sexta-feira, 31 de maio de 2019

Dois ministros


Claudio Guedes

O primeiro é um cretino típico.

Iletrado, boçal e estúpido - qualificações mais do que suficientes para ser escolhido pelo presidente Bolsonaro para a pasta de Educação. O presidente, um ex-capitão de poucos modos e rarefeita instrução, é um adversário declarado da ciência e do conhecimento. O homem do guarda-chuva, Abraham Weintraub, fará algum estrago no MEC, mas será, com o tempo, defenestrado pela própria comunidade acadêmica.

O segundo, um tipo perigoso.

Não é um cretino, não é um aloprado. É inteligente, "bonitinho" e trabalha, de forma consciente, para burlar políticas e controles de modo a favorecer empresários com interesses em explorar reservas e áreas de proteção ambiental.

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, foi fundador, em 2006, do Movimento Endireita Brasil (MEB), organização alinhada à chamada nova direita e parceira do Instituto Millenium. Foi secretário particular do governador de SP, Geraldo Alckmin, de 2013 a 2014, e Secretário do Meio Ambiente de São Paulo de 2016 a 2017. Salles foi alvo de ação movida pelo MP de SP sob a acusação de alterar ilegalmente o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do Rio Tietê, com a intenção de beneficiar interesses privados.

A promotoria de justiça o acusou, ainda, de participar, no governo estadual, como agente de interesses de empresas privadas, tendo sido investigado em inquéritos policiais por enriquecimento ilícito e advocacia administrativa.

No caso da APA do Rio Tietê, Ricardo Salles foi acusado de fraudar o processo do Plano de Manejo, em cumplicidade com setores da FIESP, modificando mapas elaborados pela USP, alterando minuta do decreto do plano de manejo e promovendo perseguições a funcionários da Fundação Florestal, para beneficiar empresas da área de mineração. Em 19/12/2018, foi condenado, nesta ação, por improbidade administrativa e à perda dos direitos políticos por três anos. Ele está recorrendo.

No ministério do Meio Ambiente, o papel de Salles é desconstruir anos de política e de legislações em defesa dos recursos naturais do país. Seus alvos principais são o IBAMA - órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), que exerce o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais e concede licenças ambientais para instalação e operação de empresas - e o CONAMA, órgão colegiado responsável pelas medidas de natureza consultiva e deliberativa sobre o Sistema Nacional do Meio Ambiente. Ambos fundados em 1981, ainda quando o país vivia sob o regime militar.

A capacidade de destruição de Ricardo Salles é gigantesca. Não apenas sobre o meio ambiente, mas para a economia brasileira. A sua gestão no MMA está abalando fortemente a imagem do país no exterior, marcando o Brasil como um país refratário a boas práticas ambientais, o que provocará o fechamento de mercados, na Europa, EUA e Ásia, para produtos do agro-negócio brasileiro.

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