segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Defesa


É pra embrulhar?


Greg News: QAnon

Cristianismo freestyle

O presidente miliciano derrubou um governador miliciano?


Celso Rocha de Barros

O presidente derrubou um governador?

É curioso que tanta gente no mundo da Justiça esteja tomando decisões claramente ilegais 

Se o governador do Rio de Janeiro tiver caído por influência do presidente da República, a deterioração institucional brasileira deu um salto grande.

A decisão de afastar Witzel monocraticamente foi ilegal. Quem quiser saber por que, consulte o texto do professor Ricardo Mafei Rabelo Queiroz, da Faculdade de Direito da USP, no site da revista Piauí. É possível que a decisão do ministro Benedito Gonçalves, do STJ, não tenha sido uma tentativa de conseguir uma vaga no Supremo.

Mas é curioso que tanta gente no mundo da Justiça esteja tomando decisões claramente ilegais —a libertação de Queiroz, o dossiê contra os antifascistas, a perseguição a Hélio Schwartsman, o afastamento de Witzel —que coincidem perfeitamente com os interesses de Jair Bolsonaro, justamente o sujeito que vai decidir quem fica com a vaga no STF.

O afastamento de Witzel não é conveniente para Bolsonaro apenas porque o governador fluminense havia se tornado rival do presidente da República. No final deste ano, seja lá quem for o governador do Rio vai escolher o novo procurador-geral do Estado.

Como já noticiou a Folha, Bolsonaro quer influir nessa escolha para que o novo nome seja sensível aos interesses de seu esquema de corrupção familiar.

A escolha terá que ser feita dentro da lista tríplice, mas nada impede que os bolsonaristas inventem um candidato até lá e trabalhem por ele.

Se a decisão do STJ for um sintoma de aparelhamento da Justiça por Bolsonaro, pense bem no tamanho do que estamos discutindo.

Volte mentalmente até o dia da promulgação da Constituição de 1988 e tente explicar para Ulysses Guimarães que, 30 anos depois, o governador do Rio será afastado por decisão de um único ministro do STJ, com forte suspeita de que a coisa toda foi uma armação para resolver uns problemas do presidente da República com a polícia.

Depois disso, peça para o Doutor Diretas tentar adivinhar se, em 2020, o documento que ele acabou de aprovar ainda está vigente.

Longe de mim botar a mão no fogo pela honestidade de Wilson Witzel. Ele foi eleito com o apoio de Jair Bolsonaro. Ao contrário da família Flordelis, a família Bolsonaro nunca precisou do Google para achar “gente da barra pesada”. No mesmo dia do afastamento de Witzel, aliás, rodou o Pastor Everaldo, velho chapa de Bolsonaro que o batizou “simbolicamente” nas águas do rio Jordão.

Foi tudo encenação: Bolsonaro continuou católico. Everaldo também teria sido um dos responsáveis pela aproximação de Bolsonaro com o liberalismo econômico, e esse batismo tampouco parece ter sido lá muito para valer.

Mas para lidar com as acusações contra Witzel já existia o processo de impeachment, este sim, claramente previsto na Constituição e já em curso no Rio de Janeiro. Qual a necessidade de uma decisão que coloca as instituições sob suspeita?

É muito grave, mas, ao que parece, ninguém se importa. Pelo contrário, parte do mundo político vem tentando se reaproximar de Bolsonaro.

O exemplo de Witzel deveria servir-lhes de aviso: ser adotado como aliado por Bolsonaro é como ser adotado como marido pela deputada Flordelis.

Mesmo depois das repetidas tentativas de envenenamento, o establishment brasileiro parece disposto a ir com Bolsonaro para a casa de swing.

Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra)

domingo, 30 de agosto de 2020

Assinar um jornalão brasileiro é bom para a democracia?

Fernando L'Ouverture

Tava pensando nesse papo de que assinar um dos três jornalões (ou os três) é "dízimo cívico" para manter a democracia operando.

Desculpem o meu francês, mas...meu cu.

Por quê? 

Por isso...

Também por isso...

E isso.

Teria muito mais.

Muito mesmo.

A verdade é que nenhum dos três jornais cumpre qualquer papel cívico que não tenha sido, historicamente, a corrosão dos valores democráticos na sociedade brasileira. 

O cinismo de que assinar um jornalão é defender a democracia ignora completamente o papel deles na corrosão da democracia brasileira, tanto no passado mais distante quanto no atual presente. 

Portanto, financiem a imprensa, sim. Em especial aqueles órgãos que não tem verba pública ou grandes anunciantes.

Mas ao assinar um jornalão, tenham certeza de que estão justamente assinando órgãos que ajudaram a destroçar a democracia brasileira. Não tem nada de cívico nisso. 


PS: "Ai, mas os bolsonaristas odeiam os jornalões".

Pois é, mas apoiam a ditadura.

Como os jornalões apoiaram.

(e ambos amam o Paulo Guedes, mas isso é outra história)

O Elefante


Luis Fernando Veríssimo

Meu pai foi convidado a lecionar literatura brasileira na Universidade da Califórnia. Um ano em São Francisco, um ano em Los Angeles. Fomos todos: pai, mãe, minha irmã Clarissa e eu com inimagináveis 7 anos de idade. Na nossa primeira noite na casa de São Francisco, um choque: terremoto! Felizmente, dos mais fracos, calibrado só para assustar brasileiros. Mais traumatizante do que o terremoto foi o primeiro dia na escola, onde nos botaram sem saber uma palavra de inglês e pedir para ir ao banheiro. E aconteceu o inevitável. Fiz xixi nas calças e voltei pra casa escoltado por dois solenes colegas, sem tirar os olhos do chão. Não fiz uma boa primeira impressão na América.

Em Los Angeles, Clarissa e eu já estávamos ambientados e falando inglês como nativos. Todos os sábados íamos a um cinema do bairro para ver o último capítulo do seriado Masked Marvel, Maravilha Mascarada, e não me pergunte como eu ainda me lembro do título depois de tantos anos. O Maravilha lutava contra espiões e outros inimigos da democracia dentro dos Estados Unidos. Pelo menos ele nunca foi visto de paletó e gravata numa selva do Pacífico ou trincheira da Europa. Ao contrário de mim, que lutava com armas de brinquedo contra inimigos imaginários, mas em todas as frentes.

Nossa escola de Los Angeles tinha um programa de artes e me botaram numa turma de quatro que esculpia um elefante de argila do tamanho aproximado de um cachorro médio. Meus companheiros de turma foram desistindo do projeto, um por um, mas eu – era isso que eu queria contar – tinha desenvolvido uma ligação com o bicho que até hoje não consigo decifrar. Era uma espécie de cumplicidade, nós dois contra os desistentes do mundo? Ou uma coisa assim meio, sei lá, mística? Não esqueça que eu estava com 9 anos de idade, ainda vibrava com o Maravilha Mascarada no cinema. Mesmo que entendesse a minha persistência não saberia lhe dar um nome.

A professora veio me elogiar.

– Muito bem. Você foi o único persistente. Acho que o elefante está pronto, não?

– NÃO! – gritei. Pra dentro ou pra fora, isso eu não me lembro.

Trump vai ser reeleito. Deal with it!


Michael Moore

Alguém precisa disparar o alarme de incêndio político AGORA. Onde estão as histórias sobre Trump ganhando de Biden? Aqui está uma sondagem de Trafalgar de sexta-feira no Michigan. Na semana anterior, Trump tinha tirado 4 pontos de Biden. Agora, nesta sondagem, Trump está NA FRENTE de Biden no Michigan, 47%-45%. No entanto, muitos Democratas estão convencidos de que Trump vai perder. PERIGO!

Além disso, confiram em Real Clear Politics - durante a mesma semana perto do final de agosto, mas quatro anos atrás: em 2016, Hillary estava muito à frente de Trump. Mas esta última semana, em alguns estados (swing states) oscilantes, a liderança de Biden é MENOR do que a de Hillary. Não se pode culpar a opinião pública ou a Rússia. É o candidato e o partido. Estamos nos arriscando a uma tragédia de grandes proporções. A campanha de Biden deve comprometer-se com mudanças que inspirem e tragam os jovens, os eleitores negros e latinos e as mulheres. 

A base do Trump é leal, cheia de ódio, entusiasmada e mal pode esperar para votar. Onde está a excitação por Biden? Recuso-me a deixar que isto aconteça. Junte-se a mim. ACORDEM DEMs! Saúde Para Todos. Universidades públicas e Cancelamento das dívidas estudantis. Assistência Universal da Criança. Declarem seu apoio a estes coisas e a vitória virá. A sua campanha não pode ser apenas "Fora Trump"! FALEM ALTO! EM TODO LUGAR! LUTEM!!

______________________________________________

P.S.: antes que alguém diga que a eleição ainda está longe e os democratas podem mudar de rota: não, não podem não. Tanto em 2016 com Hillary como agora com Biden, o partido democrata centrou fogo em Bernie Sanders, seu único líder realmente popular e com capacidade de vencer Trump. Todo tipo de sabotagem e fraude foi feita para impedir a vitória de Sanders nas primárias. A alegação dos oligarcas é que a direita democrata não votaria em Sanders e os bilionários não financiariam sua campanha. O resultado é que parte considerável dos democratas acha, com razão, que não vale a pena sair de casa para votar em candidatos bilionários, conservadores e corruptos como Hillary e Biden apenas para vencer o suposto mal maior.

No vale-tudo da internet, conhecimento científico e opinião pessoal virou a mesma coisa


Na internet, o senso comum ganhou o mesmo status da expertise técnica

Ativistas antivacina, terraplanistas, charlatães e defensores de teorias conspiratórias divulgam ideias estapafúrdias como se tivessem o nível de conhecimento de cientistas brilhantes

A ciência é uma ilha cercada de incompreensões por todos os lados. A um só tempo, ela contradiz o senso comum, o misticismo e o pensamento mágico, formas de interpretar o mundo adotadas pela maioria.

Nos países mais desenvolvidos, as crianças ouvem falar dos princípios que regem a ciência, já nos primeiros anos da vida escolar. Infelizmente, entre nós, os estudantes entram e saem das universidades sem noção de como deve ser articulado o pensamento científico.

Quando Galileu Galilei afirmou que a Terra era um dos planetas que giravam ao redor do Sol, quase foi condenado à morte pela Inquisição. O senso comum era o de que ficávamos parados no centro do Universo, enquanto o Sol, a Lua e os demais astros orbitavam à nossa volta.

Muito mais fácil para os religiosos defender que a Terra era imóvel, como afirmava a Bíblia, do que para Galileu explicar os movimentos de translação e rotação, que ninguém conseguia enxergar nem sentir.

Quando Charles Darwin e Alfred Wallace demonstraram que a vida na Terra —e em qualquer planeta em que venha a existir— é uma eterna competição por recursos naturais limitados, na qual os menos aptos perdem a oportunidade de deixar descendentes, a reação foi tão feroz que 150 anos mais tarde
ainda existem contestadores.

No mundo da internet, o senso comum ganhou status de expertise técnica. Ativistas do movimento antivacina, terraplanistas, charlatães e os defensores de teorias conspiratórias e de tratamentos de eficácia jamais comprovada divulgam ideias estapafúrdias, como se tivessem o nível de conhecimento de cientistas brilhantes.

A ciência é uma frágil conquista civilizatória da sociedade, baseada no raciocínio lógico, na observação empírica, na significância estatística, no confronto de dados e na reprodutibilidade dos experimentos, regra segundo a qual a repetição de uma experiência deve levar aos mesmos resultados, independentemente do observador.

Não é tarefa simples convencer sociedades inteiras de conceitos tão abstratos. Veja o caso do uso da hidroxicloroquina no tratamento da infecção pelo atual coronavírus, droga dotada de ação antiviral no tubo de ensaio, já testada sem sucesso contra dengue, gripe, zika, chikungunya e outras viroses.
Para demonstrar atividade de um medicamento contra determinada enfermidade, para a qual não há tratamento conhecido, o estudo deve pertencer à categoria dos ensaios clínicos controlados, randomizados, prospectivos, em duplo cego.

Isso quer dizer, que os participantes precisam ser alocados ao acaso para dois grupos: um deles servirá de controle, outro receberá pela primeira vez a droga em teste. No entanto, como o simples ato de tomar remédio altera a percepção dos sintomas que nos afligem, os pacientes não devem saber para que grupo foram sorteados. Da mesma forma, é preciso evitar que o julgamento do médico seja comprometido.

Para evitar esses vieses, há necessidade de administrar um placebo para o grupo-controle, comprimido inerte (geralmente talco) com aparência idêntica à do que contém a droga em teste, de modo que nem o participante nem o médico possam identificar quem está em cada grupo (duplo cego).

Os participantes serão seguidos até que o número de desfechos clínicos nos dois grupos (cura, piora, mortalidade, sobrevida ou outro) seja suficiente para que os dados nos deem pelo menos 95% de certeza de que são significantes do ponto de vista estatístico.

Como explicar a necessidade de estudos tão detalhados para quem não teve formação científica? É muito mais fácil para os mistificadores contestá-los com base em crenças pessoais, opiniões, dados falsos, interesses políticos ou financeiros. Nem precisam se dar ao trabalho de contra-argumentar, basta pôr os resultados em dúvida: “não é bem assim”, “eu não acredito nisso”.

Médicos criteriosos se baseiam em estudos conduzidos com tanto rigor, porque foi graças a eles que a medicina contribuiu para duplicar a expectativa de vida da população, no decorrer do século 20.

No caso da hidroxicloroquina, nenhum estudo prospectivo, randomizado, controlado, em duplo cego, mostrou que pacientes tiveram qualquer benefício em comparação com os que receberam placebo.

Então, por que há médicos que a receitam? A resposta, prezado leitor, deixo a seu critério.

Drauzio Varella
Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”

Revolução em curso





Nazistas, assassinos, abusadores, corruptos e milicianos estão no poder




Caso Flordelis é um resumo perfeito do Brasil sob Bolsonaro.

A cantora, deputada e pastora evangélica Flordelis não podia se separar do filho adotivo com quem havia se casado —ex-marido de uma de suas filhas também adotadas— porque um divórcio escandalizaria a Deus: então, obviamente, decidiu matá-lo. Com a ajuda dos filhos, claro. Essa lógica tão cristalina quanto um bloco de granito é um resumo perfeito do bolsonarismo.

Nas eleições de 2018, Bolsonaro se apresentou como anti-establishment e antipolítico, embora tivesse passado as últimas três décadas bundando na Câmara dos Deputados. Durante os anos em que bundou em Brasília, Bolsonaro mantinha um apartamento funcional, pago por nós, embora contasse com um imóvel próprio. Quando questionado, disse que o apartamento funcional, pago por nós, era “pra comer gente”. E quem mama nas tetas do Estado, segundo ele e seu asseclas, é o coreógrafo, o ator de teatro, o aluno cotista, o pesquisador da Capes, do CNPq que contam, ou, em grande parte, contavam, com incentivos estatais.

Este velho político que usava o nosso dinheiro “pra comer gente”, que está no terceiro casamento, que elogia publicamente o músico espancador da namorada, coloca-se como “defensor da família”. É uma defesa da família bem parecida com a da deputada Flordelis. Um duplo twist carpado na lógica já torta do Maluf, “estupra, mas não mata”: é o “mata, mas não desquita”.

Os cruzados da família não vão atrás do tio pedófilo que violentava a criança dos seis aos dez anos, vão atrás é da menina no hospital para fazer um aborto legal depois de ser engravidada pelo estuprador. A criança teve que entrar no hospital dentro do porta-malas de um carro, enquanto os defensores da família gritavam “assassina!”. A neonazista Sara Winter (leiam o perfil na última Piauí) divulgou os dados da criança em suas redes, de forma a garantir que ela siga sendo para sempre abusada, agora não mais pelo tio, mas por todos os cidadãos e cidadãs “de bem”.

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos." Quando eu ouvi pela primeira vez o slogan inconstitucional com que Bolsonaro batizou nosso Estado laico, lamentei profundamente. Hoje em dia, diante da demolição moral, institucional, ambiental, enfim, da implosão civilizacional a que estamos assistindo, lamento profundamente é que não tenhamos no lugar deste herege um presidente “profundamente evangélico”.

Ao contrário do presidente, que não leu sequer a bula da cloroquina, li a Bíblia de cabo a rabo. Não encontrei nos Evangelhos um versículo sequer que justifique ter como braço direito da família um miliciano assassino suspeito de organizar rachadinhas no gabinete do filho e repassar dinheiro para a mulher do pai. Tampouco encontrei nos Evangelhos —o Velho Testamento é outra coisa, ali El Shadai bota pra quebrar— nada que embase o extermínio de 30 mil ímpios. Porrada na boca. Rato na vagina. (Uma tara do ídolo do Bolsonaro, Brilhante Ustra). Jesus fez-se conhecido principalmente por curar doentes. Não por dar as costas a leprosos dizendo que era “só uma micosezinha” e deixar morrer 120 mil em poucos meses.

Jesus sacrificou-se para salvar a humanidade. Bolsonaro sacrifica a humanidade para salvar o próprio rabo. Não é um bundão, é um serial killer. Quando a crise econômica bater feio, ele dirá como Pôncio Pilatos, algoz de Cristo: “Lavo minhas mãos”. As mãos de Pilatos estão sujas até hoje, 2020 anos depois.

Nazistas, assassinos, abusadores de crianças, corruptos, delinquentes e milicianos estão no poder, hoje, no Brasil, em nome da família, de Deus e da liberdade. Amém.

Antonio Prata 
Escritor e roteirista, autor de “Nu, de Botas”.

sábado, 29 de agosto de 2020

Os zumbis da direita


Fernando Brito

Embora a gente saiba que está acontecendo, é chocante e inacreditável que estejam se formando exércitos zumbis, completamente alucinados, na extrema-direita, como os movimentos “QAnom” retratados hoje pelo Estadão, em reportagem de Vinícius Valfré.

Vejam o nível de delírio:

Em síntese, os adeptos do QAnon acreditam que o presidente Donald Trump foi escolhido por um exército secreto para uma batalha contra governantes ocultos do mundo. É um herói patriota que aceitou enfrentar uma rede de tráfico humano e pedofilia que envolve desde políticos da esquerda e atores de Hollywood até o Vaticano e o bilionário húngaro George Soros.

A origem do movimento é obscura. Os adeptos seguem um anônimo que se identifica como “Q” para lançar mensagens cifradas em um fórum da deep web – parte da internet escondida de ferramentas de busca para preservação do anonimato.

A fonte primária da teoria jamais fez qualquer menção a Bolsonaro, mas apoiadores do presidente trataram de incluir o brasileiro entre os líderes mundiais escolhidos pelo “Q” para “salvar o mundo”.

Em abril deste ano, por exemplo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, postou nas redes uma foto ao lado do pai e dos irmãos comendo milho. Para adeptos do movimento QAnon, mais do que uma mera reunião de família, a imagem era uma prova de que Bolsonaro é o escolhido. Dias antes, o “Q” havia publicado a cena de uma plantação de milho. “Junte as peças do quebra-cabeça”, dizia a mensagem postada pelo perfil “Revelação Total”.


Loucura? Pois lembre que existem grupos defendendo a ideia de que a Terra é plana e está no centro do Universo – quase 600 anos depois de Copérnico – e até de que as pistolas de termômetro causam câncer, cegueira e danos cerebrais. São as versões pós-eleitorais do kit gay de Bolsonaro que, em escala global, têm Donald Trump como uma espécie de Jaspion que vem salvar a civilização ocidental de uma conspiração sino-gay-marxista e, talvez, extraterrestre.

É coisa de deixar Jim Jones no chinelo mas, afinal, isso a deputada Flordelis já fez.

Porque, afinal, os fanatismos se mistura e partem das convicções (ou das fés, como queiram) para chegar ao delírio e ao absurdo.

Não são apenas fake news, noticias falsas que se espalham pelas redes. É a incapacidade de raciocinar, de relacionar os fatos, de discernir o que é ilógico do que faz sentido.

Bolsonaro, com sua arminha, fez o que seus fanáticos dizem que faz a pistola-termômetro: causou graves danos cerebrais à sociedade.

Perfil dos terroristas racistas dos Estados Unidos


É um misto de procurador paranaense da Lava Jato, filiado do Novo e jornalista da Jovem Klan.

A designação "Shooter" (atirador) é devido ao perfil étnico e social. Se fizessem exatamente a mesma coisa e fossem negros, latinos ou árabes seriam "terroristas".

Tocha Humana



"Direita democrática" é devaneio da esquerda cirandeira


FRENTES

A discussão sobre uma frente ampla antibolsonarista com participação da chamada "direita democrática", com vistas a 2022, é uma dessas fantasias que se renovam, de tempos em tempos, nas cirandas da esquerda nacional. 

A ideia de que se deve apoiar qualquer um que possa tirar Bolsonaro do poder é o triunfo da preguiça  política - e do cagaço - sobre a racionalidade. 

Isso porque, simplesmente, não há nenhuma diferença programática entre essas duas facções da direita nacional - a neoliberal e a bolsonarista -, mas apenas estilos de governança, ambos, essencialmente, antidemocráticos.

Essa direita dita democrática, é bom lembrar, foi quem urdiu e colocou em prática o golpe de Estado de 2016 que retirou do poder Dilma Rousseff, uma presidenta eleita democraticamente, com base em uma fraude processual.

Foi a turma de Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Rodrigo Maia, entre outros menos votados, que jogou o País no abismo moral e econômico que gerou, no limite do esgoto institucional, a eleição de Jair Bolsonaro. Junto com a Lava Jato, essa gente é a responsável direta pela presença de um demente na Presidência da República.

A turma das costas quentes  só aceita participar de uma frente com a garantia de que nem o PT nem nada que cheire a governo popular  tenham qualquer oportunidade eleitoral, daqui para frente.

E há um detalhe definitivo: ambos os lados, tanto as bestas feras do bolsonarismo como os dândis do universo DEM/PSDB, estão conectados com a mesmíssima agenda econômica neoliberal de privatização do Estado, entrega do patrimônio público e a manutenção do Brasil com nação dependente e periférica do capitalismo mundial.

Não há possibilidade, portanto, de a esquerda ter qualquer protagonismo ou aspirações de volta ao poder ao lado dessa gente. 

A luta continua sendo a de um lado só.

O que é isso?


Greg News: Damares


Confira o 21º episódio da 4ª temporada do Greg News, com Gregorio Duvivier.

Live do Atila Iamarino: Cadê o 1 milhão?

Caso Flordelis daria um ótimo filme de Zé do Caixão



Alvaro Costa e Silva

Envenenamento, traição, incesto, orgia, rituais macabros: tem de tudo na história da deputada federal acusada de mandar matar o marido

Muita gente já está aguardando o filme com a história de Flordelis. Um puro suco do Brasil contemporâneo. A única dúvida é quanto ao formato: um documentário do tipo crimes verídicos, explorando o prazer mórbido do espectador, ideal para exibição nas plataformas de streaming, ou uma produção mais sofisticada, na linha dos irmãos Coen, livremente baseada em fatos reais, com doses de humor negro, personagens psicopatas e sádicos e um anti-herói que acaba punido.

Com ingredientes macabros à Zé do Caixão —traição, incesto, orgias, rituais sangrentos, envenenamento, execução com 30 tiros—, o roteiro está pronto. Não falta sequer o subtexto político. Flordelis era íntima do poder: Bolsonaro, a mulher de Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro.

Não será o primeiro filme sobre a pastora e cantora evangélica. Lançado em 2009, "Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar" retrata uma mulher exemplar, cujo único projeto na vida —na época ela ainda não era a deputada federal mais votada do Rio— era afastar crianças e adolescentes das drogas e do crime. Flordelis (pronuncia-se flor de lis, e não flordélis, como eu, ignorante, sempre imaginei) vivia com 55 filhos, entre naturais e adotivos.

Eis a reviravolta na trama: como essa Mãe Coragem, enganando até a ministra Damares, virou o diabo em forma de gente e, segundo as investigações da polícia e do Ministério Público, tramou o assassinato do marido? A vítima, pastor Anderson do Carmo, antes de se casar com Flordelis tinha sido seu filho adotivo e seu genro e controlava o dinheiro da organização criminosa camuflada de igreja e família.

Outra obra também deve estar na cabeça dos cineastas: "Memórias do Cárcere", contadas por Ronaldinho Gaúcho. Com direito a uma cena de realismo mágico paraguaio: o "Bruxo" como maior atração no campeonato da cadeia, dando um balãozinho no carcereiro.

Alvaro Costa e Silva

Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro"

Bolsonaro não apenas nega o racismo; ele condena o antirracismo


Antiantirracismo 

Fernando Haddad 

Sabemos que, ainda hoje, há uma prática no Brasil de simplesmente negar o racismo. Todo aquele discurso eugênico de embranquecer o país, que prevaleceu até os anos 1930, deu lugar à ideia de democracia racial, supostamente evidenciada pela miscigenação.

Anos antes da Abolição, foi aprovada a Lei Saraiva (1881), que negava aos analfabetos o direito de votar. Na virada do século 19, os alfabetizados representavam 15% da população. Entre os negros, esse número, considerados censos latino-americanos com recorte racial (Cuba e Porto Rico), devia girar em torno de 2%.

Essa realidade só veio mudar com o fim da ditatura militar, cem anos depois, em 1985, quando a taxa de analfabetismo no Brasil ainda era de 22%. A de negros, de cerca de 36%. O povo passou a votar.

A luta pela universalização do direito à educação ganhou impulso. E logo os negros bateram à porta da universidade, que permanecia fechada. Vieram o Prouni (2004), o Reuni (2007), o Enem/SiSu (2009) e as cotas (2012), que a abriram.

Depois de muita pressão social, a questão do racismo foi assumida e, por meio de políticas afirmativas, iniciou-se um processo de reparação histórica.

Houve novos incidentes racistas nesta semana nos EUA. Depois de George Floyd, outro negro, Jacob Blake, foi vítima de violência policial. Os policiais americanos, acusados de racismo, defendem-se como podem. No primeiro caso, em que Floyd teve o pescoço pressionado contra o asfalto por nove minutos, alegam suicídio por overdose. No segundo, em que Blake foi alvejado sete vezes pelas costas, dizem que a vítima tentou pegar uma faca no carro.

As reveladoras cenas, que acontecem rotineiramente no Brasil, transformaram cidades americanas em praças de guerra. O movimento americano Vidas Negras Importam vem ganhando apoio no mundo, inclusive aqui.

O clã governamental, por meio do filho "diplomata", resolveu tomar partido. Eduardo Bolsonaro foi às redes sociais, no que foi seguido por "jornalistas chapa-branca", para se insurgir contra o movimento antirracista.

O caso do dossiê do Ministério da Justiça dá uma pista do que está em curso. O governo decidiu fichar e monitorar professores e policiais antifascistas. Se numa democracia plena eles seriam dignos de homenagem, aqui estes profissionais sofrem uma ação antiantifascista por parte do governo, refreada pelo STF.

Alinhado a isso, Bolsonaro inaugura um novo modo de lidar com o racismo. Ele não o nega, faz mais: condena o antirracismo. Onde isso vai dar?

A pregação antiantirracista pode acirrar os ânimos ou reacomodar um dos traços mais característicos da nossa infeliz formação nacional.

Fernando Haddad

Professor universitário, ex-ministro da Educação (governos Lula e Dilma) e ex-prefeito de São Paulo

O que esperar das vacinas da Covid

Mesmo com 9 candidatas avançadas, seria bom já calibrar nossa expectativa
Nesta pandemia temos um avanço científico inédito. Passos de criação de vacinas que levavam anos foram dados em meses. Seria legal já calibrar nossa expectativa.

As nove vacinas candidatas que passaram da fase 2 de testes clínicos no mundo se mostraram seguras e despertaram a produção de anticorpos e de células imunes para o combate corpo a corpo com o vírus.

Se isso de fato protege as pessoas é o que descobriremos com testes de fase 3, de eficácia, em que estão agora. Nessa etapa, milhares de pessoas são vacinadas e se compara quantos contraíram a Covid-19 entre os vacinados com os não vacinados (ou quem recebeu uma vacina falsa, o placebo).

O tempo entre vacinação e imunização é de ao menos um a dois meses. Pode demorar mais dependendo das chances de as pessoas entrarem em contato com o vírus e do número de doses. Por isso o Brasil é destino quente para vacinas candidatas, não nos falta gente contraindo coronavírus.

O número de doses atrasa testes pois precisamos dar uma dose, esperar um mês, dar outra dose e esperar mais um ou dois meses para ver se funciona, pelo menos. E 8 das 9 candidatas em fase 3 usam mais de uma dose. Para os testes que começaram em julho, até outubro devemos ver resultados.

Sabemos que a proteção total é improvável. A vacina do sarampo, uma das mais eficazes, protege mais de 90% dos vacinados e os impede de transmitir o vírus —não esqueça de tomar a sua. Já a da gripe protege 60%, em anos que funciona muito bem. E alguns vacinados ainda podem contrair e transmitir o vírus, embora não desenvolvam pneumonia.

Ver uma proteção contra a Covid-19 em algum ponto dessa escala já seria um cenário ótimo. Mesmo se funcionasse como a vacina da gripe, o que ainda exigiria máscaras e algum distanciamento.

Cenários não tão animadores, mas prováveis, são de algumas das candidatas não despertarem uma resposta imune que proteja as pessoas. Algumas podem despertar uma resposta fraca demais para impedir o vírus de causar doença. Casos de reinfecção que começamos a confirmar nos mostram que mesmo a infecção natural pelo coronavírus pode não despertar a imunidade protetora. Por isso precisamos de tantos testes em paralelo.

Outras vacinas podem despertar uma resposta alérgica ou inflamatória que não compensa a proteção. Como a síndrome de Guillain-Barré, na qual a resposta imune contra um vírus ou uma vacina afeta os nervos e pode causar uma paralisia e fraqueza muscular. Como aconteceu com a vacina contra a gripe de 1976, que afetava 1 pessoa a cada 100 mil vacinadas, um problema pequeno pode ficar bem numeroso com bilhões de vacinados.

No pior cenário, a resposta imune não só não funciona como ainda aumenta as chances da doença ser grave. Não temos evidência de que isso vai acontecer com a Covid-19, mas foi esse tipo de reação que nos fez descartar uma vacina contra um vírus causador de resfriado, o RSV, depois de dois bebês vacinados morrerem em 1966.

Cenários graves assim são raros, e justamente por isso podem depender de dezenas ou centenas de vacinados para serem descobertos. Por isso, quando alguma vacina candidata der muito certo, ainda veremos um grupo crescente de pessoas prioritárias sendo vacinadas, como profissionais de saúde, para ver sua segurança em larga escala antes de doses estarem disponíveis para nós.

Até lá, nosso trabalho é convencer negadores da ciência a se vacinar, pois, se a proteção da vacina for parcial, precisaremos de quase todo mundo vacinado ou curado antes de andar em paz na rua.​

Atila Iamarino
Doutor em ciências pela USP, fez pesquisa na Universidade de Yale.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Marcelo Adnet e os bandidos do Rio

Sonhar não custa nada...


Witzel, Wilson


Claudio Guedes
· 

Acho que não vale nada, nem como político, nem como homem. Vi ele comemorando efusivamente a morte de um ser humano e também posando com fuzis que levam o terror às comunidades pobres do Rio de Janeiro. 

Um oportunista, um homem sem qualidades.

Mas foi eleito pelo povo, a fonte de poder da República. As investigações contra ele estão começando. É preciso apurar, denunciar, respeitar o direito de defesa e então julgar. 

Não é possível um único juiz, mesmo do STJ, afastar por seis meses um governador eleito por suspeitas de corrupção.

É conceder um poder aos homens de toga que é desproporcional às suas nobres funções republicanas.

Anteontem mesmo vimos uma corte de 2° Instância derrubar uma investigação, denúncia do MPF, julgamento e condenação de um político do PT, ex-tesoureiro do partido. Paulo Ferreira foi condenado a mais de 9 anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro. A corte de revisão, o TRF-4, derrubou a sentença por unanimidade, por não encontrar PROVAS nos autos que incriminasse o réu.

Três juízes responsáveis por revisar o caso NÃO encontraram provas que sustentasse a acusação e a sentença. Logo as provas que levaram à denúncia, ao julgamento e à condenação não existiam. Se não existiam estavam apenas nas "convicções" pessoais dos procuradores e do juiz. Uma vergonha. Procuradores do MPF e um juiz, no caso Sérgio Moro, que agiram com motivação politica contra um adversário ideológico.

Parte do sistema de justiça no país, desde que a operação Lava Jato passou a exorbitar sua competência, quer protagonismo político. Está errado.

Tá lá o fascista estendido no chão

Mórbida semelhança

Fernando Brito

Separados e às turras desde o início de seus governos, Wilson Witzel e Jair Bolsonaro saíram da inexpressividade política para a vitória eleitoral montados no mesmo burro xucro do moralismo e da apologia do policialismo como solução para os problemas do Rio de Janeiro e do Brasil.

Entre o “mirar na cabecinha” e o “fazer arminha” as diferenças eram poucas e representavam a mesma promessa de que uma polícia letal e o cidadão fortemente armado seriam resposta eficaz contra a violência.

E que ambos, como ex-juiz e ex-militar iriam colocar ordem num Rio de Janeiro e num Brasil que, diziam, estavam em crise por causa da corrupção de governantes anteriores.

Como quase sempre acontece, o discurso da moralidade funcionava como capa da sordidez de gente sempre ávida de vantagens e pecúnias pessoais.

Bolsonaro, o irmão mais velho, não assumiu pessoalmente o parentesco, mas o fez expressamente ao colocar o filho Flávio como fiel escudeiro de Witzel, o que o próprio “01” admite.

Apesar de nunca ter tido o apoio do presidenciável do PSL, Witzel contou com a presença do senador eleito mais votado do Rio, Flávio Bolsonaro (PSL), em atos de sua campanha. Reportagem do UOL, logo após a eleição contava como era o “tal pai, tal Witzel”:

Apoiadores do presidenciável também pediram voto para Witzel em redes sociais e palanques, como foi o caso do deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL), o mais bem votado do Rio de Janeiro. A campanha de Witzel chegou a pagar anúncio no Google que associava o ex-juiz ao sobrenome Bolsonaro. Quando se digitava “Bolsonaro” no buscador, encontrava-se um link com a chamada “Bolsonaro apoia Witzel”. Somente ao clicar, o eleitor entendia que o apoio era de Flávio, e não do pai dele Jair Bolsonaro.

Também foram distribuídos panfletos com imagens de Witzel e Jair. As propostas e discursos de Witzel também buscam o máximo de proximidade com Bolsonaro. Se o capitão reformado defendia segurança jurídica para policiais em caso de mortes em confrontos, o candidato do PSC seguia a mesma linha e ia mais longe ao defender o “abate” de criminosos armados com fuzil.

Se Bolsonaro pregava a implantação de escolas militares pelo país, Witzel fazia a mesma promessa para o Rio. Se o capitão reformado falava em Deus, o candidato do PSC também recorria a perfil religioso. O governador eleito prometeu ainda expandir o número de clubes de tiro como apoio à proposta de Bolsonaro de flexibilizar o Estatuto do Desarmamento com o propósito de facilitar a posse de arma à população.

Até a proposta encampada por Bolsonaro Escola sem Partido foi citada no último debate Witzel x Paes, na TV Globo. O discurso contra a corrupção foi outro ponto em comum, além da imagem de candidato de fora do sistema.

Sem a cobertura judicial com que conta Bolsonaro, em seu poder maior, e jurado de morte pelo presidente, que não tolerou o delírio presidenciável do ex-juiz Witzel (não foi o único ex-juiz a sofre disso, registre-se), o governador do Rio não conseguiu que seus mal feitos fossem vistos em câmera lenta, como os da família presidencial.

O pai, atribuindo a ele a desgraça do filho com o MP e a polícia estadual, não hesitou.

Mirou bem na cabecinha e está lá o corpo político de Witzel, estendido no chão.

Clichê

 



Pateta



A renovação política está indo toda para a cadeia

Ricardo Costa de Oliveira

Ninguém tinha tanto a cara de "renovação" das "eleições de 2018" como o Witzel, o ex-militar, o ex-juiz, o linha-dura, o cara contra o sistema, o outsider que limparia a política do RJ, mais um corrupto, fracasso retumbante da direita, junto com o desmascaramento dos impastores como o Everaldo e a Flordelis, pilantras crentes, uma mistura de bancadas fraudulentas da Bíblia com a Bala sendo revelada e denunciada. Hoje Witzel, Everaldo e Flordelis serão afastados e amanhã a matriz desta desgraça política na família Bolsonaro terá que pagar pelos seus múltiplos crimes e enganações, assim que o miserável e cúmplice sistema judicial e político forem pressionados e criarem coragem frente a tantos fatos criminosos e calamitosos.

Preso por corrupção, Pastor Everaldo batizou Bolsonaro e Wilson Witzel

Leonardo Sakamoto

Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC, foi preso, na manhã desta sexta (28), em meio a uma investigação sobre o desvio de recursos públicos da saúde no Estado do Rio de Janeiro, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Apontado como chefe do esquema, o governador Wilson Witzel (PSC) foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Entre os fatos marcantes da carreira política de três décadas de Everaldo - quinto colocado na eleição presidencial de 2014 e acusado pela operação Lava Jato de receber R$ 6 milhões da Odebrecht para ajudar uma mão a Aécio Neves (PSDB) em um debate presidencial na TV - estão o "batismo" religioso e político de duas figuras que já foram aliados e hoje se odeiam publicamente: Jair Bolsonaro (sem partido) e o próprio Witzel.

O primeiro batismo é metafórico. Foi Everaldo quem acabou trazendo Witzel à política, "inventando" a candidatura de um desconhecido juiz que, colado à imagem de Jair Bolsonaro e empunhando o discurso do "a polícia vai mirar na cabecinha e... fogo!", acabou por desbancar o favorito Eduardo Paes (DEM) e levar o Palácio Guanabara. Depois, estranhou-se com sua criatura, mas daí é outra história.

O segundo é literal e metafórico. Everaldo foi quem batizou o então deputado federal Jair Bolsonaro, em uma cerimônia nas águas do rio Jordão, em Israel, no dia 12 de maio de 2016.

A data, muito provavelmente, não foi escolhida ao acaso. Na manhã daquele dia 12, o plenário do Senado Federal autorizou a abertura do processo de impeachment do mandato de Dilma Rousseff (PT) por 55 votos contra 22. Com isso, ela foi afastada do cargo, dando lugar a Michel Temer (MDB). Bolsonaro celebrou o fato nas redes sociais.

Jair Messias continua católico. Mas seu processo de aproximação com os evangélicos teve na cerimônia conduzida por um pastor-político da Assembleia de Deus, em Israel, um de seus momentos simbólicos. O que ajudou a pavimentar seu caminho até a Presidência da República. Bolsonaro, que durante muito tempo pregou no deserto sendo desdenhado pela imprensa, foi construindo a imagem falando em cultos e recebendo cobertura simpática em programas de rádio e TV ligados às igrejas.

Vale lembrar que sua esposa, Michelle "Por-que-Queiroz-depositou-R$ 89 mil-na-sua-conta?" Bolsonaro é evangélica.

O presidente disputou à eleição de 2018 pelo PSL. Mas foi filiado ao PSC nos dois anos anteriores. Dois meses antes de afundar nas águas do Jordão, foi estrela de outra cerimônia, dessa vez em um lotado auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados, para sua filiação ao partido, no dia 2 de março de 2016. No evento, ele foi lançado como pré-candidato à Presidência da República nos discursos dos presentes, inclusive o do pastor Everaldo.

Seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (2016-2018), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (2013-2018) e o vereador Carlos Bolsonaro (2016-2020) também foram filiados ao PSC.

O pastor-político, ou político-pastor, agora preso, já foi aliado de Anthony Garotinho e Eduardo Cunha. E comandava a Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Estado do Rio) - sim, a Cedae, aquela que, no começo deste ano, esteve sob holofotes porque distribuía água turva, fedida e com gosto ruim para os moradores. Esteve sempre aliado ao poder e, portanto, a sua história se confunde com a história das negociatas fluminenses.

Pode-se dizer que Everaldo é uma pessoa de visão. Mas nem tanta. Pois vale ponderar se participar de um esquema de desvios de recursos da saúde em meio a uma pandemia de coronavírus que está no centro dos holofotes do país e do mundo não seria um erro estratégico até para o mais fisiológico dos políticos.

Agentes da Polícia Federal e procuradores da República estão cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão contra políticos e empresários envolvidos no esquema na manhã desta sexta.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Revolução a caminho


O protesto foi organizado por um movimento de trabalhadores liderados por um ex-funcionário da Amazon, Chris Small, eles estão reivindicando que trabalhadores da Amazon, ganhem no mínimo 30 dólares por hora, o que segundo Small não é muita coisa para alguém como Bezos pagar.

Mona Lisa 2020



Nos EUA, polícia saúda branco com fuzil e atira para matar negro desarmado



Nos EUA, polícia saúda branco com fuzil e atira para matar negro desarmado. Racismo estrutural e violência policial são problemas graves também no Brasil.

Kennedy Alencar

Quando lhe perguntarem o que é racismo estrutural, cite o seguinte dado sobre a realidade brasileira. O Atlas de Violência 2020 mostra que, entre 2008 e 2018, o número de homicídios de negros cresceu 11,5%. No mesmo período, caiu 12,9% a taxa de pessoas não negras assassinadas.

Nos Estados Unidos (EUA), fica mais fácil ainda desenhar o racismo estrutural, aqui chamado com maior frequência de "sistêmico".

Em Kenosha, no estado de Wisconsin, Jacob Blake, desarmado, levou sete tiros pelas costas na tarde de domingo. Um policial branco não hesitou em disparar, num ato de brutalidade comumente praticado por agentes da lei nos EUA.

Na mesma cidade, na madrugada de terça para quarta-feira, um adolescente de 17 anos, Kyle Rittenhouse, caminhou duas vezes na frente da polícia sem ser incomodado, apesar de estar armado com um fuzil semiautomático e de manifestantes gritarem que ele havia atirado nas pessoas. Para os policiais, pareceu normal um miliciano patrulhar as ruas numa noite de protesto apesar do toque de recolher ordenado pelas autoridades.

Menor de idade, Rittenhouse seria apreendido no dia seguinte no estado de Illinois, vizinho de Wisconsin. Há tratativas para que ele seja transferido para Wisconsin, onde a lei permite que possa ser processado judicialmente como adulto.

Rittenhouse foi acusado pela polícia de assassinar duas pessoas na madrugada de quarta. Ele é suspeito de ter dado os tiros que mataram dois homens, Anthony Huber, 26, e Joseph Rosenbaum, 36, e que feriram um terceiro, Gaige Grosskroutz, 26.

Milícia branca já invadiu prédio público em protesto

Cenas de homens brancos armados andando normalmente pelo país são comuns nos Estados Unidos, sobretudo em alguns estados do meio-oeste e do sul. Em Michigan, em maio, uma milícia branca foi ao Legislativo estadual protestar contra a quarentena decretada pela governadora Gretchen Whitmer.

Na época, o presidente Donald Trump postou no Twitter uma mensagem pedindo a liberação do estado, incentivando manifestantes que estavam contrariados com as medidas sanitárias rigorosas e corretas da governadora Whitmer.

O jovem de 17 anos acusado de duplo homícidio em Kenosha é admirador de Trump e defensor do movimento "Blue Lives Matter", que prega maior dureza penal contra quem mata policiais. Rittenhouse se apresentou em vídeos gravados na madrugada de quarta-feira como um vigilante das ruas de Kenosha.

Num dos dois vídeos em que Rittenhouse interagiu com policiais, um deles usa o alto-falante do veículo blindado para agradecer aos vigilantes pelo trabalho que realizavam naquela noite.

Ontem George Floyd, hoje Jacob Blake

O caso de Jacob Blake, que está paralisado da cintura para baixo, segundo a sua família, é comparado ao episódio da morte de George Floyd, em 25 de maio. Naquele dia, um policial branco imobilizou Floyd e se ajoelhou no pescoço dele durante quase nove minutos. Esse assassinato desencadeou uma onda de grandes protestos em maio e junho contra a violência policial e o racismo estrutural, num movimento comparado à histórica luta pelos direitos civis nos anos 60

Na quinta-feira, estrelas do mundo esportivo, sobretudo do basquete, protestaram em solidariedade a Blake. A NBA, a associação nacional de basquete, cancelou a rodada de jogos enquanto oradores da Convenção Nacional Republicana procuraram retratar Trump como um defensor da América branca, ameaçada pelo "socialismo" de Joe Biden e pela agenda da "esquerda radical" democrata que quer tirar verbas da polícia.

O vice-presidente Mike Pence condenou a violência nas ruas, no contexto de crítica a saques e incêndios de estabelecimentos privados e prédios públicos. Mas não deu uma palavra a respeito da brutalidade policial que atingiu Blake, tampouco se manifestou sobre as vítimas do adolescente Rittenhouse.

As cenas dos últimos dias em Kenosha e na Convenção Nacional Republicana não deixam nenhuma dúvida. Há uma América branca e uma América negra. Numa delas, um homem pode andar armado livremente pelas ruas sem ser incomodado pela polícia. Na outra, um homem corre o risco de ser baleado pelas costas devido à cor da sua pele.

Tirinha profética


Allan Sieber

Um abnegado leitor mandou essa tira de 2013, quando eu publicava na Folha ( de 2005 a 2017, até ser chutado da noite para o dia sem qualquer explicação).

Infelizmente profética.

Flordelis será substituída na Câmara por outro cristão cheio de amor no coração

Cariocas, o suplente de Flordelis é o radialista e cantor Pedro Augusto, "o romeiro de Aparecida". O programa do romeiro promove romarias à basílica de Aparecida e mistura orações e notícias de crimes. Por "movimentações suspeitas de dinheiro", ele é investigado pela operação Furna da Onça.

Sai uma suspeita de assassinato, entra um suspeito de corrupção, mas sempre com cristo no coração.

Luiz Antonio Simas

Constantino


Luis Fernando Verissimo

Bom na guerra, generoso na vitória

Lá pelos séculos IV e V aconteceram mudanças na história cultural e intelectual do Ocidente que podem ser descritas, simplificando um pouco, como substituições no futebol: saem paganismo e racionalismo gregos, entram empiricismo romano e cristianismo. O apóstolo Paulo já fizera pouco nas suas pregações da “sapiência dos sábios” gregos e da “lógica vazia dos seus filósofos”, em contraste com a sabedoria do Cristo, iniciando a conquista do pensamento ocidental pelo cristianismo, que avançaria no começo do século IV com o imperador Constantino abrindo caminho para a cristã ser a única religião do império.

Para garantir o apoio dos teólogos e praticantes da nova e triunfante religião, Constantino iniciou outra tradição da Igreja, além do anti-intelectualismo de Paulo e dos conflitos reincidentes entre doutrina cristã e ciência: estabeleceu que nem o clero nem as autoridades mais altas da Igreja precisavam pagar impostos. Assim, além do prestígio e do poder na Terra e da certeza de um lugar no Céu pela eternidade, os bispos tinham acesso a prazeres mundanos e riquezas não tributáveis. Bispos disputavam entre si os favores de patronos ricos e do próprio imperador do momento.

Pelo que se sabe dele, Constantino foi um bom imperador, bom na guerra, bom e generoso na vitória e competente como administrador do seu império, que manteve unido por mais tempo do que qualquer outro “césar” depois de Augusto. Não se sabe se foi um cristão convicto ou se usou a Igreja para fins políticos e práticos, mas o fato é que a grande migração da história, do racionalismo grego para o irracionalismo romano, para o que um estudioso da época chamou de “mistério, mágica e autoridade” da Igreja de Roma, não teria acontecido sem ele. E olha aí, Paulo Guedes: taxar igrejas em vez de livros. Não é uma boa ideia?

Esquerda é cúmplice do cristofascismo que destrói o Brasil

 

Sylvia Moretzsohn

Sobre o caso Flordelis, um pequeno detalhe me atiçou a memória.

Ontem apareceu para mim um vídeo em que o pastor assassinado exaltava a aclamação da mulher (ex-mãe e ex-sogra) como vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica.

O que me chamou a atenção foi ver essa senhora cantando com aquele fervor de arrebentar cristais numa sessão plenária. Por um detalhe: a presença da Benedita, ali, na primeira fila, com as mãos espalmadas para o alto, como seus demais colegas de mandato e... fé.

Então me lembrei da sessão solene em homenagem ao "Dia do Evangélico", em fins de novembro do ano passado.

A sessão é presidida pela deputada Rejane Dias, do PT do Piauí.

Benedita está no plenário, sentada ao lado de Flordelis. E, logo no início, substitui Rejane na presidência da mesa, para que ela vá discursar.

Rejane começa agradecendo "ao nosso Deus, a ele toda a honra e toda a glória", à presença dos "amados irmãos" (na verdade, meia dúzia de gatos) que compareceram à sessão e nomeia Flordelis entre eles. E diz, logo no início, que "as coisas de Deus é assim, né. Sempre assim. A gente na verdade pensa numa coisa mas o espírito santo de Deus chega e muda tudo, não é?"

(E como muda. Estamos vendo agora).

A sessão dura quase duas horas. Flordelis participa ali pelo meio: "Vamos adorar ao Senhor. É assim que o povo de Deus tem crescido (...), aprendendo a não questionar, e nos momentos difíceis levantar a mão e adorar ao Senhor, porque ele é Deus, está no controle de todas as coisas", diz ela, antes de começar a cantar.

A Frente Parlamentar Evangélica existe desde setembro de 2003.

O Dia do Evangélico foi instituído por Lula em setembro de 2010.

No ano anterior, também em setembro, Lula assinou a lei que criava o Dia Nacional da Marcha para Jesus. Projeto do então senador Crivella, que no primeiro governo Dilma seria ministro da Pesca.

Lembrar disso é importante para a gente entender um dos processos fundamentais que nos levaram a esse inferno. Os acordos com lideranças religiosas que teriam de ser investigadas e jamais poderiam ter ocupado o espaço que ocuparam. A complacência, quando não a adesão ao uso do espaço parlamentar, laico, para cultos religiosos, como ocorreu seguidamente nos últimos anos. Essa nefasta mistura entre fé e política.

A história de Flordelis é especialmente degradante e é importante recuperar, agora, os momentos em que essa deputada era acolhida tão carinhosamente por seus colegas, inclusive à esquerda.

Bolsonaro frita Guedes na primeira vez em que tenta governar

Vinicius Torres Freire

Presimente joga para a plateia e quer que ministro faça mágica no gasto social 

Jair Bolsonaro tem de tomar sua primeira decisão relevante de governo: o dinheiro que seria destinado ao Bolsa Família Verde Amarelo. O que acontece então nessa situação inédita?

Bolsonaro frita o ministro Paulo Guedes (Economia) em público.

Em um palanque, disse que não vai tirar dinheiro de pobres para dar a paupérrimos. É fato que o Ministério da Economia havia vazado esse plano de renda básica sem ter o “tá ok” do presidente. Tais coisas acontecem porque o governo não tem rumo, programa e Bolsonaro lida com os ministros como se fossem estranhos: não governa, libera o desgoverno (Educação, Ambiente, Itamaraty) ou o não-governo (Saúde).

O pito de Bolsonaro virou rebu. Ministros vazaram intrigas contra Guedes para jornalistas e povos dos mercados. Azedou o clima entre credores do governo e negociadores de dinheiro em geral, que ignoraram pedidos de “patriotismo” de Bolsonaro. Juros e dólar subiram.

O ambiente na finança melhorou um tico quando Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e do parlamentarismo branco, reafirmou que não vai passar no Congresso qualquer tentativa de burlar o teto de gastos e que é preciso rever vinculações de despesas, sem dizer quais.

Maia também disse que a Economia vazou planos que não estavam autorizados por Bolsonaro. Ou seja, nesta rodada da refrega entre o governo e o ministro, bateu em Guedes. O deputado reassumiu a regência do programa econômico reformista, pois.

De que vinculações falava Maia? Do piso da saúde e da educação? É a última grande despesa carimbada. Os outros gastos obrigatórios relevantes são aqueles vinculados ao salário mínimo, como o piso da Previdência e de benefícios assistenciais, e salários de servidores.

Maia, assim como Guedes, está dizendo que o dinheiro para o Renda Brasil terá de vir do corte de outras despesas. Bolsonaro quer que Guedes faça mágica ou joga para a plateia (“não me deixam governar”).

Mantido o teto, não há dinheiro para os planos sociais que podem sustentar a popularidade presidencial a não ser que se compre uma briga social feia.

No entanto, mesmo o corte brabo de salários de servidores previsto na PEC Emergencial renderia uns R$ 15 bilhões em 2021 e R$ 37 bilhões em 2022. Isto é, o dinheiro demoraria a chegar e iria todo para o Renda Brasil. Assim, o investimento em obras cairia para perto de zero.

Guedes quer financiar o Renda Brasil com cortes do abono salarial, do Farmácia Popular e do seguro desemprego sazonal de pescadores, o que daria no máximo uns R$ 24 bilhões. Um Renda Brasil que pague R$ 270 mensais a 20 milhões de famílias custaria quase R$ 65 bilhões por ano (o Bolsa Família custa R$ 33 bilhões anuais). Bolsonaro quer um programa maior.

O que sobra para talhar?

Benefícios de Prestação Continuada (BPC), que pagam mais de R$ 60 bilhões por ano a idosos e pessoas com deficiência muito pobres. Ou uma redução de despesas com o seguro desemprego, que antes da calamidade estavam orçadas em R$ 35 bilhões em 2020. Esses cortes não passam no Congresso.

Logo, Bolsonaro está em uma sinuca de bico, como diz o povo. Começou a tratar Guedes como tratava Sergio Moro nos meses antes da degola: desautorizações e pitos do tipo “quem manda sou eu”. O Posto Ipiranga foi reduzido a loja de conveniência.

Muita gente acha que já tem uma faixa de “passa-se o ponto” na lojinha. Que fosse. Nada disso resolve o problema político-eleitoral de Bolsonaro. Para resolver, ou derruba o teto sem mais, à matroca, o que vai dar em besteira econômica, ou compra briga social.

Vinicius Torres Freire

É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA)

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Não subestimem a Rússia


Vinicius Carvalho

Eu não entendo nada de vacina ou de virologia, mas, modestamente e sem empáfia, eu entendo um pouquinho de Rússia.

Não quero acusar ninguém de nada e nem fingir que sou sabido, de vanguarda e etc, mas quem está acreditando que a tal vacina russa está sendo pesquisada sem testes, sem cadastrar artigos científicos não se atentou para as novas disputas geopolíticas e para o que a Rússia representa no xadrez global da atualidade.

Por mais falhas que o regime russo possua hoje, é o equilíbrio geopolítico que a Rússia e o Putin aplicam no mundo, na atualidade, que fazem com que este mesmo mundo seja um lugar um pouco menos pior.

Foi a Rússia que segurou, sozinha e na unha, o bonde da história nesta década quando metade do continente europeu e o oriente médio pendiam ao nazifascismo.

Me parece um clássico russo, como nesse caso das vacinas contra a covid, esconder seus estudos de vazamentos e pirataria.

Repito, eu posso estar errado, mas me parece uma tática de disputa política mesmo. A Rússia tem tecnologia de ponta, possui soberania científica, uma longa tradição de produção de vacinas e tem condições de produção em massa desde os tempos da URSS.

Quem vê a Rússia como um país tosco, com uma ciência atrasada, está imerso num preconceito ocidental e tomado por propaganda americana.

Voo da imaginação


Flor-de-lis


O palavrão que salvou Deltan PowerPoint Dallagnol


Bernardo Mello Franco

Na fase áurea da Lava-Jato, Deltan Dallagnol enchia auditórios para pontificar contra a corrupção. O procurador virou tribuno e lançou uma campanha para endurecer as leis penais. Queria aumentar as penas e reduzir as hipóteses de prescrição.

“Uma das razões centrais da impunidade é aquilo que a gente chama de prescrição. Prescrição é um palavrão jurídico que significa o cancelamento do caso criminal porque ele demorou muito tempo na Justiça”, dissertou, em outubro de 2016. “Você dá um atestado de boa conduta para o criminoso, o corrupto, como se o crime não tivesse acontecido”, prosseguiu, em entrevista a uma rádio paulista.

Ontem o Conselho Nacional do Ministério Público julgou uma reclamação contra Deltan. O motivo foi o PowerPoint em que ele apontou o ex-presidente Lula como “comandante máximo” dos desvios na Petrobras.

Em entrevista transmitida ao vivo na TV, em setembro de 2016, o chefe da força-tarefa definiu o petista como o maestro de uma “grande orquestra concatenada para saquear os cofres públicos”. Em outro momento, chamou Lula de “grande general” da roubalheira.

O procurador ainda comparou Lula a um assassino que “foge da cena do crime após matar a vítima e depois busca silenciar as testemunhas”. O falatório foi ilustrado com um diagrama de 14 setas que apontavam para o nome do ex-presidente.

O espetáculo tinha um problema: apesar do discurso inflamado, Deltan não denunciou o ex-presidente por organização criminosa. Ele foi acusado num caso específico, em que teria recebido vantagens da OAS.

No Supremo, o ministro Teori Zavascki reprovou a performance. “Essa espetacularização do episódio não é compatível nem com o objeto da denúncia nem com a seriedade que se exige na apuração”, condenou.

A reclamação se arrastou no CNMP por quatro anos. Com recursos e chicanas que fariam inveja aos réus da Lava-Jato, o procurador conseguiu adiar 42 vezes o próprio julgamento. Ontem seu advogado convenceu o conselho de que o episódio já estava prescrito. Deltan foi salvo pelo “palavrão jurídico” que combatia.

Por que Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro?


Elio Gaspari

O Ministério Público não tem pressa e a pergunta virá muitas vezes

Em 2018 Jair Bolsonaro era o presidente eleito quando teve que explicar um depósito de R$ 24 mil feito pelo faz-tudo Fabrício Queiroz na conta de sua mulher. À época ele disse que esse dinheiro se relacionava com uma dívida de R$ 40 mil que o ex-PM tinha com ele.

O senador Flávio Bolsonaro conversou com Queiroz e deu-se por satisfeito: “Ele me relatou uma história bastante plausível e me garantiu que não há nenhuma ilegalidade.”

O vice-presidente eleito Hamilton Mourão acrescentou o essencial elemento de dúvida: “O ex-motorista, que conheço como Queiroz, precisa dizer de onde saiu este dinheiro.(...) Algo tem, aí precisa explicar a transação.”

Passaram-se dois anos e nada aconteceu de bom para os Bolsonaro. O depósito de R$ 24 mil podia até ser parte da quitação de uma dívida de R$ 40 mil. Mas o ervanário depositado pelos Queiroz foi de R$ 89 mil. Bolsonaro não gosta de ouvir essa pergunta, mas precisa se habituar a conviver com ela. A ideia de “meter a porrada” em quem a faz é inútil, porque ela virá muitas vezes do Ministério Público. Os procuradores não tem pressa, só perguntas e até hoje os Bolsonaro não contribuíram para o esclarecimento do que seriam seus rolos com Queiroz.

O que em 2018 eram movimentações financeiras estranhas de um faz-tudo virou coisa mais pesada. Onze servidores alocados nos gabinetes dos Bolsonaro faziam depósitos nas contas de Queiroz. Entre eles estavam a ex-mulher e a mãe do ex-PM Adriano da Nóbrega, um miliciano foragido, que foi morto numa operação policial no interior da Bahia. Queiroz nunca deu uma explicação convincente para seus rolos. Sumiu e apareceu na casa de Atibaia do advogado Frederick Wassef.

O doutor defendia os interesses de Flávio Bolsonaro. Todas as conexões de Queiroz tinham o aspecto comum às malfeitorias da pequena política do Rio de Janeiro, até que os repórteres Luiz Vassalo, Rodrigo Rangel e Fabio Leite revelaram que o doutor Wassef recebeu R$ 9 milhões para defender os interesses da JBS junto à Procuradoria-Geral da República e aos tribunais de Brasília. Em outubro passado, meses antes da manhã em que Fabrício Queiroz foi preso em sua casa, Wassef estava a serviço da empresa. Atravessaram a rua para entrar no caso Queiroz.

A JBS é hoje a maior empresa do país em receita, superando a Petrobras. Produzindo alimentos, ela foi uma das “campeãs nacionais” durante o consulado petista e tornou-se uma vaca leiteira para as criaturas que habitam aquilo que o doutor Paulo Guedes chamou de “pântano político, (com) piratas privados e burocratas corruptos”.

Em 2017 Joesley Batista, um de seus controladores, quase derrubou o governo de Michel Temer gravando uma conversa escalafobética que teve com ele para azeitar o acordo de colaboração que fecharia com o procurador-geral Rodrigo Janot.

Em 2018, quando o Coaf desconfiou das contas de Queiroz, puxando-se os fios chegava-se aos Bolsonaro, e às pizzarias de Dona Raimunda, mãe de Adriano da Nóbrega. Passaram-se dois anos, nenhuma pergunta foi respondida e, puxando-se o fio do ex-PM faz-tudo dos Bolsonaro, bateu-se em Wassef, que teve como cliente a JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo.