quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Carta aberta de Eugênio Aragão é o mais destruidor de todos os textos já publicados sobre a Lava-Jato



Moisés Mendes

OS PROCURADORES FICARÃO QUIETOS?

É complicada a situação dos procuradores de Curitiba depois da carta aberta publicada ontem pelo jurista Eugênio Aragão. O texto não é apenas contundente. É devastador. É o mais destruidor de todos os textos já publicados sobre os desmandos da Lava-Jato.

Aragão tem autoridade para dizer o que disse. Foi procurador da República e ministro da Justiça no final do governo Dilma Rousseff, até o golpe de agosto de 2016.

A carta foi divulgada pelo site GNN e compartilhada depois pelos espaços progressistas, entre os quais o DCM, que também publica meus textos.

É uma carta aberta aos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em que Aragão, identificando-se como ex-colega dos comandados por Deltan Dallagnol (ou por Sergio Moro?), refere-se ao grupo como uma turma de nazistas.

“Onde vocês aprenderam a ser nazistas?”, pergunta Aragão, referindo-se às mensagens publicadas pelo UOL em que a turma debocha da dor de Lula com a perda de dona Marisa Letícia e do neto Arthur.

Podem dizer que os procuradores já foram chamados de fascistas e nazistas. Mas não por um ex-colega e de forma direta, sem volteios.

A carta é destruidora porque não foi escrita por um palpiteiro. Aragão conhece o grupo e comenta no começo que os alertou sobre as barbaridades que cometiam.

Agora, vamos tentar imaginar o sentimento de alguém que, atuando como servidor público, com a missão de acionar a Justiça para que se faça justiça, fica diante de uma carta tão desqualificadora.

Do que mais poderão ser chamados os procuradores, depois de serem definidos como nazistas e horda de malfeitores? O que mais precisamos ler e ouvir a respeito dos desmandos da Lava-Jato, para que o país tenha finalmente a reparação do que foi feito em Curitiba durante cinco anos?

O texto de Aragão é expelido, tem o grito da oralidade dos desabafos incontroláveis. “Digo isso com o asco que sinto de vocês hoje”, escreve ele.

Tem gente dizendo que os procuradores irão à forra e que Aragão poderá ser processado pelo grupo. Mas seria processado só pelos que se consideram nazistas? Pelos que Aragão chamou de trogloditas arrogantes? Pelos que foram comparados a hienas?

Processariam também os milhares que compartilharam a carta do ex-procurador?

É terrível a situação da turma de Dallagnol. O próprio Dallagnol já foi abandonado pelos advogados que deveriam defendê-lo de algumas (são muitas) das acusações em processos que correm no Conselho Nacional do Ministério Público.

Os procuradores podem ter apoio institucional, mas sabem que toda a estrutura da direita, a partir da imprensa e dos partidos, abandona seus perdedores pelo caminho, como fizeram com quase todos os que participaram do golpe e perderam poder político.

As condenações da Lava-Jato, por erros grosseiros do chefe deles, o ex-juiz Sergio Moro, poderão ser anuladas. Como fica o grupo de Dallagnol e Moro? Vão fazer tudo de novo?

Os procuradores (uma moça pediu desculpas a Lula) terão de dizer alguma coisa. Sobre as ofensas a Lula, sobre Aragão, sobre a confusão em que se meteram, sobre as mensagens escabrosas.

Em Nuremberg, o argumento básico dos nazistas foi o de que cumpriam ordens. Mas quem dava ordens aos procuradores de Curitiba, Dallagnol ou Sergio Moro?

Se ficarem quietos, os procuradores terão assimilado tudo o que Aragão disse deles. E nada mais precisa ser dito.

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