sexta-feira, 31 de maio de 2019

Ministro reage a protestos com delírio totalitário e perseguição

Bruno Boghossian

O ministro da Educação decidiu aplicar a lógica da intimidação para reagir aos protestos contra a política do governo para o setor. Abraham Weintraub pediu que a população denuncie quem incentivar manifestações e ameaçou demitir professores que anunciarem esses atos.

À espera do movimento que iria às ruas nesta quinta (30), o MEC disparou uma nota para dizer que “professores, servidores, funcionários, alunos, pais e responsáveis não são autorizados a divulgar e estimular protestos durante o horário escolar”. Além de inócuo, o texto mostrou o delírio totalitário de governantes que gostariam de ter controle até sobre as famílias dos estudantes.
Weintraub tenta se desviar das agruras do cargo ao se vender como vítima de um complô partidário. O segundo protesto contra sua gestão tinha, de fato, a participação de organizações como a UNE e a CUT. Havia faixas contra Jair Bolsonaro, e políticos de esquerda estiveram em alguns dos atos, mas o ministro deveria saber que os choques políticos fazem parte da democracia.

O próprio Weintraub admite que seu objetivo é constranger os servidores. Ao receber o vídeo de um professor que, exaltado, dizia a alunos que eles deveriam defender a educação pública, o ministro sugeriu abrir um processo para exonerá-lo. Ele lamentou que o sistema fosse demorado, mas acrescentou que a ação assustaria “essa turma de ‘corajosos’ que usa crianças e menores de idade como bucha de canhão”.

O ministro ainda reclamou dos gritos do manifestante na gravação: “Inacreditável a forma de comunicação”. Weintraub já mostrou que prefere patetices como o vídeo em que segura um guarda-chuva para dizer que “está chovendo fake news”.

O governo insiste na visão de que os manifestantes são “idiotas úteis” e só saíram às ruas porque foram manipulados por professores. Weintraub, em especial, aposta numa guerra constante contra a doutrinação ideológica. Aparentemente, ele não tem nenhuma outra resposta a oferecer para melhorar a educação.

PRESOS EM UM PIBÍCULO


Vinicius Torres Freire

Quando a água bate nas costas, para não dizer outra coisa, até economista ultraliberal inventa um modo de estimular o consumo. Ou, como disse Paulo Guedes, de modo pitoresco e característico, dá-se um jeito de fazer uma “chupeta na bateria” arriada do PIB, tal como esse negócio de liberar FGTS.

Na lerda em que estamos, é alguma coisinha, mas só. O problema é a síndrome de deficiência de investimentos, a começar pelos públicos.

No setor privado, não se investe por ociosidade e/ou medo do futuro, por não haver um programa de concessões de infraestrutura para a iniciativa privada e porque a depressão parece ter danificado ainda mais a máquina econômica e causado uma espécie de fobia de investir.

Para completar, há o efeito Bolsonaro, a baderna política e administrativa de seu governo e sua incapacidade atroz, não raro feroz. Isso causa mais desconfiança, é óbvio, com efeitos evidentes a partir deste trimestre.

Como ninguém aguenta seis anos de crise, a chapa começa a esquentar, pelo menos no debate econômico.

O triste fim da Batata Liberal


Retratada ao lado de canalhas e fascistas na capa da QuantoÉ, Tabata Amaral parece sempre à vontade na extrema-direita.

Nenhum diálogo é possível, é hora de confronto

Uma colisão
Nada nos une, e o melhor a fazer é assumir que nada realmente nos une 
Vladimir Safatle

Há países que parecem lutar de forma desesperada contra movimentos inevitáveis. Eles procuram adiar de todas as maneiras a confrontação com aquilo que romperia uma imagem de si construída à base de muito desconhecimento, silenciamento e violência. No entanto, chega uma hora em que tal imagem se quebra, que as narrativas tradicionais não dão mais conta de nada.

Desde as eleições de 2014, era óbvio que o Brasil tinha explicitado o fato de ser um país que caminhava para os extremos. As dinâmicas de conquista do centro como condição de governabilidade, tão típicas da Nova República, tendiam paulatinamente a sair de cena. Nesses últimos cinco anos, não houve fato a desmentir tal tendência. Enquanto alguns clamavam por “diálogo”, outros haviam compreendido que não havia nenhuma gramática comum que possibilitasse qualquer forma de “diálogo” possível.

Nada nos une e, nessas situações, o melhor a fazer é assumir que nada realmente nos une, a não ser a partilha do mesmo território. Contrariamente ao que os dados oficiais enunciam, não falamos a mesma língua.

Essa ausência de um campo comum é a expressão mais bem acabada na qual apenas o acirramento das diferenças pode produzir algum acontecimento real. Domingo passado, os apoiadores do desgoverno de plantão mostraram claramente seus rostos. Eles não temeram deixar explícita a gramática singular que lhes é própria.

Nela, “luta contra a corrupção” é algo que não diz respeito aos filhos do presidente, seu motorista e seu partido. Isso não deveria nos estranhar, já que estamos a falar de uma base social exímia em fazer juízos morais definitivos enquanto sonega impostos e espolia direitos trabalhistas de seus “empregados”.

Nela, “amor a pátria” gritado por corpos vestidos com camisa de time de futebol é outro nome para desprezo por aqueles que essa “pátria” violentou sistematicamente para se afirmar (como índios e negros). “Segurança” é sinônimo de “extermínio” e de “execução”.

Pois ninguém estava lá minimamente incomodado com policiais que executam 13 pessoas a facada (como ocorreu no morro do Fallet) ou com 80 tiros. Nem com governadores que saem de helicóptero para abater sua própria população. Ao contrário, eles agora são louvados exatamente por isso.

Esse setor da população está em uma consolidação sem retorno de suas tendências militaristas e, em vários casos, abertamente fascistas. Eles assumiram abertamente práticas negacionistas e não veem problemas em elevar torturadores a heróis.

Há de se perguntar quanto tempo mais precisaremos esperar para aparecer um Comando de Caça aos Comunistas e grupos paramilitares. Seria irresponsável não reconhecer que radicalizações desta natureza, levando em conta a história brasileira, são possibilidades. Contrariamente ao que alguns acreditam, as convocações governistas de seus apoiadores sempre serão prontamente respondidas.

Nesse ponto, o Brasil segue uma tendência mundial de desrecalque dos setores mais regressivos da vida social, animados por aqueles que apostam em um vale tudo para conseguir passar suas agendas econômicas que garantirão mais um ano de lucros recordes para o sistema bancário e seus rentistas de plantão.

O caminho a ser feito agora não passa por nenhuma forma de “defesa”, por luta pela “preservação” de algo. Passa pela compreensão de contarmos apenas com a força do nosso dissenso e com nosso desejo de ruptura.

Por questões de fechamento de edição, escrevo sem saber quais foram os resultados das manifestações desta quinta. Mas agora, há de se preservar uma força constante e comum, com suas paralisações, greves e mobilizações. Até que um novo país nasça da consciência de seus conflitos e antagonismos.

O Brasil sonhou com pactos e conciliações infinitas. Agora, ele acorda diante da tarefa de assumir para si uma colisão que ele fez de tudo para apagar.


Vladimir Safatle

Professor de filosofia da USP, autor de “O Circuito dos Afetos: Corpos Políticos, Desamparo e o Fim do Indivíduo”.

Sinistro da educação é a encarnação da estupidez orgulhosa de si


Luis Felipe Miguel

Vélez era incompetente e reacionário, mas estava nitidamente assustado com o cargo que ocupava. Ele pelo menos sabia que não tinha condições de estar ali.

Weintraub é tão limitado que nem isso ele alcança. Mesmo nas suas performances mais patéticas (chocolatinhos, dancinha da chuva), é patente o contentamento que ele sente consigo mesmo.

O ministro acha que está arrombando a boca do balão, como se dizia nos anos 1990. É a encarnação da estupidez orgulhosa de si.

Por isso, é difícil imaginar que Weintraub vá recuar.

Bolsonaro deve estar recebendo muita pressão para demiti-lo, dos seus aliados dotados de maior racionalidade. Mas o ex-capitão deve ver a substituição do ministro como uma derrota, uma demonstração de fraqueza.

Quando foi forçado a tirar Vélez, colocou um pior ainda no cargo. Será que vai mudar de postura agora?

É difícil imaginar mesmo a produção de um modus vivendi entre o setor educacional e um governo que, seja por cálculo, seja por delirante paranoia, tem no combate à educação uma prioridade.

A única maneira de sair desse impasse é pela derrota completa de Bolsonaro, com a definição muito clara de regras que garantam a vigência da Constituição - isto é, que blindem o investimento público e protejam a liberdade de ensino e pesquisa e a autonomia universitária. Cabe ao Congresso e ao Supremo reagir às ruas.

Clássicos da canalhice

O cínico in the rain

Dois ministros


Claudio Guedes

O primeiro é um cretino típico.

Iletrado, boçal e estúpido - qualificações mais do que suficientes para ser escolhido pelo presidente Bolsonaro para a pasta de Educação. O presidente, um ex-capitão de poucos modos e rarefeita instrução, é um adversário declarado da ciência e do conhecimento. O homem do guarda-chuva, Abraham Weintraub, fará algum estrago no MEC, mas será, com o tempo, defenestrado pela própria comunidade acadêmica.

O segundo, um tipo perigoso.

Não é um cretino, não é um aloprado. É inteligente, "bonitinho" e trabalha, de forma consciente, para burlar políticas e controles de modo a favorecer empresários com interesses em explorar reservas e áreas de proteção ambiental.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, foi fundador, em 2006, do Movimento Endireita Brasil (MEB), organização alinhada à chamada nova direita e parceira do Instituto Millenium. Foi secretário particular do governador de SP, Geraldo Alckmin, de 2013 a 2014, e Secretário do Meio Ambiente de São Paulo de 2016 a 2017. Salles foi alvo de ação movida pelo MP de SP sob a acusação de alterar ilegalmente o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do Rio Tietê, com a intenção de beneficiar interesses privados.

A promotoria de justiça o acusou, ainda, de participar, no governo estadual, como agente de interesses de empresas privadas, tendo sido investigado em inquéritos policiais por enriquecimento ilícito e advocacia administrativa.

No caso da APA do Rio Tietê, Ricardo Salles foi acusado de fraudar o processo do Plano de Manejo, em cumplicidade com setores da FIESP, modificando mapas elaborados pela USP, alterando minuta do decreto do plano de manejo e promovendo perseguições a funcionários da Fundação Florestal, para beneficiar empresas da área de mineração. Em 19/12/2018, foi condenado, nesta ação, por improbidade administrativa e à perda dos direitos políticos por três anos. Ele está recorrendo.

No ministério do Meio Ambiente, o papel de Salles é desconstruir anos de política e de legislações em defesa dos recursos naturais do país. Seus alvos principais são o IBAMA - órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que exerce o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais e concede licenças ambientais para instalação e operação de empresas - e o CONAMA, órgão colegiado responsável pelas medidas de natureza consultiva e deliberativa sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente. Ambos fundados em 1981, ainda quando o país vivia sob o regime militar.

A capacidade de destruição de Ricardo Salles é gigantesca. Não apenas sobre o meio ambiente, mas para a economia brasileira. A sua gestão no MMA está abalando fortemente a imagem do país no exterior, marcando o Brasil como um país refratário a boas práticas ambientais, o que provocará o fechamento de mercados, na Europa, EUA e Ásia, para produtos do agro-negócio brasileiro.

Simpatia é quase amor


Bernardo Mello Franco 

Jair Bolsonaro costuma usar metáforas amorosas para falar de suas relações políticas. O presidente já disse ter um “casamento hétero” com Paulo Guedes. Depois declarou estar “namorando” Rodrigo Maia. Falta saber que termo ele escolherá para descrever o flerte com Dias Toffoli.

Os chefes do Executivo e do Judiciário estão ensaiando a dança do acasalamento. Na terça-feira, Toffoli tomou café da manhã no Palácio da Alvorada. Saiu anunciando um pacto para “destravar o Brasil” e “retomar o crescimento”, entre outras platitudes.

Ontem o presidente do Supremo esteve no Planalto com uma caravana de deputadas e senadoras. Passou o encontro sorrindo e cochichando com o anfitrião. Parecia um ministro do governo, não o chefe de outro Poder.

Bolsonaro foi só elogios. Chegou a dizer que Toffoli é “uma pessoa excepcional”. “É muito bom nós termos aqui a Justiça ao nosso lado”, derramou-se. Pouco depois, ele juntou as mãos em gesto de coração. Para as câmeras, não para o convidado ilustre.

O momento “simpatia é quase amor” tem causado constrangimento no Supremo e na comunidade jurídica. A razão é simples: Toffoli não pode antecipar julgamentos ou fazer acordos em nome dos colegas.

A reforma da Previdência não é o único projeto do governo que deverá ser questionado no Judiciário. A Corte já recebeu diversas ações contra atos do presidente que afrontam a Constituição. Além disso, os ministros ainda voltarão a tratar dos rolos do Zero Um.

Para cumprir seu papel, o Supremo precisa manter a independência e a imparcialidade. Não pode despir a toga diante da faixa presidencial.

Bolsonaro já disse ter “casamento hétero” com Paulo Guedes. Depois declarou estar “namorando” Rodrigo Maia. Falta escolher um termo para descrever seu flerte com Dias Toffoli

Alguns ministros deste governo têm saudades da ditadura. Outros pensam que o país ainda vive sob o arbítrio. Ontem Abraham Weintraub estimulou pais de alunos a dedurarem professores que foram às manifestações. Mais cedo, ele voltou a tropeçar no português no vídeo do guarda-chuva. Se ainda fosse estudante, o ministro teria dificuldade para passar no Enem

quinta-feira, 30 de maio de 2019

General Augusto Heleno é mais burro que o Bozo e o Olavão somados


Sinistro da Educação teria dificuldade para passar no Enem


Bernardo Mello Franco

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, parece ter um problema inconciliável com a língua portuguesa.

No vídeo em que imita Gene Kelly em "Cantando na Chuva", divulgado hoje nas redes sociais, ele agride os ouvidos alheios ao dizer que "haviam emendas".

O verbo haver, ao ser usado no sentido de existir, é inflexível e não pode ser conjugado no plural. Isso é ensinado a todo estudante de ensino médio.

Em outro tuíte desastrado, Weintraub reclamou de "calúnias nas quais eu insitaria (sic) a violência". Teve que ser lembrado de que o verbo "insitar" se escreve com com S.

O ministro de Bolsonaro também virou alvo de chacota ao confundir escritor tcheco com quitute árabe. Numa tentativa de citar Franz Kafka, referiu-se a um certo "Kafta".

Com essa performance em português e literatura, Weintraub teria dificuldade para passar no Enem.

Mais um, Baêa!


MAIS UM, BAHIA

Leandro Fortes

O dia, hoje, é de luta pela educação, mas vou falar de futebol. Aliás, sobre essa gente patética do jornalismo esportivo que vê o futebol nordestino como um exotismo cultural.

Ouvi no rádio e li em alguns sites a decepção dessa gente com os triunfos do Bahia sobre o São Paulo - este, desclassificado, ontem, da Copa do Brasil, ao ser derrotado, na Fonte Nova.

O jornalismo esportivo brasileiro é assim: quando não está fazendo gracinha, está puxando o saco dos clubes do sul/sudeste.

Dessa forma, não foi o Bahia que ganhou do São Paulo, mas o time paulistano que perdeu, para estupefação geral, de um time nordestino.

Isso depois de três jogos nos quais o Bahia ganhou duas partidas e empatou outra, com o São Paulo.

Mas o que causa espécie na crônica esportiva é o São Paulo não ter conseguido fazer um único gol no Bahia.

Lembrando que essa mesma gente passou pano para o Flamengo quando a irresponsabilidade dos dirigentes do time provocou a morte de uma dezena de meninos, queimados vivos, no Rio.

Por isso que eu quero ver o Bahia dando uma lição, de uma vez por todas, nesse jornalismo servil e cafajeste.

#BBMP

Novo homem de Witzel em Brasília é réu em três ações e escudeiro de Cunha

O novo homem de Witzel em Brasília

Bernardo Mello Franco
Ao se eleger, o governador Wilson Witzel anunciou um secretariado com as “melhores pessoas”. A promessa foi tão verdadeira quanto o seu diploma de doutor em Harvard
No primeiro discurso como governador eleito, Wilson Witzel anunciou o fim da “política do compadrio” e a escalação de um secretariado com as “melhores pessoas”. A promessa foi tão verdadeira quanto o doutorado que ele disse ter feito em Harvard. Ao se sentar na cadeira, o ex-juiz imitou a fórmula dos antecessores. Loteou a máquina pública entre apaniguados e políticos derrotados nas urnas.

Depois de cinco meses, Witzel resolveu inovar. Em decreto publicado ontem, ele criou a Secretaria Extraordinária de Representação do Governo em Brasília. Entregou a pasta ao ex-deputado André Moura, personagem notório na capital federal.

O novo secretário começou como prefeito de Pirambu, município sergipano de oito mil habitantes. Subiu na vida ao se tornar escudeiro de Eduardo Cunha. Dias depois do impeachment, ele foi recompensado pela fidelidade ao chefe. Virou líder do governo de Michel Temer no Congresso.

A relação com o ex-presidente da Câmara era tão íntima que Moura gostava de ser chamado de André Cunha. Num embate em plenário, o deputado Paulo Teixeira preferiu batizá-lo de “lambe-botas”.

O novo secretário de Witzel é réu em três ações penais no Supremo. Numa delas, é acusado de comprar votos com dinheiro vivo e sacos de cimento. Ele já foi condenado ao menos três vezes por improbidade administrativa, acusado de usar verba pública para fazer feira e promover churrasco.

Com Temer e Cunha fora de combate, Moura deve o novo emprego a um terceiro padrinho: o presidente do PSC, Pastor Everaldo. Sem cargo formal no governo, ele virou eminência parda da gestão Witzel. Já emplacou aliados na Cedae, no Detran e até no Palácio Guanabara. Seu filho é assessor especial do governador.

No discurso em que prometeu nomear uma equipe técnica, o ex-juiz definiu o pastor como sua “alma gêmea”. Agradecido, Everaldo garantiu que cederá a legenda para Witzel concorrer ao Planalto. Ele arriscou uma candidatura própria em 2014, mas não se deu bem. Recebeu menos de 1% dos votos.

Weintraub, o ministro idiótico do dia

VOCÊS ERRARAM OU MENTIRAM, COLUNISTAS DE ECONOMIA


Mario Marona

Se a Dilma fosse derrubada, o Brasil seria salvo da crise por um surto natural e imediato de confiança do mercado e dos empresários.

Não foi. Muito pelo contrário. Mais de três anos depois da destituição do PT do poder, a situação econômica do país é muito pior. Se há três anos havia “apenas” uma crise econômica, agora a situação é de profunda depressão.

Leitores de jornal, ouvintes de rádios e telespectadores estão aguardando: o que têm a dizer quase todos os colunistas e comentaristas de economia?

Vocês se encarregaram de espalhar como verdadeira a tese segundo a qual sem o PT no governo o país superaria num instante a crise econômica. Vocês também garantiram que a mudança nas leis trabalhistas, há dois anos, teria efeito semelhante, e levaria logo à criação de empregos. Agora, asseguram que a mudança das leis previdenciárias fará a mesma coisa.

Quando vocês pretendem para de enganar os brasileiros? Ou quando, para fingir que não são venais, pretendem confessar que foram incapazes de entender minimamente a realidade que deveriam analisar com um minimo de isenção? Na segunda hipótese, alguns de vocês poderiam ter errado de boa-fé, exceto pela imperdoável desonestidade intelectual.

Mas de bem intencionados, todos sabemos, o inferno sempre estará lotado.

Fala do ministro Osmar Terra é fruto de mau-caratismo

Luis Felipe Miguel

As conclusões de uma pesquisa científica nunca são indiscutíveis. Pelo contrário, é próprio da ciência sempre estar aberta à contestação e ao debate. Mas isso se faz a partir de crítica interna séria, de reinterpretação dos dados a partir de outros ângulos ou outros enquadramentos teóricos, de novas pesquisas.

Descartar uma pesquisa científica apelando ao senso comum é não entender minimamente o sentido da ciência. Ela existe para desafiar o senso comum. Se o senso comum nos bastasse, não precisaríamos de ciência.

Dito isso, é constrangedor o ministro "da Cidadania", Osmar Terra, difamando o trabalho de pesquisadores sérios porque o resultado não lhe agradou. E usando suas impressões pessoais, após um passeio por Copacabana, como argumento.

Eu poderia dizer que as ruas do Rio de Janeiro estão vazias porque as pessoas não saem de casa com medo de serem metralhadas pelos helicópteros de Witzel. Seria também uma maneira de generalizar a partir de um evento singular (em determinada hora de determinado dia, determinadas ruas estavam vazias) e tirar da cartola uma explicação que me agrada (seja ela epidemia de drogas ou governador psicopata).

Para não cair nesse erro tão primário, só tem um jeito. Fazer pesquisa. Foi o que a Fiocruz fez.

A fala do ministro se explica por ignorância ou mau-caratismo. Osmar Terra é médico. Certamente teve contato, em sua formação, ao menos com rudimentos do método científico. É difícil justificar sua fala por ignorância.

Se houvesse a intenção sincera de combater o vício e reduzir o consumo de substâncias nocivas, se houvesse preocupação de fato com a saúde pública, o conhecimento produzido pelas pesquisas seria o fundamento da produção de políticas governamentais, não o inimigo.

A paranoia sobre as drogas ilegais não apenas sustenta o discurso de muitos políticos da direita, que encontram um culpado para nossa mazelas sociais externo ao sistema capitalista, como garante a repressão permanente às populações marginalizadas e alimenta uma indústria florescente de "benemerência" sustentada com verbas públicas. Terra tem bons motivos para preservá-la.

Também não é difícil ver quais são os motivos para Ernesto Araújo insistir que não há aquecimento global. Ontem, na Câmara, ele voltou a dar vexame com um argumento estapafúrdio: as pessoas acham que há aquecimento global porque estão colocando os termômetros mais perto do asfalto.

Há uma comunidade internacional de cientistas que debate a mudança climática há décadas. Ela usa um conjunto extremamente amplo de medidas, equipamentos de alta sofisticação e simulações computadorizadas altamente elaboradas. Está munida de séries históricas complexas e maneja referenciais teóricos de ponta.

Essa comunidade chegou ao consenso de que existe um processo acelerado de aquecimento do planeta. E eis que vem o chanceler brasileiro e tira, da sua cabecinha de seguidor de um guru que acha que o sol gira em torno da terra, a informação de que os cientistas são "ideológicos" e não perceberam que estavam colocando seus termômetros no lugar errado.

Bom para o "agronegócio" que quer desmatar à vontade. Bom para seus chefes nos Estados Unidos, que querem emitir CO2 como se não houvesse amanhã. E não vai haver mesmo.

Não vou me estender, mas dá para olhar também para Paulo Guedes. Ele inventa os números que quer para justificar suas "reformas" e se aferra à mentira de que a implantação de seu receituário ultraliberal levará à prosperidade e ao bem-estar - contra todas as evidências. Com o auxílio inestimável da grande mídia, os muitos dados, argumentos e pesquisas que contradizem esse enquadramento são simplesmente ignorados. É como se não existissem.

Não é de hoje, aliás. Há décadas o debate sobre a Previdência Social é nosso melhor exemplo de pós-verdade institucionalizada.

Enfim: vivemos num país em que o combate ao conhecimento está se tornando política de Estado.

Este é mais um grande motivo para irmos às ruas hoje. Em defesa da educação. Em defesa da liberdade de ensinar e de aprender. Em defesa da pesquisa e da ciência. Em defesa do pensamento.

Sempre que ouço falar em cultura, pego o meu revólver

A frase

Veríssimo

Há frases que sobrevivem aos seus autores —em muitos casos porque são atribuídas a autores errados. Nem o Humphrey Bogart nem a Ingrid Bergman pediram ao pianista Sam que tocasse “As time goes by” outra vez, no “Casablanca”, o que não impediu que fosse a música mais lembrada do filme. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, deixou uma penca de frases para a posteridade. Estranhamente, a autenticidade das suas citações está só agora sendo debatida. O verdadeiro autor da tirada “sempre que ouço falar em cultura, pego o meu revólver” seria não o magro Goebbels, mas o gordo Hermann Goering, que disputava com Goebbels um lugar no coração do Führer. E agora surge outra revelação: a frase faria parte de uma peça intitulada “Schlageter”, lançada em Berlim em 1933. Enfim, o autor.

Goebbels nunca reivindicou a autoria da frase famosa porque, decerto, achava que merecia todas as glórias de uma boa sacada, mesmo as emprestadas. Também, como intelectual do regime e atento a tudo que desmoronava à sua volta, inclusive o sacrifício dos seus próprios filhos e o seu suicídio no bunker de Hitler, Goebbels deve ter visto seu final como um misto de castigo pelos seus crimes e triunfalismo trágico pela sua fidelidade. Se todas as vezes em que ouvisse falar em cultura tivesse sido mais rápido no gatilho, talvez o delírio nazista tivesse durado mais um pouco, ou menos. Para as crianças no bunker, não faria diferença.

A frase de Goebbels que não era de Goebbels teve várias versões. Groucho Marx: “Sempre que ouço alguém falar em cultura, pego a minha carteira.” Possível outra versão da frase do Groucho: “Sempre que ouço falar em cultura, escondo minha carteira”. No Brasil do governo Bolsonaro, a escolha cultura/revólver já foi feita.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Sinistro Arnesto explica o aquecimento global

O termostato é um dispositivo destinado a manter constante a temperatura de um determinado sistema, através de regulação automática.

O termômetro é um aparelho usado para medir a temperatura ou as variações de temperatura.

Não há nem nunca haverá pacto nenhum com um presidente inepto e lunático


Leandro Fortes

PACTOIDE

Para velhos repórteres da minha turma, grisalhos e carecas de saber como funciona a política, em Brasília, essa história de pacto federativo sempre dá sono.

Toda vez que um governo está enrascado e sente o vento frio do abismo bater na testa, reúne meia dúzia de gênios de ocasião e finge disposição em estabelecer um acordo de não agressão com os demais poderes: oferece uma mão ao Congresso, outra ao Judiciário, à moda de Stalin e Hitler, enquanto ganha tempo de armar as tropas e partir, enfim, para a batalha campal, propriamente dita.

Bolsonaro é um oligofrênico nacionalmente diagnosticado, mas tem um instinto de sobrevivência apurado. Em quase 30 anos de Parlamento, sobreviveu na obscuridade se alimentando de restos de mordomias, dominando as brechas do regimento interno da Câmara dos Deputados. Esses truques que garantiram a ele e aos filhos serem parlamentares sem nunca, de fato, terem sido.

No Palácio do Planalto, exposto ao sol, com sérios problemas de cognição e dicção, para dizer o mínimo, age como uma fera ferida desferindo unhadas e cusparadas em inimigos e aliados, mesmo quando os reúne para tomar café da manhã, no Palácio da Alvorada.

Não há nem nunca haverá pacto nenhum capaz de ser cumprido por um presidente que não tem a menor capacidade de governar, ainda mais este, orientado por um guru de boca suja e cercado de lunáticos que não passariam em um teste psicotécnico montado para selecionar chimpanzés de circo.

O terraplanismo avança em Brasília

Bernardo Mello Franco
O Brasil vive um momento em que os donos do poder veem as universidades como locais de “balbúrdia” e buscam conhecimento nos livros de Olavo de Carvalho 
A Fundação Oswaldo Cruz investiu R$ 7 milhões para produzir uma pesquisa completa sobre o uso de drogas no Brasil. O levantamento mobilizou 500 pesquisadores e ouviu 16 mil pessoas, mas ainda não foi divulgado. Está na gaveta por decisão do governo.

Em entrevista ao GLOBO, o ministro Osmar Terra admitiu o que a comunidade científica já sabia. A pesquisa foi censurada porque não confirma a tese de que existiria uma epidemia de drogas no país.

“Eu não confio nas pesquisas da Fiocruz”, sentenciou Terra, alegando que o estudo não teria “validade científica”. Ao ser lembrado de que a instituição tem prestígio internacional, ele respondeu: “É prestigiada para fazer vacina. Agora, para droga, ela tem um viés ideológico”.

O ministro disse ser “óbvio” que o país vive uma epidemia de drogas, mesmo que o levantamento mostre o contrário. “Andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada”, declarou.

O estudo censurado não se limitou a um bairro famoso. Os pesquisadores percorreram todo o país para atestar que apenas 9,9% dos brasileiros experimentaram alguma droga ilícita na vida. Embora a maconha seja a substância mais consumida, só 1,5% havia usado a erva nos últimos 30 dias. Esses dados foram revelados pelo site The Intercept, mas o levantamento continua na gaveta.

A Fiocruz não é a primeira instituição federal a sofrer ataques do governo. O presidente Jair Bolsonaro desmereceu o IBGE quando o instituto informou que o desemprego subiu. Na semana passada, o ministro Augusto Heleno pôs em dúvida a credibilidade do Inpe, que alertou para uma escalada no desmatamento da Amazônia.

O Brasil vive um momento em que os donos do poder veem as universidades como locais de “balbúrdia” e buscam conhecimento nos livros de Olavo de Carvalho. A novidade é que o terraplanismo deixou de ser privilégio dos discípulos do ex-astrólogo.

Em entrevista ao “Valor Econômico”, o ministro Heleno repetiu a cantilena de que as salas de aula estariam tomadas pela “doutrinação ideológica”. Questionado sobre as fontes de sua afirmação, citou vídeos do YouTube e correntes do WhatsApp.

Dias Toffoli nunca ouviu falar na teoria da separação dos poderes

Claudio Guedes

Dias Toffoli & Pactos

A teoria da separação dos poderes de Montesquieu ainda não chegou ao conhecimento de sua excelência Dias Toffoli, o presidente do STF.

Só existe garantia de liberdade numa sociedade se o poder judiciário for independente, completamente independente, dos poderes legislativo e executivo.

Unindo-se o judiciário ao poder legislativo as decisões sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seriam arbitrárias; pois o juiz poderia encarnar o papel legislador. Como é o caso, no atual STF, do ministro Luiz Barroso, que acha que a Constituição da República não é um conjunto de leis a ser respeitado, mas que pode ser adaptado às circunstâncias de cada momento, de acordo com a ótica particular do juiz, no caso, dele mesmo, um poço de vaidade. Um despropósito.

Caso o poder judiciário se juntasse ao poder executivo, o juiz poderia julgar de acordo com os desejos e a concepção ideológica do governante de ocasião. Outro despropósito.

A ideia de um pacto entre os poderes da República em torno de projetos de natureza política é uma excrescência.

Pactos políticos são próprios da democracia mas negociados entre forças políticas e grupos sociais, geralmente envolvendo, dentro dos limites constitucionais previstos na Carta Magna, os poderes executivo e legislativo.

O poder judiciário, e a corte constitucional, no nosso caso o STF, garante o cumprimento e o respeito à Constituição vigente, tal como aprovada pela assembléia de representantes do povo. É essa a sua função republicana.

As cartas do Papa


E se os bolsonazistas estiverem certos?


E se os bolsonaristas estiverem certos quanto às instituições democráticas?
Por Wilton Moreira

Vou fazer uma provocação. E se os bolsonaristas radicais (os neofascistas) estiverem certos ao dizer que, dentro sistema democrático, não há mais solução viável para a sociedade brasileira? Qual progressista, nos últimos anos, não ficou tentado em acabar com a mídia, com o STF e com este Congresso fisiológico até a medula? Abaixo o STF, o Rodrigo Maia e seus 200 ladrões, a mídia corporativa, o Congresso, abaixo o estado de direito meramente formal que na realidade nunca amparou o povo, e abaixo até o politicamente correto que não corrige de fato as injustiças contra as minorias. Quem, da esquerda, diante de tanta injustiça provocada por estas instituições, não teve algum destes “sonhos antidemocráticos”?

As razões para um mortadela esquerdista sonhar com a destruição do sistema são diferentes das de um coxinha bolsomínion (diria mesmo opostas), mas que ambos, lá no fundo, têm vontade de destruí-lo, isso tem. Só que a extrema-direita liberou explicitamente sua fúria contra “isso tudo que tá aí” e até elegeu seus príncipes sombrios (Bolsonaro e Moro) para realizar a destruição. A esquerda, ao contrário, pisa em ovos, faz coro com o centrão e o STF pela institucionalidade democrática e sonha em voltar ao poder pelas urnas e mudar o sistema. E se o sistema não tiver mesmo mais jeito? E se, como diz o recém-fascista Lobão, “pra que votar? / a política faliu, / até o que é civil / parece militar”?

Culpa-se muito as instituições por não terem reagido e até se aliarem à extrema direita: STF, Congresso, grande mídia, cúpula do MPF e PF, forças armadas etc. Diz-se que agora estão pagando por sua inação. Mas instituições falidas procuram apenas sobreviver, de preferência negociando com as ondas políticas da hora. E as instituições da Nova República já nasceram falidas e ávidas pela negociata. Negociaram com Sarney e Collor, o tucanato, o petismo e tentaram negociar com o lavajatismo e o bolsonarismo. Mas como na Alemanha de 30, os fascistas, depois de colocarem a esquerda de joelhos, estão comendo os liberais negocistas.
A realidade, que os fascistas da hora veem muito bem, é que toda a Nova República e suas instituições “democráticas” foram um fracasso em prover bem estar para o povo. A grande esperança de mudança foi o PT que, no entanto, fracassou em reestruturar o país e se revelou, no final do governo Dilma, que a era PT foi apenas de governos de administração de crise, mais sensível socialmente do que o PSDB, é bom que se faça justiça. E talvez nem tenha sido culpa do PT, pois o capitalismo neoliberal é, por definição, uma regime de decadência. O neoliberalismo é o descenso dos 30 anos dourados (1945-1975) que marcam o início do ciclo keynesiano do pós-guerra.

O boom de commodities em que o Brasil surfou na primeira década do milênio apenas mascarou a falência do capitalismo neoliberal, movido à créditos impagáveis. O PT fez o que deu, que era distribuir as sobras deste  boom aos pobres – o que não é pouca coisa num país de mentalidade escravocrata que sempre reservou aos negros/pobres apenas a chibata. E tanto não foi pouco que Lula está preso (e odiado) por distribuir renda e ousar um mínimo nacionalismo no comércio exterior, na área militar e no petróleo.

A crise de 2008 marca o fim da decadência neoliberal e inicia a era do colapso do ciclo do pós-guerra. E a crise foi fatal para um país dependente de commodities e mentalmente colonizado como o Brasil. O resultado, em termos de percepção popular, foi que as pessoas tomaram plena consciência de dois fatos que apenas eram antevistos desde o início da Nova República:

1. Nossa democracia institucional não resolve nada para o povo, pois é, no máximo, paliativa para seu sofrimento;
2. As instituições não têm mais solução, pois, apesar do que diz a Constituição de 1989 (que nunca foi mais que um pedaço de papel), a democracia representativa não foi concebida para o atender às necessidades do povo, principalmente os mais pobres.

Esta tomada de consciência generalizada das pessoas comuns (que inclui a ralé e as classes médias) a respeito do esgotamento da política e das instituições democráticas se deu por volta de 2013-2014 e está corretíssima, reconheçamos. O Congresso não é mesmo um grande lixo? E o STF? E a grande mídia? Sim, sim e sim. A política não é, há muito, uma tramoia sem fim que só beneficia o grande capital? Sim outra vez. A aversão à política das pessoas comuns tem sua razão de ser. E não é só no Brasil: é no todo o mundo. O capitalismo e suas instituições “democráticas” entrou em colapso global: resta saber se foi apenas o ciclo capitalista do pós-guerra que entrou em pane, para se iniciar um novo ciclo (chinês?); ou se estamos diante do fim do próprio sistema.

Portanto, a revolta contra o Congresso, a imprensa, o STF e toda a institucionalidade democrática, que foi posta a serviço do grande capital (principalmente financeiro) é legítima. O povo diz “esse negócio de estado de direito é papo furado”. Como discordar?

E como as esquerdas reagem? Elas tentam convencer as pessoas de que a reforma (neokeynesiana, na maioria das vezes) do arcabouço institucional da democracia falida é possível e é a solução para que as instituições democráticas finalmente sirvam ao povo. Creem e tentam vender a ilusão de que a chegada ao poder das esquerdas, via urnas, vai melhorar a vida do povão. Só que ninguém, fora do clube das esquerdas, acredita mais nisso, e com razão. Não acreditam porque a história mostrou que a crença das esquerdas é falsa: todos os seus governos, sem exceção, acabaram tendo de se aliar ao neoliberalismo para fazer governos de administração de crise. E a crise, agora, é inadministrável. Neste aspecto, a carta apócrifa divulgada por Bolsonaro está correta: o país é ingovernável, não há como dar jeito nessa joça. E o povo sabe disso.

Enquanto a esquerda dorme e sonha soluções democráticas, o que fazem os fascistas? Eles chegam no povo, como na Alemanha em 30, e dizem: realmente não tem solução dentro desse sistema. E não oferecem a saída nem esperança, mas apenas um discurso de ódio e bodes expiatórios para a massa descarregar suas frustrações: lá eram os judeus, os gays, os doentes mentais. Aqui são os pobres “preguiçosos”, os comunistas/petistas e os gays. É assim que funciona o bolsonarismo e todos os fascismos. Oferecem líderes “fortes e másculos” para conduzir o povo em sua marcha raivosa e destrutiva: Hitler, Mussolini, Trump, Bolsonaro, Moro…

E eles têm razão em afirmar que o sistema faliu, que o país está ingovernável. A esquerda deveria afirmar o mesmo, porque é verdade: dentro da institucionalidade democrática não há mais solução. Marx estava certo em prever que uma hora a democracia burguesa iria ruir junto com o capitalismo.

Mas, diferente dos fascistas, as esquerdas (ou alguma esquerda alternativa) têm a obrigação de propor o caminho difícil da refundação da sociedade em outras bases, que não as capitalistas, questionando inclusive a centralidade do trabalho humano numa época em que a tecnologia substitui boa parte dele. O trabalho é sagrado mesmo? Mas não temos técnica o suficiente para viver muito bem dividindo as tarefas humanas que ainda restam por igual e ficando boa parte do tempo no ócio? Não produzimos o suficiente para todos terem o que necessitam? O consumismo precisa mesmo ser uma necessidade, como o é para o capitalismo? Estado é necessário? Num mundo pós-capitalista, precisamos de dinheiro ou salário? Como construir um mundo assim justo, racional (comunista?) a partir do que temos agora?

Os fascistas, afinal de contas, veem muito bem e acertadamente que a democracia representativa e suas instituições desmorona à olhos vistos. Mas não conseguem perceber que este colapso institucional é consequência do colapso do próprio capitalismo (ou pelo menos do ciclo capitalista do pós-guerra). E o que propõem é apenas fúria e matança, destruição e autodestruição. E nós, humanos, desenvolvemos, graças a técnica capitalista, um artefato chamado bomba nuclear, que já se mostrou bastante eficiente para destruir: tudo e todos. Este poder infernal excita os fascistas e seus dedos coçam diante dos botões da morte.

Se quisermos sobreviver como espécie, uma hora os fascistas terão que ser apeados do poder, não para o retorno da democracia burguesa que, no fim das contas, carrega o fascismo como um feto pestilento, no seu útero de injustiça social. Mas para a construção de uma outra sociedade, pós-capitalista, mais justa e voltada, de fato, para as necessidades humanas.

Papa Francisco escreve carta a Lula e diz que 'o bem vencerá o mal'

O Papa Francisco escreveu carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso político há mais de um ano. No texto, Francisco diz que ora por Lula e pede que o e-presidente 'não deixe de rezar por mim'. A informação é da coluna da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo. O Papa Francisco lamenta ainda "as duras provas que o senhor viveu ultimamente" e cita a morte de dona Marisa, do irmão de Lula, Genival Inácio, e do neto dele, Arthur
247 - O Papa Francisco escreveu carta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso político há mais de um ano. No texto, Francisco diz que ora por Lula e pede que o e-presidente 'não deixe de rezar por mim'.

A informação é da coluna da jornalista Mônica Bergamo na Folha de S.Paulo. O Papa Francisco lamenta "as duras provas que o senhor viveu ultimamente" e cita a morte de dona Marisa, do irmão de Lula, Genival Inácio, e do neto dele, Arthur.

"Não deixe de rezar por mim", pede Francisco a Lula, dizendo que também ora pelo líder brasileiro. De acordo com Mônica Bergamo, "a correspondência é uma resposta a uma carta que o ex-presidente enviou ao santo padre em março".

O texto traz reflexões religiosas e filosóficas. Diz que graças ao "triunfo de Jesus sobre a morte", é possível acreditar "que, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação".

A advogada Carol Proner, que faz parte de um grupo de estudos no Vaticano e teve acesso à correspondência, diz que "é uma carta que carrega muitas mensagens, além daquelas de afeto".

Leia a íntegra da carta: 

Estimado Luiz Inácio, 

Recebi sua atenciosa carta do passado 29 de março, com a qual, além de agradecer a minha contribuição para defesa dos direitos dos mais pobres e desfavorecidos dessa nobre nação, me confidenciava seu estado e ânimo e comunicava sua avaliação sobre o contexto sócio-político brasileiro, o que me será de grande utilidade. 

Como assinalei na mensagem para o 52 Dia Mundial da Paz, celebrado no passado 1 de janeiro, a responsabilidade política constitui um desafio para todos aqueles que recebem o mandato de servir ao seu País, de proteger as pessoas que habitam nele e de trabalhar para criar as condições de um futuro digno e justo. Tal como meus antecessores, estou convencido de que a política pode tornar-se uma forma eminente de caridade, se for implementada no respeito fundamental pela vida, liberdade e dignidade das pessoas. 

Nesses dias, estamos celebrando a ressurreição do senhor. O triunfo de Jesus Cristo sobre a morte é a esperança da humanidade. A sua Páscoa, sua passagem da morte à vida, é também a nossa Páscoa. Graças a ele, podemos passar da escuridão para luz, das escravidões desse mundo para liberdade da terra prometida. Do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos para a amizade que nos une a ele. Da incredulidade e do desespero para alegria serena e profunda de quem acredita, no final, o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e salvação vencerá a condenação. 

Tenho presente das duras provas que o senhor viveu ultimamente, especialmente da perda de alguns entes queridos, sua esposa Marisa Letícia, seu irmão Genival Inácio e, mais recentemente, seu neto Arthur de somente sete anos- quero lhe manifestar a minha  proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus. 

Ao assegurar-lhe minha oração a fim de que, neste tempo pascal de Júbilo,  a luz de cristo ressuscitado o cumule de esperança, peço-lhe que não deixe de rezar por mim.  

Que Jesus o abençoe e a Virgem santa lhe proteja. 

Fraternalmente. 

terça-feira, 28 de maio de 2019

É inútil discutir fatos com o bozonarismo


Maria Caramez Carlotto

A "VERDADE" SOBRE OS PROTESTOS DE 26 DE MAIO

Uma das cenas que mais me marcou no livro "Fogo e Fúria: por dentro da Casa Branca de Trump", de Michael Wolff, foi justamente o relato de uma manifestação fracassada.

Era o dia da posse do novo presidente, que esperava milhões de apoiadores em Washington. Apareceram alguns milhares e os jornais noticiaram o fracasso em tempo real. Trump se revoltou. Olhou pela janela da Casa Branca e, vendo os tais milhares, insistiu sem qualquer hesitação: como não tem 20 milhões de pessoas aqui? Os seus assessores, incrédulos diante do que parecia um devaneio, concordaram com o presidente, atônitos. No dia seguinte, Trump ordenou que as fotos da sua posse, em particular da multidão reduzida, fossem espalhadas pela Casa Branca. Tentaram dissuadir o presidente, que não recuou. O objetivo, segundo ele, era deixar claro que, no seu governo, é a sua verdade que triunfará.

Acho esse relato muito significativo. Trump blefou? Ninguém sabe e pouco importa. O fato é que se trata de um estilo de "governo" que coloca a disputa pela apreensão e definição da realidade, através da construção de fatos e versões, em primeiro plano. A verdade, nesse caso, se define por uma pura relação de força, que despreza o reconhecimento de uma uma realidade exterior que independe da percepção subjetiva.

Não se enganem. Bolsonaro não é Trump, mas não está muito longe dele. Podemos discutir objetivamente se os protestos de hoje estavam mais para os milhares ou para os milhões de apoiadores. Mas na chave na extrema direita, isso é a velha política. Os atos foram grandes o suficiente para Bolsonaro fazer deles um sucesso total. O capitão vai construir o dia 26 como uma nova chancela popular e seguir radicalizando o seu projeto político.

Em outras palavras, não faz sentido disputar "a verdade sobre os protestos de 26 de maio" com o bolsonarismo. Nós reconhecemos a realidade, enquanto eles a constroem. São, em certo sentido, menos ingênuos. Sabem que o verdadeiro poder não é ver, é fazer ver. Loucura ou blefe? Tanto faz. O ponto é que não é a linguagem da verdade que eles entendem. Se fosse assim, cultuariam livros e não armas.

Entenda por que o extremista Marco Villa foi demitido da rádio de ultra-direita Jovem Klan

Novilíngua midiática

— Não à aposentadoria, não aos impostos, sim às armas!!

Luis Felipe Miguel

Interessante o desdobramento das manifestações: governo, Câmara, Senado e Supremo se reuniram e decidiram "assinar pacto em resposta aos protestos", segundo diz o site da Folha. O Estadão fala em "pacto por reformas". O Globo, com sua novilíngua característica, em pacto "para retomar crescimento".

O pacto proposto tem como ponto central, segundo os relatos, a aprovação do fim da Previdência Social. Aparecem também uma reforma tributária indeterminada - seria ela o fim definitivo da progressividade dos impostos, como propôs Paulo Guedes ainda na campanha? Aparece também a questão da "segurança pública" - talvez o pacote de ampliação da violência do Estado de Sérgio Moro.

Em suma: as manifestações a que eles reagem são aquelas de domingo. As de 15 de maio, embora indiscutivelmente maiores, são ignoradas.

É uma ilustração perfeita de a quais interesses os poderes da República servem. E de como, a despeito de seus desentendimentos pontuais, todos estão juntos no básico: bloquear qualquer possibilidade de que o campo popular seja aceito como interlocutor político.

O ato administrativo mais correto, nobre e inteligente do ex-presidente Lula


Leandro Fortes

MORTE LENTA

De todos atos administrativos do ex-presidente Lula, o mais correto, nobre e inteligente foi demitir Cristovam Buarque do Ministério da Educação, por telefone.

Hoje, sabemos que a medida foi acertadíssima, no timing e no método.

Cristovam, ex-governador do Distrito Federal pelo PT, foi um péssimo governante e, no MEC, uma nulidade constrangedora.

Ressentido, tornou-se um ativista da mediocridade até que, finalmente, fez o que se esperava dele: pulou para o barco da direita, apoiou o golpe contra Dilma Rousseff e votou a favor do congelamento de investimentos, inclusive da educação, por 20 anos.

Em pouco mais de duas décadas, deixou de ser um reitor respeitado da UnB para virar uma aberração cognitiva no Twitter, onde vive um delírio particular, sem nenhum filtro, exposto diariamente ao ridículo e ao escárnio de seus ex-eleitores.

A insana e insólita destruição do Brasil


Sul21

José Eduardo Bicudo (*)

Muito já foi dito sobre o processo de desconstrução do Brasil, desde o golpe branco de 2016 até o presente momento. Certamente o que escrevo não é novidade para ninguém.

O que ocorre, e não posso me conformar com isso, é que a destruição vem sendo feita de maneira insana e insólita, às vezes de modo silencioso e nefasto. Até agora, porém, sem os tanques nas ruas, sob o comando de um terrorista amplamente conhecido desde os tempos da ditadura militar e eleito presidente pelos “bolsocrentes”, conforme qualificação muito bem posta por Eliane Brum em seu artigo recente no El País. Dentre esses bolsocrentes há uma parcela ponderável da classe média, inclusive uma parte que se considera intelectualizada. Alguns destes são também fiéis seguidores do “deus mercado”, mas que desconhecem ou preferem desconhecer a história recente do país. É curioso, no entanto, ouvir com frequência desses bolsocrentes intelectualizados que eles depositavam esperanças em um “novo governo”, que as coisas poderiam ser diferentes.

Ora, uma das características mais importantes do intelecto humano é a de poder fazer previsões e com isso evitar possivelmente o acontecimento de catástrofes. Aliás, é isso o que faz boa parte daqueles que trabalham para o “deus mercado”. A conclusão a que se chega, portanto, é que existe uma desonestidade intelectual muito grande entre os bolsocrentes que se consideram intelectualizados. Isso é particularmente notório também nas falas de alguns professores universitários, os quais, quando são entrevistados e lhes perguntam se o país, em sua história recente, passou por algum momento em especial no qual a pesquisa científica como um todo teve um incentivo e apoio maiores que em outros momentos, inclusive com o significativo aumento do oferecimento de bolsas de estudos para a pós-graduação, preferem mudar de assunto para não ter que dizer o que realmente aconteceu. Tal atitude, infelizmente, só reforça os ataques e o desmantelamento que a educação e a pesquisa científica vêm sofrendo por conta desse desgoverno. Sorte a nossa que ainda contamos com Miguel Nicolelis, brasileiro, professor e pesquisador universitário nos EUA, que tem a coragem de vir a público, assim como têm feito outros expoentes das universidades públicas brasileiras, e dizer claramente o que aconteceu naquele período especial, ao qual Miguel Nicolelis se refere como sendo a “renascença brasileira”.

Nesse processo de desconstrução e destruição do país, o terrorista mor, fantasiado agora de presidente, segue fervorosamente seu guru-astrólogo, entricheirado nos EUA, como seguiam Osama Bin Laden, entrincheirado no Paquistão, os integrantes do grupo terrorista Al-Qaeda. Grande parte dos bolsocrentes age como verdadeiros jihadistas, na sua versão tropical. O primeiro escalão desse desgoverno, apontado pelo “antipresidente”, como também define de modo elegante Eliane Brum o terrorista de plantão, é o que há de mais nefasto ao país. São quase todos fundamentalistas raivosos e vingativos, completamente indiferentes à realidade do país, são contra a diversidade da cultura, do conhecimento, das artes, das ideias e dos povos. Do jeito como a coisa anda, em pouco tempo não vai sobrar pedra sobre pedra.

Como se sabe, desde 2014, a Lava Jato vem operando como um verdadeiro tanque de guerra, sem o barulho deste, porém com o mesmo despudor e poder de destruição, com foco principal na indústria nacional e sua cadeia produtiva. Para comprovar isto, é só olhar os dados mais recentes acerca da atual taxa de desemprego no país publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), instituição amplamente respeitada pelo relevante trabalho que realiza, a qual daqui a pouco, e se depender desse desgoverno, provavelmente também não existirá mais.

O agronegócio, por sua vez, com o total aval do atual antiministro do Meio Ambiente, também nefasto para com as gerações futuras, vai aos poucos matando a população, de modo silencioso, com a imensa carga de agrotóxicos, a maioria dos quais banida nos países desenvolvidos, despejados indiscriminadamente nas terras agrícolas, com a consequente contaminação dos solos férteis, dos lençóis freáticos, dos rios e do mar. O Brasil detém 12% da água doce do globo, porém não adianta vir com a “grande ideia” de privatizar toda esta água doce existente, ladainha cansativa daqueles que enxergam nas privatizações a solução para tudo, pois esta água já está em grande parte contaminada com resíduos tóxicos provenientes principalmente da agricultura, da pecuária e da mineração, sem qualquer preocupação mínima com a saúde e o bem-estar da população. Ou seja, a população brasileira vai a partir de então poder comprar a sua morte em suaves prestações de garrafinhas PET. Isto é, se ainda houver sobreviventes, depois que derem também o fim na previdência social solidária.

Isso tudo, sem entrar em detalhes sobre a liberação para a compra de armas de fogo, com o aprofundamento do processo de matança das populações mais vulneráveis, além de armar ainda mais as milícias jihadistas do antipresidente terrorista e de seu califado fundamentalista, ou como preferem outros, de seu clã, na versão mafiosa do termo. O mais irônico de tudo isso, mas que não se trata de uma novidade, é que os EUA, tão preocupados em defender o mundo ocidental de ataques terroristas, estimulam despudoradamente as ações terroristas que vêm sendo levados adiante pelo antipresidente terrorista, seu califado fundamentalista e seus jihadistas. É evidente que neste caso o terrorismo praticado é do interesse de Trump e de sua turma, para os quais o antipresidente terrorista e seu califado baixam suas cabeças o tempo todo, com toda a subserviência que os caracteriza, para inclusive se proporem a entrar em uma guerra insana com um país vizinho.

Uma das falas do antivice-presidente, em passado recente, acenando claramente com o auto-golpe, é uma versão maquiada, mesmo assim tosca, do que está por vir a acontecer, caso os guardiões principais da constituição brasileira e do pouco que ainda restou das instituições democráticas não venham a público defendê-las, ainda que solapadas, inclusive por eles próprios. É importante ressaltar que o antivice-presidente, general da reserva, é também integrante, embora disfarçado, da turma raivosa e vingativa do califado fundamentalista, uma vez que o Brasil foi incapaz de fazer aquilo que principalmente Argentina e Uruguai fizeram, julgando e condenando os militares por crimes (imprescritíveis, segundo a Organização das Nações Unidas, a ONU) cometidos durante as ditaduras militares daqueles dois países. Enganam-se, portanto, aqueles que enxergam no antivice-presidente alguém que possa ser o fiel da balança.

O Brasil do futuro, infelizmente, tornou-se um verdadeiro pesadelo e também a porta de entrada do inferno de Dante, para a qual o antipresidente terrorista, seu califado fundamentalista e seus jihadistas conduzem o país a passos largos. Ainda há tempo de se evitar tal catástrofe, mas esse tempo está ficando cada vez mais curto.

(*) Professor honorário; Universidade de Wollongong, Austrália

Imbecilidade do general Augusto Heleno é comparável à do Bozo



"O Brasil precisa se unir para sair do buraco", diz Heleno


 Por Carla Araújo, Claudia Safatle e Rosângela Bittar

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, afirma que um desdobramento das manifestações de domingo consideradas bem sucedidas a favor do governo deverá ser a busca de "um denominador comum", para que a reforma da Previdência possa avançar. "Vamos apressar isso", conclamou. Em entrevista ao Valor, concedida em seu gabinete ao meio dia de ontem, o ministro avaliou que a manifestação "foi a favor das metas do governo Bolsonaro". Mas negou participação do presidente na definição dos temas que traziam críticas violentas ao Legislativo e ao Judiciário.

O general fez uma distinção entre a manifestação do dia 26 e a do dia 15, quando estudantes foram às ruas protestar contra os cortes de verbas para a educação. Numa, a de anteontem, ele viu bandeiras do Brasil; na anterior identificou a ausência do símbolo nacional. "As pessoas foram às ruas, nesse domingo, pelo Brasil, e naquele outro domingo foram para satisfazer suas posições ideológicas".

Segundo disse Augusto Heleno, o Brasil precisa se unir "para sair do buraco". Muitos, segundo disse, torciam para que Bolsonaro "quebrasse a cara" e ficaram desapontados com o alegado sucesso da mobilização. A avaliação ele resume em uma frase: "Foram expressivas em quantidade e significativas em mensagem".

A seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual a sua avaliação das manifestações de apoio ao governo?
Augusto Heleno: Eu acho que as manifestações foram expressivas, pela quantidade, e significativas, pela mensagem. Estava todo mundo torcendo para ser um fracasso, eu sei disso.

Valor: Todo mundo quem?
Heleno: Vai gastar cinco blocos, não preciso dizer nomes.

Valor: Quais são os desdobramentos dela, o que muda na estratégia política do governo?
Heleno: Hoje, ela está viva, pode ser trabalhada para mostrar que precisamos conversar, vamos buscar um denominador comum para que as coisas aconteçam rapidamente. É bobagem ficar retardando isso aí, tem que chegar a um acordo, o problema é o Brasil, não é ciclano ou beltrano.

Valor: O governo quer aprovar a reforma da Previdência e é Rodrigo Maia, presidente da Câmara, quem a está levando adiante. Não é contrassenso convocar um protesto contra Maia, o Congresso e os que estão empurrando a reforma?
Heleno: Vamos por partes. O presidente não participou da convocação para a manifestação...

Valor: Não? Só não esteve de corpo presente, mas ele e o partido se envolveram.
Heleno: Todo o tempo ele disse que não havia participação do governo nisso. Segundo, não houve nenhuma intenção de fazer alguma coisa, principalmente da parte dele, de fazer alguma coisa contra o Legislativo, contra o Rodrigo Maia. Pelo contrário, eles têm uma relação muito boa. Tanto ele, quanto o Davi Alcolumbre [presidente do Senado] têm uma relação muito boa, bem como com o presidente e o Dias Toffoli [presidente do Supremo Tribunal Federal]. Então, os Poderes estão perfeitamente em harmonia. É claro, cada um tem as suas maneiras de pensar que não são idênticas.

Valor: Mas então não é um contrassenso considerar que foi um sucesso do governo um movimento contra o Congresso?
Heleno: Não foi contra o Congresso. Onde é que estava escrito isso?

Valor: Nas faixas, por exemplo.
Heleno: Mas faixas são outra coisa. Havia algumas faixas contra o Congresso, havia muitas pedindo pela reforma da Previdência, pela Nova Previdência, e havia muitas pedindo pelo [Sergio] Moro. Então, foi uma manifestação espontânea de um país democrático. Se o cara quiser sair com faixa a favor do Vitinho para centroavante do Flamengo, sai. É uma manifestação absolutamente democrática, autêntica, palavra que esta na moda agora, republicana. E nada foi pensando antes, "vamos fazer uma manifestação contra o Congresso". Não houve nenhuma referência a um alvo prioritário. O alvo era uma manifestação a favor das metas do governo Bolsonaro, isso sim.

Valor: De apoio ao governo?
Heleno: Isso aí ficou claro. Não contra Congresso. Até porque essa estrutura da democracia, a harmonia entre Poderes, independência entre Poderes, isso aí é absolutamente intocável. O próprio presidente já falou isso várias vezes. Muita gente quer levar isso aí para o lado da radicalização, da tentativa de implantar uma ditadura. Isso é uma bobajada, de gente que não tem o que fazer, que fica jogando boatos que não os atingem, então os boatos atingem o presidente da Republica. Então, às vezes o cara bota uma bobajada dessa no jornal, numa coluna, e ficam discutindo. Isso jamais passou pela cabeça do presidente.

Valor: Se a cada dificuldade, e a aprovação de uma reforma é uma negociação dificílima, o ministro da Economia ameaça sair e o presidente chama os eleitores para a rua...
Heleno: Ele não chamou o povo para a rua. Ele gravou um 'post' dizendo que ia haver uma manifestação, ele não fez nenhuma convocação. Pelo contrário. Todo tempo ele disse "eu não quero participação". Ele sugeriu aos ministros que não participassem. Para ele era muito fácil dizer aos ministros "compareçam e arrastem quem vocês puderem". Ao contrário, na reunião ministerial, ele sugeriu que os ministros não participassem. Sugestão do presidente é ordem.

Valor: Mas se elas não tivessem sido o sucesso que foram, seria ruim para o governo?
Heleno: Mas, aí é outro problema. Aí nós vamos partir para o "se", que é perto do talvez. Lógico que a expectativa e o desejo de muita gente era de que ele quebrasse a cara. E ele ia quebrar a cara porque iam debitar na conta dele o fracasso. E muita gente quebrou a cara porque a participação foi muito significativa.

Valor: Quando o senhor fala sobre os que desejam o fracasso de Bolsonaro está falando da oposição, de um partido, do quê?
Heleno: Não vou carimbar ninguém não. É muita gente. Uma das coisas que ficaram demonstradas na manifestação é que existe uma grande parcela do povo brasileiro que foi para a rua com a bandeira do Brasil. Na manifestação dos estudantes havia pouquíssimas bandeiras do Brasil. Isso para mim é um absurdo, é fruto de toda essa doutrinação ideológica que foi feita nos últimos 20 anos. Então, nossos jovens não têm o país na cabeça. Têm ideologia, têm mandamento que botaram na cabeça deles, mas o Brasil não está na cabeça de boa parte da nossa juventude. Infelizmente, esse é um erro gravíssimo, eu acho que uma grande parte da nossa juventude acordou e participou ativamente da campanha e da eleição do nosso presidente. Mas uma grande parte continua contaminada pelo que ouviram nos colégios que frequentaram, nas universidades que frequentam.

Valor: E o que seria??
Heleno: Você vê uma manifestação de jovens, devia perguntar em primeiro lugar: Essa manifestação é para quê? É para eles satisfazerem seu lado ideológico, pessoal? Ou é uma manifestação para o Brasil e eles acham que o que está sendo feito é errado para o Brasil? Qualquer manifestação desse tipo tem que ter em primeiro lugar o país. aí depois vem partido, agremiação, vem universidades. Essa manifestação de ontem deixou claro que o pessoal foi para a rua pelo Brasil. E eu tenho apelado para o senso patriótico dos nossos congressistas e até do nosso pessoal do Judiciário e obviamente o Executivo tem obrigação de fazer isso, eu tenho apelado para o senso patriótico, porque determinadas coisas são necessidades iminentes do Brasil.

Valor: Uma união em torno do quê?
Heleno: Unir para sair do buraco. Esquecer que o presidente é o Jair Bolsonaro e, portanto, esquecer essa bobagem de que se a reforma da Previdência passar, com economia de R$ 1 trilhão em dez anos, Bolsonaro será reeleito.

Valor: A reforma está andando, será votada logo na Comissão Especial, passou na CCJ e já, já estará no plenário, com a liderança do presidente da Câmara que demonstra querer aprovar a Previdência. Em Brasília não se reúne uma multidão sem que a metade seja funcionário público, que sempre foi contra a reforma. O senhor acha que agora eles estão a favor?
Heleno: Qualquer conclusão desse tipo será precipitada, porque há classes que obviamente não estão completamente de acordo com a reforma, porque vai atingi-los. Então é óbvio e natural que haja um certo repúdio a que sejam mexidos alguns parâmetros que fazem parte da carreira e que vão ser mexidos. Mas não há dúvida de que ou aprova a reforma da Previdência ou todos nós vamos para o buraco. O Brasil está à beira do abismo.

Valor: O que seria esse abismo na sua visão?
Heleno: Subida violenta do dólar, queda abrupta das ações das empresas brasileiras, desabastecimento. Vamos virar uma Venezuela! Vamos disputar arroz no tapa, vamos disputar feijão no tapa! Venezuela é um exemplo típico que continua a ser a menina dos olhos de algumas pessoas nesse país. Isso não dá para entender. Desabastecimento foi uma das principais causas do regime militar. Eu vivi isso porque eu já era nascido, tinha 16 anos, estava no colégio militar. Minha mãe ia para fila às 5 da manhã para comprar 3 quilos de arroz. aí quando estava na fila há 3 horas avisavam que não era mais no mercado Mundial, que o arroz ia chegar na Casas da Banha. Saia todo mundo correndo para o outro mercado. Vivemos uma crise de desabastecimento seríssima no país, e até hoje os caras querem esconder isso, contar uma história diferente.

Valor: O ministro da Economia ameaçou ir embora umas três vezes se a reforma da Previdência não passar ou se passar uma reforminha. A última vez foi neste fim de semana, em entrevista à revista "Veja". Se a reforma está andando, do que tem medo?
Heleno: Claro que está com medo. Ele tem um compromisso com o país de tirar o país do buraco. Ele já condicionou isso a ter uma economia de R$ 1 trilhão em dez anos. Pode duvidar? Pode. Pode passar para R$ 900 milhões, R$ 800 milhões, pode. O que ele está avisando é o seguinte: "Isso aí não é uma brincadeira". Nós fizemos um cálculo sério, com economistas da melhor qualidade. Muita gente está discutindo a previdência não pelos méritos, nem tem dados de economia para discutir. Apenas o sujeito quer fazer alguma coisa contra o governo. Chega a um ponto que todo mundo começa a sacar todas as armas.

Valor: Então o que se quer, no fim, é apressar a tramitação?
Heleno: É tão evidente a premência do final deste filme para que a gente possa ter uma segurança econômica, que comece a atrair investimentos nacionais, investimentos estrangeiros. Nós estamos com um nível de desemprego... o próprio presidente sempre diz que esse nível anunciado aí, de 13 milhões de desempregados, está abaixo da realidade, tem mais gente desempregada.

Valor: Chega a 20 milhões se considerado quem desistiu de procurar emprego....
Heleno: Isso é uma barbaridade!

Valor: O próprio ministro da Economia já disse que a Previdência não vai resolver tudo...
Heleno: Tem outras reformas na área. O governo recebeu o país com zero de recursos, praticamente zero. Imagina você assumir uma casa em que a família saiu e deixou aos pedaços, teto furado, a piscina quebrada. Vamos imaginar uma casa bacana, o Brasil é uma casa bacana. Vamos imaginar que ela esta destruída e você pensa em consertá-la e vai ver quanto tem de recursos e não tem nada.

Valor: Não tinha dinheiro em caixa?
Heleno: Claro que não! Dinheiro em caixa de quem? Depois dessas pedaladas todas ia ter dinheiro em caixa como? O aumento que houve de salários do funcionalismo em geral foi criminoso. Recebemos o Brasil numa situação caótica, e só vai sair dessa situação caótica na hora que os investidores brasileiros ao invés de botar dinheiro no mercado financeiro ou fora do Brasil resolverem empreender, botar dinheiro na indústria, no setor real, para gerar empregos.

Valor: Indústria que cada vez empregará menos.
Heleno: Sim, isso é outra coisa que os países de nível médio tecnológico ainda não avaliaram: o que vai acontecer com o fim de algumas profissões? Houve uma imposição dos fatos e eu deixei de ter trocador de ônibus, frentista de posto de gasolina, caixa de supermercado. São profissões que estão acabando. Há, nos EUA, um monte de mercados em que só duas ou três senhoras vão no caixa pagar. Os demais passam os seus produtos e já pagam. A Amazon tem lojas que você pega o produto, mostra o cartão no início e no final está pago. É um negócio sensacional, mas é óbvio que isso em termos de emprego é muito ruim. E há profissões que são muitas vezes desprezadas, a área técnica, por exemplo, e que vão ter valor. O mecânico de automóvel vai ter valor, ele vai ter que se adaptar a uma serie de maquinários avançados, que dependem de computador, mas eu posso formá-lo. As escolas técnicas podem formar. Agora, se eu gastar metade do tempo que o aluno passa na escola para fazer doutrinação, não se forma ninguém. Aí você forma um monte de inocentes úteis.

Valor: Quando o governo fala da doutrinação nas salas de aula, há pesquisas sobre isso, levantamentos, relatórios?
Heleno: Nossa senhora! Tem muita coisa, só WhatsApp e vídeo no YouTube tem uns 300. Recebi várias fotos de várias universidades mostrando o estado de depredação em que elas se encontram, depredação que não foi fruto de vendaval ou furacão, foi depredação por livre e espontânea vontade dos alunos. Agora, vai na academia militar sem avisar, cada papel no chão que você encontrar eu te dou R$ 100. Você não vai encontrar nenhum papel no chão. E essa doutrinação... o professor bota o aluno em sala de aula e conta a história que ele acha que é história. Se entrar outro professor ali, de outra linha de pensamento, vai contar outra história. Os dois estão absolutamente errados. O livre pensar é fundamental no nível superior. Tem que ter o livre pensar.

Valor: Mas o livre pensar vem também do ensino de filosofia, sociologia...
Heleno: Claro! Mas você não tem que ser comunista, nem fascista. Pode estudar isso ao longo da sua vida inteira e não adotar nenhuma posição extrema. O livre pensar é exatamente você deixar que cada um adote a postura que for mais conveniente. Agora, se eu boto um professor ou vários para doutrinar um adolescente, eu levo ele para esse lado. Adolescente de direita hoje não consegue nem falar nas universidades...

Valor: Na semana passada o presidente falou de uma proposta que poderia arrecadar mais do que a economia com a reforma da Previdência....
Heleno: Não me aprofundei. Não sei detalhes. Nosso direito tributário é um cipoal.

Valor: Até onde foi possível entender, seria cobrar uma taxa sobre a valorização antecipada do valor de aquisição de imóveis. O senhor sabe de quem é essa proposta?
Heleno: Não. Pode ser que ele tenha ouvido de alguém, mas ele não entrou em maiores detalhes. Isso aí as vezes é uma falta de experiência, ele tem cinco meses de mandato, e não cinco mandatos.

Valor: O ministro Paulo Guedes disse, em entrevista à revista "Veja", que em setembro não haverá mais dinheiro para as Forças Armadas e, para as universidades, isso ocorrerá entre julho e agosto. Por isso é necessário apertar o contingenciamento
Heleno: Sempre houve contingenciamento. O que faz o país ter dinheiro é os empresários terem lucros e pagarem impostos. Se eu diminuo a atividade econômica e reduzo a capacidade de arrecadar, chega-se a um ponto que.... Não foram dois anos. Foram 15 anos a 20 anos de irresponsabilidade fiscal. Já houve anúncio de que o Brasil estava independente do petróleo. Mentira! Já se disse que não tínhamos mais a classe pobre. A Dilma [ex-presidente Dilma Rousseff] anunciou isso. Acho que liberdade de imprensa é fundamental. Se não houver liberdade de imprensa não tem nem sintoma de democracia, mas a imprensa tem que ter uma coisa básica que é honestidade intelectual. Se eu sei que uma coisa é mentira eu não vou publicar. Para desfazer uma mentira publicada por alguns órgãos de imprensa é muito difícil. E o presidente da República tem que ter, obrigatoriamente, honestidade intelectual.