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sábado, 8 de maio de 2021

A guerra entre os traficantes


Nilson Lage

Por que policiais  não revelaram logo os nomes de suas vítimas?

Porque essa é uma forma de diluir sua identidade, como se fossem bichos. Por isso os chamam, sem provas, de "suspeitos", palavra que, objetivamente, não quer dizer nada.

Por que a imprensa chama o que sempre foi “chacina” e “massacre” de “ação policial”?

Porque o eufemismo é inventado pelos criminosos para ocultar a natureza real de seus crimes. Há editores medrosos e repórteres corruptos, nefelibatas ou que jamais ouviram falar em semiologia.

O que se passou, enfim, no Jacarezinho não foi uma operação de   repressão do tráfico de drogas. A polícia não faz mais isso, a sério, há muito tempo. 

Pode ter sido ato terrorista, vingando colega morto (como os mazistas faziam: para cada um dos soldados mortos, dez civis fuzilados)

Todos sabem onde ficam os pontos de venda e quem vende: não há repressão (fora, para constar, apreensões combinadas) porque o tráfico está articulado com vereadores, deputados, desmbargadores, juízes e as prórias instâncias policiais e de segurança interna. 

Se houvesse intenção de limitar o tráfico bastaria seguir a trilha das toneladas que passam, por aeroportos, portos e divisas. Não há como derrrubar florestas podando árvores e respeitando os troncos.


Todo mundo sabe que o ópio (opiáceos, heroína) é um negócio inglês cultivado desde meados do Século XIX (as guerras do ópio, que submeteam a China), de que os americanos se apropriaram ao invadir o Afeganistão e assumir o comando dos campos de papoulas. A cocaína é igualmente hoje negócio dos gringos que, dizem, por causa dissso (consultem, no Google, “episódio Irã-contras”), plantaram uma porção de “bases militares” na Colômbia. 

Consta que parte do negócio ds drogas latino-americanas (o ópio é da Big Pharma) sustenta grupos de extrema direita hoje alojados no Partido Republicano e que subordinam tanto o mercado paralelo das igrejass neopentecostais (para lavagem de dinheiro) quanto núcleos locais ligados à quadrilha familiar que governa o Brasil. 

O que aconteceu no Jacarezinho, ao que me diz gente conhecida, foi um operação disparatada, desumana, cruel e incompetente (a ponto de dar rajadas  em carros do metrô) de vanguarda miliciana para tomar o controle do tráfico no Jacarezinho, alijando o Comando Vermelho. Dizem que a milícia tem associação oculta com o PCC de São Paulo, que guarda relações diplomáticas com gente do PSDB e assumirá a comunidade quando se implantar a paz dos túmulos.

Noticia-se que o traficante de armas fornecedor do CV – e, é claro, morador na Barra da Tijuca – já foi preso, sinal de que a guerra  prossegue na esteira da batalha.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Sutileza


Numa reunião na Suécia sobre a próxima decisão brasileira quanto à Internet 5G – ela mesma inusitada, como todas as iniciativas recentes de Brasília em política externa –, o Ministro das Comunicações, Fabio Faria, entregou a Marcus Wallenberg, “em nome do presidente Jair Bolsonaro”, um pedido de socorro em vacinas da Astrazeneca – essas que a Fiocruz começa a fabricar no Brasil com base em contrato de transferência de tecnologia com cláusulas denunciadas agora como nebulosas.

A família Wallenberg participa da composição acionária e influi na gestão tanto da Astrazeneca quanto da Ericsson, concorrente da chinesa Huawei na disputa do contrato brasileiro para instalação da rede da 5G, este ano. Uma terceira negociação, que não pode ser dissociada, é a da transferência de tecnologia para jatos supersônicos da Saab-Gripen ao Brasil.

No quadro da guerra tecnológica em curso, a Ericsson e a finlandesa Nokia, são as preferidas dos Estados Unidos, embora haja consenso de que a tecnologia chinesa é mais avançada e seja a que equipa quase todos os esquipamentos sensíveis das telefônicas brasileiras.

No dia seguinte, o Ministro da Saúde, General Eduardo Pazuello, fez pedido similar ao embaixador da China, onde se fabrica a Sinovac (no Brasil, licenciada ao Instituto Butantan) e o presidente da Câmara Federal, Artur Lira, escreveu-lhe comovedora carta pedindo ajuda.

Há que comentar os personagens: Fábio, genro de Sílvio Santos e representante (deputado) da oligarquia do Rio Grande do Norte que se opõe à atual governadora, Fátima Bezerra do PT; Lira, notório político, com extensa folha corrida. De Pazuello, muito se vem falando ultimamente.

E o nível em que as negociações são conduzidas – misturando estações, em atmosfera nebulosa e fugindo a responsabilidades em assuntos sérios –, clara indicação de que nada será como vai parecer.

Prostitutas bem sucedidas e vendedores de carros usados costumam ter desempenho mais sutil.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Sem um expurgo nas instituições não haverá saída para o Brasil



Desconfio de advogados. Temo pessoas – como eles, também publicitários, jornalistas e acadêmicos – que assumem ardorosamente quaisquer ideias, desde que lhes paguem. 

A média dos professores de Direito com que convivi não mudou  meu juĩzo a respeito: vi com horror as faculdades, em que se deveria defender a causa dos injustiçados, transformarem-se em escolas de polícia, nas quais se assume que  todos têm culpa até provar inocência e se discute sistematicamente como suprimir direitos e se apossar de bens dos vulneráveis.

Toda essa repulsa pelos sujeitinhos empacotados em ternos cheirosos que manejam as imorais tabelas de custos da OAB, só fez crescer com o strip-tease moral dos procuradores da República da ala fascista – moleques armados de ódio e dotados de má-fé – e os sinistros rábulas da CGU, agora empenhados em silenciar a liberdade de cátedra.

Sem um expurgo no Judiciário e arredores, nas concessões de empresas de mídia e nos quadros de comando das forças armadas, não haverá saída para o Brasil, mesmo que se desfaça o tradicional rolo poĺítico, cure-se a doença ideológica e se proclame, enfim, a independência do país.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Recordar é viver

Escrevi isso em janeiro de 2014.
Pena que estava certo.
· 
É evidente que se prepara no Brasil um ciclo de agitação igual a esses que no momento desestabilizam os governos da Venezuela, da Tailândia ou da Ucrânia - desdobramentos da "primavera árabe" com a mesma composição eclética e imprecisão de objetivos.

O que há de comum, independente dos governos contestados e da política que praticam, é que as agitações, onde quer que ocorram, convergem com os interesse dos Estados Unidos e correspondem à inviabilidade de obter apoio suficiente para vitórias eleitorais.

As Organizações Globo expressam e sempre expressaram os interesses dos Estados Unidos: essa é a origem historicamente comprovada de sua força política e o suporte de sua grandeza econômica. A oposição no Brasil, apoiada por banqueiros e corporações profissionais da elite,  caminha frágil para as eleições.

Nesse contexto é que devem ser vistos os conflitos internos e externos que envolvem o jornalismo da Globo - e, com menor relevância, da mídia em geral..

Do ponto de vista dos interesses que se articulam para devolver ao Brasil um governo mais alinhado com a política imperial norte-americana, a unidade estratégica dos contrários - à direita e à esquerda - é importante nesse momento. Ela poderá impedir que o Estado democrático brasileiro tenha recursos necessários para defender-se da baderna ou obrigá-lo a exagerá-los a ponto de permitir o retrocesso institucional.

Está aí o exemplo do Egito, para não dizerem que exagero.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

O futuro da mídia

 
Pessoas sem qualquer formação e competência -- técnica ou ética -- conquistam multidões de fiéis leitores, espectadores e ouvintes por empatia, demagogia ou mistificação. Proliferam blogs e videos de mentiras e calúnias, tanto quanto igrejas de estelionatários e discursos de ódio.

Será o caso, então, de repensar o jornalismo, prática e ensino?

Certamente.

A burguesia renascentista, em sua disputa com a nobreza pós-feudal pelo controle do Estado, assegurava que um sistema de informações social constituído de veículos com pontos de vista divergentes sobre fatos reais permitiria o diálogo entre classes, nacionalidades e padrões de comportamento. Essa diretriz adaptou-se, na Europa do Século XIX, à industrialização dos impressos, custeio da mídia pela publicidade e sua dependência de financiamento bancário. 

É um projeto que agora se desfaz quando a concentração e financeirização da sociedade global impõe discurso único ou quase isso: as divergências aparentes confirmam a unicidade da essência. 

A pretensão dos Hearsts e Pulitzers norte-americanos de introjetar os interesses conflitantes da sociedade em grandes empresas, olímpicas e neutras,  herdeiras no entanto do sensacionalismo de aedos e menestréis, tonou-se farsa: veículos editados por burocracias obedientes despejam montanhas de propaganda sobre o público, abrindo pequenas janelas para verdades e questionamentos: às vezes a charge, algum figurão ou gente de prestígio consolidado que escreve ou depõe, um ou outro editor ou repórter ousado e driblador, em risco de degola.

Tomando como exemplo a mídia do Rio de Janeiro e os anos anteriores ao golpe de Estado de 1964: onde o Diário de Notícias, nacionalista, que pregava a industrialização e a politica externa independente? O rico e ferozmente liberal Correio da Manhã? A Última Hora do ideal trabalhista? O Jornal do Brasil, órgão católico que se modernizou e encarnava os ideias da nova classe média? A TV Excelsior, líder de qualidade, asfixiada após a falência por decreto da Panair do Brasil, do mesmo grupo econômico? 


As notícias mais confiáveis provêm de instituições e agências estatais como a BBC, a RFI, a Xinhua, a Deutche Welle ou a Russian TV: cada uma dessas tem seu viés próprio, zonas de sombra e focos de luz negra -- mas é possível, com algum estofo crítico, identificar, caso a caso, suas motivações; isso não acontece tão facilmente com um Guardian, uma Globo ou um New York Times.

O futuro da mídia depende, portanto, de como sustentá-la com o melhor padrão ético, capacidade de traduzir enunciados específicos para diferentes públicos e transparência em suas reais intenções, sem o biombo de inovações linguísticas como “modelo de negócios”. É preciso que o reflexo da sociedade se faça integral e sem tamanhas distorções.

Não é muito diferente do desafio que se apresenta às artes e à produção cultural. A guerra do jornalismo é contra o aparelhamento pelo marketing e propaganda. Em outros termos, contra a corrupção das palavras, instituições e pessoas.

Em post futuro -- amanhã, talvez, -- darei minha opinião sobre as faculdades que proliferam em um mercado de trabalho constrangido e, muitas vezes, frustrante para os melhores dentre os jovens idealistas que buscam essa formação profissional.

Não quero que concordem, não penso discutir esses assuntos: só que, se julgarem interessante, entendam o que pensa este velho jornalista e professor, já tantas vezes consultado a respeito.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

Centrão não quer governar, quer roubar

Nilson Lage 

Não caiam nessa lorota de que o centrão, não Bolsonaro, vai governar o Brasil.

Governar não é prioridade para o centrão, que nem tem algum acerto interno sobre o que faria, caso governasse.

O centrão é um rebanho de picaretas tocado por oportunistas.

O nível mental dessa gente que povoa o Congresso Nacional foi claramente exposto no julgamento do impeachment de Dilma Rousseff. 

Na maioria, são anlfabetos funcionais,  incapazes de articular dois pensamentos: repetem, em jatos, frases feitas. E votam por conveniência.

O que querem é dinheiro. São pequenos ladrões e alguns fanáticos aderidos à malta.

Defenderão ideias que supuserem populares até que lhes paguem para defender o contrário.

Bolsonaro tem dinheiro público – cargos, concessões, empresas – para pagar. 

E seu projeto é destruir – isto é, governar pelo contrário.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O primeiro ditador de verdade





O Brasil viveu períodos de governos autoritários, democracias de fachada e uma rara brecha liberal, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o golpe de 1964. Após o regime militar, sob pesada vigilância do imperialismo norte-americano, o país assistiu à construção da nova ordem internacional que exclui a possibilidade de soberania, isto é, controle da moeda, da ordem pública, das riquezas naturais  e mediação no conflito social.

Os anos de governo do PT revelam, com seus ganhos espetaculares, o custo dessa falta de autonomia e, ao mesmo tempo, como é impossível recobrar a pátria estando o controle efetivo da economia e da sociedade nas mãos de quem presentemente as domina – oligarquias, quadrilhas e corporações que se dão bem  com as altas finanças globais.

Uma coisa é certa: não tivemos, a bem dizer, ditadores, governantes absolutos, senhores únicos do bem e do mal. Teremos agora.

Getúlio Vargas representou grupos articulados de inteligência política: os tenentes, inicialmente, com suas contradições; e o segmento de intelectuais orgânicos que, regendo esses conflitos,  formularam o projeto de nação embutido no Estado Novo. Pode-se odiar Oliveira Viana, Francisco Campos ou Azevedo Amaral – todos eles mal vistos nos registros imediatamente posteriores da História; pode-se fazer pouco de um Gustavo Capanema, desprezar um Goes Monteiro ou um Eurico Gaspar Dutra. Nenhum desses se equipara à constelação de tolos emproados que hoje ocupa Brasília: Dutra, por exemplo, saibam disso, ou tinha excelente assessoria ou argumentava bem por escrito.

Também no regime militar não havia ditadores no sentido clássico: era uma ditadura do comandos militares, em que segmentos conservadores com vernizes civilizados e a soldadesca brava treinada com reflexos condicionados – a linha dura – negociavam as decisões importantes. Assim, tanto Castelo Branco em seus sucessivos recuos, quanto Costa e Silva, no projeto frustrado de “uma constituição democrática”, cederam espaço a tresloucado comando que se expandiria sem freios no contexto continental da Operação Condor,  no governo omisso e vaidoso de Garrastazu Medici.

Ernesto Geisel, um conservador patriota típico, tentou dar rumo à nau insensata, mas enfrentou forte oposição dessa gente que agora segue caninamente o comando insensato de Jair Bolsonaro.

Este, sim, cercado de fanáticos, puxa-sacos e militares de rasa compreensão da realidade, apresta-se a ser o primeiro ditador de verdade do Brasil. Controlará áreas de autonomia técnica, como a gestão de saúde ou educação; o Supremo Tribunal Federal; as duas casas do Congresso: a nova religião oficial do país. Senhor do poder absoluto, não precisará prestar  ouvir ninguém ou oferecer qualquer projeto á nação.

O miliciano liquidante governará aos palavrões.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Nada do que ocorre é fruto da burrice, é projeto





Vejo farta literatura na Internet pedindo o impeachment do Bolsonaro.

Improvável.

Como não tem o menor traço de caráter, o desgraçado enturmou-se com os banqueiros ladrões, o centrão das oligarquias e seus aliados de sempre -- velhos torturadores e assassinos --, de modo que nada de braçada enquanto o xingam. Joga na ambição dos burocratas e no poder das armas milicianas.

Está prestes, em fevereiro, a conquistar o controle do comando das duas casas do Congresso, em particular do vice do vice, que deve ser o Lira que o diabo tange ou o não-confiável opositor,  aquele que seria mais pudico apelidar de Mr. Whale, para ser engraçado só no estrangeiro.

Até o fim do ano, com a nomeação do segundo borra-botas da quota que lhe cabe, ele anula o STF.

Os militares que têm vergonha na cara escondem as duas no travesseiro.

Os bacharéis bacharelam, as megeras megeram, os políticos politicam, os jornais mentem.

Resta a decisão monocrática do Biden, novo maestro titular deles todos.

Mas aí corre-se o risco de irem com Bolsonaro, para a latrina  líquida do capital, a Amazônia, o Cerrado, o Centro-Oeste rural, tudo que tem valor negociável no Brasil, ficando o resto como grande Honduras ou Líbia,  com a memória histgórica dos sonhos perdidos.

Tudo que se atribui a burrice, como a educação brasileira para Darcy Ribeiro, não é isso não. É projeto, Esses caras, conscientes ou não, são atores lendo scripts.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Brasil tem 2,6% da população do mundo e 11% do total de mortos por covid-19


Diante do fato que registrei em post anterior – o descompasso entre a população brasileira (2,6% da população da Terra) e a porcentagem de mortos pela Covid-19 até agora, pouco menos de 11%, 198 mil do total de 1,8 milhão – busco uma explicação, como certamente tentarão muitos outros, curiosos ou cientistas, no futuro.

Olho o mapa mundi e a distribuição da doença.

A chave para a compreensão do fenômeno parece ser algo que tenho ouvido, com frequência, de pessoas comuns. Elas dizem que “se cuidam”. Suponho que melhor estaríamos se dissessem “cuidamos  dos outros”.

Brasil, Estados Unidos – lamentavelmente também a Europa, em que pese a memória do quanto a solidariedade lhe valeu nas últmas grandes guerras – são países em que cada um cuida de si, cidadelas do individualismo, fantasia segundo a qual as pessoas existem (sentem, pensam, agem) independentemente das sociedades e culturas que as moldaram.

Esse é, creio, o fator mais importante, que nos leva a governos fracos, embora arrrogantes, incapazes de gerir o bem comum.

Há também o reducionismo. Mesmo gente supostamente culta – penso nos bacharéis, militares, financistas, até médicos – não consegue entender o mecanismo da imunização cruzada pelo qual vacinas com porcentagem de eficácia de 70 por cento ou mais conseguem imunizar cem por cento de uma população.

Há cálculos matemáticos que, considerando a porcentagem de eficácia da vacina e da sua aplicação em uma população, estabelecem os valores necessários para isso, mas é algo que escapa ao empiricismo simplório desses nossos intelectuais da planície, que não consegue pensar a doença e o contágio senão como fato aleatório que não admite trato probabilístico.


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Sociedade Brasileira de Infectologia responde aos fanáticos iletrados do MPF com muito mais respeito do que eles merecem

Sociopata ridículo e perigoso.

Nilson Lage

Com a arrogância e desvario próprios da espécie, os bacharéis concursados da Procuradoria da República em Goiás interpelaram por oficio a Sociedade Brasileira de Infectologia sobre porque não recomendava cloroqina e azitromicina no tratamento de doentes de Covid19.

A entidade médica fingiu que não notou o absurdo da interpelação – a tentativa de subordinar à Justiça decisão pertinente a leis da natureza – e respondeu educadamente.

Poderia tê-lo feito em termos mais incisivos. Esses demedidos politiqueiros estão precisando que alguém lhes dê um chega-prá-lá.

Cloroquina – hidrocloroquina – é medicamento considerado eficaz contra malária e azitromicina, um anti-helmíntico. Malária e infestação por vermes são males endêmicos no interior do Brasil e isso explica a difusão de seu uso – talvez a presença difundida nas farmácias militares.

Ambos são ineficazes no tratamento de doentes do covid19, como comprovam estudos clínicos realizados – no Brasil, este ano, por um consórcio de 50 hospitais e centros médicos de referência.

domingo, 20 de dezembro de 2020

A origem da riqueza é o roubo




Até os livros de biologia registram que a espécie humana é a única em que um indivíduo explora os semelhantes; Karl Marx e Friedrich Engels comprovaram, no contexto da sociedade industrial – em que as classe sociais reduziram-se a duas e o espaço de confronto ao ambiente das fábricas – a condição da luta de classes como propulsora da História.

Isso, no entanto, não deve ocultar a consciência de que a acumulação de capitais descende diretamente do esbulho de bens alheios. Para nos limitarmos ao ciclo econômico que se originou no Renascimento, foi com os riquezas tomadas a comerciantes árabes e judeus que os reinos católicos ibéricos partiram para  a aventura marítima que os levou a arrazar  impérios americanos, destruir sua civilização e apropriar-se do que tinha valor, logo tomadopela pirataria e usura de outros europeus; estes levariam o mesmo ímpeto predador  a milenares estados orientais, de onde o Ocidente importara os instrumentos de seu progresso, do papel à pólvora, da matemática às caravelas.

A sociedade industrial que resultou disso na Europa e as instituições que temos ainda hoje originam-se daí.

Esse tipo de análise é oportuna porque, tão logo a perspectiva de desenvolvimento das máquinas e da inteligência artificial promete reduzir a mais valia tomada do trabalho humano pelo capital, ganham prioridade os planos neomercantilistas fundados na posse de fontes de matérias-primas, domínio dos mercados e subordinação religiosa das populações periféricas.

As formas jurídicas, que pareciam tão sólidas, desmontam-se rapidamente. Enganam-se os que a elas se aferravam, ou aferram.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Lições da guerra das vacinas

Nilson Lage

Temos a vacina chinesa. Tradicional, de vírus lisado, morto. Tecnologia consolidada, custo baixo, acesso fácil. Fabricada em São Paulo.

Temos a vacina inglesa, que também é meio chinesa. Um pouco mais elaborada, mas tudo indica que segura. Distraíram-se e abriram a guarda nos testes, e isso vem sendo cobrado. Custa um pouco mais caro. Fábrica no Rio de Janeiro.

Os dois itens cobrem pelo menos metade da demanda previsível este novo ano, talvez no próximo.

Na reserva, há dezenas de outras vacinas, com destaque para a vacina russa, que oferece transferência de tecnologia e custo viável.  Não fosse a irracional barreira ideológica, estaria nas manchetes.

As vacinas americanas, da Pfizer e da Moderna, são produtos de ponta, voltados, não exatamente para a prevenção da covid19, mas para o desenvolvimento futuro de drogas capazes de abastecer os lucrativos mercados de cancerosos e cardíacos que preenchem os sonhos da indústria farmacêutica. Baseiam-se na aplicação do RNA integral do vírus encapsulado. Custam dez vezes mais caro que a  concorrência e exigem condições de aplicação que duplicam esse valor.

Os países da órbita au-au dos Estados Unidos – seus apêndices latino-americanos e satélites, como Inglaterra ou Arábia Saudita, raspam qualquer cofre para servir aos interesses do amo.

O Brasil gostaria de fazê-lo: levar frigoríficos com câmaras a menos 75 graus centígrados aos confins da Amazônia e provar, assim, o quão lacaios são seus governantes.

Mas as contradições desse país tão grande quanto burro e importante...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O fim da democracia representativa

Nilson Lage

1. A inclusão de critérios de moral e costumes nas escolhas eletivas;

2. O direito assegurado de contar mentiras, difamar e insultar pessoas e instituições;

3. O poder crescente da mediocridade e da retórica publicitária

Isto decreta o fim da democracia representativa fundada em eleições relativamente livres.

Isto é o fim de uma era, sepulta o iluminismo e impõe que se criem mecanismos de gestão da coisa pública baseadas em teorias consistentes, objetivos claros e revisão constante.

É preciso dar autoridade à  razão.


domingo, 6 de dezembro de 2020

O racismo estrutural

Nilson Lage

Não abro este espaço aqui à discussão, por três motivos:

1. discute-se, em redes sociais, não em busca da verdade, mas de aplauso, apoio, concordância;

2. não faço questão de estar certo; como minhas conclusões são geralmente péssimas, é tentador, imaginar que estou errado;

3. Uso isso aqui para expor ideias, não para defendê-las em batalhas verbais.

Bloqueio discussões, principalmente com militantes e apaixonados.

Isso posto, vamos ao “racismo estrutural”.

Se algo é estrutural, é de reparo inviável. Melhor destruir a estrutura danificada.

De cara, diria que se trata de imediatismo pequeno-burguês, tipo “tudo-ou-nada”, Apocalypse Now

Incomoda-me o uso de palavras, em Ciências Sociais, sem a definição precisa do que significam. “Estrutura” é um caso. Os modos de produção, as relações de classe podem ser estruturantes em uma sociedade. As trocas de bens, ideias e pessoas, não: fazem parte da dinâmica de sobrevivência, e se agregam às estruturas, que devem sustentá-las.

Isso nada tem que ver com a durabilidade de um contexto ou das ideologias que o prolongam..

O conceito objetivo de estrutura – organização das partes em um todo funcional – foi empregado metaforicamente, entre outros, por Levi Strauss, no seu estudo sobre relações de parentesco – que, ele, sabiamente, não associa a interdições de natureza genética, embora nelas devam inspirar-se, em última instância.

Tive oportunidade de debater essa representação ideológica da estrutura de parentesco com cientistas que estudavam estruturas proteicas de venenos de escorpiões. É uma viagem.

A consideração do racismo como comprometimento estrutural está presente há muito na sociedade – não apenas racista, mas, sobretudo, segregacionista – dos Estados Unidos. É a motivação das campanhas, persistentes até hoje, pela “repatriação” para a África dos descendentes de escravos (de uma dessas resultou a criação da Libéria, que não se perca pelo nome).

É falso.

O racismo, tal como aparece hoje na América, resulta de uma conjuntura colonial que se projeta no imaginário coletivo conforme um modelo de representação conveniente, binário, opositor e escamoteante da luta de classes. “Casa grande e senzala” serve ao modelo. Mas há o povo mestiço das minas, das periferias urbanadas, das vaquejadas que não serve.

Não é preciso demolir a estrutura. É bem mais fácil.

Abram institutos federais de ensino de segundo grau com acesso à universidade em lugares onde a população é pobre o miscigenada. Ofereçam condições financeiras para acesso aos cursos universitários mais prestigiados. Ensinem ciência em tempo integral às criancinhas – não só a ler, escrever e contar, mas as ciências todas. Digam a elas que estão sendo ansiosamente esperadas por gente de todas as cores.

Acreditem no povo!

E parem de brincar com as palavras.

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A praga publicitária



Houve tempo em que compunham versos, “Veja ilustre passageiro...", mensagens ricas de sentido da estrela brasileira, de Norte a Sul, rogando “amor e paz”; cantavam a liberdade em soutiens adolescentes e a banha rosa sobre tema de Bach em marcha-rancho Jesus alegria dos homens.

Agora são só chatos contando cliques.

Não se pode ter um telefone. Tocam insistentemente. Não se pode dizer não. Esticam: “mas ...”.

O e-mail, ocuparam. E o SMS. O WhatsApp está sob cerco de mentirosos profissionais. Entopem as mídias sociais com ofertas que você já comprou.

Não adianta reclamar aos governos. Eles não mandam mais nada.

É o poder global, desigual, autoritário. Modo Imperativo.

O Império da Mentira Tosca e da Retórica Mambembe.

Em laboratórios secretos, projeta-se o publicitário-mosquito, drone das madrugadas, que nos aporrinhará em sonhos.

Em cada calombo, ao amanhecer, uma oferta latejando.

domingo, 1 de novembro de 2020

O Estado de Direita


Sobre enganos


As pessoas ouvem falar em “estado do direito”, geralmente associado à Constituição de 1988,  e, como “direito” se opõe a “errado”, acham que é coisa boa. Não necessariamente.

O que o “estado de direito” fez de mal, na prática, foi subordinar as decisões dos poderes eleitos ao arbítrio de uma corporação da bacharéis ricos, formados em escolas de ideologia empacotada e nutridos por uma estrutura judiciária que flutua, dominantemente, entre o conservador e o reacionário. Nenhum deles foi eleito, sua ascensão funcional é meritocrática – com todos os limites e desvios da meritocracia corporativa – e opaca.

É através desses bacharéis, a que se atribui ilimitado poder individual – subvertendo a própria hierarquia funcional, como no caso da Lava-Jato --, que fluiu a imposição da common law agravada pelo pragmatismo norte-americano. Rapazes concursados e confiantes na própria habilidade de ler o texto das leis e entender o que lhes dá na telha perdem o nome, e passem a ser chamados de “Justiça” quando sentenciam a exaltação ou depreciação de criaturas e instituições.

No caso do Brasil, alguns fatores agravam  essas distorções.

A partir do momento em que, com as prováveis melhores intenções, o legislador tornou a formação em Direito essencial na carreira dos policiais, as faculdades do ramo não só proliferaram (o que não falta no Brasil é polícia, sem contarmos os de uso assemelhado: forças armadas, fiscais de renda, promotorias, procuradorias etc.) como subverteram os princípios da profissão de advogado. Presunção de inocência tornou-se presunção de culpa, sempre mais aceitável pelo público educado por jornalismo vil como o do Datena, do Jornal Nacional, da Veja e outras porcarias.

Poderiam ter contado ao legislador que a mentalidade policial é exatamente o oposto aos postulados que regem o direito do cidadão; e que, como constatou Hipócrates, o pai da medicina, juntando a doença à saúde, a doença pega, e a saúde, não.

O fenômeno não é apenas brasileiro; críticos europeus o têm constatado lá, considerando os limites de poder, por exemplo, do Parlamento de Bruxelas. Reflete, por um lado, a falência da democracia concebida na Era do Iluminismo – quando se supunha que o povo escolheria refletidamente, consultando a razão, em lugar de ceder às paixões e à emoção do momento –, e, por outro, à invenção de fórmulas capazes de escamotear um novo autoritarismo global: é, hoje, na formação de militares e bacharéis, nos critérios de sua promoção e na corrupção geral das máquina de informação social (da imprensa tradicional aos grupos de WhatsApp) que se apoiam os maquinadores do poder soft nas guerras híbridas.

Temos, aqui, um presidente pornográfico assessorado por políticos picaretas, seitas fanáticas e generais absolutamente incapazes de entender qualquer coisa de geopolítica (que seria o campo de estudo deles). Se mudar o governo dos Estados Unidos, essa farsa deverá sair de cena, talvez substituída por algo menos caricato.

No entanto, no essencial, mesmo, eles não mandam nada.

sábado, 31 de outubro de 2020

A terra à vista


Nilson Lage

Parece estranho que maré tão assustadora de ódio, atraso e ignorância nos assalte, invocando atávicos exércitos de fantasmas, justamente quando a revolução industrial e o avanço científico urbanizaram os países, prolongaram o tempo médio de vida e permitiram à maioria dos homens sonhar com as próprias utopias.

Por que justamente agora, na etapa final da vida, assistir a tal descompasso, que revive, com mais sombras e menos esperanças, o mesmo clima do tempo em que nasci, há 84 anos?

Acho que sei a resposta, ou, pelo menos, parte dela.

É que rumamos para um porto a que os comandantes do navio não querem chegar. Todo poder deles -- os que, há pouco, trocaram a riqueza real por moeda, patentes e direitos, --depende ainda da exploração dos trabalhadores, e isso será cada vez mais difícil para além da praia a que nos atira o determinismo da História.

Eles estão com medo e, por isso, apostam no retrocesso.

Lá, no tempo previsto dos equipamentos inteligentes e das multidões avulsas, o lucro extraído do trabalho humano só será possível se o custo por trabalhador – o de sua sobrevivência – for menor do que a amortização do investimento nas máquinas, a energia que as move, a locação do espaço que ocupam, a manutenção e depreciação. Não há como extrair sobre-esforço de máquinas.

Comparem o desempenho de um motorista de caminhão, um operador de guindaste, um escrivão de cartório ou um controlador de estoques com o de dispositivos eletrônicos capazes de realizar essas mesmas operações sem paixões, emoções, cansaço e tudo mais que é humano. Parece claro que a competição desigual exigirá desses trabalhadores níveis de vida mais do que miseráveis. Como conter tal legião de escravos?

A terra à vista – na qual, possivelmente, não pisaremos – exigirá ampla racionalidade no sistema produtivo, planejamento e novas formas de ver a vida. Teremos que discernir o que essencial – a que todos têm direito – do que é eletivo, vocacionado, aberto ao desejo individual e à escolha de consumo. São coisas difíceis de conceber em uma democracia como a que imaginamos até aqui, mas não nessa república platônica em que triunfe a razão, agora sonegada.

Só a estabilidade institucional, a garantia de educação e atendimento básico de saúde poderão cria espaço para a livre iniciativa, limitada por um poder central que impeça a acumulação excessiva de poder vinculado à riqueza.

Isso nos parece claro e explica a incrível rapidez com que vem decaindo o Ocidente a partir da falência das sociedades de bem-estar social.

Não é um ideal socialista; acredito que é a única alternativa para a maioria de nós (para ser exato, de vós).

terça-feira, 13 de outubro de 2020

O identitarismo é reacionário

Nilson Lage

Lutei toda vida pela igualdade e pela tolerância. Por isso, resolvi bloquear neste meu espaço os discursos identitários que pretendem o confronto entre etnias, sexos e orientações sexuais.

Descobri que o critério editorial dominante, tanto na mídia comercial quanto na alternativa, tem sido despertar a indignação, catando o que há de repugnante e escatológico em nossa tragédia social e pátria, presente, passada o futura.

O único resultado possível de tal seleção de horrores é difundir o sentimento de impotência, descrédito e desesperança.

O emprego identitário da estratégia de ódio, concebido nos projetos de globalização, é apropriação inadequada da dialética de Hegel, que Marx aplicou à luta de classes, tal como se apresentava na sociedade industrial, como “motor da História”, que só poderia levar à vitória de uma das classes ou a desaparição das duas.

Conflitos culturais entre homens e mulheres, homo e heterossexuais, nativos e imigrantes identificados por seus traços físicos, pelo contrário, existem desde sempre, resolvidos pelas sociedades com diferentes regulamentações e grau variado de êxito. O confronto não supera a segregação e elimina o ódio, mas os reforça.

Guardo meu ódio para quem o merece – exatamente os que, comandando justiceiros, oportunistas, ingênuos e boçais avulsos, agem com plena consciência dos males que causam. E se beneficiam deles.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A perda de credibilidade das fontes de informação

Nilson Lage

Quer o objetivo seja indicativo (de informar) ou imperativo (buscando resposta), a eficácia de um discurso depende de acordo social tácito que assegura confiança recíproca. A questão foi abordada pelo sociólogo americano Paul Grice, estudioso da pragmática da conversação. Em seu artigo “Logic and Conversation”, publicado em 1967, ele expôs, em forma de máximas, leis ou normas desse acordo.

A primeira das máximas de Grice, a da qualidade,  determina que a contribuição dos falantes seja verdadeira: não afirmem o que creem ser falso nem aquilo de que não têm evidência. É o que nos faz esperar resposta útil quando perguntamos a um transeunte, em cidade estranha, qual o caminho para determinado lugar: contamos com resposta honesta.

O poder sempre fraudou essa norma de Grice, consumindo capital de credibilidade em nome de interesses imediatos. Não havia Santo Graal na Palestina nem bruxas e feiticeiros invocando demônios na Idade Média. Os argumentos em defesa da superioridade dos brancos europeus em relação aos demais povos eram e são falaciosos ou metafóricos.

Nos últimos cem anos, a indústria da propaganda e da publicidade tem levado esse mecanismo de falseamento dos discursos a extremo: inventou armas de destruição em massa no Iraque de Saddam Hussein e culpa a China pela pandemia do covid-19; a margarina não previne o infarto nem o potinho de iogurte vale por um bife.

Nada, porém, se iguala ao surto atual de mentiras, que, na mídia alternativa e também nas mídias oficiais, beneficia-se da perda de credibilidade das fontes de informação e dos veículos que deveriam testemunhar com honestidade os fatos do mundo.

A culpa não é só da Internet, que amplifica a fraude. Quem espalha boatos ridículos sobre efeito das vacinas ou contesta toda a astronomia pós-ptolomaica beneficia-se da ignorância em que o povo foi mantido  por um sistema de ensino básico que excluiu e relativizou a ciência e assim tornou o pensamento crítico arma de irresponsáveis. E também do fato de que os poderosos de agora já não semeiam campos ou fabricam bens, mas plantam e colhem coisas convencionais como palavras e dinheiro, que remetem a valores abstratos: o mundo deles não é o nosso.

O que sopra do Palácio do Planalto, dos tribunais da Lava Jato, do Templo de Salomão e se faz ouvir na tribuna da Assembleia da ONU é a mentira cultivada em bons adubos, capaz de demolir as bases de uma civilização cujas raízes estão, visíveis, na Grécia antiga e, antes, em sábios orientais, dos quais Confúcio é o mais citado ultimamente.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Liberalismo é sinônimo de escravagismo

Nilson Lage

Não é preciso ter lido Losurdo, ou mesmo saber quem foi Karl Marx, para constatar que o liberalismo econômico estimulou o escravismo por centenas de anos, enquanto os liberais ideológicos fingiam não ver.

Da mesma forma que a palavra “amor”, por ser ambígua, inocenta o pecado (ou o que, na tradição cristã, tem esse nome), a palavra “liberal” põe a máscara de tolerância em uma ideologia que valida qualquer forma de exploração do homem pelo homem. Liberais toleram campanhas pela descriminalização de drogas, aceitação da homossexualidade ou o feminismo, mas poucos, como vemos hoje, deixam de torcer o nariz para horripilantes sindicatos, greves e movimentos camponeses.

O liberalismo econômico promoveu a escravidão de africanos e indígenas na América já no Século XVI, quando essa forma de produção já havia sido substituída há muito na Europa pela servidão, isto é, pela aceitação dos trabalhadores como parte da propriedade fundiária feudal, aos quais se garantia a possibilidade de produzir para a própria sobrevivência – e, pois, em termos marxistas, reprodução da força de trabalho.

A postura da potência liberal hegemônica, a Inglaterra, só iria mudar quando, no contexto da onda de agitação europeia que reagia à exploração dos proletários pela revolução industrial, em meados do Século XIX, tornou-se necessário promover a diáspora dos excedentes populacionais do continente– e o espaço disponível para os emigrantes era exatamente o trabalho nas colônias.

Ainda assim, países com discurso liberal, como a Bélgica ou a França, mantiveram em suas colônias políticas brutais no trato com os nativos, promoveram massacres e organizaram ações repressivas de cunho fascista, como no episódio da independência da Argélia. Não é muito diferente o que ocorreu na Índia sob domínio inglês.

Churchill, por exemplo, era um colonialista feroz.

Quando os fazendeiros norte-americanos se inspiraram na Revolução Francesa para proclamar a independência das treze colônias, ninguém notou que nelas havia escravos e que o jovem Estado tinha como objetivo nacional o genocídio dos povos indigenas de cujas terras se iria apropriar.

Só agora multidões de jovens brancos de origem saxônica nos Estados Unidos estão descobrindo que a questão étnica é apenas uma estratégia diversionista para ocultar a luta de classes ; e, assim, . juntam-se a negros, mestiços (que, lá, nem nome merecem) e latinos numa luta que, em última instância, é comum – obviamente comum, no atual nível de concentração de riqueza.