quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Manato, homem forte de Bolsonaro, manda prender amante para evitar vídeo íntimo do casal



Diário do Centro do Mundo

A amante do ex-deputado Carlos Manato (PSL), homem forte do presidente da República, Jair Bolsonaro, é natural de Ecoporanga e mora atualmente em Vila Velha. Ela tem 37 anos: Simone Lima Silva.

Já foi presa por furtar loja.

Justificou que estava com depressão, segundo reportagem do jornal Folha do Espírito Santo.

No seu depoimento, Simone disse que conheceu o ex-deputado Carlos Manato antes de se casar, mas era um caso extra-conjugal pois ele sempre foi casado com a deputada federal, Doutora Soraya (PSL).

Afirmou que numa ocasião em Guarapari pediu R$ 5 mil ao ex-deputado. Manato negou. A partir de então decidiu chantageá-lo. O ex-deputado acordou em lhe dar R$ 25 mil para não mostrar os vídeos a ninguém.

Pediu para o motorista do ex-deputado, Luiz Dayr, levar R$ 10 mil em mãos no Shopping Praia da Costa e levar documento em que manteria sigilo. Os outros R$ 15 mil seriam depositados.

Para conseguir chegar a este ponto, Simone enviou um dos vídeos íntimos dos dois, o que levou o Secretário da Casa Civil da Presidência da República a colocar o motorista como suposta vítima em seu lugar.

Existe a suposição de que a amante não teria agido sozinha no plano de extorsão.

(…)

O artista tem que ir onde o povo está


Presidente tem 89% de aprovação

Moisés Mendes

Pesquisa divulgada ontem pelo INRB (Instituto Nacional de Resistência ao Bolsonarismo) aponta que o presidente José de Abreu foi aprovado por 89% da população em seu primeiro dia de governo.

Nos primeiros dias, geralmente os governantes atraem todas as expectativas. Mas Zé de Abreu, como é conhecido (e que deseja ser chamado apenas de Zé pelo povo), bateu todos os recordes.

O ex-presidente Lula foi aprovado em seu primeiro dia por 55,6%. Dilma teve aprovação de 52,6%. Bolsonaro foi aprovado apenas pela Damares e por Sergio Moro. Onyx Lorenzoni declarou estar indeciso.

A margem de erro da pesquisa é de zero ponto percentual para mais ou para menos. O nível de confiança é de 100%.

Ostentação


Nós, testemunhas



O interesse moderado da imprensa e a farta oferta de assuntos ao gosto da burocracia do jornalismo obscureceram, mundo afora, o gigantismo moral e histórico do que o papa Francisco fez agora no Vaticano. A reunião de quase 200 prelados para reconhecer, ouvir, narrar e debater, sem restrição ao conhecimento público, os abusos sexuais no clero é, talvez, o mais importante ato no âmbito da Igreja Católica desde o rompimento de Martinho Lutero, a completar 500 anos daqui a 14 meses.

São muitas as indicações de que testemunhamos, sem consciência disso, uma revolução global em que o ato de Francisco é um cume jamais imaginado.

Expor a instituição incomparável da Igreja Católica, e seus prelados de ares monárquicos e intangíveis, como campo tolerante do mais abjeto, é algo sem precedente sequer parecido. Pensei no que poderia ser equivalente, em nosso universo de agnósticos, ateus e religiosos, à grandeza moral e à coragem implícitas no ato do poder vaticano. Só me ocorreu uma possível (ou impossível) equivalência: os Estados Unidos fazerem o mesmo quanto ao seu belicismo, aos seus crimes de guerra em Hiroshima, Nagasaki, Tóquio, Vietnã. Além da destruição apenas vingativa, que até o obsessivo guerreiro Churchill denunciou, de cidades alemãs. E ainda a perversidade de sua dominação, direta ou indireta, de tantos países sem condições de enfrentamento.

Caso da América Latina. Os nomes espanholados indicam a propriedade original e legítima: Califórnia, Colorado, Alabama, Texas, Nevada, Flórida. O major general Smedley D. Butler fez outra lista: em 33 anos de ações militares, participou de guerras dos Estados Unidos ao México (várias invasões e ocupações), Haiti, Cuba, Nicarágua, República Dominicana, Honduras e China. Em outra lista, relaciona aos países os interesses que moveram tais ações bélicas: petróleo, National City Bank, Banco Brown Brothers, produtores/exportadores de açúcar, companhias frutíferas (United Fruit, Chiquita Banana), Standard Oil (para nós, Esso ou Exxon).

As palavras do general, reproduzidas por C. Wright Mills em "Listen, Yanqui" (assim mesmo), terminam com com esta comparação: "Al Capone só pôde operar em três distritos de uma cidade. Os "marines" operamos em três continentes". Os sucessores de Butler aumentaram a área para cinco continentes. Na segunda parte do século passado, estiveram outra vez na República Dominicana, aí também com tropas brasileiras oferecidas por Castello Branco; Nicarágua, Haiti, Granada, Guiana, Panamá, Cuba, Porto Rico, Venezuela, Colômbia, se não mais.

Os Estados Unidos apoiaram todas as ditaduras de direita na América Latina. Suas reservas aos ditadores Getúlio e Perón não eram de oposição. Como complemento desse repúdio à democracia, jamais colaboraram para a instalação da democracia em país algum da AL. Quando ajudaram a subida de novo governante, foi pela certeza de que teriam um títere ("laranja", para a intelectualidade brasileira). E sempre que um governante insinuou pretensões de soberania, os governos dos Estados Unidos o combateram, por ações diretas e por via das suas redes de nacionais subservientes por interesse.

Hugo Chávez sabia o que queria. Maduro, não. Chávez, na luta de poder, estava no seu ambiente. Maduro é neófito, entrou logo no jogo pesado, que não entendeu ainda. Donald Trump sabe o que quer e está bem em qualquer ambiente que não seja de pessoas de bem.

Nem por isso é preciso adulterar os fatos. Não é certo que só os militares estejam com Maduro. A miséria histórica do povo venezuelano recebeu de Chávez o que nunca lhe fora dado nem em pequena parte. As primeiras grandes e terríveis favelas da América do Sul surgiram em Caracas, circundando a cidade. A grande riqueza concentrada no poder econômico era fruto do petróleo e de entrega do patrimônio mineral.

Isso mudou com Chávez. Diminuiu. Antes, a Venezuela passara por uma fase de luta interna, e os militares se preocupavam com seu possível retorno. As atenções com a pobreza, embora insuficientes, reduziram esse risco —e por aí se entende parte da atual posição militar e se nega que Maduro só tenha apoio das Forças Armadas. Nem é Maduro. É o que resta do legado de Chávez.

E não esqueçamos que o desabastecimento já foi vitorioso aqui, contra o Plano Cruzado do governo Sarney. Aqui, foi o empresariado. Lá, foram os governos americanos e alguns europeus. Não é obra Chávez nem do perplexo Maduro.

57 milhões premiaram a mediocridade, incompetência e a desonestidade

Erika Kokay

57 milhões de brasileiros e brasileiras premiaram a mediocridade, incompetência e a desonestidade política e intelectual nas eleições de 2018. Com isso, deram um péssimo exemplo para as gerações atuais e futuras, ao agraciar um Jair Bolsonaro presidente da República.

Paulo Preto, operador do PSDB, chama Gilmar Mendes de "meu anjo protetor Gi"

‘Meu anjo protetor Gi’

 Fausto Macedo, porcalista de estimação da Lava Jato


A Operação Lava Jato aprendeu na casa do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, acusado de ser o operador de propinas do PSDB, um diário do período em que esteve preso pela primeira vez, em abril de 2018, em que registrou os pedidos ao “Anjo Protetor Gi”, em trechos em que cita o habeas corpus requisitado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Os registros são do dia 10 de maio e 11 de maio, dias que antecederam a ordem de Gilmar Mendes para soltar o operador do PSDB pela primeira vez. Ele havia sido detido no dia 6 de abril por ordem da juíza federal Maria Isabel do Prado, da 5.ª Vara Federal Criminal de São Paulo. No dia 30 daquele mês, ele seria preso novamente pela Lava Jato de São Paulo – e solto novamente por ordem de Gilmar.

Na data de 10 de maio, o diário de Paulo Preto registra: “Fui informado sobre HC Limiar ao Ministro Gilmar Mendes e fui à missa pedir ajuda se possível do meu Anjo Protetor Gi, para relaxamento da minha prisão, por motivos da injustiça impetrados pelo MPF/SP e Juíza Maria Isabel, foi minha 1ª Comunhão na Igreja da Penitenciária”.

Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que prenderam Paulo Preto pela terceira vez no dia 19, alvo da fase 60 que apura ligação do ex-diretor da Dersa com lavagem de dinheiro para o ex-ministro e ex-senador do PSDB Aloysio Nunes Ferreira, querem saber mais detalhes das anotações. “No trecho acima, observa-se a referência ao habeas corpus então impetrado pela defesa de Paulo Vieira de Souza junto ao eminente Ministro Gilmar Mendes, e a busca de ajuda do ‘Anjo Protetor Gi'”, escreve o MPF.

Os procuradores anexaram ao processo petição nesta terça-feira, 26, em que pede que Souza “preste esclarecimentos sobre a menção” a fatos e pessoas investigados na Ad Infinitum, como sobre o operador financeiro Rodrigo Tacla Duran, “bem como para que explique as conversas cifradas acima colacionadas”.

Outro trecho do diário do cárcere do operador do PSDB é do dia 11 de abril, quando Gilmar Mendes concedeu liberdade pela primeira vez a ele.

Era sexta-feira, e Paulo Preta registra ter recebido duas cartas “sentidas” das filhas. “Porém só fui ler após tomar banho e receber a notícia (após minha comunhão na igreja da Penitenciária de Tremembé II) e pedido para Gi interferir com Deus a respeito de acalentar a minha Mini Family, Big Family e Amigos”.

“No trecho acima, observa-se a referência à possibilidade de Paulo Vieira de Souza ‘fazer uma delação’, e ao pedido ‘para Gi interferir com Deus a respeito de acalentar a minha Mini Family, Big Family e Amigos'”, anota o MPF.


“O criador atendeu o meu pedido e logo as 19h00 o ministro Gilmar Mende aceitou o HC de liminar, por uma ameaça falsificada pelo MPF/SP e Juíza Maria Isabel do Prado”, registra o suposto diário.

O documento foi apreendido no endereço de Paulo Preto em São Paulo e anexado aos autos da Lava Jato nesta terça-feira.

Vieira de Souza já é réu de duas ações penais da Lava Jato em São Paulo. No processo que trata de desvios de R$ 7,7 milhões em obras de reassentamento do Rodoanel, Aloysio Nunes foi arrolado como testemunha de defesa de Tatiana, filha de Paulo, também ré na ação. No dia 13 de fevereiro, Gilmar Mendes atendeu um pedido da defesa de Paulo Vieira de Souza e adiou o fim deste processo.

O Ministério Público Federal afirma que o operador disponibilizou, a partir do segundo semestre de 2010, a fortuna de R$ 100 milhões em espécie ao operador financeiro Adir Assad, no Brasil. Assad entregou os valores ao Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, aos cuidados do doleiro Álvaro José Novis – que fazia pagamentos de propinas, a mando da empresa, para vários agentes públicos e políticos, inclusive da Petrobrás.

Em contrapartida, relata a investigação, a Odebrecht repassou valores, por meio de contas em nome de offshores ligadas ao Setor de Operações Estruturadas da empreiteira, ao operador Rodrigo Tacla Duran.

A Procuradoria da República afirmou ainda que o ex-diretor da Dersa manteve R$ 131 milhões em quatro contas no banco Bordier & CIE, de Genebra, em nome da offshore panamenha Groupe Nantes SA, da qual o operador é beneficiário econômico e controlador. As contas foram abertas em 2007 e mantidas até 2017.

Make Brazil Backyard Again

Adao Iturrusgarai

A estratégia de esnobar a China -principal parceiro comercial do Brasil- e baixar as calças pro Trump promete dar bons resultados: os chineses se comprometeram a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja americana. Se isso se confirmar, só resta ao agronegócio brasileiro fazer sinal de arminha. Clap! Clap! Clap!


Gilmar Mendes é um anjo protetor de corruptos?

Ayrton Centeno

Com acesso ao diário de Paulo Preto, o Estado conta que o operador do PSDB chama Gilmar Mendes de "Meu Anjo Protetor". Delicadamente, trata o ministro como "Gi". Quase chorei. Fiquei pensando o que deve estar escrito sobre "Gi" nos diários de Daniel Dantas, José Serra, Aécio Neves, Jacob Barata, Richa e tantos outros protegidos do anjo que desceu à terra para salvá-los.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O ditador assassino, ladrão e estuprador de crianças admirado por Jair Bolsonaro


Agronegócio brasileiro vai quebrar graças às políticas imbecis de Bolsonaro

China negocia comprar dos EUA produtos agrícolas que compra do Brasil – soja, carne bovina e aves. Trump comemorou no twitter. Europa fará o mesmo para evitar sanções dos EUA para os automóveis alemães. Parabéns Bolsonaro, seu parceiro prioritário vai afundar o comércio brasileiro!


China oferece comprar dos EUA o que hoje compra do Brasil
Nelson de Sá

Fechando a semana de negociação da guerra comercial, o secretário de Agricultura dos EUA festejou via Twitter que “os chineses se comprometeram a comprar mais 10 milhões de toneladas de soja americana”.

Foi o número que deixou mercados e Donald Trump animados, a ponto de o presidente tuitar: “Se for feito o acordo com a China, nossos grandes Fazendeiros Americanos serão tratados melhor do que jamais foram tratados antes!”.

O Financial Times destacou então, na terça, “Que forma pode ter o acordo EUA-China”, dizendo que ele começaria pela importação maior, por parte dos chineses, de produtos agropecuários como soja, carne bovina e aves.

Os três e outros são parte da pauta de exportação do Brasil para a China.

EUROPA TAMBÉM
A Reuters, por New York Times e outros, informa que o comissário de Agricultura da UE falou que “houve retrocesso por parte de países do Mercosul em relação ao acertado em 2017” para o acordo entre os dois blocos. E que foi por “razões políticas” —o que a agência explicou lembrando que, segundo a chanceler alemã Angela Merkel, “Jair Bolsonaro tornaria mais difícil alcançar o acordo”.

O Brasil critica a UE “notadamente” pelas restrições à carne bovina. De outro lado, anunciou o comissário, o bloco europeu deve acertar a compra de carne bovina dos EUA “em semanas”.

Carnaval é temporada de roubo de celulares


Venezuelanos tem que comer lixo


E se a reforma da Previdência for aprovada e der certo?


A Previdência e o mito da externalidade
Como garantir benefícios capazes de sustentar uma vida digna, e não só o azul da planilha?
Sérgio Martins

Uma constante em matérias e entrevistas favoráveis à reforma da Previdência é a inexistência de considerações sérias sobre os impactos sociais de uma reforma “bem-sucedida”. São frequentes, ao contrário, previsões apocalípticas sobre cenários de fracasso ou mesmo aprovação de uma versão “tímida” da reforma. É o caso, então, de perguntar: será que uma reforma nos moldes propostos de fato não terá maiores custos sociais, ou será que, por alguma razão, estes custos é que não estão sendo devidamente contabilizados?

É um lugar-comum defender que um dos principais fatores a exigir a reforma é o aumento da expectativa de vida da população. Parece óbvio: como esperar que a Previdência se sustente com menos trabalhadores na ativa e um número maior de beneficiários recebendo por mais tempo? Todos parecem concordar que o progressivo envelhecimento da população é um fato a ser encarado, mas a verdade é que o debate vigente encara esse fato como se ele fosse meramente contábil, ou seja, como se se tratasse de nada mais que um número vermelho numa planilha que deve necessariamente resultar em soma zero. Assim, por exemplo, não é levada em consideração a perspectiva de termos uma massa idosa severamente empobrecida no Brasil. É como se o aumento da expectativa de vida não trouxesse impactos também às casas e ruas, como se esses problemas não dissessem respeito a uma planilha que deve olhar apenas para a conta corrente do sistema previdenciário e nem um centímetro para o lado.

Ora, como esse "custo" não é internalizado, também não é devidamente internalizado, por exemplo, o custo da opção política por um modelo que privilegia planos de saúde pagos e massificados em detrimento do SUS. Arma-se assim a bomba: o que será dessa massa que chegará à velhice com aposentadorias reduzidas pelo fator previdenciário e custos de vida ainda mais altos que os atuais? O que faremos quando essa bomba estourar? Fingiremos não ver as condições de vida de um contingente expressivo da população? Seguiremos tratando-as como uma externalidade que não diz respeito à política econômica? Lavaremos as mãos, argumentando que milhões de lamentáveis problemas individuais não perfazem um problema social? Vamos repreendê-los por não terem poupado para a velhice, isso num país em que só uma irrisória minoria de trabalhadores ganha o suficiente para economizar? Em alguns lugares do mundo, o drama já deu as caras. No Chile, alardeada como modelo para a reforma brasileira, cerca de 90% dos aposentados recebem bem menos que o salário mínimo. Já no Japão, milhares de idosos vêm cometendo crimes com o objetivo expresso de ir para a cadeia e lá, finalmente, ter moradia, saúde e alimentação garantidas pelo Estado. Dado o estado catastrófico do sistema penal brasileiro, sequer essa opção nossos aposentados terão.

A intenção aqui não é recusar o debate sobre a reforma da Previdência; pelo contrário, é levar esse debate para além das planilhas do sistema previdenciário. Para isso, todas as questões devem poder ser encaradas de frente: como garantir benefícios capazes de sustentar uma vida digna, e não só o azul da planilha? Se isso for impossível num sistema autossustentável, como financiá-lo? Mais: será que basta uma Previdência voltada para o trabalhador, ou será preciso pensar numa modalidade mais próxima à da renda básica universal? Isso sem nem entrar no mérito da natureza redistributiva da Previdência, que poderia se tornar mais virtuosa com uma reforma preocupada em pensa-la primeiramente sob essa ótica.

Um debate honesto exige que perguntas como essas também possam ser feitas. Hoje em dia, no entanto, qualquer ressalva à rigidez das planilhas tende a ganhar a pecha de irresponsabilidade ou infantilidade. Como se irresponsável não fosse justamente tapar o sol com a peneira, jogando tudo o que enfraquece sua posição num debate no balaio das externalidades a serem convenientemente ignoradas. Ninguém é obrigado a debater com neutralidade, ou a recalcar seu próprio ceticismo acerca dessa ou daquela posição. Mas simplesmente varrer para baixo do tapete das externalidades dados e fatos que porventura nos sejam inconvenientes é puro e simples irrealismo, até porque não há tapete capaz de encobrir o destino de milhões de vidas concretas.

Sérgio Martins é professor do Departamento de História da PUC-Rio

Nova Era


A metamorfose

Sylvia Moretzsohn

Quando, certa manhã, um general aposentado por pregar um golpe militar acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num democrata convicto. 

É esta metamorfose que a reportagem de Vasconcelo Quadros descreve na Pública. Com algumas lacunas, como a de apenas reproduzir, sem ressalvas, a fala do responsável pelo treinamento do general vice-presidente no trato com a imprensa, do primeiro mandamento do "manual sobre as estratégias de dissimulação e exercícios sobre a arte da política": "não ofusque o brilho do mestre". Pois está bem viva na memória (de quem a cultiva, pelo menos) a cena da posse, em que o general lia o juramento protocolar de respeitar a Constituição aos berros, como se desse uma ordem à tropa. E este foi apenas o primeiro de tantos exemplos em que o vice brilhou mais que o chefe. 

Quanto às artes da dissimulação, o "coach" do general demonstra ser mesmo um mestre. “O século 21 é o século do diálogo. Nas Forças Armadas não há mais intervencionista. Há, sim, legalistas e constitucionalistas”. Tal como seu pupilo, antes da espantosa metamorfose. 

A reportagem é especialmente importante pelo que revela sobre o jornalismo. Explicita o funcionamento da engrenagem que justifica e alimenta o "media training": a fonte precisa estar preparada para dar o que o jornalista quer. E o jornalista, salvo raríssimas exceções, quer o lide. 

Não que seja novidade, mas é sempre bom ver as coisas ditas com tamanha clareza. 

E isso deveria nos alertar para o quão amplo é o terreno das "fake" nas "news" que circulam por aí. 

Partido Miliciano do Laranjal frauda até lista de debate na Câmara

Erika Kokay

PSL usa Laranjas até para se inscrever em lista de debate na Câmara!

Um deputado assinou por outros só para ocupar as vagas de debatedores,o que é vedado pelo regimento!

Já há investigação sobre quem seria o Laranja Fraudador!

O Pitboy da família Metralha


Deputado Jorge Solla comenta o caráter e o nível intelectual da bancada do Laranjal


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O analfabetismo do Judiciário

Sírio Possenti

Tem gente no judiciário brasileiro que é bem panaca - analfabeto, em outros termos. No dia de sua prisão, Lula disse, lá pelas tantas: “se eles me condenaram, me deem pelo menos o apartamento. Eu até já pedi para o Guilherme Boulos mandar o pessoal dele ocupar aquele apartamento. Já que é meu, ocupem”. Interpretar isso com o um "ato de fala" de convocação é de uma burrice exemplar. É óbvio que se trata de ironia, caras! Pombas! E eles julgam!!!


Sírio Possenti é licenciado em Filosofia e tem mestrado e doutorado em Linguística. É professor titular (Análise do Discurso) no Departamento de Linguística do Instituto de Estudos da Linguagem (Unicamp). Estuda humor. Tem interesse pelos discursos jornalístico e publicitário. Dedica-se ao estudo de textos breves, especialmente piadas, pequenas frases e fórmulas. É autor de diversos livros. Pela Editora Contexto publicou Humor, língua e discurso e, como coautor, Sentido e significação, Ethos discursivo, A (des)ordem do discurso e Fórmulas discursivas.

Gabriela Hardt não tem nível intelectual e ético para ser juíza, nem mesmo pelos padrões da Lava Jato

Ódio e ignorância

TOGA ALUGADA

A constatação de que a juíza Gabriela Hardt copiou a sentença de Sérgio Moro para condenar o ex-presidente Lula, naquela patacoada do sítio de Atibaia, é reveladora do nível de amadorismo do Judiciário brasileiro – para não falar dos níveis de crueldade e ódio de classe envolvidos.

Quando uma juíza federal se dá ao desfrute de usar o mesmo arquivo digital de outra sentença para, sem nenhum pudor, copiar e colar trechos inteiros escritos por seu ídolo da Lava Jato, pouco importa se lá na ponta está Lula ou Dona Celeste da Quitanda: é o Estado de Direito, em si, que está sendo vilipendiado.

Autora da frase seminal “se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema”, Dra. Gabriela logo caiu nas graças da alcateia hidrófoba do antipetismo, não sem algum prazer, o que talvez tenha lhe dado essa sensação plena de impunidade penal e histórica.

Foi pega, quem diria, pelo Ministério Público Federal, parceiro de lutas da Lava Jato, primeiro, em um erro grotesco: a juíza, simplesmente, condenou Lula pelo crime errado, corrupção ativa, embora a denúncia do MP tenha sido por corrupção passiva.

Além disso, vale lembrar, Gabriela Hardt citou dois delatores no processo, Leo Pinheiro e José Adelmário, como se fossem pessoas diferentes, sem saber que o primeiro nome era o apelido do segundo. Ou seja, leu os autos sem nenhuma atenção, isso se chegou a lê-los.

Em meio a esse delírio copia-e-cola, foi encontrado um trecho da sentença com referência a um “apartamento”, obviamente, retirado do texto original da sentença de Moro, que dizia respeito ao tríplex do Guarujá, e não ao sítio de Atibaia.

São motivos para anulação imediata da sentença e afastamento sumário da magistrada. Mas, no Brasil de hoje, é mais provável que ela receba o Prêmio Faz Diferença, do Grupo Globo.

Dudu Biroliro Song


Crise


Diário da Bozolândia

Felipe Pena

DIÁRIO DA BOZOLÂNDIA
25 de fevereiro de 2019

Ministro da educação envia carta para diretores de escolas com slogan da campanha de Bolsonaro. Ele pede que filmem crianças cantando o hino na escola e lendo a mensagem com o slogan.

Não é só um big brother escolar. É crime. Um crime duplo. Gravar imagens de crianças sem a permissão dos pais e promoção pessoal (de Bolsonaro) com recursos de governo.

Revista Isto É publica relação de milicianos que fizeram parte do gabinete de Flavio Bolsonaro. A irmã de um dos milicianos, Valdenice, assinava os cheques do próprio Flávio.

A relação do crime organizado miliciano com a família Bolsonaro é escancarada. Mas não há qualquer consequência. Nem as panelas aparecem. Isso é medo ou cumplicidade?

O chanceler brasileiro Ernesto Araújo relativiza situação na Coreia do Norte para agradar a Donald Trump, que vai se encontrar com King Jong-un. Ele diz que o país asiático "não usa o mesmo grau de brutalidade da Venezuela."

O Brasil segue seu rumo de capacho dos Estados Unidos nas relações exteriores.

O filho 03, Eduardo Bolsonaro, vai a festa no resort de Trump e defende muro na fronteira do México. Para que temos chanceler se o príncipe já exerce a função?

Fracassa a tentativa de golpe na Venezuela, patrocinado pelos EUA, com ajuda da Colômbia e do Brasil. Por trás da "ajuda humanitária" havia um evidente plano de invasão ao país caribenho. Mas não ouve um número significativo de deserções no exército venezuelano, o que frustrou os planos de Washington.

Quem faz boicote econômico, não manda ajuda humanitária. Isso é o óbvio ululante rodriguiano. Vamos lembrar do Iraque e da Líbia. Não é difícil chegar ao real motivo do interesse americano: o petróleo. Se o problema fosse com ditaduras, eles não seriam parceiros da Arábia Saudita.

A ministra Damares faz sua estreia internacional no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Faz campanha contra o aborto e não menciona o nome de Marielle. Vergonha define bem.

General Mourão descarta participação militar do Brasil durante reunião do Grupo de Lima, em Bogotá. Os militares ainda conseguem segurar os arroubos juvenis do clã Bolsonaro. Até quando?

Reportagem da Isto É sobre laranjal do PSL traz análise de documentos e apuração em seis cidades de Minas Gerais e Pernambuco, onde foram entrevistadas 95 pessoas (candidatos, políticos, assessores, entre outros). Crise no governo é vista como principal barreira para a aprovação da reforma da Previdência.

Segundo Moro, PF foi orientada a "não proteger ninguém" no caso de laranjas. Exoneração de Bebianno serve como propaganda para declaração, uma vez que, diante dos nomes expostos, somente o ex-ministro sofreu as consequências. Queiroz continua desaparecido. O ministro do turismo continua no cargo.

Presidente do Senado, Alcolumbre comete crime eleitoral ao ocultar imóveis em série da Justiça Eleitoral entre 2002 e 2018. Ao ser questionada, assessoria do parlamentar, primeiramente, não deu resposta, alegando precisar de mais tempo para reunir documentação. Depois, ofereceu uma réplica genérica, afirmando que disponibilizaria documentos levantados para consulta jornalística – o que não ocorreu.

Diário da Bozolândia – 22 de fevereiro.

Fronteira entre Brasil e Venezuela é fechada. Maduro determina bloqueio para tentar impedir a entrada de "ajuda humanitária". Em resposta, Guaidó assina "decreto presidencial" para determinar reabertura da fronteira, mesmo sem ter apoio das forças armadas, o que torna sua ação inócua.

A tal ajuda humanitária, comprada do Brasil pelos Estados Unidos, é somente um pretexto para o interesse principal dos Estados Unidos: o petróleo.

Andrew McCabe, ex-diretor do FBI, chega a afirmar em trecho do seu livro que Trump quer guerra na Venezuela por causa do petróleo.

Ao se pronunciar sobre a crise com o país vizinho, Mourão declara só ver confronto entre países se o Brasil for atacado, mas que "Maduro não é louco a esse ponto". O vice-presidente representará Bolsonaro em reunião na Colômbia onde será discutida situação na Venezuela.

Ministro do Turismo pede para que investigação sobre candidatas laranja do PSL vá para o STF com a finalidade de conseguir foro privilegiado. O governo que se vendeu como "antiprivilégios" é cada vez mais favorável a eles.

Quatro ministros do STF votam a favor de enquadrar casos de homofobia como crime de racismo. Ainda faltam os votos de sete ministros.

Caso Bebianno é visto como "superado" por Mourão e vice acrescenta ser preciso compreender as condições de Bolsonaro nos áudios divulgados, devido a "tudo que o presidente vem passando, sobrevivendo a cirurgias, com antibióticos, analgésicos".

Bebianno ameaça Bolsonaro e deixa cartas espalhadas com amigos. "Caso alguma coisa me aconteça, abram as cartas." - diz. Se fossem abertas hoje, essas cartas derrubariam o governo?

Nas redes sociais, profissionais dos meios de comunicação sempre associados à direita são atacados por bolsominions e acrescentados à lista de "comunistas desmascarados". Hoje, para ser comunista basta criticar um ponto qualquer da Bozolândia.

A reforma da Previdência, se aprovada, permitirá que alterações em regimes previdenciários passem a ser feitas fora da Constituição. Em outras palavras, permite a desconstitucionalização de regras básicas que protegem a previdência e o trabalhador.

Brasil está cada vez mais perto de se tornar um país onde não se pode ter direitos ou lutar para tê-los.

Mourão declara que militares estão insatisfeitos com a proposta da reforma, mas possuem "disciplina" e aceitarão mudanças. Talvez essa disciplina seja sinônimo de paciência para assumir o governo.

As mais importantes estruturas do Estado já são comandadas por militares. O que falta?

Mourão pode responder.

A direita continental sofreu uma sólida derrota na Venezuela


Ricardo Costa de Oliveira

O Grupo de Lima reconheceu o fracasso na tentativa de golpe do 23F. A direita continental sofreu uma sólida derrota na Venezuela depois de ter obtido grandes vitórias em 2018. Quem cai ou sai primeiro? Maduro, Trump, Duque ou Bolsonaro? As apostas estão abertas. 

No auge da Guerra Fria calculavam que uma invasão dos Estados Unidos à Cuba custaria mais de cem mil mortos e um cenário de guerrilhas permanentes. Quando vimos cenas das milícias bolivarianas com mulheres populares, cozinheiras, gente mestiça e pobre, boias-frias, camponeses e operários com armas na mão, que mesmo com muitos problemas defendiam a herança Chavista e Maduro, o custo militar de uma invasão seria muito elevado, apesar da forte oposição das elites e classes médias "brancas" dos barrios mais ricos. 

Trump e as comunidades latinas empresariais de Miami são covardes, vide o caso cubano em seu cerco e bloqueio, vide a Coreia do Norte armada, que encurralou a diplomacia estadunidense a obrigando a negociar, o que resulta em conjunturas complexas e conflitos que se arrastam por décadas. Será que em 2019 estará a Venezuela isolada ou a extrema direita latino-americana? Veremos ao longo dos meses e anos. 

Imaginem o que acontecerá quando os trabalhadores e a gente pobre brasileira entender o roubo das aposentadorias, o desemprego, os baixos salários, a piora na educação, saúde e o sentido enganador do Governo dos Bolsos, com muitos milicos e malucos ideologicamente extravagantes aparelhando o Estado, o que vai acontecer ?

Pablo Ortellado is the new Merval Pereira


O colunista da Folha de S. Paulo, Pablo Ortellado, diz que os críticos da reforma bolsonariana da Previdência praticam "terraplanismo contábil". Esse é o título de sua coluna. Ortellado, que construiu sua persona no debate público como alguém que paira acima da esquerda e da direita em defesa de valores civilizatórios diáfanos, hoje desce à terra e ocupa sem disfarces uma posição ao lado de Merval Pereira e Eliane Cantanhede.

Ortellado já parte do enquadramento da Previdência como questão meramente contábil. Bom, pela regra contábil - se receitas batem com despesas - deveríamos liquidar não apenas a Previdência, mas também escolas e hospitais. Toda discussão séria sobre a Previdência deve partir do reconhecimento que ela é uma política pública voltada à promoção da justiça social. A pergunta "as contas batem?" só ganha sentido quando precedida de outra pergunta: Qual é o patamar adequado que a sociedade brasileira pode prover, para que trabalhadores e trabalhadoras tenham uma velhice digna? Para Ortellado, essa questão simplesmente não existe.

O ponto de partida é ruim e, depois, o texto só piora. Ortellado refuta o argumento de que o defícit contábil não existe quando todas as receitas da seguridade social previstas na Constituição são incluídas na equação. Diz ele que essa afirmação "não reconhece, porém, que essas mesmas receitas são utilizadas por um conjunto amplo de políticas públicas, num jogo de soma zero, de maneira que quanto mais a Previdência as consome, menos se tem para a saúde e a assistência social".

Parece Paulo Guedes falando. Nossa opção fica sendo, então, matar velho ou matar doente. Mas o único adjetivo correto para descrever o argumento de Ortellado é que ele é mentiroso.

(1) As receitas constitucionais previstas para a Previdência são regulamentadas por lei, que determina os percentuais a serem alocados a ela. É de acordo com a lei que se prova que a Previdência não é deficitária, não sacando recursos de um fundo imaginário de contribuições sociais indeterminadas.

(2) Jogo de soma zero com outras políticas sociais é meuzovo. A proposta de reforma da Previdência integra um projeto amplo de ajuste neoliberal em que a perda de direitos previdenciárias não é alternativa, mas, pelo contrário, acompanha a retração no financiamento das políticas sociais. O objetivo é que a classe trabalhadora pague a conta dos lucros crescentes dos especuladores financeiros.

O que leva ao ponto seguinte do argumento de Ortellado: recusar o entendimento de que a dívida pública é a causa principal da crise fiscal. Sem se preocupar em argumentar, ele afirma que essa ideia é "ridicularizada pelo debate profissional". Que debate profissional? Entre os economistas do Bradesco e do Itaú, talvez. A relação entre rentismo e crise fiscal está amplamente estabelecida na literatura internacional - e não só entre autores à esquerda. No caso brasileiro, é fácil descartar os dados produzidos por uma miríade de economistas sérios sem enfrentá-los. Enfrentando-os, fica bem mais difícil. Imagino que Ortellado teria que dizer, como o pessoal do Partido Novo (sic) andou dizendo, que o pagamento dos juros da dívida não pode entrar na conta do orçamento público porque é só uma "devolução".

Quem é o terraplanista aqui?

Por fim, a bala de prata do colunista da Folha: quando a esquerda esteve no governo, ela própria buscou reformar a Previdência. Seria um bom ponto para discutir as severas limitações dos governos petistas e os motivos pelos quais eles, em vez de enfrentar a lógica neoliberal, se curvaram a ela. Mas isso não interessa a Ortellado, cujo negócio é equivaler esquerda a petismo - e usar os equívocos do PT para silenciar o debate.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Psicopatas relinchantes


Leandro Fortes

ESTREBARIA

O sujeito vota numa besta quadrada que venera a ditadura militar e glorifica um torturador que enfiava ratos em vaginas de prisioneiras políticas.

Aí, é a favor da invasão da Venezuela porque Maduro é um ditador e não respeita os direitos humanos.

Ou seja, a relação do Bozo com seus eleitores é um acordo de psicopatas relinchantes.

FORA COM O AIATOLÁ NA EDUCAÇÃO


Esse ministro que insulta os brasileiros, obscuro por mérito, que jamais demonstrou liderança intelectual, administrativa ou política na área da educação, esse ministro que nomeou gente de escassa, se alguma, reputação para cargos de destaque no ministério, entre outras desqualificações, vem agora com isto.

1) Em carta oficial, solicita que estudantes sejam filmados cantando o hino nacional diante da bandeira; que tais filmes sejam enviados ao ministério;

2) Que seja lida a carta reproduzida nesta imagem, com dizeres que repetem o slogan do governo.
Meus amigos e conhecidos que entendem de leis que o digam mas, a mim, leigo de tudo, me parece:

a) Constrangimento ilegal;
b) Intimidação de dirigentes de escolas, (a “sugestão” do ministro será obviamente verificada: “sua escola não enviou o vídeo”);
c) É propaganda do governo com recursos públicos;
d) Induz a repetição de um slogan, por meio de constrangimento, que é uma violação de liberdades de consciência, entre elas a de crença (“Deus acima de todos”).

Tudo isso me sugere abuso de autoridade, abuso de poder e algum crime de responsabilidade:

• “servir-se das autoridades sob sua subordinação imediata para praticar abuso do poder”;
• “violar patentemente qualquer direito ou garantia individual constante do art. 141”;
• “expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição”;
• “usar de violência ou ameaça contra funcionário público para coagí-lo a proceder ilegalmente, bem como utilizar-se de suborno ou de qualquer outra forma de corrupção para o mesmo fim” .

Artigo 37 da Constituição: "§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos."

Quem mandou jamais deixar de ser uma reles colônia, grande e boba?

Nilson Lage

Brasil e Estados Unidos são economias basicamente concorrentes, não complementares, Exportam proteína animal e vegetal (soja, milho, frangos, carnes de porco e de boi), suco de laranja e outros insumos que embutem tecnologia agrícola e processamento industrial para mercados consumidores do Oriente, de onde importam máquinas, eletrônicos, petróleo e complementos alimentares.

Quando Estados Unidos e China começaram a se estranhar, o Brasil cresceu como fornecedor alternativo e houve o boom das exportações de soja. As carnes iam pelo mesmo caminho, apesar dos esforços do governo americano, através de seus agentes nas procuradorias e judiciário brasileiros, para sabotar os grandes exportadores nacionais. As compras chinesas de soja nos Estados Unidos chegaram a estancar e se abriu a perspectiva de grandes investimentos da China na expansão da infraestrutura de transporte e energia do Brasil.

Aí veio essa pústula olavista dos bolsonaros e seu perdido amor pelo Trump.

Diante da crescente e maníaca estupidez brasileira – que é una esperteza americana, porque o Brasil alienou sua inteligência – os chineses voltaram a se acertar com os Estados Unidos,. O aporte de proteína é questão fundamental para eles e, tanto quanto os americanos, são pragmáticos, ainda que mais sinceros e com escassa cobrança de subserviência política.

O lado bom é que o agronegócio com cara de latifúndio se ferra, com ele um tanto da cultura do boi, da bala e dos oligarcas xucros.

O lado ruim é que o Brasil se ferra junto, perde credibilidade, encolhe … e assim caminha para trágico destino.

Quem manda ter assinado aquele malfadado acordo jurídico (e policial) com os Estados Unidos, em 2001, nos anos de entrega desvairada do FHC, ao preço do sacrifício de secular cultura judiciária?

Quem manda ter forças armadas com generais que vivem se esfregando em empresários e picaretas, ricos, odeiam o povo simples do país, não têm a menor noção de geopolítica e se orientam pelo que os “amigos americanos” ensinam?

Quem mandou ter uma imprensa servil e venal, pendurada em Miami?

Quem mandou jamais ter deixado de ser uma reles colônia, grande e boba?

A absurda doação do Pacaembu


Concessão do Pacaembu tem mais cara de doação do que negócio
Juca Kfouri

Esqueça o fracasso que foi, está sendo e nada indica que deixará de ser, o processo de privatização do Maracanã.

Digamos que apenas deu errado, um azar, caiu em mãos ineptas como as da Odebrecht em processo viciado como tudo que a empresa e o ex-governador Sérgio Cabral, hoje se sabe, sempre fizeram.

Admitamos, também, que praças esportivas não devam ser geridas pelo Estado.

O conjunto esportivo concedido tem área de 75.598 m², com área construída de 35.865,53 m², abrangendo piscina olímpica aquecida com arquibancada para 2.500 pessoas; ginásio poliesportivo coberto com capacidade para abrigar 2.500 espectadores; ginásio de tênis com piso de saibro coberto com assento para 800 pessoas; quadra externa de tênis com arquibancada para 1.500 pessoas; quadra poliesportiva externa com iluminação; três pistas de cooper com 500, 600 e 860 m; duas salas de ginástica e posto médico, frequentados, na piscina, por exemplo, gratuitamente pela população nove horas por dia, utilização que será restringida a cinco horas e poderá a passar a ser cobrada.

A concessão permite que os quase 40 mil m² de potencial construtivo receba valor pecuniário em troca da manutenção da área já existente, algo entre R$ 50 milhões e R$ 70 milhões, que transformariam os R$ 111 milhões recebidos pelo erário em R$ 61 milhões ou R$ 41 milhões para o consórcio.

Parece um ótimo negócio. Para o concessionário!

Prestes a completar 80 anos, e erguido sobre terreno público, o complexo esportivo do Pacaembu, tombado pelo patrimônio histórico, é uma das poucas áreas de acesso livre à população de São Paulo, não está sendo concedido, mas doado, sob o argumento de que dá prejuízo de R$ 6 milhões anuais aos cofres da prefeitura, por não assumida má gestão.

Embora o número jamais tenha sido detalhado e o andamento das negociações tenha sido feito praticamente às escondidas, com apenas uma consulta popular, convocada na surdina, cabe discutir se a coisa pública tem de dar lucro.

Pense numa escola, num hospital ou num parque público: foram feitos para serem lucrativos ou para atender bem quem paga impostos e os utiliza?

Parece claro que estamos diante de mais um passo no sentido de pensar a cidade como unidade de negócio e não como locus da cidadania.

Pior: pense neste processo mais uma vez na mãos do tucanato de Aécio Neves, Paulo Preto, José Serra, Marconi Pirillo, Aloysio Nunes, Eduardo Azeredo, Geraldo Alckmin etc.

Por que imaginar que o destino será diferente do acontecido no Maracanã?

Por que supor que a povo não será prejudicado?

Prometem demolir o tobogã para erguer um centro comercial, com restaurantes etc.

Ora, se há empreendimentos que São Paulo tem de sobra são esses, ao contrário de espaços para o lazer e a saúde esportiva dos cidadãos. 

O processo de concessão do estádio já custou a cabeça de arquitetos, membros dos organismos de fiscalização, inconformados com o andamento das coisas.

Que a Justiça siga cumprindo seu papel de não permitir mais um assalto da coisa pública.

Quem vai pagar a passagem para o regime de capitalização da Previdência?


O que é capitalização? Cada trabalhador tem uma conta individual, onde é depositada uma porcentagem de seus rendimentos. Esse dinheiro é aplicado pelos gestores e funciona como uma poupança compulsória. Quando se aposenta, ele pode fazer saques do dinheiro poupado 
...

...há um ponto que foi muito mal esclarecido até agora, e que pode ser mais importante do que todo o resto: a passagem para o regime de capitalização.

No regime atual, nós que estamos na ativa pagamos quem está aposentado. No regime de capitalização, cada um paga a sua própria aposentadoria. Ao longo da sua vida, você vai colocando parte de seu salário em um fundo de Previdência, que depois paga sua aposentadoria quando você estiver mais velho.

A proposta de Guedes estabelece a possibilidade de adesão ao regime de capitalização para quem entrar no mercado de trabalho agora, mas deixa para Lei Complementar a regulamentação do sistema.

Isso é muito ruim. Primeiro, porque os detalhes da proposta são importantíssimos.

Mas não é só isso. O economista Nelson Barbosa notou algo importante. Se, como se espera, a contribuição patronal for menor no caso de empregados que adotarem a capitalização, a adesão vai deixar de ser opcional: quem não aceitar a capitalização não vai conseguir emprego.

E, mesmo se você achar que as regras da capitalização serão excelentes (ainda não sabemos se serão), surge um problemão: quem vai pagar a aposentadoria dos atuais aposentados se os jovens só pagarem a própria?

A transição do regime atual para a capitalização é caríssima. Pense bem: é uma geração inteira de aposentadorias que precisará ser paga com dinheiro tirado de algum outro lugar.

As estimativas desse custo nunca são menores do que algumas centenas de bilhões de reais. Se for isso, a transição come rapidinho boa parte da economia de um trilhão que a reforma atual pretende conseguir.

A promessa da reforma é que ela vai liberar dinheiro para gastar com coisa boa: escola, hospital, redução de impostos. Se for tudo gasto na mudança do modelo de Previdência, não vai ter nada disso.

Até que apareça alguém com um projeto de lei sobre capitalização bem explicado e uma planilha que mostre de onde sairá o dinheiro para a transição entre os regimes, proponho que a capitalização seja retirada da proposta de reforma da Previdência.

Diário da familícia Bolsonaro


Diário, é muita perseguição da imprensa. Todo dia sai alguma reportagem contra mim ou contra a minha turma. Que inveja do tempo da censura...

1-) Hoje, por exemplo, disseram que o Alcolumbre omitiu uns imóveis na sua declaração de bens à Justiça Eleitoral. Pô, quem é que nunca deixou de lado umas casas no Imposto de Renda, só para parecer mais pobre? Já é uma coisa do brasileiro.

2-) Descobriram também que o Ricardo Salles não estudou em Yale. Mas pô, quem é que nunca mentiu quando fez um currículo? Tem que entender o garoto. Mentir é uma mania dele. Tanto que o Ricardo também já alterou mapa de zoneamento e adulterou minuta de decreto para beneficiar umas mineradoras. Como é mesmo o nome de quem mente o tempo todo? Lembrei: é mitômano! Dizem que isso é ruim, mas, pô, se eu sou o Mito, ser mitômano é bom. Kkkkkkkk!

3-) Outra que teve problema com a imprensa foi a Carmen Flores, ex-presidente do PSL no Rio Grande do Sul. Ela foi candidata a senadora e perdeu. Mas o pior é que descobriram que parte do dinheiro do fundo partidário foi parar nas contas da filha, da neta e da própria loja de móveis dela. Mas quem é que não emprega a família quando pode? Quem é que não compra de si mesmo quando o dinheiro é do outro? A imprensa é muito exigente, pô!

4-) Só para ninguém dizer que eu sou reclamão, vou falar que a imprensa de Goiás é boa. Essa não perde tempo com bobagem. Por exemplo, esses dias a Polícia Militar invadiu um acampamento do MTST em Goiânia pouco antes da meia-noite. Quando pediram o mandado, o sargento Antunes mostrou o fuzil e disse “Aqui está o meu mandado”. Depois o sargento exigiu que se levantasse a ficha do coordenador. Não achou nada. Mas falou no ouvido do comuna ocupacionista: “Eu sou acostumado a matar bandido. Se falar alguma coisa, eu volto aqui, te levo para dentro de um barraco e meto um monte de bala na sua cara. Se não for eu, vem outro, porque a polícia é grande”. Isso não saiu em nenhum jornal, em nenhuma rádio, em nenhuma tevê de Goiás. Ah, o Caiado é que tem sorte...

Ah, Diário, bons tempos aqueles em que a gente dava uma prensa na imprensa.


A mexida na Previdência é um escárnio contra as pessoas

Roberto Moraes

A mexida na Previdência que em nenhuma hipótese pode ser chamada de reforma e nem nova, se trata de um presente ao sistema financeiro que é o lugar de origem do "posto Ipiranga", também conhecido como Paulo Guedes.

A Previdência Social demanda ajustes é certo. 

Os governos anteriores fizeram alguns. 

Outros seriam necessários, mas não esse escárnio contra as pessoas.

Não há quem não reconheça que quem mais ganharão serão os bancos, donos dos fundos de previdência privada com o tal presente do sistema de capitalização em conta individual.

Até os "colonistas" econômicos da mídia corporativa reconhecem o fato.

Os ganhos serão tão "robustos" [palavras dos donos dos dinheiros] que não será difícil acompanhar o caminho [que eles mesmos chamam de "pipeline" dos bancos (dutos) com o dinheiro que já começou a comprar votos no Congresso.

É uma legislação desumanizadora que aposta na barbárie tirando dinheiro que tem origem no trabalho para engordar quem já está estourando de dinheiro.

O mundo das finanças

Luis Felipe Miguel

"A finança é uma 'indústria' em que é difícil distinguir entre inovar e quebrar ou torcer regras; em que os lucros ganhos com atividades semi-legais ou ilegais são particularmente altos; em que o gradiente de expertise e remuneração entre empresas e autoridades reguladoras é extremo; em que as portas giratórias entre as duas oferecem intermináveis oportunidades para corrupção sutil e não tão sutil; em que as maiores empresas são grandes demais não apenas para falir, mas para que seus executivos sejam presos, dada sua importância para a política econômica nacional e para a receita fiscal; e onde a fronteira entre as companhias privadas e o Estado é mais embaçada do que em qualquer outro lugar".

Wolfgang Streeck, How capitalism will end? London: Verso, 2016, p. 70.

Os moralizadores da República

Claudio Guedes

Os vivaldinos

"O agora presidente do Senado é membro de uma família com patrimônio elevado no Amapá, possuidora de mais de uma centena de imóveis, postos de gasolina, empresas e retransmissoras de TV, entre outros.

Desde 2002, Davi vem informando aos seus eleitores ter poucos bens, às vezes nenhum.

Em 2002, 2010 e 2012, por exemplo, declarou não ter nem um centavo de patrimônio. No ano passado, quando disputou e perdeu o governo do Amapá, afirmou à Justiça Eleitoral ter R$ 770 mil —uma casa de R$ 585 mil, além de depósitos e aplicações bancárias.

Os registros cartoriais em Macapá, no entanto, mostram que desde o final dos anos 90 até pelo menos 2016 há registros de aquisições imobiliárias feitas pelo senador no centro e em condomínios residenciais da cidade." 
(Folha de S. Paulo/UOL, 25/02)

O pobre (sic) Davi Alcolumbre, senador do DEM do Amapá, é um pobre de fachada.

Menino rico que se fantasia de pobre para iludir eleitores.

Um vivaldino.

Mais um na base de apoio do governo que iria moralizar a República.

A hegemonia global dos EUA terminará na Venezuela


Fabio De Oliveira Ribeiro

Há algo importante que precisa ser lembrado quando pensamos sobre a crise da Venezuela. O desespero gringo. Os maiores consumidores mundiais de petróleo são o US Army, US Navy e US Airforce. O exercício glo bal da hegemonia militar dos EUA depende do acesso à países-postos de gasolina. Em caso de guerra mundial, o Iraque é longe e vulnerável diante do Irã. A Arábia Saudita pode ser rapidamente detonada pela Rússia. Os EUA não tem petróleo suficiente para realizar operações militares globais em seu território (aí contrário da Rússia). A China tem acesso ao petróleo iraniano. Rússia e China se unem na Venezuela para privar os gringos do principal insumo da guerra moderna. A hegemonia global dos EUA terminará na Venezuela. Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso.

Oscar de melhor Roteiro Adaptado


Veja o carnaval tucano em São Paulo


João Doria esquentando os tamborins

A elegância na hora de perder um Oscar



Rowan Atkinson (injustamente conhecido como Mr. Bean) mostrando toda elegância na hora de perder um Oscar 😁

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Nicolás Maduro obteve uma vitória incontestável e espetacular


Gilberto Maringoni

A VITÓRIA DE MADURO FOI ESPETACULAR
Guaidó não tem apoios internos. EUA cometem erro crasso de avaliação

É PRECISO DIZER COM todas as letras: Nicolás Maduro obteve uma vitória incontestável e espetacular contra a tentativa de derrubá-lo através da entrada forçada de uma torta "ajuda humanitária", articulada pelo Departamento de Estado, com auxílio da Colômbia e do Brasil. Inquestionável e espetacular, não menos que isso.

Os Estados Unidos demoraram a encontrar uma tática para retirar Maduro do poder que fosse palatável á opinião pública global. Quando Donald Trump declarou, na ONU em 26 de setembro do ano passado, que "Todas as opções estão na mesa, todas. As mais e menos fortes. E já sabem o que quero dizer com forte", estava se referindo a uma intervenção militar direta. Marines e boinas verdes marchariam sobre Caracas.

NÃO É FÁCIL, MESMO PARA UM IMPÉRIO, materializar uma ação desse tipo. É preciso um mínimo de consenso internacional, o suporte da maioria da opinião pública de seu país e legitimidade dentro do país invadido. Os Estados Unidos já realizaram intervenções diretas na América Central, no Oriente Médio e na Ásia. Mas nunca na América do Sul.

Aqui valeu sempre a terceirização de ações. Ou seja, alianças com o empresariado, as forças armadas, os meios de comunicação, a Igreja católica e parcelas da opinião pública. Foi o que se viu no Brasil (1964), no Chile (1973) e na Argentina (1976).

Trump se animou ao ver a correlação de forças regional mudar em 2018, com a vitória dos direitistas Ivan Duque, na Colômbia (junho) e Jair Bolsonaro, no Brasil (outubro). Não se sabia como uma iniciativa "forte" seria recebida na sociedade venezuelana. Havia - e há - forte crise econômica e dificuldades materiais pesadas para a população pobre.

AS INCERTEZAS QUANTO A APOIOS INTERNOS na Venezuela seriam assim compensados por uma sólida frente externa, que envolveria Sebastian Piñera (Chile) e Maurício Macri (Argentina). Havia dúvidas sobre a unanimidade na União Europeia, pela posição ainda equidistante de Portugal e Espanha, nos últimos meses do ano. Mas França, Inglaterra, Itália e Alemanha se somariam à articulação da Casa Branca, o que logo arrastou todo o Velho Mundo.

As articulações dentro da Venezuela se voltaram para o poder unilateralmente anulado pela Constituinte convocada por Maduro, em junho de 2017. Trata-se da Assembleia Nacional (AN), que seria o ponto de apoio de todas as movimentações sediciosas.

Em 11 de janeiro deste ano, dia seguinte à posse de Maduro, Juán Guaidó, até então um obscuro parlamentar em primeiro mandato que assumira a presidência do Legislativo, se dirigiu a um protesto em Caracas e chamou o sucessor de Chávez de "usurpador". Ato contínuo, convocou o Exército, o povo e a comunidade internacional a apoiar os esforços da AN para tirá-lo do poder. E se colocou à disposição para assumir interinamente a presidência do país.

IMEDIATAMENTE, A MÍDIA INTERNACIONAL traçou perfis para lá de favoráveis de Guaidó, que seria um líder moderno, carismático e democrático. O troféu babaovo ficou para um colunista da Folha de S. Paulo, que atentou para suas semelhanças gestuais com Barack Obama.

Foi o que bastou para cerca de 50 países - a começar por Estados Unidos e Brasil - reconhecerem Guaidó como líder de um governo de facto. Construiu-se um empate catastrófico, uma dualidade de poderes que levou a Venezuela a um impasse aparentemente insolúvel. Guaidó chegou a designar embaixadores, receber verbas internacionais e passou a ser saudado como chefe de Estado.

MADURO RECEBEU APOIOS quando China e Rússia - além de México, Uruguai, Bolívia e outros - literalmente trancaram a rota de uma unanimidade internacional (e no Conselho de Segurança da ONU, para onde a questão ameaçou ser levada). No início de fevereiro, O secretário-geral da Organização, António Guterres, afirmou ser Maduro o presidente legítimo do país.

O DEPARTAMENTO DE ESTADO deve ter percebido que o desenho de uma intervenção direta seria extremamente arriscado diante do quadro internacional. E projetou uma solução híbrida: reforçaria os dutos de dinheiro a Guaidó, convocaria as forças armadas do Brasil e da Colômbia a participarem do show midiático marcado para 23 de janeiro, quando toneladas e toneladas de "ajuda humanitária" entrariam por bem ou por mal na Venezuela, e açulou seus mais fiéis cães de guarda, Iván Duque e Jair Bolsonaro.

Deu errado.

O que falhou e como Maduro obteve sua vitória espetacular?

Algumas hipóteses:

1. JUAN GUAIDÓ MOSTROU-SE UMA FARSA. Nem mesmo o bulldozer midiático montado interna e externamente, destinado a projetá-lo como líder inconteste, conseguiu encobrir um fato. O jovem deputado representa quase ninguém. Nem nas grandes cidades e nem na fronteira houve manifestações de massa em apoio à "ajuda humanitária" ou ao suposto presidente. Guaidó falou sozinho;

2. O ERRO DE CÁLCULO DOS ESTADOS UNIDOS - e de seus serviços de espionagem e inteligência - desmoraliza toda a oposição venezuelana e leva os governos de Duque e Bolsonaro a passarem um carão de dimensões planetárias. Ambos tornam-se atores nulos em qualquer mediação de gente grande no plano internacional.

3. NO CASO BRASILEIRO, o bom senso do setor militar puxou o freio de mão nos delírios napoleônicos de Jair Bolsonaro - que definitivamente jamais soube o que é sombra de estratégia militar -, David Alcolumbre, Dias Tófolli e Ernesto Araújo. Esses, em reunião sábado relatada pelo Painel da FSP, defenderam quase uma nova invasão da Normandia. Hamilton Mourão, Augusto Heleno e Rodrigo Maia se colocaram contra até mesmo da presença de militares estadunidenses em solo brasileiro. Uma ação mais decidida teria de ser feita por terra, em meio a selva, e o risco de fiasco militar era enorme.

4. POR MAIS INSUFICIÊNCIAS QUE NICOLÁS MADURO APRESENTE como liderança, ele conseguiu provar que a oposição é muito pior. Seu discurso sábado em praça pública, diante de dezenas de milhares de pessoas, foi realista e sem bravatas. Evitou atacar o Brasil e centrou fogo na Colômbia e nos EUA. Quer ajuda humanitária, mas de organismos multilaterais. O restante, pagará pelo que vier, em operações comerciais normais. E deu concretude ao que Chávez e ele próprio bradam há duas décadas: o Império quer mesmo invadir a Venezuela.

5. O PRESIDENTE VENEZUELANO obteve algo raro: união nacional contra o inimigo externo. Destravou o impasse que já durava um mês. É bem provável que se convocar agora um referendo revogatório de seu mandato, será vitorioso com boa margem.

6. A CRISE ECONÔMICA NÃO FOI VENCIDA. Há uma situação emergencial, em meio ao embargo econômico que rouba recursos legítimos do país. Mas as prateleiras dos mercados estão cheias de produtos iranianos, turcos e russos. A perspectiva de superação mostra-se difícil, mas - pelos relatos de quem está em Caracas - não há um clima de desespero geral na capital, como alardeado até semanas atrás. O principal sinal é que cessaram as coberturas da mídia corporativa sobre busca desesperadas de produtos, a começar por papel higiênico.

7. COMO DIRIA HUGO CHÁVEZ, há uma vitória a ser comemorada, "por enquanto".

Um ponto a mais deve ser levantado. Tirando a vitória de Manuel López Obrador, no México em julho passado, a esquerda latino-americana não tinha boa notícia assim há anos.

Não é pouca coisa, gente...

(Partes deste texto se originam em conversas com Artur Araújo, sempre esclarecedoras para mim. As possíveis bobagens ditas aqui correm inteiramente por minha conta)