sábado, 31 de agosto de 2019

A bancada


Os militantes do ódio


O COMBUSTÍVEL É O ÓDIO

Cristóvão Feil

O bolsonarismo é tão vulgar que sequer reclama ser fascista. Este exigiria pensamento e ação orgânica coordenada desde o centro interno do hipotético movimento, e não desde fora, como é o caso brasileiro.

Mas há, sim, um ponto de contato entre fascismo e o ajuntamento bolsonarista. Me refiro ao ódio, uma importante dimensão constitutiva do humano, que de fato foi über politizada pelos nazis até ao limite do horror.

O ódio exige inimigos o tempo inteiro.

Os militantes do ódio precisam de carne fresca para o seu repasto diário de fel e sangue inocente.

Todas as frustrações humanas são convocadas pelos aprendizes de fascismo e postas à serviço da causa da desumanidade em tempo integral.

Como não há pensamento a gerir o carrossel do nada, eles vivem da factualidade cotidiana, na sucessão monótona, neurótica e mecânica do puro fato.

Como dizia Marcuse, eles vivem "o mundo da factualidade bruta, sem espaço nem tempo para ideais".

Wilson AuschWitzel



Confira o 19º episódio da terceira temporada do Greg News, com Gregorio Duvivier!

Visto de longe, o Brasil parece um hospício em chamas com os loucos no comando

COLUNA CARTAS DO RIO

Philipp Lichterbeck

O paciente brasileiro
O governo Bolsonaro não se importa com os incêndios. Visto de fora, o Brasil parece um hospício em chamas, abandonado pela razão e pela civilidade, e onde os loucos não são os pacientes, mas os diretores.

À distância, geralmente se veem as coisas mais claramente. Eu estou na Alemanha há duas semanas. Quando olho daqui para o Brasil, vejo um país que está doente. Um país que está em luta consigo mesmo. Um país que se sabota e se autodestrói. Um país ameaçado de se tornar louco.

O Brasil está queimando, literalmente. Os incêndios surgem porque está cada vez mais seco e mais quente, pois na bacia sul da Amazônia há cada vez menos floresta intacta e úmida devido ao desmatamento. Isso facilita o trabalho criminoso dos grileiros, fazendeiros e pecuaristas que põem fogo no próprio país.

E o governo? Ele não se importa com os incêndios – mas com a imagem do Brasil. Ele não se importa com as leis e escusa os incendiários. Ele não se importa com o ar, a água, as florestas e os animais do Brasil. Ele não se importa com os fatos, e, em vez disso, difama os cientistas. Ele também parou de se preocupar com seus próprios apoiadores: os fazendeiros e o agronegócio.

Eles seriam os grandes vencedores do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Mas agora o governo está fazendo todo o possível para impedir que o acordo seja ratificado pelos europeus. Insultar o presidente da França não vai ajudar mesmo.

Bolsonaro destrói todos os dias a imagem do Brasil no mundo. Parece que ele não se importa com mais nada agora. Com quase nada.

Ele se preocupa em colocar um filho em um lucrativo cargo de embaixador que ele não merece. Ele cuida de proteger outro filho da Justiça, embora todos saibam que ele coopera com a máfia. Ele enfraquece a luta contra a corrupção e destrói as carreiras de cientistas. Ele enfraquece deliberadamente órgãos estatais como o Ibama. Ele insulta chefes de governo da Europa. De qualquer forma, é isto o que ele faz melhor: xingar. O presidente do Brasil é hoje conhecido mundialmente por seus palavrões e suas piadas de mau gosto.

São sinais claros de uma derrocada. De fora, o Brasil parece um hospício, abandonado pela razão e pela civilidade. Portanto, não é de admirar que o número de doentes mentais no Brasil tenha aumentado. Os psiquiatras relatam haver cada vez mais ansiedade extrema e depressão. Mas não são os pacientes que são loucos, e sim os diretores da clínica. É uma tropa de pervertidos, sádicos e oportunistas. 

Eles chegaram ao poder com mentiras. Eles prometeram implementar mais severamente as leis, combater a corrupção e tornar o Brasil "grande novamente". E agora? O governo desculpa infratores da lei. Ele protege os corruptos. E permite que seja destruído aquilo que faz o Brasil grande e único: a Amazônia.

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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, ele colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para os jornais Tagesspiegel (Berlim), Wochenzeitung (Zurique) e Wiener Zeitung

Bolsonaro já é o grande vilão global do nosso tempo


Breviário do pirômano suicida 

José Eduardo Agualusa
Bolsonaro já é o grande vilão global do nosso tempo. Nem Donald Trump conseguiu alguma vez vaia tão forte e tão unânime
O imenso crime em curso na Amazônia, e a consequente degradação da imagem do presidente Jair Bolsonaro e do Brasil no mundo, eram eventos de tal forma previsíveis que até eu fui capaz de os prever, em crônica recente, publicada neste mesmo espaço. Está feito: Bolsonaro já é o grande vilão global do nosso tempo. Nem Donald Trump conseguiu alguma vez vaia tão forte e tão unânime.

Deve ser uma sensação estranha, para o presidente dos EUA, ser ultrapassado no desvario, e na ululante rejeição planetária, por um protoditador caipira sul-americano. Imagino o pobre Donald, abandonado na solidão oval do seu gabinete, a fulgurante melena desgrenhada, o beiço esticado, tentando perceber se isso pode ser encarado como uma vitória ou como uma derrota.

Animado por este pequeno acerto atrevo-me a ir mais longe. Vou agora prever o que ocorrerá ao longo das próximas semanas. Se acertar em cinco pontos ou mais isso não significa que me tornei vidente. Significa apenas que certos atos têm consequências não apenas previsíveis, mas inevitáveis.

1. Aumentarão as denúncias de instituições brasileiras e internacionais sobre o envolvimento de grandes proprietários rurais no recente ataque à floresta.

2. Os países escandinavos, todos eles criptocomunistas, como sabe qualquer discípulo do grande filósofo Olavo de Carvalho, anunciarão boicotes à soja, couros, carne e outros produtos provenientes de áreas roubadas à floresta. Anunciarão ao mesmo tempo o apoio direto a movimentos ecologistas e de defesa dos povos indígenas.

3. Os restantes governos europeus, pressionados pelas ruas — pois as manifestações contra a destruição da Amazônia continuarão a multiplicar-se —, começarão a estudar medidas semelhantes.

4. Em outubro, Raoni Metuktire ganhará o Prêmio Nobel da Paz. Interrogado a respeito pelos jornalistas, Jair Bolsonaro perguntará: “E quem é esse Raoni, porra?!”

5. Por essa altura, a bancada ruralista, em absoluto desespero, já estará defendendo abertamente a destituição de Jair Bolsonaro.

6. Se Bolsonaro não cair, entretanto, a bancada ruralista terminará propondo o derrube em bloco do atual governo e a convocação de novas eleições.

7. Eleitores de Bolsonaro em viagem para Paris ou Lisboa vestirão camisetas “Lula Livre”, se não quiserem ser hostilizados pelas multidões de descontentes com as responsabilidades do atual governo brasileiro na destruição da Amazônia.

8. A China proporá comprar, por metade do preço, os produtos brasileiros que a Europa recusa. Na eventualidade de Donald Trump não conseguir ser reeleito, restará a Jair Bolsonaro aliar-se ao último grande país comunista do mundo. Quando interrogado a respeito dessa bizarra aliança, o presidente brasileiro encolherá os ombros: “O comunismo funciona muito bem na China porque lá eles são chineses, tá ok? Você é chinês? Não? Então cala a boca!”

9. Brigitte continuará casada com Emmanuel Macron, e Michelle continuará casada com Jair. Coitada da Michelle.

10. A Amazônia continuará a arder — e a imagem do Brasil também.

A repulsa à ciência do governo miliciano custará muito caro ao Brasil


O que é pior neste governo

Pedro Doria

Muitas características fazem, do governo atual, ímpar. Gosta de romper com políticas de Estado consolidadas há décadas, por exemplo. Tem dificuldades de lidar com os limites constitucionais impostos ao Poder Executivo. Não se envergonha de nepotismo e tem orgulho de ser obscurantista. Mas, quando passar – e todo governo passa –, uma dessas características poderá custar muito, muito caro ao Brasil. É o obscurantismo. Ou, em outras palavras, a repulsa à ciência.

A repulsa à ciência aparece de muitas formas. Quando ministros põem em dúvida aquilo que é consenso entre cientistas, como as mudanças climáticas, é um caso. Ou, então, quando o governo enxerga ideologia em números do IBGE, do Inpe, certamente outros exemplos virão. De uma forma mais ampla, porém, esta recusa da ciência põe em perigo o futuro econômico do Brasil. De duas formas.

A era digital, na qual entramos, é em essência a era da matemática. Os dois braços de avanços tecnológicos nos quais estamos mergulhando – em biotecnologia e em inteligência artificial – têm por pedestal uma matemática muito sofisticada. É a matemática do DNA e a matemática por trás dos softwares capazes de aprender. Não bastasse, a conclusão de que vivemos um tempo de violentas mudanças climáticas se baseia em modelos matemáticos.

Nunca o Brasil precisou tanto de gente que conhece em profundidade matemática. E isso ocorre justamente quando temos um presidente da República que encontra, nos números, ideologia.

É em cima de conhecimento matemático que produziremos o PIB do futuro. É com base nele que temos a oportunidade de deixar de ser um exportador de commodities e cérebros para nos tornarmos cultivadores de cérebros e exportadores de tecnologia. Nunca foi tão importante pegar instituições como o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), as melhores universidades federais, estaduais e as PUCs e botar, nelas, todo o gás. Concentrar nelas o melhor investimento. Jamais foi tão relevante pegar experimentos, como a Olimpíada da Matemática, e expandi-los, para que possamos descobrir desde cedo as melhores cabeças entre os brasileiros mais pobres, para que possamos – enquanto melhoramos o ensino público – pescar essa garotada e já dar ensino de excelência para eles desde cedo. Precisamos de qualidade em quantidade.

É a recusa dos números em plena era dos números que faz este governo olhar para a Amazônia e nela enxergar terra para pasto, para soja e minas diversas. Não vê a biodiversidade, a riqueza genética, a indústria farmacêutica do futuro, os bilhões e trilhões em patentes. Não se toca dos ciclos das chuvas, ignora que inteligência artificial em conjunto com edição genética permite produzir muito mais com muito menos terra.

Em vez de promover o encontro entre iniciativa privada e professores universitários, de quebrar o preconceito da academia brasileira com o capitalismo do século 21, o governo estimula o ódio à educação. Quando podia estar criando formas de estimular a geração de patentes e eliminar a burocracia para seu registro, tornar pesquisadores os grandes propulsores da nova riqueza nacional, o Planalto obscurantista os torna inimigos e, em estudantes, enxerga idiotas úteis.

O Vale do Silício existe por causa da Universidade Stanford. Boston é um hub tecnológico por conta de Harvard e MIT, e Austin está chegando por causa da Universidade do Texas. A China investiu em formar matemáticos e hoje briga com os EUA. A Coreia do Sul também. Quantos anos mais perderemos?

Em tempo: senhor presidente, diferentemente do que o senhor sugeriu e sua máquina de memes espalha, jamais fiz qualquer palestra para o governo federal. Muito menos paga pelo PT.

Todo governo passa. Mas a repulsa à ciência poderá custar muito caro ao Brasil

A Águia de Washington


O bolsonarismo transformou tudo em roteiro de republiqueta

Nem sinal do patrão


ELES E OS ÍNDIOS

Moisés Mendes

O que Trump não disse e que o filho de Bolsonaro gostaria que ele tivesse dito? 

Por que o filho e o chanceler terraplanista não sabiam o que dizer ao final do encontro na Casa Branca?

Existiu o encontro? Por que os dois não fizeram o gesto mais previsível do bolsonarismo, divulgando uma foto espalhafatosa logo depois da reunião?

Trump não incentivou o exibicionismo para não mandar recados ao pai pelo filho que talvez não consiga chegar aonde quer?

O bolsonarismo transformou tudo em roteiro de republiqueta, com o pai, os filhos, os espíritos do fascismo incendiário, a relação promíscua com os americanos e a certeza de que a política abriga da intimidade com as milícias aos grandes interesses internacionais predadores da Amazônia. Tudo com naturalidade e conluios diversos.

É possível que Bolsonaro tenha uma declaração bombástica a fazer hoje com o recado de Trump, ou que talvez não tenha nada.

Talvez só o que tenha a dizer foi o que disse ontem, que é preciso acabar com as terras dos índios. Só com as terras, não com os índios, que se esclareça. Os índios que se virem no empreendedorismo e na meritocracia amazônica.

Nós todos somos os índios, inclusive metade dos bolsonaristas. Os outros são donos ou se acham donos ou revendedores dos espelhinhos.

Apoio de Trump ao miliciano ogro está próximo do fim


Xadrez da virada próxima do apoio americano a Bolsonaro 

Por Luis Nassif

Daqui a algumas semanas, os correspondentes em Washington irão reportar melhor o quadro que descrevo. A análise se baseia nas avaliações de um dos mais experientes diplomatas americanos, que serviu no setor latino-americano do Departamento de Estado.

Peça 1 – a euforia inicial de Trump com Bolsonaro

Quando Bolsonaro apareceu na Casa Branca, era uma novidade. Tratava-se de um direitista radical, no maior país da América Latina, ao contrário de Sebastián Piñera, um direitista conservador. Ao mesmo tempo, acenava com um extraordinário alinhamento com os Estados Unidos, e uma admiração incondicional por Donald Trump, a ponto de bater continência para a bandeira americana.

Os movimentos iniciais dos Bolsonaro abriram três enormes perspectivas de negócio, especialmente para grupos ligados aos republicanos, dado o grau de admiração dos Bolsonaro por Donald Trump: petróleo, Amazonia e privatizações.

Peça 2 – a mudança de quadro

Hoje a situação mudou radicalmente. Bolsonaro passou a ser tratado como um “demônio” pelos principais jornais do mundo, New York Times, Washington Post, The Economist e Financial Times. O velho diplomata acredita que a mídia esteja exagerando, mas esses veículos moldam a opinião da elite mundial. São as mídias-farol nas capitais globais, repercutindo nas grandes empresas, no mercado financeiro e nas chancelarias.

Peça 3 – as eleições de 2000 e Trump

Não apenas isso. No próximo ano haverá eleições e a consciência “verde”será um dos temas centrais. O tema já conquistou os eleitores americanos. E há riscos concretos, para os Republicanos, de que os Democratas joguem no colo de Trump os incêndios da Amazônia, por seu endosso às loucuras de Bolsonaro. Por isso, a aproximação com Bolsonaro passou a ser encarada como ônus, não mais como bônus.A “demonização” de Bolsonaro passou a preocupar até a Casa Branca, e foi agravada pela tentativa de de emplacar o filho como embaixador em Washington. Muitos recordaram a era Trujilo, o ditador da República Dominicana que tentou emplacar o filho Ramfis como embaixador, depois de tê-lo tornado general ainda adolescente.

Ramfis sucedeu o pai, acentuou sua vocação de playboys sanguinário e acabou deposto pelos marines americanos. Assim como Bolsonaro, Trujilo era bizarro, folclórico e colocava a família em primeiro lugar. Começou apoiado pelos EUA e depois de tornou im estorvo para Washington. A era Trujilo tornou-se uma mancha na história diplomática americana.

Em breve, essa mudança radical dos humores de Washington será captada pelos correspondentes brasileiros. E Bolsonaro não poderá se comportar mais como o pusilânime que recorre ao irmão mais velho para provocar as pessoas.

2020 será o pior ano da história do Brasil

Governo apresenta Orçamento que pode travar máquina pública em 2020

Bernardo Caram - Thiago Resende


O primeiro Orçamento anual elaborado pela gestão Jair Bolsonaro pode levar à paralisia da máquina pública em 2020. Pela proposta enviada ao Congresso nesta sexta-feira (30), as despesas com custeio e investimentos no ano que vem devem ficar no patamar mínimo histórico.

Em 2020, o governo estima que terá R$ 89,2 bilhões para as chamadas despesas discricionárias, que englobam gastos com energia elétrica, água, terceirizados e materiais administrativos, além de investimentos em infraestrutura, bolsas de estudo e emissão de passaportes, por exemplo.

Membros da equipe econômica avaliam que são necessários pelo menos R$ 100 bilhões ao ano nessa conta para que a máquina pública opere no limite, sem risco de apagão dos serviços.

Em 2019, por exemplo, o governo iniciou o ano com autorização para gastar R$ 129 bilhões com essas despesas não obrigatórias. O fraco desempenho da economia e a frustração nas receitas, porém, levaram a cortes nas verbas de ministérios, levando essa cifra a R$ 97,6 bilhões.

Com esse valor, a gestão pública já começou a ser afetada. Treinamentos, viagens e grupos de investigação da Polícia Federal sofreram restrições. Bolsas de estudos foram cortadas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, agência federal de fomento à pesquisa). Para economizar despesas, o Exército autorizou corte de expediente de trabalho.

Do total de R$ 89,2 bilhões de gastos que podem ser cortados em 2020, R$ 69,8 bilhões são de custeio e R$ 19,4 bilhões de investimento.

O esmagamento das despesas discricionárias foi provocado, por um lado, pela regra do teto de gastos, que impede o crescimento dos gastos públicos acima da inflação.

Ao mesmo tempo, os gastos obrigatórios da União não param de subir desde 2014. o que faz com que as despesas discricionárias sejam estranguladas. 

Enquanto as despesas discricionárias recuam, os gastos obrigatórios da União não param de subir desde 2014.

A previsão é que, em 2020, essas despesas, que incluem aposentadorias e salários, alcancem 94% do total do Orçamento.

Quando a peça orçamentária de 2019 foi apresentada, a proporção estava em 93%. Após bloqueios no Orçamento dos ministérios, alcançou 94% já neste ano.

Para tentar controlar o avanço dos gastos obrigatórios, o governo quer aprovar a reforma da Previdência ainda este ano. O efeito da medida, contudo, é maior no longo prazo.

Embora a reforma nas regras da aposentadoria ainda não tenha sido aprovada pelo Senado, a peça Orçamentária apresentada nesta sexta-feira (30) já considera os efeitos do texto que passou na Câmara. 

Outra medida incluída nas contas do Orçamento apesar de não ter aval do Congresso é a reforma dos militares, que ainda está em fase inicial de tramitação.

O governo prevê ainda um incremento de R$ 16 bilhões nas contas de 2020 com a venda de controle acionário da Eletrobras, que ainda não tem autorização do Legislativo.

De acordo com o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, o patamar das despesas discricionárias previsto para 2020 está abaixo do que seria necessário para o pleno funcionamento da máquina pública.

“O patamar de R$ 89 bilhões gera necessidade de medidas e assim o faremos. Não trabalhamos com cenário de shutdown”, disse.

De acordo com ele, o governo apresentará medidas para abrir espaço fiscal de mais de R$ 10 bilhões até o ano que vem.

Entre as opções em estudo estão a suspensão de contratações do programa Minha Casa Minha Vida, corte de repasses ao Sistema S e o congelamento da progressão de cargos de servidores públicos.

Rodrigues afirmou ainda que o Ministério da Economia vai apresentar uma proposta para acabar com o engessamento do orçamento público.

“Precisamos desobrigar, desvincular e desindexar [o Orçamento]. A indexação é muito forte, o Orçamento é muito rígido”, disse o secretário especial de Fazenda. 

“Não há mais como gerirmos o Orçamento com as regras atuais.”

Em relação ao Orçamento apresentado pelo governo para 2019, o Ministério da Justiça terá, em 2020, R$ 702 milhões a menos para gastar. O Ministério do Meio Ambiente perderá R$ 246 milhões. 

Também haverá perdas nos ministérios da Saúde (menos R$ 267 milhões) e Turismo (menos R$ 280 milhões).

Sob o argumento de que o Orçamento é conservador, o secretário disse que contas incluídas na proposta devem melhorar até o ano que vem. 

Em um desses pontos, o governo estima que arrecadará R$ 21 bilhões em 2020 com o programa de concessões. Para Rodrigues, essa cifra deve ser ampliada.

Para calcular o Orçamento de 2020, o governo previu um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,17%.

Quando enviou, em abril, o projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, estimava uma alta de 2,7%.

Embora Guedes tenha afirmado que zeraria o déficit do governo ainda neste ano, a equipe econômica projeta que o rombo nas contas públicas permanecerá até 2022, último ano do mandato de Bolsonaro. 

Para o ano que vem, a previsão é de déficit primário de R$ 124,1 bilhões.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Futuro


Uma nação anestesiada por uma mídia estúpida coalhada de jornalistas desonestos



DE JOELHOS

Leandro Fortes

A essa altura, não há mais pessoas decentes que não tenham percebido que a Operação Lava Jato, com todos os méritos que uma investigação policial contra a corrupção possa ter, tinha um vício de origem indiscutível: o PT como alvo ideológico. E, dentro dessa estratégia, tudo se perdeu, sobretudo quando todas as respostas passaram a depender dessa turma sombria ora revelada pelos vazamentos do Intercept Brasil, baseados em mensagens do Telegram trocadas entre os procuradores federais de Curitiba e o ex-juiz Sérgio Moro.

Diante de uma nação anestesiada por uma mídia estúpida coalhada de jornalistas desonestos, Moro e seu preposto no Ministério Público Federal, o procurador Deltan Dallagnol, pisotearam as leis, a Constituição Federal e o bom senso – para não falar do senso de ridículo – em nome de um combate à corrupção falacioso. Não que ninguém tenha notado. Todas as ações foram descaradas, desavergonhadas, possíveis apenas em um País com as instituições em frangalhos.

Foi o preço de tirar Dilma Rousseff do poder mediante fraude processual. Executivo, Legislativo e Judiciário passaram a se igualar aos meliantes milicianos que, para nossa desgraça, acabariam por chegar ao poder no lugar dos tucanos – estes, os funcionários do Grupo Globo que falharam miseravelmente e garantiram a eleição de um demente à Presidência da República.

Agora, a cada vazamento, transborda o horror e o nonsense pelas mensagens do Telegram. A chamada República de Curitiba era, na verdade, um arremedo de porão da Santa Inquisição onde os destinos do Brasil eram tratados, ora por fanáticos religiosos, ora por procuradores sádicos produzidos nas muitas chocadeiras de concursos públicos, País afora.

O avanço do fascismo em Campinas


Celio Turino

Hoje eu fui censurado em um antigo Ponto de Cultura.

Inacreditável, metade das participantes eram apoiadoras de Bolsonaro e não queriam a minha presença, mesmo tendo o convite partido deles.

Há mais de uma década, quando eu estava como secretário da Cidadania Cultural, no extinto MinC, conheci o trabalho delas, as incentivei a tornarem-se Ponto de Cultura. Participaram de edital de seleção, foram aprovadas e receberam recursos que permitiram que estruturassem o trabalho; foi a única vez que puderam contar com verba federal. Nunca, jamais perguntamos qual era a orientação política delas, ou lhes foi pedido qualquer tipo de apoio além de retribuírem à comunidade o apoio federal que recebiam. Como fizemos com todos os 3.500 Pontos de Cultura, espalhadas por 1.100 municípios, sempre receberam tratamento republicano e respeitoso.

Os anos passaram e fui acompanhando o trabalho à distância; quando perguntado dava boas referências, nada além disso, nada demais, nada diferente do que fiz e faço em relação a tantos Pontos de Cultura espalhados pelo Brasil, e também pela América Latina. Há algumas semanas fui convidado a participar de um debate neste local, aceitei e fui graciosamente, sem nada cobrar, viajando de São Paulo a Campinas em meu próprio veículo. Ir a Campinas sempre é bom, minha cidade natal, em que vivem meus pais e nasceram minhas filhas. Qual minha surpresa, quando ontem ligam para mim, pedindo para que eu não falasse do Bolsonaro ou de política no debate. Respondi que o convite partiu deles e que sempre que vou a um debate sobre cultura, falo sobre cultura. E cultura envolve ética, estética, ecologia, afetos, arte...; era disso que eu falaria, como acontece em centenas de conferências que realizo pelo Brasil e pelo mundo. Nos últimos anos, mais pelo mundo que pelo Brasil.

Quando cheguei, o ambiente era de constrangimento. Poucas pessoas presentes e novamente a recomendação para que não falasse de "política". Como se eu tivesse ido para lá com intuito específico de falar sobre esse estrupício que ocupa a presidência - rs. Eu fui para falar de arte, de cultura, de ideias e filosofia, mais especificamente sobre o lúdico e as brincadeiras infantis, tema que estudo há anos e tenho livro sobre o assunto. Foram delicadas, eram senhorinhas, mas que horror! Eu estava sendo censurado por um Ponto de Cultura, antes mesmo do debate começar.

Respondi que preferia desmarcar e ir embora. Afinal, "quando se entra em uma sala e há dez nazistas, ou você se retira imediatamente, ou logo haverá onze nazistas na sala", e eu não queria estar presente em um lugar em que se naturaliza a censura. Antes de me retirar, porém, criei uma história infantil e disse para a coordenadora que havia preparado para o debate, já que a especialidade delas é cultura da infância. Comecei a contar a história, já na porta de saída:

"Era uma vez, em um reino não tão distante, um homem que queria ser rei, e uma gente que o via como rei. Queriam tanto que ele fosse rei que esqueciam-se de todas as regras básicas de convivência e civilidade. Tinham muito ódio e amargura no coração. E assim desejavam construir o seu reino: com ódio e amargura. Detestando todos os que pensavam e agiam de forma diferente, censuravam e perseguiam pessoas.

Queriam um reino, não para construir, mas para destruir, queimar, matar. Até o sinal da cruz, que faziam antes, em respeito ao antigo Deus que havia sido morto sob tortura, havia sido substituído por um sinal de arma com a mão, em homenagem ao novo Deus.

Nesse lugar, que eles queriam transformar em reinado, havia uma floresta exuberante. A detestavam, assim como detestavam os habitantes da floresta, indígenas, caboclos, as onças, os papagaios e periquitos, também detestavam os macacos e as araras. Consideravam as árvores coisa inútil, a ser derrubada para dar lugar a pasto, plantações e garimpos. Para agilizar seu intento, foram amordaçando as pessoas responsáveis pela conservação da floresta, perseguindo cientistas, ambientalistas. 

E bradavam: a floresta é nossa, faremos dela o que quisermos! Agora o reino é nosso!

Até que puseram fogo na floresta. Criaram um dia em homenagem ao homem que queria ser rei: o dia do fogo! Foi fogo para todos os lados. A floresta ardia em chamas. E os bichos que a habitavam eram todos queimados, junto com as árvores. Macaquinhos saiam pulando com os pelos em brasa, um tamanduá abria os braços em desespero, já com os olhos cegados pelo fogo, araras, periquitos e jandaias, voavam com as penas queimando. 

Mas lá, naquele lugar tão idílico, havia um Ponto de Cultura que se dizia ECO, que construía brinquedos e se fazia de bondoso, mas que, no fundo, por omissão, cumplicidade ou apoio, fazia coro aos que urravam: Queima! Taca fogo! Mata!"

É isso que significa a normalização dos absurdos que estamos vivendo no Brasil, por mais gentis que pareçam ser as recepçöes. Terminei de contar a história e fui embora.

Mas, ao dar um passo, decidi contar outra história. Em pensamento rápido, imaginei uma forma de finalizar minha participação na porta daquele Ponto. Até porque foi naquela porta que me disseram que muitas estavam insatisfeitas com minha presença por eu haver trabalhado com o ex-presidente Lula. Como aquelas senhorinhas diziam gostar tanto da cultura infantil, escolhi a história do herói do Mito delas. Contei assim:

"Era uma vez, um herói. O herói do herói delas. O nome dele era Ustra e ele combatia perigosos comunistas. Vivia nos porões, a defender "cidadãos de bem". Certa vez ele buscou duas criancinhas, uma menina e um menino, ela com cinco anos e ele com três. Levou-os para passear no porão e, colocando-as no colo, fez com que assistissem os pais sendo torturados."

Já que se dizem cidadãs de bem, defensoras da ecologia e das crianças, resolvi brindá-las com a ampliação do repertório e sugeri para que contassem para as próximas turmas de crianças que recebem, junto com a história da floresta queimada. Ainda disse: Se quiserem posso dar mais alguns detalhes da sessão de tortura, também de como esse "herói" gostava de introduzir camundongos na vagina das moças que torturava.

E fui embora, para não mais voltar.

Na volta, de Campinas para São Paulo, na estrada, fiquei pensando se seria o caso de registrar esse infeliz momento. Eu sou convidado para ministrar conferências pelo mundo todo, tenho encontros com governos das mais variadas orientações políticas, presidentes de repúblicas, ministros, prefeitos, governadores, converso com empresários, tive vários encontros com o Papa Francisco. Sempre buscando convergências pelo bem comum. Mas nunca me vi numa situação dessas, sendo censurado antes de iniciar um debate, ainda mais em minha cidade de origem!

O Brasil vive tempos horríveis, mas pior que a opressão dos poderosos, é a assimilação da opressão em nosso cotidiano, banalizando o mal. Mas vamos resistir!

Para quem se sente fraquejando, adoecendo por viver em uma sociedade doente, deprimido por conviver com tanta estupidez, aturdido em meio a tantos absurdos, tanto cinismo, tanta mentira, deixo a lembrança mais que necessária para os dias atuais: a vida nos pede coragem!

PS - preferi não expor o nome do Ponto de Cultura, elas sabem o que fizeram e isso basta, quem sabe até reflitam sobre as historinhas infantis que lhes contei. E os demais Pontos de Cultura sabem que não generalizo e que confio que ainda vai brotar um Brasil generoso depois desses tempos de maldade, porque "essa ciranda não é minha só, ela é de todos nós, de todos nós!"

Não desperdice dinheiro comprando a Veja só por causa do Queiroz


Desempregado, Queiróz mora no Morumbi e se trata no Einstein


Não joguem fora R$18 comprando a Veja que tem na capa a bombástica exclamação: “Achamos”!

Eu conto para vocês.

Os repórteres Daniel Pereira, Adriana Dias Lopes e Fernando Molica fizeram a sua parte direitinho.

Passaram três meses atrás do paradeiro do cara mais procurado do país e o flagraram no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde faz tratamento contra tumor no intestino.

A reportagem poderia ser editada em uma página apenas, como foto-legenda, pois não há declarações do Queiróz, nem explicação de como se mantém desde que foi exonerado por seu chefe, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro e como consegue pagar, estando desempregado, aluguel num dos bairros mais caros da cidade, o Morumbi, onde mora atualmente – segundo a reportagem - e o tratamento que consumiu, só na cirurgia, R$140 mil.

Os repórteres também informam que o amigo do clã Bolsonaro não se faz acompanhar nem por parentes nem por seguranças. Anda sozinho.

Eu só não entendi porque eles não o seguiram ao sair do hospital para descobrir seu endereço completo, nem detalharam a tentativa de conversar com ele.

Ou seja: sabemos que ele mora num dos bairros mais chiques do país, frequenta um dos hospitais mais caros, mas não sabemos quem o financia, já que não trabalha e a pergunta que não quer calar continua sem resposta: por que ele depositou R$25 mil na conta da mulher de Bolsonaro se devia a ele - como Bolsonaro já admitiu?  

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A justiça parcial e politizada

Claudio Guedes

A justiça parcial

"Queiroz, sua mulher, suas filhas e Flávio Bolsonaro alegaram diferentes razões para não comparecer ao MP, mas nenhum deles foi denunciado à Justiça por isso. Os promotores também não chegaram a pedir a prisão temporária ou preventiva dos investigados", complementa a Veja. Procurado pela revista, Queiroz não quis se pronunciar. "Por enquanto, permanece calado." (Revista Veja, 30/8)

Queiroz, faz tudo da família Bolsonaro, comandava um esquema de corrupção nos gabinetes legislativos do clã, empregando fantasmas e desviando os recursos públicos para apropriação privada da família.

Chamados pelo Ministério Público a esclarecer as suspeitas, Queiroz, Flávio Bolsonaro e demais supostos cúmplices, não atenderam os chamados do MP.

E o que aconteceu?

Nada.

Lula, ex-presidente da República, um dos políticos brasileiros mais aclamados no mundo, investigado, compareceu a todos os chamados. E, mesmo assim, foi alvo de uma absurda condução coercitiva, com invasão da residência, apreensão de equipamentos eletrônicos (até tablets dos netos forma levados) tudo por ordem de Sérgio Moro, juiz então responsável pela Lava Jato. Lula caiu nas garras de uma justiça aparelhada, manipulada, por Moro e os seus comandados no MPF do Paraná, liderados pelo mercenário e mentiroso procurador federal Deltan Dallagnol.

É isso.

Chocante.

Retrato de uma justiça parcial e politizada, uma justiça que escolhe seus alvos a partir de manobras políticas.

E o maIs triste: ver a juiz Edson Fachin, indicado por democratas e progressistas para o cargo de ministro do STF, fazer "cara de paisagem" para essa situação, já pública, já escancarada.

Os manipuladores da justiça e os covardes se protegem, enquanto o país agoniza.

A seletividade do MP, da PF e do Judiciário


Alberto Carlos Almeida

A imprensa revela toda a seletividade de nosso sistema judiciário, que até hoje funciona na base do “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”.

Economia brasileira está no atoleiro desde o golpe


Vinicius Torres Freire

O país em que o PIB é gorjeta de 1%  
'Suupresa positiva' do crescimento da economia no segundo trimestre é conversa fiada 
Houve uma conversa fiada de que o crescimento do PIB no segundo trimestre foi uma “surpresa positiva”. É sintoma de que as pessoas ocupadas com essa numeralha se acostumaram a discutir migalhas, troco miúdo e gorjeta ruim.

Escapamos por ora de nova recaída na recessão? Grande dia! Só que não. O fato é que a economia brasileira cresce ao ritmo anual de 1,2% desde o final de 2017. Casas razoáveis do ramo precário da previsão econômica ainda estimam que o PIB cresça apenas 0,8% neste 2019 —estando certas, isso significa que o crescimento no resto do ano vai desacelerar. Outros dão o chute informado de que se pode chegar a 1%. Os otimistas, 1,2%. Essas diferenças são troco.

Parte do resultado menos lamentável do trimestre se deveu à construção de casas, porque obras de instalações produtivas (indústria, logística, comércio etc.) ou de infraestrutura (estradas etc.) estão ainda na miséria.

O PIB da construção ainda é negativo, nos últimos quatro trimestres, mesma balada em que vem desde a metade de 2014. Foi o setor mais destruído pela Grande Depressão. O nível de atividade no ramo está mais de 28% abaixo do registrado no segundo trimestre de 2014.

O que se pode esperar de recuperação de curto prazo? Que a taxa de juro básico real caia a perto de zero. Quem sabe assim, com os rendimentos zerados das aplicações financeiras, os brasileiros remediados e ricos invistam em imóveis ou mesmo a torrar o dinheiro que têm guardado em carros, TVs e eletrodomésticos. Sim, é quase sarcasmo.

Além dos nossos famosos problemas estruturais, os economistas dizem que o fracasso recente da retomada mínima do crescimento se deveu a choques, que levaram uns décimos ou centésimos percentuais de aumento do PIB. Houve o caminhonaço dos amigos de Jair Bolsonaro em 2018, a crise argentina, que prejudicou a indústria de carros, a piora das condições financeiras (juros e dólar) devida à eleição, o desastre assassino da mina de Brumadinho, os ataques de Nero Trump ao comércio e à sanidade mundiais.

É verdade. No entanto, tirando esses bodes da sala e colocando a cabra da desaceleração mundial na cozinha, o que resta é um crescimento previsto de 1,5% a 2,2% no ano que vem, se der tudo certo, com risco de a previsão mais triste ser a mais provável.

A não ser que os empresários se emocionem com o ar da primavera e com os céus azuis de verão (se não houver fumaça de queimada) e passem a investir por motivos ora desconhecidos (é raro, mas até acontece), não há impulso visível de crescimento. O que resta de incentivo à mão, repita-se, é um talho na taxa de juros, um desmatamento financeiro amazônico.

Francamente, com três anos de inflação abaixo da meta, com o risco de o desemprego médio aumentar neste ano e PIB per capita crescendo a menos de 0,3% ao ano, é o caso de pensar o impensável 
em termos de juros.

Quem tem negócio estabelecido, em particular fábricas, amarga na média grande capacidade ociosa. Não há nenhum (nenhum mesmo) programa novo de concessão de infraestrutura relevante a entrar em obra tão cedo. Talvez venha uma surpresa positiva na área de petróleo e gás.

Quanto à despesa federal em obras, considere-se o resultado das contas do governo até julho, divulgado nesta quinta-feira (29): o investimento neste ano está no nível mais baixo pelo menos desde 2007 (a partir de quando há dados oficiais).

Estamos por ora atolados.

Os Filhos de Januário e pais de Bolsonaro estão inquietos

Reinaldo Azevedo 
Temos de decidir se a Lava Jato se subordina à Constituição ou se a Constituição se subordina à Lava Jato
Vários grupos do Telegram, nos quais procuradores da República comemoravam o funeral do Estado de Direito e debochavam dos funerais de parentes de Lula, chamavam-se “Filhos de Januário”.

Filhos de Januário, sim, mas pais de Jair Bolsonaro. No momento, essa família moral está em litígio. Seus integrantes disputam a primazia do Estado policial. Deixo este fio aqui para ser retomado mais tarde. Preciso ir ao Supremo.

O pleno do tribunal acabará decidindo que destino terá um fundamento da Constituição que é pilar das democracias na preservação dos direitos individuais em face da pretensão punitiva do Estado.

Refiro-me ao Inciso LV do Artigo 5º da Constituição: “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Com base nesse fundamento, a Segunda Turma da Corte, por 3 votos a 1, anulou a condenação de Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras, e devolveu o processo para a primeira instância.

Aproveito para saudar o reencontro com uma Cármen Lúcia comprometida com os direitos fundamentais e com o devido processo legal. Também votaram com a Constituição Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.

É incrível! A dita Carta Magna estava sendo violada a céu aberto, e não nos dávamos conta.

Como era possível que um réu delator e um réu delatado entregassem ao mesmo tempo suas alegações finais quando o primeiro está a fornecer elementos contra o segundo, sem que este tenha chance de se defender das acusações?

Vivemos um tempo sob a névoa do que pretendia ser uma nova era, como a definiu Musil em “O Homem Sem Qualidades”: havia “ruindade demais misturada ao que era bom, engano demais na verdade, flexibilidade demais nos significados”.

Um réu delator não vira membro do órgão acusador, é verdade, mas passa a trabalhar em favor de sua causa. Não raro, o processo só existe porque existe a figura deste que é chamado também “colaborador”.

De fato, nem o Código de Processo Penal nem a lei 12.850 preveem que o delatado tenha acesso às alegações finais do delator para, então, entregar a sua defesa.

Ao apelar à inexistência de prescrição legal para recusar o habeas corpus, Edson Fachin maximiza o que duas leis menores não dizem para ignorar o que a Lei Maior diz.

Até o voto de Fachin, eu já tinha visto centenas de vezes ministros a declarar inconstitucional uma lei. Mas é a primeira vez que vejo um membro da Suprema Corte a declarar ilegal a Constituição.

A anulação de processos em que houve violação do princípio do contraditório e da ampla defesa já está a ser tratada por aí como uma vitória dos corruptos e da corrupção. É mesmo?

É uma falsa questão. As punições podem e devem se dar dentro dos marcos legais. Temos de decidir se a Lava Jato se subordina à Constituição ou se a Constituição se subordina à Lava Jato.

Num caso, temos futuro; no outro, só o caos está à espreita porque não mais dependeríamos de instituições, mas de voluntariosos que se arvoram em demiurgos do país.

Retomo o fio lá do começo. Para os “Filhos de Januário e Pais de Bolsonaro”, a decisão da Segunda Turma, em tema que será apreciado pelo pleno, é mais um evento de um grande complô contra a Lava Jato.

E, desta feita, vejam que coisa!, o próprio presidente teria se unido aos inimigos da operação para salvar Flávio Bolsonaro. É o que alardeia Carlos Fernando, ex-membro da Lava Jato.

Bolsonaristas e lava-jatistas têm entendimentos distintos sobre a hierarquia do Estado policial. A questão: os órgãos de investigação do Estado se submetem a Bolsonaro, ou ele vira refém daqueles que ajudaram a elegê-lo, o que inclui Sergio Moro, o ministro que quer degluti-lo?

Carlos Fernando agora usa Flávio como isca para tentar atrair o apoio das várias vertentes do antibolsonarismo. É pouco provável que mordam a isca.

A prioridade dos que se alinham com a defesa da ordem democrática é recuperar os fundamentos do Estado de Direito, que os “filhos de Januário e pais de Bolsonaro” mergulharam na lama.

Natureza morta


Juca Kfouri entrevista Glenn Greenwald.



O Entre Vistas de hoje recebe o jornalista Glenn Greenwald. Juca Kfouri e Glenn falam sobre a Lava Jato, o poder da informação e as relações entre a mídia e a democracia.

Queiroz, o criminoso de estimação da família Bolsonaro é encontrado vivendo como milionário em SP


Acharam o Queiroz: “Agora é saber quem paga a estadia no Morumbi e as consultas no Einstein”


A divulgação do paradeiro de Fabrício Queiroz, principal elo do clã Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro, incendiou as redes sociais. No Twitter, o termo “acharam o Queiroz” já se destaca entre os assuntos mais comentados no Brasil.

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e candidato derrotado do PSol à Presidência em 2018, lançou uma nova questão que merece ser respondida: Quem paga a estadia de Queiroz no Morumbi, uma das áreas mais nobres da capital paulista, e as consultas dele no Hospital Albert Einstein?

“Acharam o Queiroz. E não foi a PF do Moro. A questão agora é quem paga sua estadia no Morumbi e suas consultas no Albert Einstein. Com a palavra, a família Bolsonaro”, tuitou Boulos.

Acharam o Queiroz. E não foi a PF do Moro. A questão agora é quem paga sua estadia no Morumbi e suas consultas no Albert Einstein. Com a palavra, a família Bolsonaro.
O líder do MTST continuou. “Queiroz pagou 133 mil reais em internação no Einstein com dinheiro vivo. Segue morando no Morumbi, onde o valor do metro quadrado é de pelo menos 8 mil reais. De dois em dois mil reais, haja envelope para depositar tanto dinheiro…”

O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, comentou o assunto em resposta a Boulos e falou da proteção de Sergio Moro a Flávio Bolsonaro, que empregou Queiroz e está envolvido no chamado caso Coaf.

“Os investigadores não acharam Queiroz porque eles não queriam encontrá-lo. Mais uma vez: “Deltan Dallagnol, em chats secretos, sugeriu que Sergio Moro protegeria Flávio Bolsonaro para não desagradar ao presidente e não perder indicação ao STF”

O fascismo vira pó diante da realidade



O fascismo se caracteriza, essencialmente, pela construção narrativa de uma realidade paralela em que tanto os líderes, quanto seus apoiadores se entendem como reserva moral das sociedades e dos tempos. Como um fenômeno complexo, há muitas formas de se abordar o fascismo, apontando a inúmeros campos do saber, desde a psicologia até as artes. 

Contudo, um ponto em comum em todas estas abordagens é a negação das realidades empiricamente constatadas em detrimento a uma forma de compreensão do mundo que se baseia exclusivamente nas formas torpes e mal-acabadas de entendimento que os fascistas constroem em um diálogo mudo com seus correligionários.

Para Hitler, a Alemanha era uma sociedade pacífica e voltada ao crescimento até que foi vilipendiada e assaltada durante a Primeira Guerra Mundial e, permitiu-se “miscigenar” com “populações inferiores” e contaminar com a forma “judaica” de pensamento. Mussolini acreditava que a Itália fora afastada dos caminhos de sua grandeza (que remontavam ao império romano) por países que tinham medo da “grandeza da Itália”. 

A carta do “nacionalismo” joga papel indiscutível aqui, junto com a criação de um passado que nunca existiu e que serve não apenas como ponto de nostalgia, mas como um modelo de futuro. O fascismo inverte a experiência do tempo buscando no modelo de um passado inexistente todas as qualidades que promete alcançar.

Não é à toa que Bolsonaro sente saudades do “período militar”. Trocados os nomes, para o fascista brasileiro, “países imperialistas” estão tocando fogo na Amazônia para evitar que o “Brasil seja grande de novo”. É o mesmo mecanismo de criação narrativa de um passado inexistente que serve tanto como mote de criminalização dos opositores no presente, quanto como ponto de obsessão futuro. As explicações do porquê aquele passado perfeito foi desfeito ou porque no presente (governo) é tão difícil avançar ao futuro imaginado sempre parte da construção de inimigos atemporais. Sujeitos coletivos inomináveis e não raro inexistentes são responsabilizados pelos fracassos do passado e do presente em função das decisões absurdas dos fascistas.

Para Hitler existia a figura do “judeu banqueiro comunista” que não apenas exploraria o ariano com juros e pobreza, quanto criaria “ideologias divisionistas” fomentando o levante desordeiro de trabalhadores contra a “pátria”. Com Mussolini, a conspiração remontaria ao momento da unificação italiana (1870) quando os projetos nacionalistas foram “subvertidos” por uma construção “burguesa” não patriótica que seria responsável pela pobreza do sul e pela falta de respeito do mundo para com a Itália. Bolsonaro enxerga o “petista infiltrado” e o “esquerdista sabotador” em tudo o que olha. Estas duas figuras corporificariam todo o mal do mundo e seriam responsáveis pelos fracassos de seu governo.

O fascista não consegue se ver como incapaz, inculto, burro ou desonesto. Para ele, tudo de errado é culpa das conspirações. E, como consequência lógica, se todos os erros decorrem de sabotagem ideológica, toda diferença ideológica enseja um perigo ao regime. Daí a violência reservada a todo e qualquer um que critica o líder, o governo ou o pensamento fascista. Contra estas figuras “vis”, dos sabotadores ideológicos, vale qualquer violência, qualquer punição e qualquer ação. Da criação imagética do sabotador ideológico para as violências reais contra grupos opositores, a escalada dos comportamentos é bastante rápida. Alarga-se o campo daqueles sobre os quais se pode exercer violências indizíveis sob o pretexto de proteger “o país” e, ao mesmo tempo, se diminui o círculo de “lideranças confiáveis”. Trocando em miúdos, na espiral fascista, ao invés do governo se tornar mais crítico de si e aberto, ele vai se fechando. O diálogo entre loucos leva, necessariamente à atribuição de “lógica” e correção às suas conclusões. 

Quanto mais certos os fascistas ficam de sua “missão” e da correção dos seus valores e práticas, mais os erros são explicados por sabotagem ideológica e mais violência ao diferente vai sendo permitida e incentivada. O capital filia-se a este tipo de pensamento exatamente porque o capitalismo abomina a concorrência, o diferente e o risco. Enquanto as taxas de retorno do capital se mantiverem aceitáveis e a concorrência for sendo suprimida em benefício dos grandes concentradores, o capital bate continência, grita “Heil, Hitler” e até participa de cerimônia de entrega de medalhinhas para os filhos de Bolsonaro.

Este sistema cognitivo-social é rompido interna e externamente pela mesma maneira. Os discursos irreais de interpretação do mundo podem até continuar a ver sabotadores ideológicos em todo o lugar, mas a Amazônia continua ardendo. Pode-se até achar que o presidente da França é um “comunista” ou um “cretino aproveitador” (nas palavras do luminar ministro da Educação do regime fascista brasileiro), mas o sistema internacional é pragmático. Acordos deixarão de ser assinados, mercadorias vendidas e, no extremo, o Brasil pode sofrer diversas sanções. Indiferente a como o fascista explica o mundo para quem lhe acredita, o sistema internacional cria suas soluções.

Internamente, a aceitação das bravatas e das idiotias finda quando o emprego rareia, a comida some das mesas e as oportunidades sociais e educacionais se mostram cada vez menores para as gerações que surgem. Os carregamentos de abacate que foram vendidos para a Argentina (segundo o grande plano de comércio externo de Bolsonaro) não aplacaram a realidade da recessão que ele jogou o Brasil, da mesma forma com que demitir o diretor do INPE ou ofender a NASA não mudam os dados sobre a devastação da Amazônia.

O fascismo vira pó diante da realidade. O grande problema é que no afã de continuar se achando como a reserva de tudo o que bom e perfeito, o fascismo vai se tornando mais violento quanto mais contestação vai recebendo. Não é à toa que terminaram todos em guerras mundiais, revoltas internas ou ditaduras que colocaram os padrões de violência em outros patamares. Não há por que imaginar que no Brasil seria diferente. É um erro dizer que “Bolsonaro não é Hitler” ou que o Brasil de hoje não é a Alemanha do entre-guerras. O Hitler de 36 não era o Hitler de 23 e a Itália sobre o qual Mussolini marchou em 1922 (num episódio pitoresco e farsesco) não é a mesma de 1939. Porém, apesar das diferenças, os caminhos psicológicos e cognitivos de compreensão da realidade são rigorosamente os mesmos.

A construção de um passado irreal mitificado, a criminalização da política e do opositor, o apelo ao um nacionalismo atávico cujos objetivos são difusos e sem sentido compõem um quadro nefasto juntamente com o antiintelectualismo, o ataque à educação e às artes e as reduções das liberdades individuais. Tudo isto não seria possível sem uma veloz forma de concentração de renda. No ponto em que estamos no Brasil, o grande capital está satisfeito, esperando as privatizações para lucrar mais, o pequeno e médio empresário está apreensivo mas ainda banca a aposta. Quando eles acordarem será tarde demais.

Quanto a nós, nas periferias ou no “Brasil profundo” como dizia Milton Santos, já não se respeita qualquer limite legal e nas cidades ainda podemos gritar, embora seja inócuo. Quando a classe média progressista se convencer que o limite social de abuso de direitos e violências foi atingido, o restante do país já estará tomado. A diferença entre as velocidades de tomada e transformação que o fascismo faz nas diversas regiões é responsável pelo descompasso da formação de consciência. E dado que esta consciência vai surgindo em diversos momentos diferentes, a própria mecânica do fascismo desarticula as respostas democráticas, as oposições institucionais e os levantes via movimentos sociais.

Se Bolsonaro não for parado agora, em menos de um ano será tarde. O custo da monstruosidade entre nós não será o aumento das queimadas na Amazônia ou uma recessão técnica: será a secessão do Brasil, sangue e morte nas ruas. Não há exemplo, na História, em que regimes fascistas tenham sido derrotados de forma democrática e pacífica. De novo, não há por que acreditar que com o Brasil será diferente.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Direita é lixo em qualquer lugar

Claudio Guedes

Direita x Esquerda

Muitos dizem que não mais existe no mundo moderno essa dicotomia entre direita e esquerda na política.

Conversa fiada.

Direita é direita: estado mínimo, ausência de políticas distributivistas, culto ao individualismo, política tributária que privilegia os mais abastados.

Esquerda é esquerda: estado socialmente responsável, políticas de distribuição de renda, foco no coletivo, política tributária que protege a renda mais baixa.

Claro que nem sempre a esquerda no poder mostra eficiência. Muitas vezes decepciona. Faz parte da vida.

E a direita?

O que você, caro leitor, pode me dizer sobre Jair Bolsonaro, o grosseiro, ignorante, racista e incompetente, presidente brasileiro que está destruindo a economia, o meio ambiente, a proteção social aos mais pobres e a imagem do Brasil no mundo civilizado?

E sobre o liberal direitista Mauricio Macri que levou a Argentina ao caos econômico e à desagregação social?

E sobre o histriônico Boris Johnson que acaba de pedir, nada mais nada menos, a suspensão do Parlamento Britânico para não atrapalhar (sic) seus planos de uma saída não acordada do Reino Unido da União Europeia?

É isso que é a direita no mundo contemporâneo?

Lixo.

Não só lixo. Lixo podre.

Escória.

Dallagnol ajoelhou-se diante do Demônio


Moisés Mendes

Manuela D’Avila entregou o celular à Polícia Federal, para que passe por perícia. Tudo porque o hacker que invadiu os celulares dos lava-jatistas telefonou para Manuela para saber como poderia falar com o jornalista Glenn Greenwald.

Entregou por iniciativa própria, e não porque tenham pedido. E aí vem a pergunta aquela: e o celular de Deltan Dallagnol nunca será entregue?

E aí vem a resposta: não precisa mais. Hoje mesmo o UOL divulgou uma rase de Dallagnol em mensagem de 2015 sobre o que fazer com um réu que se nega a aderir ao esquema da delação.

A Lava-Jato não investigava nada, comia e bebia das delações. E Dallagnol, o procurador sem escrúpulos, diz então o que fazer. Essa é a frase, com os verbos no infinitivo: “Colocar ele de joelhos e oferecer a redenção”.

Alguém pode dizer que a Lava-Jato era uma masmorra medieval. Não era. Os réus eram postos de joelhos, mesmo que no sentido figurado, porque Dallagnol é religioso.

O procurador faz pregações com grande eloquência, no púlpito, nos cultos dos domingos de uma igreja Batista do Bacacheri, bairro de Curitiba.

Réus de procuradores religiosos ficam de cabeça baixa e de joelhos. E aí então obtêm a redenção. Dallagnol deve rezar antes, como bom beato, para que isso aconteça.

Dallagnol é bíblico, tem fé. Tanta fé que está certo de que vai escapar de punições no Conselho Nacional do Ministério Público e continuar fazendo palestras por muita grana.

Dallagnol acredita que irá sobreviver porque foi escolhido por Deus. Mas nem um exorcismo será capaz de salvá-lo.

Dallagnol poderia ser um delator a caminho da redenção. Mas a soberba o condena. O diabo ordenou e Dallagnol já está de joelhos.

Guia do terraplanista ambiental


Bernardo Mello Franco

O terraplanista ambiental não acredita no aquecimento global. Em maio, ele foi a Roma e precisou tirar o sobretudo do fundo da mala. Assim percebeu que os estudos científicos estavam todos errados. Eram parte de uma conspiração politicamente correta para enganá-lo.

Para o terraplanista ambiental, as mudanças climáticas não passam de uma falácia. Foram inventadas por ideólogos do marxismo cultural, que dominam as Nações Unidas, as ONGs e a fundação do George Soros.

O terraplanista ambiental não acredita nas universidades, velhos redutos de esquerdopatas, maconheiros e viúvas do Fidel. Ele também não lê jornais e duvida de tudo o que sai na imprensa. Prefere se informar pelo WhatsApp e pelo curso on-line do professor Olavo.

Nem as imagens das queimadas convenceram o terraplanista ambiental de que a Amazônia está em risco. Ele viu no Facebook que as fotos são manipuladas e que os satélites do Inpe foram programados pela Venezuela. Na verdade, as árvores nunca estiveram tão verdes e saudáveis. Quem insiste em dizer o contrário só pode ter sido doutrinado pelo método Paulo Freire.

O terraplanista ambiental está esperando a próxima passeata para vestir sua camisa amarela e bradar contra a indústria das demarcações. Ele leu no grupo da família que os índios não falam a nossa língua, mas são bilionários e controlam 14% do nosso território. Estão atrapalhando o país, assim como os quilombolas, os fiscais do Ibama e o pessoal do Bolsa Família.

O fim do Fundo Amazônia não comoveu o terraplanista ambiental. Ele já sabe que a Noruega mata baleias, que o Macron é de esquerda (também, com aquela mulher...) e que a Merkel é uma comunista infiltrada na direita alemã. Os europeus são assim mesmo: se fingem de bonzinhos, mas só querem tomar o nosso nióbio.

O terraplanista ambiental é esperto. Não entra na onda de militontos que nunca plantaram um pé de alface e agora querem defender a Amazônia. Quem cai nessa conversa deve acreditar em qualquer coisa: que a Terra é redonda, que o homem pisou na Lua, que o presidente anda mentindo para a população. É gente subversiva, antipatriótica, que só sabe torcer contra o Brasil.

Sílvio Santos vem aí


O “Caso Paraguai” segue ignorado pelos jornais brasileiros


Fernando Brito

Sob quase total omissão da grande imprensa – e mesmo a nossa, dos blogs, que não temos meios para uma apuração internacional, ressalva feita ao GGN, de Luís Nassif, que tem acompanhado as notícias – vão surgindo mais provas de que a suspeita de interferência de Jair Bolsonaro nos negócios com a energia de Itaipu que quase derrubaram o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez.

Hoje, na manchete do ABC Color, maior jornal do país vizinho, há uma informação que mal saiu aqui: Alexandre Giordano, suplente do Senador Major Olímpio e apontado como negociador da empresas Leros, que seria beneficiada com o direito de cmercializar a energia paraguaia excedente da Hidrelétrica de Itaipu, esteve no Palácio do Planalto no dia seguinte ao encontro entre os dois presidentes.

Giordano deu uma desculpa pública de que foi fazer uma visita ao general Floriano Peixoto, que sequer estava no Palácio do Planalto na hora do registro do ingresso do suplente de Senador.

A agenda de visitantes , obtida pelo deputado Ivan Valente, do Psol, com base na Lei da Informação, não acrescenta notícia sobre quem autorizou sua entrada e o recebeu.

A história está sendo contada pelas beiradas pelo esforço da repórter paraguaia Mabel Rehnfeldt e o nosso grande jornalismo investigativo vai fazendo o papel de cavalo paraguaio.

Bolsonaro argentino quebra o país e culpa a oposição


Moisés Mendes

É a capa do Página 12. A culpa pela quebra da Argentina, onde a miséria se alastra, não é do amigo do Bolsonaro, mas do peronismo. 

Macri põe a culpa na Paso (as prévias da eleição, em que levou 7 a 1 de Fernández e Cristina) e nas esquerdas em geral. Ele não tem culpa nenhuma. 

Essa é a tese do macrismo: a Argentina quebrou porque os argentinos não querem mais saber dele, e isso gera insegurança.

Mas aqui Bolsonaro quer ser um Macri amanhã. 

O que corre na Argentina é que o calote da dívida não é uma tática para preservar a raspa das reservas.

É uma armadilha para o próximo governo peronista-kirchnerista, que enfrentará a fuga de investidores e a desconfiança generalizada. Macri está saqueando o que resta de credibilidade.

Mas Bolsonaro e o bolsonarismo adoram Macri.