O Brasil viveu períodos de governos autoritários, democracias de fachada e uma rara brecha liberal, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e o golpe de 1964. Após o regime militar, sob pesada vigilância do imperialismo norte-americano, o país assistiu à construção da nova ordem internacional que exclui a possibilidade de soberania, isto é, controle da moeda, da ordem pública, das riquezas naturais e mediação no conflito social.
Os anos de governo do PT revelam, com seus ganhos espetaculares, o custo dessa falta de autonomia e, ao mesmo tempo, como é impossível recobrar a pátria estando o controle efetivo da economia e da sociedade nas mãos de quem presentemente as domina – oligarquias, quadrilhas e corporações que se dão bem com as altas finanças globais.
Uma coisa é certa: não tivemos, a bem dizer, ditadores, governantes absolutos, senhores únicos do bem e do mal. Teremos agora.
Getúlio Vargas representou grupos articulados de inteligência política: os tenentes, inicialmente, com suas contradições; e o segmento de intelectuais orgânicos que, regendo esses conflitos, formularam o projeto de nação embutido no Estado Novo. Pode-se odiar Oliveira Viana, Francisco Campos ou Azevedo Amaral – todos eles mal vistos nos registros imediatamente posteriores da História; pode-se fazer pouco de um Gustavo Capanema, desprezar um Goes Monteiro ou um Eurico Gaspar Dutra. Nenhum desses se equipara à constelação de tolos emproados que hoje ocupa Brasília: Dutra, por exemplo, saibam disso, ou tinha excelente assessoria ou argumentava bem por escrito.
Também no regime militar não havia ditadores no sentido clássico: era uma ditadura do comandos militares, em que segmentos conservadores com vernizes civilizados e a soldadesca brava treinada com reflexos condicionados – a linha dura – negociavam as decisões importantes. Assim, tanto Castelo Branco em seus sucessivos recuos, quanto Costa e Silva, no projeto frustrado de “uma constituição democrática”, cederam espaço a tresloucado comando que se expandiria sem freios no contexto continental da Operação Condor, no governo omisso e vaidoso de Garrastazu Medici.
Ernesto Geisel, um conservador patriota típico, tentou dar rumo à nau insensata, mas enfrentou forte oposição dessa gente que agora segue caninamente o comando insensato de Jair Bolsonaro.
Este, sim, cercado de fanáticos, puxa-sacos e militares de rasa compreensão da realidade, apresta-se a ser o primeiro ditador de verdade do Brasil. Controlará áreas de autonomia técnica, como a gestão de saúde ou educação; o Supremo Tribunal Federal; as duas casas do Congresso: a nova religião oficial do país. Senhor do poder absoluto, não precisará prestar ouvir ninguém ou oferecer qualquer projeto á nação.
O miliciano liquidante governará aos palavrões.
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