sábado, 23 de janeiro de 2021

Militares brasileiros perderam completamente o senso de ridículo

CABEÇA DE COTURNO

Leandro Fortes


Recentemente, escrevi um texto tratando, justamente, do vício dos militares brasileiros em mentir. Um vício resultante da deformação sofrida nas escolas de praças e oficiais, Brasil afora, herdada dos doutrinadores do golpe de 1964 e da Guerra Fria.

E o que temos agora? Fotos oficiais das Forças Armadas, nas quais foram inseridas digitalmente máscaras em imagens de militares durante, provavelmente, cursos de instrução, em quartéis.

O nível de amadorismo da ação é risível, mas esconde uma realidade trágica: os militares brasileiros perderam completamente o respeito pela sociedade civil, para não falar do senso de ridículo.

O governo Bolsonaro está servindo, entre outras tragédias, para mostrar o estrago de quase quatro décadas de autonomia funcional dada aos militares. Acabaram por formar caricaturas de farda, nas Forças Armadas.

Além do próprio Jair, uma anomalia resgatada por parcela doente da população, desfilam aos olhos da nação uma miríade de oficiais generais que parecem ter sido tirados de roteiros de óperas bufas, mamulengos de um teatro de horrores.

Antes fosse só um desfile bizarro de ignorância e indigência intelectual. Ao todo, quase quatro mil militares - da ativa e da reserva - estão ocupando cargos na administração pública federal.

Isso significa que, paradoxalmente, no lastro do desmonte do Estado promovido pela política neoliberal do ministro Paulo Guedes, seguiu-se uma ocupação parasitária do serviço público por militares.

Nesse clima de vale tudo, os velhos fantasmas da ditadura voltaram a assombrar a nação, numa espécie de repetição da História, como preconizou Marx, desta vez, como farsa.

Triste Brasil.

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