domingo, 16 de maio de 2021
terça-feira, 11 de maio de 2021
segunda-feira, 10 de maio de 2021
domingo, 9 de maio de 2021
Fuga do general Eduardo Pazuello é covardia
Janio de Freitas
Mesma covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao dever do cargo e à vida de milhares
Se a balbúrdia na CPI da Covid continuar como nas primeiras sessões de interrogatórios e proposições, pode-se esperar que traga contribuição importante, apesar de não se pressentir qual seja. O tumulto dá a medida da fragilidade e do medo bolsonaristas diante da cobrança por sua associação à voracidade letal da pandemia.
Mas a clarinada do “não me toques”, protetora de militares acusados ou suspeitos de qualquer impropriedade, não resolverá o caso Pazuello. Militares valendo-se do Exército para fugir da responsabilidade por seus atos, convenhamos, até parece parte da concepção de ética militar. Os generais que mantiveram a ditadura de Getúlio, os do golpe de 64, do golpe de 68, os oficiais da tortura e dos assassinatos, os do Riocentro, esses e muitos outros construíram a praxe.
Nisso há distinção. Os escapismos que recaem na reputação do Exército cabem, antes de tudo, à corporação, à oficialidade, não à instituição. É a deseducação cívica em atos. A fuga de Eduardo Pazuello vai além: não vem da arrogância infundada, ou de uso do Exército para se imaginar acobertado por conveniência da instituição. É covardia, a mesma covardia que o impediu de repelir ordens contrárias ao bom senso, ao dever do cargo e à vida de milhares.
O novo comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, mostrou-se preocupado com reflexos, sobre o Exército, do que haja no depoimento de Pazuello à CPI. Esse problema é de Pazuello e de Bolsonaro. Não é assunto militar, logo, o Exército não tem de se envolver. Se o fizer, aí sim, merecerá arcar com todos os reflexos dos crimes contra a humanidade presentes em grande parte do morticínio de mais de 400 mil brasileiros.
O massacre do Carandiru pela polícia de São Paulo, o maior da história com o extermínio de 111 presos encurralados, motivou incontáveis protestos sob formas variadas. Com efeito que não foi além dos próprios assassinatos. Na Amazônia, massacres policiais ocorrem em sequência só igualada pela inconsequência punitiva. No Rio, os 28 mortos da favela do Jacarezinho compõem o maior massacre policial na cidade e motivam protestos incontáveis. Três exemplos da rotina sinistra que todo o Brasil mantém, com diferenças apenas aritméticas.
Nem a rotina, nem os protestos, nem a insegurança —nada interfere na correnteza desumana. A mais recente solução prometida para o Rio foi protagonizado pelo hoje ministro da Defesa, general Braga Netto. Chefe da intervenção federal na Segurança do estado, feita por Michel Temer, chegou proclamando a “limpeza da polícia” como prioridade e eixo da solução. Com um bilhão para tal. De notável, comprou enorme frota de carros, armas e equipamentos de comunicação. No mais, a tal limpeza talvez tenha ficado nos muros de quartéis, onde vigora a obsessão por pintura de paredes e postes. Os métodos ficaram intocados.
O armamento dado como apreendido no Jacarezinho é espantoso. Pela quantidade e, ainda mais, pela qualidade: todo moderno e novo, incluindo duas submetralhadoras. É sempre arriscado aceitar essas apreensões como verdadeiras, mas não há dúvida de que armas continuam entrando a granel no Brasil. Por ora, para uso bandido. E ainda imaginam que o perigo de conflito está na Amazônia, com estrangeiros.
Todo o problema policial foi construído na ditadura, com as PMs postas sob comando de militares do Exército e métodos norte-americanos. E com os seus esquadrões da morte, “homens de ouro” e impunidade. Todo plano de solução é ineficaz se não busca eliminar esse legado.
Riqueza fácil
A juíza Mara Elisa Andrade determinou a devolução da madeira ilegal, objeto da maior apreensão já feita, que causou o incidente entre o delegado Alexandre Saraiva e, defensores dos madeireiros, o ministro Ricardo Salles e o senador Telmário Mota. A juíza considerou faltarem, no inquérito, as datas de corte das árvores, o período em que a estrada clandestina foi aberta e se o uso dela é exclusivo.
É assim, com esses desvios, que nunca prendem nem prenderão os grandes e enriquecidos desmatadores-contrabandistas. E Mara Elisa é juíza, não por acaso, na 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária do Amazonas.
sábado, 8 de maio de 2021
quinta-feira, 6 de maio de 2021
quarta-feira, 5 de maio de 2021
Autocombustão
Fiz uma postagem aqui sobre as reações amalucadas da besta-fera desossada acuada pela CPI e fui cuidar da vida. Duas horas depois, vou ver o noticiário e a manchete do site da Folha, neste momento, é:
"Em novo ataque, Bolsonaro sugere que China faz guerra biológica com covid"
Com os subtítulos:
"Não ousem contestar, diz presidente em recado ao STF de que irá barrar lockdowns"
"Bolsonaro chama de canalha quem se opõe ao 'tratamento precoce'"
"Politicalha, 'acabou, porra' e militância; veja ataques e ameaças de Bolsonaro ao STF"
Pode até ser que haja alguma estratégia pra inflar o gado, tentar o golpe, atrasar mais a vacinação pra seus opositores não irem às ruas e morrer mais gente. Pode ser.
Mas acho que a pulsão de morte o levou ao modo autodestruição.
Nesse ritmo, mais duas horas entra em autocombustão.
terça-feira, 4 de maio de 2021
segunda-feira, 3 de maio de 2021
domingo, 2 de maio de 2021
A capacidade asnática de de Guedes só não é maior do que a de uma elite que o sustenta
Folha: por que Guedes é tratado como ‘menos imbecil’?
A ombudsman da Folha, Flávia Lima levanta, sem ponto de interrogação a questão de que “a cobertura que a imprensa faz de Paulo Guedes ainda é, no estilo e no tom, diferente daquela feita sobre as falas da ministra Damares Alves, ou do ex-ministro Abraham Weintraub”, que traduzi na pergunta aí do título.
E a resposta, de uma imensa obviedade, é a de que o extinto Posto Ipiranga sustenta, afinal, o “não-programa econômico” que, desde Fernando Henrique Cardoso , da direita brasileira: o “polidesmonte” do país.
Guedes é um “fundamentalista” do primarismo que ataca, por todos os lados, a única possibilidade que tem o Brasil de construir seu destino: incluir, assistir, educar, criar, transformar o que poderia ser um dos maiores mercados de consumo do planeta associado a uma capacidade de produzir e, assim, gerar trabalho e renda que sirvam de combustível a tudo o que se listou.
A história é sempre a mesma: “o Estado atrapalha”, “a iniciativa privada faz melhor”, “para que produzir se é mais barato comprar” e outros simplismos do gênero, tratados como “verdades auto-explicadas”.
A rigor, o único objetivo econômico do país não é sequer o “ajustar as contas públicas” que se apregoa tanto, mas o de responder com cortes irracionais (além de desumanos) à perda de capacidade de gerar renda pública crescente do Brasil e, continuar com o processo de alienação de patrimônio palpável (privatização do que há) e potencial (concessões do que está maduro para ser) com a desculpa (sim, sempre verdadeira na penúria) de que não há aqui capitais para o investimento necessário.
É o moto contínuo do atraso e da pobreza, a vocação de gerente de um entreposto colonial que há séculos domina os grupos dominantes do Brasil.
Paulo Guedes não está fazendo nada que não seja cometer o crime de expressar com clareza o pensamento ridículo que habita, em silêncio ou travestido de fórmulas em “economês”: o de que somos o país onde as “regalias ao pobres” atravanca o desenvolvimento econômico: ora são os encargos sociais “no cangote” do empresário, ora é a doméstica que ia à Disney, agora o filho do porteiro na universidade.
A solução, genial, é o “ticket” da Saúde, para ir ao Sírio e Libanês e o “ticket” educação, que poria os filhos dos pobres na PUC.
A capacidade asnática de de Guedes só não é maior do que a de uma elite que o sustenta.
quinta-feira, 29 de abril de 2021
quarta-feira, 28 de abril de 2021
O país de Boçalnato é uma esbórnia
Radical
O projeto de destruição de Bolsonaro é radical. Não poupa nem o Exército. Ou não é uma desmoralização para a instituição ver um general da ativa de bermudas, camiseta, flanando sem máscara - cujo uso é obrigatório em espaços públicos - em um shopping de Manaus? Ou um general da reserva, chefe da Casa Civil, afirmar que se vacinou contra a COVID19 escondido - para não contrariar o chefe - porque ele, o general, quer viver!
O país de Bolsonaro é uma esbórnia.
segunda-feira, 26 de abril de 2021
sábado, 24 de abril de 2021
sexta-feira, 23 de abril de 2021
Não os perdoem, eles sabem muito bem o que fazem
Se o arrependimento não inclui todo o projeto de governo bolsonarista e, principalmente, o privilégio concedido ao mercado na condução de políticas públicas, ele não passa de um sentimento pessoal, ou seja, é politicamente nulo.
Recentemente temos assistido a manifestações de diversas personalidades — de políticos a celebridades — dizendo-se arrependidas por terem votado e/ou apoiado a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Tais manifestações tornaram-se muito mais frequentes no último ano, que, como todos sabemos, foi um ano marcado por recordes de mortes e casos de Covid-19, desemprego, caos social e muitos outros fatos lamentáveis, período que infelizmente ainda não acabou e parece muito longe de acabar. Diante disso, muitos perceberam que, como diz o meme que tem circulado na internet, “não é de bom tom” continuar apoiando o presidente e estão abandonando o navio no qual embarcaram com gosto em 2018 e navegaram por um bom tempo.
O arrependimento é um sentimento comum e absolutamente humano. Só os seres humanos são dotados dessa capacidade, pois são os únicos que podem rememorar atitudes passadas, estabelecer relações de causa e consequência entre o passado e o presente e fazer juízos sobre os resultados de suas ações. Nesse sentido, não há nada mais banalmente humano do que arrepender-se de algo e, portanto, é natural que muitos se arrependam sinceramente de terem votado e apoiado um governo tão ruim que teve como resultado (até agora) mais de 370.000 mortos numa pandemia.
Aliás, é preciso, para se atingir esse arrependimento específico, reconhecer que o governo Bolsonaro é realmente o responsável direto pelas mortes mencionadas acima. Essa é a condição fundamental. Entretanto, a maneira como se reconhece isso também é fundamental: o que exatamente essas pessoas reprovam em seu presidente para terem se arrependido de votar nele? Nas eleições de 2018, diferenças ideológicas à parte, estavam em jogo duas propostas de governo para o Brasil: uma, representada por Bolsonaro, que prometia alinhamento total aos EUA, desregulação total da economia (ou melhor, controle desta pelo mercado financeiro), privatizações e investimento estatal mínimo no que quer que seja, e outra, representada por Fernando Haddad, que representava a continuidade do projeto de governo do Partido dos Trabalhadores, interrompido por um golpe de Estado dois anos antes, que era caracterizada pelo incentivo à integração regional entre os países da América Latina, pelo multilateralismo nas relações internacionais, por políticas públicas na economia, pela preservação do patrimônio público e por pesado investimento estatal na correção de desigualdades. Sabemos qual foi a proposta vencedora. Assim sendo, será que os arrependidos levam em conta o fato de que o plano de Bolsonaro foi rigorosamente posto em prática (e continua sendo todos os dias) quando falam de seu arrependimento? Será que conseguem fazer a conexão entre o plano de governo bolsonarista e os milhares de mortos por Covid-19, que não puderam manter isolamento social por terem de sair para trabalhar todos os dias ou por não terem levado a sério a doença, uma vez que o Governo Federal desprezou a gravidade da pandemia e não fez o necessário para preservar a subsistência da população durante o confinamento, por se guiar pelos interesses do mercado? É exatamente o plano de governo aprovado pela maioria da população em 2018, sendo posto rigorosamente em prática, o que está matando milhares de brasileiros todos os dias em 2021.
Se o arrependimento não inclui todo o projeto de governo bolsonarista e, principalmente, o privilégio concedido ao mercado na condução de políticas públicas, ele não passa de um sentimento pessoal, ou seja, é politicamente nulo. Aliás, a nulidade política de seu arrependimento muitas vezes é reivindicada pelos arrependidos: “não se pode politizar mortes”, “não se pode politizar a pandemia”, “não se pode politizar a ciência” são algumas das platitudes repetidas incansavelmente por eles. Ao arrepender-se do voto em Bolsonaro, mas “não politizar” as mortes, os arrependidos estão transmitindo a mensagem de que o problema não é o projeto de governo, mas apenas a figura do presidente. Ao não criticar o projeto de governo, mas apenas a pessoa do presidente, deixam claro que continuam concordando com todas as premissas que regem seu trabalho, premissas essas que estão tendo o resultado catastrófico dos milhares de mortos e desempregados. Ou seja: os arrependidos farão tudo de novo, basta que o candidato seja outro.
Aliás, alguns dos arrependidos são bem sinceros quanto a esse ponto: assumem que, havendo em 2022 disputa eleitoral entre Bolsonaro e Lula, anularão o voto, irão para Paris “com gosto”, se atirarão do vigésimo andar, entre outras opções semelhantes. Outros fazem questão de trabalhar para que essa opção de disputa eleitoral nem se imponha, pois assim poderão se abster de fazer “uma escolha difícil” e terão uma escolha bem mais fácil entre um candidato de centro-direita e um de extrema-direita. Volto a perguntar: estão arrependidos exatamente de quê?
Da cumplicidade com o genocídio atualmente em curso não é. Pois, se não conseguem reconhecer que os princípios políticos e econômicos que regem o atual governo estão no cerne do descaso e do desrespeito às vidas dos brasileiros, e que isso é, portanto, intencional, não estão arrependidos de nada. Quando se tem em mente a racionalidade da empreitada bolsonarista, fica muito claro que se trata de um projeto genocida em curso. Tal projeto, além de eliminar fisicamente aqueles cidadãos que têm alguma fragilidade física, forma um exército sem precedentes de desempregados dispostos a trabalhar em regime de semiescravidão para garantir o minimamente necessário para sua sobrevivência. É esse o “Brasil do futuro” que tem se formado todos os dias.
Quem não consegue se opor ao novo “Brasil do futuro” simplesmente não se arrependeu do que fez no passado. No máximo, pode cultivar um sentimento pessoal de arrependimento, mas totalmente vazio de significado político. Dito isso, a questão que se impõe à esquerda agora é: vale a pena aliar-se a esses arrependidos? Para usar uma palavra da moda, vale a pena ressignificar esse arrependimento, travestindo-o daquilo que ele não é, trazendo-o à tona politicamente quando no seu cerne está tudo aquilo que é o exato oposto do que a esquerda defende? Vale a pena perdoá-los, quando eles sabem muito bem o que fazem?
Beatriz
Parteira e moscardo. Filósofa comentadora de tudo. Pesquisadora em Filosofia Política.