quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Esquerda é cúmplice do cristofascismo que destrói o Brasil

 

Sylvia Moretzsohn

Sobre o caso Flordelis, um pequeno detalhe me atiçou a memória.

Ontem apareceu para mim um vídeo em que o pastor assassinado exaltava a aclamação da mulher (ex-mãe e ex-sogra) como vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica.

O que me chamou a atenção foi ver essa senhora cantando com aquele fervor de arrebentar cristais numa sessão plenária. Por um detalhe: a presença da Benedita, ali, na primeira fila, com as mãos espalmadas para o alto, como seus demais colegas de mandato e... fé.

Então me lembrei da sessão solene em homenagem ao "Dia do Evangélico", em fins de novembro do ano passado.

A sessão é presidida pela deputada Rejane Dias, do PT do Piauí.

Benedita está no plenário, sentada ao lado de Flordelis. E, logo no início, substitui Rejane na presidência da mesa, para que ela vá discursar.

Rejane começa agradecendo "ao nosso Deus, a ele toda a honra e toda a glória", à presença dos "amados irmãos" (na verdade, meia dúzia de gatos) que compareceram à sessão e nomeia Flordelis entre eles. E diz, logo no início, que "as coisas de Deus é assim, né. Sempre assim. A gente na verdade pensa numa coisa mas o espírito santo de Deus chega e muda tudo, não é?"

(E como muda. Estamos vendo agora).

A sessão dura quase duas horas. Flordelis participa ali pelo meio: "Vamos adorar ao Senhor. É assim que o povo de Deus tem crescido (...), aprendendo a não questionar, e nos momentos difíceis levantar a mão e adorar ao Senhor, porque ele é Deus, está no controle de todas as coisas", diz ela, antes de começar a cantar.

A Frente Parlamentar Evangélica existe desde setembro de 2003.

O Dia do Evangélico foi instituído por Lula em setembro de 2010.

No ano anterior, também em setembro, Lula assinou a lei que criava o Dia Nacional da Marcha para Jesus. Projeto do então senador Crivella, que no primeiro governo Dilma seria ministro da Pesca.

Lembrar disso é importante para a gente entender um dos processos fundamentais que nos levaram a esse inferno. Os acordos com lideranças religiosas que teriam de ser investigadas e jamais poderiam ter ocupado o espaço que ocuparam. A complacência, quando não a adesão ao uso do espaço parlamentar, laico, para cultos religiosos, como ocorreu seguidamente nos últimos anos. Essa nefasta mistura entre fé e política.

A história de Flordelis é especialmente degradante e é importante recuperar, agora, os momentos em que essa deputada era acolhida tão carinhosamente por seus colegas, inclusive à esquerda.

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