terça-feira, 21 de maio de 2019

Mourão diz que Brasil pode aderir à Nova Rota da Seda


Em visita à China, vice-presidente mostra que país está aberto a receber investimentos em infraestrutura
Na Bolsa de Valores de Xangai, nesta segunda-feira (20), durante seminário de promoção do mercado financeiro brasileiro, o vice-presidente general Hamilton Mourão disse que o “Brasil vive um momento de transformações significativas”. 

Mourão destacou a importância das reformas, em especial a do sistema fiscal, bem como o empenho do atual governo em realizar concessões públicas nas áreas de infraestrutura, com destaque para energia. 

O vice-presidente também sinalizou que o Brasil pode vir a aderir à Nova Rota da Seda, iniciativa bilionária do governo Xi Jinping para retomar o espírito de trocas comerciais do antigo trajeto que unia Oriente e Ocidente na Idade Média.

Megaprojeto da área de infraestrutura, a Nova Rota da Sede vai interligar portos, ferrovias, estradas, aeroportos e telecomunicações para agilizar comércio chinês com o resto do mundo. 

Na Bolsa, Mourão participou da cerimônia de assinatura de um convênio entre a B3 e a Bolsa de Xangai para o lançamento de um ETF, sigla para Exchange Traded Fund, um tipo de fundo de investimento atrelado a índices —neste caso ao Ibovespa, principal índice da B3, a Bolsa brasileira. 

Mourão fez sua apresentação em inglês, postura que foge à regra adotada pela maioria dos executivos de alto escalão que visita a Bolsa chinesa. 

A decisão de dispensar tradução simultânea para a plateia, formada por algumas dezenas de empresários, executivos e membros da delegação brasileira, foi interpretada como um esforço para mostrar dinamismo e desenvoltura em uma viagem oficial que tem como objetivo melhorar as relações do Brasil com a China e atrair investidores

Mourão também visitou a sede do NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), instituição financeira do Brics (sigla para o bloco de países emergentes que reúne Brasil, Rússia ,Índia, China e África do Sul). Teve ainda uma breve reunião com o presidente da instituição.

Em entrevista exclusiva à Folha, José Buainain Sarquis, vice-presidente do NDB, afirmou que, caso o Brasil faça sua adesão à Nova Rota da Seda haverá uma maior integração entre os países membros do Brics.

O NDB deve aceitar novos integrantes até 2021 e está “aberto a todos os membros da ONU”. “O banco tem recebido manifestações de interessados de diversos países e dará primeiros passos concretos rumo à expansão”.

Segundo Sarquis, os integrantes do Brics concentram 40% da demanda de infraestrutura do mundo. Esse ano, NDB aprovou US$ 621 milhões em projetos brasileiros de financiamento do setor público e privado.

“O Brasil é o país que mais recebeu desembolsos efetivos do banco”, afirmou.

Um escritório da intuição em São Paulo deve começar a operar até o fim do ano. Empréstimos em yuan já acontecem, mas o banco pretende passar a oferecer financiamento em reais e em todas as moedas locais dos países membros.

“É uma vantagem para promover o investimento em infraestrutura nacionalmente”, disse Sarquis.

Investimentos sustentáveis, como energia renovável e saneamento, têm sido o foco dos projetos aprovados, mas Sarquis não vê descompasso com as prioridades do novo governo.

“Uma das maiorias dificuldades é a distância, a ausência de capacidade de ação local na prospecção de projetos e o fato de o Brasil ter restrições de captação no sistema público. O banco está aprendendo a operar no Brasil. Cada país tem suas particularidades”.

Mourão retornou para Pequim no mesmo dia, logo depois de um encontro confirmado de última hora com o prefeito de Xangai, Ying Yong. A viagem relâmpago para a segunda maior cidade da China foi feita de avião. O vice-presidente não testou um dos trens de passageiros mais rápidos do mundo que conecta em 4 horas os mais 1.300 quilômetros entre Xangai e a capital chinesa.

Mourão chegou à China no domingo (19) e fez um passeio pela Cidade Proibida na companhia do Embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet de Mesquita.

O vice-presidente vai entregar uma carta pessoal do presidente Jair Bolsonaro ao presidente chinês Xi Jinping e presidir a plenária da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), mecanismo paralisado há quatro anos.


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