bolsonaro, há uma perda de rumo total dos diversos grupos de oposição.

O momento seria de fortalecimento de um centro democrático, tendo como bandeira unificadora a volta da democracia. Em vez disso, cada grupo tratar de juntar forças em torno dele próprio, cada qual apostando em um pós-Bolsonaro e sem conseguir curar as feridas das batalhas anteriores.

É por aí que se entende as movimentações da Folha de S.Paulo, agora sob o comando de Luiz Frias.

O fim da coluna de André Singer, da coluna de 5ª feira de Jânio de Freitas e, ao mesmo tempo, o convite para que Hélio Beltrão Filho e Armínio Fraga sejam colunistas do jornal, é uma volta atrás na ideia de um jornalismo mais plural, como o dos anos 80 e 90. Demonstra o alinhamento total com o ultraliberalismo reunido em torno do Instituto Millenium e da Casa das Garças. Aliás, apresentando as soluções liberais até sobre os problemas de concentração de renda e combate à pobreza – que serão os temas da coluna de Armínio Fraga.

Os ultraliberais ainda não se deram conta de que a construção de um país exige o aprimoramento da ação do Estado, não sua eliminação.

Ao mesmo tempo, o silêncio tonitruante de todos os veículos da Globo – e de todos os jornalistas globais no Twitter – em relação à entrevista que Lula concedeu ao El Pais e à Folha, é um sinal candente de que nem o espectro aterrorizador de Bolsonaro foi capaz de diluir o antilulismo e permitir a consolidação das forças democráticas para a batalha que interessa: civilização vs barbárie..

Aliás, louve-se a capacidade da Globo de impor ordem unida a seus jornalistas. Disciplina militar.

Saudades da política


Celso Rocha de Barros
Desde que desistimos da política, o que parou foi a resolução de problemas
Lula deu entrevista à Folha e ao El País na última sexta-feira (26). Foi a entrevista que deveria ter acontecido durante a campanha, se as instituições brasileiras não tivessem se acovardado na esperança de serem poupadas por Bolsonaro. E aí, instituições, funcionou?

A entrevista teve altos e baixos. Lula reproduziu muito do discurso petista ruim dos últimos anos, como a teoria da conspiração de que a Lava Jato teria sido montada a partir do Departamento de Justiça norte-americano. Forçou, Lula. Parágrafo para manter o emprego na Folha

Em outros momentos, como na piada sobre "O Lula está preso, babaca!", nos fez lembrar do sujeito que o Brasil consagrou como o maior político de sua geração, um sujeito que liderava a campanha presidencial de 2018 de dentro da cadeia.

Em mim o efeito foi o seguinte: a entrevista me fez ter saudade da política.

Para entender por quê, entenda o seguinte: o maior elogio recente a Lula foi feito por Jair Bolsonaro. 
Recentemente, o presidente da república disse que não queria negociar com o Congresso para não acabar jogando dominó com Lula e Temer na cadeia.

O que Bolsonaro está dizendo é que Lula foi preso por fazer as coalizões necessárias para governar no sistema brasileiro pré-Lava Jato, que Lula não teria conseguido governar sem jogar o jogo como ele era jogado até então. E que a mudança nas regras do jogo, ocorrida durante o mandato de Lula, é que o colocou na cadeia. E que ele, Bolsonaro, não sabe jogar o jogo sem ser preso.

Em vez disso, Bolsonaro prefere desmontar as instituições, como faz o bolivarianismo reacionário de Viktor Orbán. Alguém no PT, aliás, parece concordar com Bolsonaro: nos documentos pós-impeachment do partido, o clima é de "bom, se as alianças nos colocaram na cadeia, vamos pro pau".

Enquanto o clima for esse, eu, aqui, continuarei com saudades da política.

Política mesmo, feita por adultos, mesmo que nem sempre fossem os melhores adultos. PT e PSDB (mas poderia ser PDT e DEM, PSB e MDB) brigando, brigando feio, mas com um certo senso do que é teatro e do que é divergência real, e alguma disposição de negociar o que é real.

Nada do clima de incêndio na zona que é o governo Bolsonaro, nada do espetáculo de macacos jogando as próprias fezes uns nos outros que foi o Brasil desde 2014.

Desde que desistimos da política, os escândalos de corrupção não pararam, o que parou foi a resolução de problemas.

E, em vez de PT vs. PSDB, temos militares contra Olavo. Temos Olavo, meus amigos, vejam só o quanto descemos. E temos o juiz Marcelo Bretas julgando políticos rivais de seu aliado Wilson Witzel, enquanto cogita entrar na política.

E temos Sergio Moro ministro da Justiça de um governo que quer desmontar o Supremo Tribunal Federal. E temos a Polícia Federal tentando melar a entrevista de Lula. E nada passa no Congresso, e nada é feito para reduzir o desemprego, e o MEC é saqueado por fanáticos extremistas, e o ministério do Meio Ambiente trabalha pelo desmatamento, e o Brasil passa vergonha entre as nações como um país que está bêbado.

Isso é a política sem partidos. Os interesses não têm como se expressar em público a não ser como lobbies ou como memes, ambos bem representados no ministério Bolsonaro. E, como sempre, tudo que tenta ocupar o lugar da política vira política.

A Civilização contra-ataca

Na Espanha venceu a palavra de ordem "No Pasarán". Ultimamente a ultra-direita vêm passando, como aqui. Foi usado lá o mesmo rolo compressor das fake news, mas não colou. As pesquisas, induzidas pelas redes sociais, erraram. Pode ser o início da reação no mundo civilizado.

Palmério Dória

Pedro Sánchez, do PSOE

domingo, 28 de abril de 2019

Ganância


A marcha do obscurantismo

Bernardo Mello Franco
A cruzada ideológica de Bolsonaro vai muito além da defesa de ideias retrógradas. O objetivo é asfixiar quem não concorda com seus valores. 
Num intervalo de dois dias, Jair Bolsonaro censurou uma campanha publicitária, fez novas declarações homofóbicas e ameaçou cortar vagas em cursos de ciências humanas. As três ações mostram que o presidente está determinado a radicalizar na agenda ideológica. Mesmo quando é alertado para os efeitos negativos na economia e na imagem do país no exterior.

Bolsonaro interferiu no Banco do Brasil para vetar uma propaganda com foco da diversidade. A campanha proibida não tinha conteúdo político. O que incomodou o presidente foi a presença de jovens tatuados, rapazes de cabelo comprido e uma atriz transexual. Tipos comuns nas ruas do país, que o BB e seus concorrentes privados desejam atrair como correntistas.

O vídeo custou R$ 17 milhões e estava no ar havia duas semanas. Além de jogar o trabalho no lixo e derrubar um diretor do banco, Bolsonaro determinou a censura prévia a toda a publicidade do governo, informou o repórter Gabriel Mascarenhas na coluna de Lauro Jardim. O próximo passo pode ser a recriação do DIP, o finado Departamento de Imprensa e Propaganda.

Em café com jornalistas, o presidente renovou seu estoque de declarações preconceituosas. Referindo-se ao turismo internacional, disse: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

A fala é irresponsável em vários sentidos. Reforça a discriminação e estimula o turismo sexual, ao sugerir que as brasileiras são mercadoria à venda. Além disso, prejudica um setor que gera emprego e traz dólares ao Brasil.

Na sexta, Bolsonaro anunciou o plano de “descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)” e “focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”.

O presidente endossou as palavras do ministro Abraham Weintraub, para quem os filhos de agricultores não podem sonhar com um diploma de antropologia. Antes de assumir o cargo, ele havia afirmado que os comunistas controlam os bancos, jornais e as grandes empresas. Seria o caso de dar risada se o autor da frase não estivesse à frente de uma área estratégica para o país.

A ameaça às faculdades também se enquadra na guerra cultural que Bolsonaro insiste em travar, usando o governo como arma e os brasileiros como cobaias. O presidente vê as universidades públicas como antros de subversivos. Numa simplificação grosseira, divide o meio acadêmico entre cursos profissionalizantes e escolinhas de doutrinação esquerdista. É uma visão obtusa, que ignora a necessidade de investir em conhecimento e a autonomia universitária, assegurada pela Constituição.

A cruzada do capitão vai muito além da defesa de ideias retrógradas. O objetivo é asfixiar quem não concorda com seus valores e não se encaixa em seu modelo de família. Há poucos dias, o deputado Eduardo Bolsonaro foi a Budapeste tirar fotos com o premiê Viktor Orbán, um dos autocratas que inspiram o clã presidencial. Para saber onde a nossa marcha obscurantista pode dar, vale ler sobre o governo de extrema direita da Hungria.

Nova propaganda do Banco do Brasil

Branco no Brasil from zcarlos on Vimeo.

Estado liberal é a babá dos ricos e o carrasco dos trabalhadores


O Estado pode pagar e vai continuar pagando mais de 470 milhões para as filhas de militares que recebem durante a vida inteira pensões integrais e nunca contribuíram com um centavo para os cofres públicos; o Estado pode pagar aposentadoria para um juiz que se aposenta com benefício de R$ 35,1 mil e receberá R$ 4,77 milhões a mais do que contribuiu para a sua Previdência. 

O que o Estado não pode é garantir aposentadoria de ao menos 1 salário mínimo e o reajuste pela inflação da miserável aposentadoria para quem trabalhou e dedicou a sua vida para o desenvolvimento do Brasil e que teve que trabalhar até os 65 anos para conseguir se aposentar. 

Segundo o IBGE dos 88,9 milhões de trabalhadores ocupados em 2017, 44,4 milhões recebiam, em média, R$ 747 por mês. Não tem como aceitar a crueldade proposta pelo desgoverno do atraso, da ignorância e do ódio como política oficial de Estado que quer condenar a maioria dos trabalhadores brasileiros a uma velhice na mais absoluta miséria enquanto preserva intactos os privilégios seculares de suas oligarquias.

Nem tudo, porém, é galope na cruzada do Cavalão

Árvore é de esquerda
Antonio Prata

Ignorantes acusam Jair Bolsonaro de não se empenhar na aprovação da reforma da Previdência. Nem na formação de uma base parlamentar. Nem na condução do seu próprio governo. Ora, o capitão tem uma missão mais importante do que o prosaico governar: desmascarar os insuspeitos agentes comunistas-globalistas infiltrados entre nós.

A árvore, por exemplo, agora sabemos, é de esquerda. A árvore é dona da terra em que vive? Não. A semente germina sem permissão na propriedade de um cidadão de bem que paga impostos e gera empregos. Árvore paga impostos? Não. Gera empregos? Não, a árvore fica o dia inteiro parada, sugando o solo e inviabilizando o direito de quem quer produzir. Ainda bem que temos o ministro Ricardo Salles: por tudo o que tem feito à frente da pasta do Meio Ambiente, podemos acreditar que está comprometido a acabar, em breve, com todas as árvores deste país.

Radar nas estradas: ideologia de gênero, tá ok? O cidadão de bem vem costurando a 150 km/h, vê o radar e baixa pra 80 km/h. Dali a pouco, emasculado, o cidadão já vai começar a fazer o quê? A dar pisca-pisca. Ui, pisquei! Daí pra engatar uma ré e aparecer de mãos dadas com um bigodudo é uma pisada na embreagem. Felizmente, o presidente vai acabar com essa viadagem de radar. (No passado, Bolsonaro disse que preferia um filho morto num acidente a um filho gay. Disse também que para o Brasil dar certo tinha que matar uns 30 mil. Talvez daqui a pouco ele atinja os dois objetivos numa canetada só. Coisa de gênio).

Depois de desmascarar os criptoesquerdistas “árvore” e “radar”,parece redundante falar sobre cinema, arma óbvia do marxismo cultural. Não tão óbvias, contudo, são as táticas da súcia audiovisual, que merecem ser destrinchadas. Em 2018, para disfarçar anefasta ideologia de esquerda, os dissimulados cineastas fizeram com que os dez filmes brasileiros mais vistos fossem películas acima de qualquer suspeita: “Nada a Perder”, “Fala Sério, Mãe!”, “Os Farofeiros”, “Os Parças”, “Tudo Por um Popstar”, “Minha Vida em Marte”, “Detetives do Prédio Azul 2”,“ Uma Quase Dupla”, “O Candidato Honesto 2”e “Crô em Família”. Juntos, os filmes levaram 23.899.308 espectadores aos cinemas, geraram dezenas de milhares de empregos e bilhões — eu disse bi, bilhões — de reais. Tudo isso pra quê? Para criar uma cortina de fumaça e ocultar filmes como “O Processo”, mimimi “golpista”, “Ex-Pajé”, coitadismo “indiozista” e “Tinta Bruta”,“ gayzismo” puro. Tais obras degeneradas levaram ao cinema menos do que 1% do público dos top 10. Basta, no entanto, que um único jovem compre tais teses para que se justifique o fato de o TCU, alinhado com as visões de nosso “duce”, crítico sempiterno da mamata dos artistas com dinheiro do povo, ter parado a Ancine e cancelado, por tempo indeterminado, o cinema nacional.

Nem tudo, porém, é galope na cruzada do Cavalão. Nesta semana, Bolsonaro interrompeu a caça aos comunistas devido a um problema familiar. O filho Carlos, também conhecido como Tonho da Lua, enciumado por Mourão ter mais acesso do que ele aos playgrounds de Brasília, sequestrou a senha do Twitter presidencial. Em síndrome de abstinência, Bolsonaro saiu por aí castrando a juventude em propaganda de estatal e alertando o país sobre a ameaça da amputação peniana. Mais quixotesco do que o próprio Quixote, a bisonha figura parou de atacar moinhos de vento e agora os enxerga avançando sobre si, as pás giratórias ameaçando sua lança impotente.

Sangue nos olhos



LULA, PAZ, AMOR E SANGUE NOS OLHOS

Todo mudo já comentou. Sei que vou chover no molhado, mas é forçoso reafirmar: a entrevista de Lula, concedida a Monica Mônica Bergamo e Florestan Fernandes Júnior é um documento político solar. Lula se apresenta em grande fase - contrariando expectativas de que estaria deprimido ou desinformado - e com inigualável verve. Faz o que todo quadro político de primeira linha deve fazer: coloca-se sempre na ofensiva.

Há trechos memoráveis e tiradas geniais. Mas o melhor - a meu ver - está no final. É quando o presidente convoca o povo brasileiro à luta, a ir às ruas defender nossas conquistas e nos opormos à destruição da Previdência. É luta!, repete duas vezes.

Lula não cai na armadilha de colocar seu drama como o centro da vida nacional, mas pedagogicamente mostra como a prisão é parte de uma engrenagem feita para moer a vida dos de baixo e acabar com a soberania nacional.

O ex-metalúrgico nunca foi santo de minha devoção. Nunca apreciei seu discurso despolitizante no governo e acho que o PT precisa assumir suas responsabilidades por estarmos onde estamos.

Mas fiquei profundamente impactado ao realizar - juntamente com Ivana Jinkings, Maria Inês Nassif e Juca Kfouri - as mais de 12 horas de conversas que resultaram no livro "A verdade vencerá", publicado pela Boitempo ano passado. Sua cortante inteligência, agilidade mental, enorme sensibilidade e cultura política são quase únicas. Tive a felicidade de conhecer Hugo Chávez e Fidel Castro em ação. Lula compõe com eles o trio de grandes de nosso tempo, que pode incluir um quarto mosqueteiro, Pepe Mujica.

Todos os quatro latinoamericanos, todos da periferia do mundo, todos trazendo dentro de si tragédias e êxitos quase extremos.

A entrevista de Lula é alimento político obrigatório. Diante dele, a cela fica ínfima, os algozes adquirem a dimensão de vermes e o governo atual parece saído de uma Vichy de chanchada.

Duas horas para se assistir com sangue nos olhos!

O picadeiro dos Bozos

O circo

No governo de Bolsonaro, tudo está combinado, como nos picadeiros
A aparência intempestiva das atitudes dos Bolsonaros é farsante. Estamos diante de uma trupe como são tantas famílias circenses. Grosserias, desobediências, postagem nas redes e logo a retirada, os alvos e temas escolhidos, nada disso é espontâneo. Tudo está combinado, como nos picadeiros. Com funções distribuídas entre os diferentes estilos entre os protagonistas. E para uma plateia aparvalhada.

Além de Jair Bolsonaro na Presidência, a família Bolsonaro conta com outros representantes em cargos públicos na esfera federal e municipal. Outros integrantes mais distantes também já mostraram interesse em entrar para a política. 

No começo da semana passada, Bolsonaro soltou pequena nota para dizer que "as recentes declarações" (só as recentes, pois) de um dos seus guias, Olavo de Carvalho, não contribuíam para "a unicidade de esforços" do governo. A notinha foi propagada como crítica. Quem difundira dois dias antes, sábado à noite, "as declarações" de virulência ensandecida, contra as escolas militares e "os milicos" em geral, foi o próprio Bolsonaro, no YouTube. Para maior difusão, replicado pelo filho Carlos.

Apesar de possíveis dificuldades, Bolsonaro por certo entendeu "as recentes declarações" e tornou-as públicas por vontade sua. Não foi ingenuidade. Assim como havia um propósito na remessa, houve no passo seguinte de Bolsonaro e do filho. O desagrado de Carlos com a retirada da postagem de Bolsonaro, consta que por pressão, não foi mais do que outra ceninha. Seus ataques não cessaram.

Exemplos nessa linha são numerosos. Já é tempo de se encerrar o papel de tolos manipulados pelas farsas dos Bolsonaros.
*
Os condenadores de Lula não ficam bem, dos pontos de vista jurídico e ético, ante a redução da pena do ex-presidente no Superior Tribunal de Justiça. Sergio Moro condenou-o a 9 anos e 6 meses, pelo alegado recebimento da cobertura; no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o relator João Gebran (pretendente à nomeação para o Supremo) aumentou a pena para 12 anos e 1 mês, mais a multa de R$ 29 milhões em valor atual. Foi apoiado pelos outros dois desembargadores da turma.

A quinta turma do STJ não examinou o mérito do processo, os fundamentos da acusação. Apreciou e recusou as irregularidades reclamadas pelo recurso da defesa. Mesmo à margem do mérito, porém, no confronto entre a acusação e as sentenças cabíveis, decidiu por unanimidade que as penas foram superdimensionadas: fixou em 8 anos e 10 meses o que eram 12 anos e 1 mês; e baixou para R$ 2,4 milhões a multa que estava aumentada em mais de dez vezes.

Juízes são dispensados de dar explicação. Quando sentenças e política se misturam, explicações não fazem falta, mesmo.
*
Nem notícia se teve, no Brasil, do Dia Internacional do Livro, na terça (23). Só na Catalunha, com a festa centrada na feira de livros de Barcelona, 400 autores autografando, os espanhóis estimam a venda em 7 milhões de exemplares. Entre nós, de janeiro a março a venda caiu 1,2 milhão de livros. O que a diferença significa no presente é quase nada se comparada ao que diz do futuro por aqui.

Convidado em 1980 para escrever na Folha uma coluna diária sobre política, no espaço vertical da página 2, preferi fazê-la só às quintas e domingos, e sobre poder em geral. Desconhecido em São Paulo, e ainda por cima com prenome inconveniente, quis primeiro me testar. Estudei todos os jornais paulistas por uns três dias, e decidi pela crônica, em vez de artigos engravatados. Por desejo da pessoa extraordinária que foi Octavio Frias, pai, passei à coluna diária na quinta página, mantida por muito tempo e mudando os seus gêneros ao compasso das novas circunstâncias. Nos últimos anos, a coluna passou a três vezes semanais e, mais para cá, a duas —as velhas quintas e domingos. Aos 39 anos quase completos, a de quinta, valha a rima, está extinta. A de domingo ainda sai.

Direitismo Obsessivo Compulsivo



O TOC é uma doença terrível. Mas nem se compara em termos de estrago no momento ao provocado pelo DOC: Direitismo Obsessivo Compulsivo. O número de pessoas afetadas pelo DOC é lamentavelmente muito maior. Um dos sintomas do DOC é achar que os outros padecem do mesmo mal. Nos momentos de pico da doença, o portador de DOC se vê no papel de cruzado contra a corrupção. É puro delírio.

Juremir Machado da Silva

sábado, 27 de abril de 2019

O português errado do Lula

O português errado do Lula é um português coloquial, popular e musical como de um feirante. O português errado do Jair é aquela coisa ridícula do empresário semianalfabeto tentando desesperadamente escrever de maneira "formal" num e-mail de trabalho.

ubatubbie

O projeto de Bostonaro é exterminar a arte, a ciência e os pensadores, mas a cultura é mais forte que qualquer governo

Baixo nível

Sérgio Augusto
A história porém nos ensina que a cultura é mais forte e resiliente que qualquer governo. Quem sobreviver verá
Quando ouve falar em cultura, Bolsonaro não ameaça puxar o revólver, no máximo aponta aquelas bisonhas pistolas imaginárias, que se tornaram a marca – a marca, não, a mácula registrada de sua campanha.

Bolsonaro não é Goebbels, longe disso, muito longe, por sinal. Pois, apesar de tudo, inclusive por nem sequer ser o autor original da frase “quando me falam em cultura, eu puxo o revólver”, Goebbels tomou duas ambiciosas providências ao tornar-se o uber-ministro de Hitler: convidou Fritz Lang para comandar a indústria cinematográfica da Alemanha e fez da exuberante Leni Riefenstahl a cineasta número um do 3.º Reich.

Ao contrário de Riefenstahl, que optou pelo opróbrio de ficar e dirigir os dois mais reputados filmes de propaganda nazista, Lang fugiu do país horas depois do convite, para só voltar 30 anos mais tarde.

Por essa e outras, sempre vi com desconfiança as hiperbólicas comparações que, no calor da campanha eleitoral, fizeram entre Bolsonaro e Hitler, Bolsonaro e o fascismo, Bolsonaro e Mussolini. O Reich nazista ao menos se esforçou para cooptar Lang e Riefenstahl. E Mussolini construiu os estúdios de Cinecittà.

Bolsonaro podia ter feito de José Padilha a nossa Leni Riefenstahl. (Nossa, não, a sua, dele.) Mas dormiu no ponto, preferiu ficar fazendo ameaças (extinguir o Ministério da Cultura, acabar com a “desgraçada” Lei Rouanet, promover expurgos no sistema educacional, tirar o emprego de todos os “comunistas” ao alcance do seu mando, etc.), selecionando a dedo os piores auxiliares disponíveis, fomentando o ódio, brigando com seu vice e os filhos, quando não disparando disparates no Twitter, a prova cabal de que seu avatar nunca foi Hitler, nem Mussolini, mas Trump.

Vai daí que Padilha teve tempo de se decepcionar e afinal se indispor publicamente com o bolsonato. Resultado: não teremos uma continuação de O Mecanismo, que os bolsominions aguardavam em patriótico suspense, quem sabe esperançosos de que dessa vez Padilha, ao exaltar na tela o triunfo da vontade de 57 milhões de eleitores, finalmente tomaria o lugar de Kleber Mendonça Filho nos festivais de cinema da Europa.

Algumas ameaças de campanha já foram cumpridas. Bolsonaro mostrou-se, até agora, um homem de palavra. Nenhum de seus eleitores poderá queixar-se ao Procon de que foi torpemente enganado. O fato de ele não ter prometido queimar livros de autores indesejáveis, em praça pública, distingue-o ainda mais de Hitler e Goebbels. Mas não tanto, vale notar, da ditadura militar (1964-1985) e do governo Collor.

Em seu curto mandato de dois anos, Collor inviabilizou nossa indústria de filmes, revogou a Lei Sarney (embrião da Lei Rouanet) e entregou os escombros da cultura à falta de tato e ao excesso de arrogância e ressentimento de um cineasta paraibano que a história sepultou.

O Golpe de 64 fez uma razia no meio acadêmico, consagrou dedos-duros de escol, como o reitor Eremildo Viana e o animador de rádio César de Alencar, apreendeu livros, censurou filmes e peças, prendeu e torturou gente, com tal ímpeto e apetite que a Revista Civilização Brasileira viu-se obrigada a criar uma seção intitulada Terrorismo Cultural, para nos manter atualizados com as contínuas agressões da ditadura ao livre pensar.

Mas, apesar de tudo isso e da matança de artistas, intelectuais e milhares de espectadores quase consumada num show de 1.º de Maio no Riocentro, em 1981, a ditadura tinha bem menos pangarés em seus quadros que o atual governo. E vários nem pangarés eram.

Cadê, por exemplo, o Roberto Campos, o Mário Henrique Simonsen, o Mário Gibson Barbosa, o Azeredo da Silveira, o Saraiva Guerreiro, o Severo Gomes – meu Deus!, o Severo Gomes – do bolsonarato? Nem direita temos mais; só uma extrema direita fuleira, fanatizada por um horoscopista encafuado na Virginia, um Lopez Rega de chapéu Stetson.

Precisamos, portanto, parar não só com as aliterações, mas também com as comparações inadequadas, sobremodo injustas com vários vilões do passado, excluídos os três mais abomináveis ministros da Justiça da história do Brasil – Gama e Silva, Alfredo Buzaid e Armando Falcão –, não por acaso serviçais da ditadura.

O general Castello Branco, o ditador 01, tinha gosto pela leitura. Os demais, à exceção de Geisel, eram de poucas luzes, mas até o folclórico Costa e Silva era bem menos tosco que o ex-capitão que ora nos aflige. À exceção de seu vice, que já revelou ter lido e apreciado o historiador escocês Niall Ferguson, conservador, mas de alto nível, o restante do bivaque nem se dá o trabalho de puxar um canivete quando ouve falar em cultura.

Indagado sobre seus hábitos de leitura por Pedro Bial, duas semanas atrás, o ministro da Justiça Sérgio Moro confessou sua preferência por biografias. Indagar sobre hábitos de leitura a qualquer integrante do atual governo é quase uma pegadinha. Tudo bem que o ex-juiz de fato prefira aquele gênero sempre citado por quem não é muito chegado a leitura (o segundo mais citado são os livros de história), mas pegou muito mal ele não ter ao menos decorado o título de um livro para saciar a curiosidade do Bial e dos telespectadores.

“O projeto do governo é exterminar-nos: artistas, intelectuais, cineastas, professores”, alertou há dias em seu blog Jean-Claude Bernardet. Como ele é artista, intelectual, cineasta e professor, por certo sabe, como sempre soube, desde a invasão da Universidade de Brasília em 1964, do que está falando. A história porém nos ensina que a cultura é mais forte e resiliente que qualquer governo. Quem sobreviver verá.