Livro diz que quase todo o tesouro arquitetônico do Ocidente foi literalmente roubado do Oriente ou mais especificamente dos árabes. Começando pela Notre-Dame
Você encara a fachada da catedral de Notre-Dame em Paris e se maravilha. Com o equilíbrio das suas torres duplas ladeando a grande rosácea sobre a entrada, a igreja é considerada uma obra-prima da arquitetura gótica. Há outros exemplos do estilo gótico por toda a Europa, e todos propõem o mesmo mistério: por que se atribui aos godos, uma tribo germânica semibárbara da qual não se conhece nenhum outro pendor artístico, a criação de tanta beleza? Não importa a origem, importa que a tradição cristã europeia tem nas catedrais antigas a grande prova do seu legado. Como já disse alguém, um só nicho da catedral de Chartres contém mais civilização do que qualquer palácio laico do mundo. Certo?
Nem tanto. As grandes catedrais existem, o legado do poder da Igreja existe, o que não está com nada é o Ocidente cristão e a civilização superior que as grandes catedrais representariam. Está saindo um livro intitulado Stealing from the Saracens, Roubando dos Sarracenos de Diana Darke, em que a autora diz que quase todo o tesouro arquitetônico do Ocidente foi literalmente roubado do Oriente ou mais especificamente dos árabes. A começar pela Notre-Dame, cujas torres duplas foram copiadas da mesquita de Qald Loseh, que existe na Síria desde o século 5.º. Muitos dos mais importantes prédios religiosos e administrativos da Europa foram construídos de acordo com planos levados para casa por comerciantes e viajantes ocidentais – e até pelos Cruzados. Sim, o Parlamento de Londres está na lista da dona Darke, assim como nada mais inglês do que a Westminster Abbey, e a basílica de São Marcos em Veneza.
Os árabes ocuparam a Península Ibérica por 700 anos e foi uma convivência pacífica. Deixaram na Espanha e em Portugal alguns hábitos como o do banho e o do uso de perfumes, que só contribuíram para a paz até serem expulsos, algumas habilidades como a matemática e o “canto hondo” do flamenco. A tese do livro Roubando dos Sarracenos (“sarraceno”, por sinal, é “saraqa” em árabe, e quer dizer ladrão) é muito bem-vinda num momento em que grupos e governos de direita atiçam a islamofobia e xenofobia e defendem o que há de mais retrógrado na ideia de uma civilização cristã ocidental ameaçada.
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