quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Por que Damares se julga acima das leis do país?

Claudio Guedes

A turma

A família e a equipe do presidente Jair Bolsonaro são uma caixa de surpresas.

Damares Alves, a famosa pastora que, quando criança, viu Jesus Cristo no pé de goiaba, e que vem a ser a ministra de Direitos Humanos do atual governo, tem mais uma história esquisita, no mínimo.

"Damares é uma cuidadora de Lulu e a considera uma filha", afirma a nota da ministra, em resposta à reportagem de Época que afirma que Lula foi retirada irregularmente de sua aldeia há 14 anos.

Kajutiti Lulu Kamayurá, 20, que vive com a ministra foi, segundo membros da sua tribo, levada aos 6 anos de idade pela então sócia e amiga de Damares, Márcia Suzuki, para Brasília para fazer um tratamento dentário e nunca mais voltou à aldeia.

Independentemente da questão dos afetos, sempre muito importante, o fato é que Damares foi "cuidadora" de uma criança indígena durante anos. O problema é que essa figura "cuidadora" não existe do ponto de vista das leis do país.

A adoção de uma criança indígena precisa passar pelo crivo da Justiça Federal e da Vara de Família da Justiça comum. A adoção, ou mesmo a guarda ou a tutela, também dependem do aval da Funai. É o que diz a lei.

Por que Damares não respeitou a lei?

Por que Damares não fez o processo de adoção conforme estabelece a lei?

Por que Damares se julga acima das leis do país?

A tarefa é botar pressão


O inacreditável comunicado do MEC sobre a censura política nos vídeos do Ines, que acusa Ancelmo Gois - Ancelmo Gois! - de ser um perigoso comunista e agente da KGB, foi mais uma mostra do azyllo muito louco em que se converteu a república. Todo em caixa alta, com uma virgulação errática e argumentos ainda mais bizarros, é desde já um clássico do olavismo em ação.

Mas tem um ponto importante, que não devemos desprezar: o MEC recuou. A nota fala que a retirada dos vídeos foi "não autorizada", que eles estão sendo reinseridos, que o pluralismo de ideias é um valor basilar.

Desatinados, é verdade, mas não insensíveis à pressão. Portanto, a tarefa é botar pressão.

Iletrada é nomeada coordenadora-geral de formação de professores da Secretaria de Alfabetização do MEC



Brasil - o primeiro governo do mundo administrado por comentaristas do YouTube

Vincent Bevins

Now in Brazil - the world's first ever government run by youtube commenters

It's an important experiment for the world, let's see how it works out
For those that don't speak Portuguese - Brazil's Ministry of Education released a long, ALL CAPS statement that starts saying a journalist was wrong about changes to their website and then veers far right into a strange discussion of the KGB and Marxist-Leninist training programs.

I'm not going to actually translate the whole thing but here's the what google translate spits out which is not even worse than the original:


Agora no Brasil - o primeiro governo do mundo administrado por comentaristas do YouTube

É uma experiência importante para o mundo, vamos ver como funciona.

Para aqueles que não falam português - O Ministério da Educação do Brasil divulgou uma nota longa e TODA EM MAIÚSCULAS que começa dizendo que um jornalista estava errado sobre mudanças em seu site e depois se volta para uma estranha discussão sobre a KGB e os programas de treinamento Marxista-Leninista.

Eu não vou realmente traduzir a coisa toda, mas aqui está o que o Google Tradutor cuspiu e que não é pior do que o original:

Milhões de Damares da classe média elegeram a turma da Damares

Moisés Mendes

AS DAMARES E OS DAMARES

Descobriram agora que Damares mente sobre diplomas que não tem. Mas Damares é mais do que uma mentirosa. Damares é a combinação de Vélez-Rodrigues, Bolsonaro, os filhos de Bolsonaro, Sergio Moro, Magno Malta, os milicianos do Rio da Pedra, os coronéis do golpe, os coronéis da Avenida Paulista.

Damares é o resumo, a síntese de todos eles, incluindo o ministro do Meio Ambiente escolhido para enfrentar os ambientalistas e que agora brilha como caçador dos criminosos da Vale. 

Damares acaba sendo um resumo do Brasil deformado. A Damares retórica, discursadeira, que ataca mulheres e é aplaudida, que mente ter diplomas que não tem, que fala com Jesus, essa Damares é o seu vizinho, o seu parente aquele, o seu amigo sentado aí ao seu lado na firma, ou aquela autoridade que nega a Lula o direito de ir ao velório do irmão.

Não se enganem. Uma autoridade que se agarra a argumentos quase religiosos para continuar tirando direitos de Lula é uma Damares com toga, uma Damares com lustro aparente.

Há Damares por toda parte, muitas dissimuladas. Não são maioria, mas são muitas, são milhões, em várias graduações, mais do que imaginamos. Milhões de Damares da classe média elegeram a turma da Damares.

O bolsonarismo que leva milicianos para o poder é uma Damares fora de controle. Damares apenas expõe uma alma coletiva que estava à espera da grande chance para se revelar.

Sobre a polêmica dos supostos atos de infanticídio praticados pelos povos indígenas

Anarco Esporte Fino

Sobre a polêmica dos supostos atos de infanticídio praticados pelos povos indígenas, tema que voltou aos holofotes por conta da pastora Damares Alves.

Para começar, é preciso ter um dado muito básico em mente: quando se fala "indígenas" se fala em mais de 200 etnias e cerca de 1.000.000 de indivíduos. Etnias que conservam diferenças fundamentais entre si, língua, cosmologia, etc...

A forma como os Aikewara produzem sua vida na melhor das hipóteses tem vagas semelhanças com a forma como os Yanomami, por exemplo, o fazem. Então é no mínimo desonesto pegar práticas presentes nesta ou naquela etnia e dizer "isso é um comportamento indígena".

Desonesto é eufemismo, pois no geral se trata de uma atitude racista. O povo negro sofre com um tipo de comportamento semelhante. Os atos e características de alguns tornam-se o "padrão". A atitude no geral tem uma finalidade discriminatória.

Esse falso problema voltou a ordem do dia justamente pela ação de uma ONG chamada “Atini. Voz pela vida”, uma ONG evangélica local, mas com vínculos internacionais. Sabe quem é uma das fundadoras dessa ONG? Sim, a Pastora Damares.

Em meados deste século eles criaram e divulgaram um cartilha chamada “O Direito de Viver” da série “Os Direitos da Criança”, onde descreviam os motivos que supostamente levariam os POVOS INDÍGENAS a cometer infanticídios. (Repare, povos indígenas como um todo).

Seguem os títulos do manual da Atini: “Os gêmeos têm direito a viver”; “Filhos de mãe solteira têm direito a viver”; “Crianças com problemas mentais têm direito a viver”; “Crianças especiais têm direito a viver”...

; “Crianças que os pais não querem criar, ou não podem criar, têm direito a viver”; “Crianças cujo pai é de outra etnia têm direito a viver”. A cartilha, ainda, tinha a seguinte mensagem "O direito da criança é mais importante do que sua cultura”.

Mensagem é bastante sintomática da abordagem da ONG: ela não ignora o direito constitucional destas populações (direito à diferença), ela elenca um motivo prioritário, que justificaria a intervenção nestas comunidades.

Na mesma época a ONG divulga pesadamente o vídeo Hakani: Buried Alive – A Survivor's Story cujo diretor David Cunningham é filho de Lauren Cunningham, um dos fundadores da entidade missioneira Youth with a Mission /JOCUM. (falar da atuação dessa entidade renderia outra thread).

9 entre 10 pessoas que abrem a boca para falar de infanticídio indígena usam esse vídeo como exemplo. Pelo que me lembro ele chegou a passar no Fantástico.

O filme, interpretado por atores indígenas evangelizados e rodado numa propriedade da Missão transmite a falsa impressão de que se trata do registro documental-etnográfico do sepultamento de duas crianças vivas, já crescidas, por índios de uma aldeia Suruwaha.

Os próprios atores indígenas se declaram enganados pelos produtores do vídeo. Segundo os próprios, estavam encenando "a vida de antigamente", isto é, aquilo que acontecia em "tempos remotos".

Esse é um ponto crucial, temos ao mesmo tempo um "passado" que é vendido como "atual" e um "específico" que é vendido como "geral", ou seja, o passado de uma população indígena específica (os Suruwaha) se torna o presente dos povos indígenas do Brasil no imaginário do povo.

O fato de que se trata de um comportamento passado é constatado pelos trabalhos etnográficos.

Os Suruwaha são falantes de uma língua do tronco Arawac se mantiveram em isolamento voluntário até meados da década de 1980 e hoje vivem próximos do Município de Tapauá, Estado de Amazonas, a 1.228 quilômetros de Manaus.

Logo após o contato, a Missão Evangélica Jocum (aquela mesma do pai do diretor do vídeo Hakani) se estabelece entre os Suruwaha de forma permanente.

Os dados coletados nesta população que sofreu intervenção evangélica indicam que entre 2003 e 2005, “ocorreram 16 nascimentos, 23 mortes por suicídio, 2 infanticídios e uma morte por doença”.

A relação entre o alto índice de suicídios e a presença evangélica eu deixo para outro dia, antecipo que esse é um problema bastante comum em comunidades sob forte pressão do missionarismo (mas não apenas). Suicídio entre povos indígenas tem margens muito maiores que a nacional.

Os 2 casos de infanticídio não foram observados in loco pelos pesquisadores, pelo contrário, segundo os relatos mais apurados, tratam-se de mortes decorrentes de abandono e desassistência familiar. Ou seja, nenhum deles se refere a crianças "enterradas vivas".

Em 2010, uma pesquisa promovida pela UNICEF constatou que na última década não houve qualquer outra notícia fidedigna da prática, nem entre os Suruwaha nem por parte de outros povos.

O que confirma o seu progressivo abandono voluntário por parte dos mesmos, à medida que suas condições de sobrevivência e a cobertura da assistência do Estado melhoram.

Dados estes que foram comprovados pela pesquisa que eu coordenei em meados de 2012 para a própria UNICEF, que podem ser conferidos no documento-livro "Pesquisa sobre os condicionantes do sub-registro de nascimento em populações indígenas da Amazônia Legal Brasileira"

Nesta pesquisa, realizada ao longo de um ano inteiro, eu e minha equipe visitamos comunidades Tikuna, Guajajara, Mebêngôkre, Karipuna e Galibi-Maroworno e constatamos com funcionários da Sesai e com os próprios indígenas a ausência de casos de infanticídio.

Contatando que aquilo que supostamente ocorria no passado de alguns destes povos (e que mesmo ali não era uma regra) não pode ser tomado como um elemento do presente dos mesmos, tampouco do presente de todos os povos indígenas.

Ainda, foi justamente a política de demarcação de terras e a melhoria progressiva na cobertura da assistência prestada pelo estado (especialmente na saúde) que contribuíram para o desaparecimento desta prática ali onde ela existia.

Corte de impostos para empresários de Trump foi um fracasso; de Paulo Guedes será uma tragédia

Trumponomics
Laura Carvalho

Em meio à recusa dos congressistas democratas em aprovar os US$ 5,7 bilhões demandados por Donald Trump para a construção de seu famigerado muro na fronteira mexicana, o mais longo “government shutdown” da história americana levou à suspensão de cerca de 25% dos serviços federais por 35 dias, inflamando o debate sobre as contas públicas do país.

O custo estimado da paralisação, que foi interrompida na segunda-feira (28) pela aprovação de uma nova janela para acordo até 15 de fevereiro, já é de US$ 3 bilhões.

Enquanto isso, a recém-eleita congressista por Nova York Alexandria Ocasio-Cortez vem causando furor por sua proposta de elevar de cerca de 37% para 70% a alíquota marginal de imposto sobre rendas que ultrapassam US$ 10 milhões anuais para financiar um plano de redução de emissões de carbono no país —o chamado “Green New Deal”.

Embora pareça radical nos dias atuais, a alíquota máxima de imposto de renda foi, pasmem, de 70% nos EUA até 1981.

Esse percentual era aplicado somente à parcela dos rendimentos que superasse o limite máximo, como na proposta de Ocasio-Cortez.

A partir de 1981, o governo de Ronald Reagan deu início a uma redução drástica de impostos com base no chamado “trickle down economics”, que projetava um estímulo ao crescimento econômico e à criação de empregos mais do que suficiente para cobrir as perdas iniciais de receitas do governo.

Em 1989, a alíquota máxima era de 28%, gerando uma queda na arrecadação e um aumento da desigualdade.

Trinta anos depois, a decepção se repete.

Segundo uma pesquisa realizada pela National Association of Business Economics (NABE), o corte de impostos de US$ 1,5 trilhão aprovado por Trump em 2016 não alterou significativamente os investimentos privados: 84% das empresas entrevistadas declararam não ter mudado seus planos por causa da redução da alíquota de imposto de renda para a pessoa jurídica de 35% para 21% implementada em janeiro de 2018.

O fato é que o determinante principal dos investimentos das empresas segue sendo a expectativa de crescimento das vendas: empresários compram novas máquinas e equipamentos e/ou constroem novas plantas para serem capazes de produzir mais e, assim, atender a demanda futura.

As reduções de imposto poderiam até funcionar para roubar mercados alheios se não fossem concedidas em meio a uma guerra fiscal em que todos os países seguem a mesma estratégia.

O fracasso do plano de Trump, que contribuiu para deteriorar a situação das contas públicas americanas, não deveria ser surpresa para quem observou os resultados das desonerações concedidas no Brasil na última década.

Ainda assim, o presidente Jair Bolsonaro já afirmou em diversas ocasiões que a redução da carga tributária é uma das metas de seu governo.

No Fórum Econômico Mundial de Davos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a discutir com investidores a possibilidade de reduzir de 34% para 15% os impostos para empresas no Brasil.

Dadas as nossas dificuldades de estabilizar a dívida pública, uma redução desta magnitude parece demasiado drástica, mesmo se vier acompanhada da muito bem-vinda taxação dos dividendos —os lucros distribuídos pelas empresas a seus sócios e acionistas.

Aqui, como nos EUA, os defensores do Estado mínimo não necessariamente são mais refratários ao aumento da dívida pública.

É sempre bom lembrar o óbvio: gastar menos com serviços públicos e/ou benefícios sociais e arrecadar menos ainda com impostos também gera desequilíbrio fiscal.

Laura Carvalho

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico".

O ministério do crime


A ministra Damares Alves (PSL) diz que é mestre em educação e direito pela leitura da bíblia. Nesse caso, então, eu sou médico pela leitura de bulas de remédios. 😂🤣😂🤣

Nos escândalos do governo do capitão tem de tudo: milicianos, corruptos, sequestradores de índios, doutores sem diploma e homens que trabalham no mercado da fé. Uma holding da criminalidade.

Florestan Fernandes Júnior

Ministério do Bozo é uma galeria de aberrações



A galeria de aberrações compondo o ministério bolsonaresco será estudada por séculos como tipos ideais dos graves problemas brasileiros. Parece que disputam entre si quem é o pior. Nepotismo, milicianos, militarismo entreguista, privataria de rapina, togas de aluguel na justiça, ignorantes ideológicos iletrados na educação e fanáticos religiosos de seitas. A "ministra" Damares, representante subalterna da mulher das seitas protestantes, denunciada em reportagem da Época por sequestro de criança indígena do Xingu, nada mal para um governo associado ao sequestro político do ex-presidente Lula. O pouco chão moral do atual desgoverno de extrema direita já foi retirado completamente em menos de um mês de trapalhadas e inação!



O Ensaio Venezuelano


Roberto Amaral

Seria bom nossa diplomacia lembrar que o trumpismo que vale hoje para a Venezuela, amanhã valerá para nós

Eis o principal legado do quase primeiro mês de bolsonarismo: abandonamos o posto e a responsabilidade de liderança regional para cumprir o papel de coadjuvantes da política ditada pelos interesses e conveniências da estratégia de guerra dos EUA de Donald Trump, voltados, agora mais consistentemente, para o Atlântico Sul e a América do Sul, aproveitando, até, o vácuo deixado pelo Brasil.

Por força de sua história e de sua liderança, o Brasil se havia destacado por alimentar o espírito integracionista e esta foi a maior proeza, e também a atitude mais arriscada de nossa política externa, desdenhada nos breves dias do novo governo.

Na contramão de nossa história, o Brasil oficial, mesquinho, renuncia a esse papel para assumir o de reles capitão-do-mato do pior da pior política estadunidense, servindo-lhe de instrumento para a agressão à Venezuela, o alvo da vez.

Na garupa do trumpismo – que retoma grotescamente a doutrina Monroe e a política do big stick – abandonamos, contra nossos interesses, o compromisso com a solidariedade continental, insensatamente esquecidos de que o que vale, hoje, para a Venezuela, seus recursos e seu processo político, valerá também para nós, hoje e amanhã.

O preço maior dessa violência, poderá ser a guerra civil em sub-região estratégica para a segurança coletiva e para nossa própria segurança. Fala-se mesmo em balcanização e em guerra interestatal!

A expectativa de caos é o outro lado da até aqui bem sucedida desestabilização dos regimes progressistas da região (já se foram Brasil, Argentina e Equador), objetivo do Departamento de Estado dos EUA, revivendo os tempos da Guerra Fria, desta feita sem a alegada ameaça da URSS. Mas, quando não se tem inimigos de fato, cria-se.

Se o intervencionismo dos EUA antes contou com nossa resistência, hoje dispõe de nossa diplomacia e de nossas tropas, como delas já dispuseram em 1965 para consolidar a invasão da pobre e pequena e sofredora República Dominicana, que ousara eleger um presidente (Juan Bosch), acusado de nacionalista, isto é, comprometido com os interesses de seu país e de seu povo…

Assim, mas não de forma surpreendente, pois o capitão já disse a que veio, em pouco menos de um mês toda a história da diplomacia brasileira, de Rio Branco a Celso Amorim-Samuel Pinheiro Guimarães, foi jogada na lata do lixo, e a política ativa e altiva do ministro de Lula é substituída pelo acocoramento ideológico, uma subalternidade sabuja, que chega às raias da dependência psicológica, aquele sentimento de inferioridade introjetado pelo colonizado eternizando o domínio do senhor, a cujos interesses e valores mais se submete quanto mais apanha, pois a humilhação transforma-se numa necessidade de sua índole deformada.

Brevemente nosso chanceler (seja o Policarpo Quaresma de hoje, seja seu eventual substituto) voltará a tirar os sapatos para passar pela alfândega dos EUA. Hoje sabemos que o lamentável gesto de Celso Lafer, carregado de simbologia, antecipava, por décadas, a que ponto de alienação pode chegar um governo de arrivistas cuja política externa abandonou a ‘ideologia’ da independência em busca de soberania, pela ‘desideologia’ da renúncia ao interesse nacional.

As ameaças que pesam sobre a Venezuela (de que é mesmo de que ela é acusada, para justificar tanto ódio?) não têm amparo no Direito Internacional, na Carta da ONU, nem na Carta da OEA, cujo artigo 15 nos diz: “Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro”.

Na mesma linha vem o comando da Constituição brasileira (art.4º): “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político.”

E no entanto nosso país, pelas mãos do bolsonarismo, essa doença tacanha que nos aflige, rasga a Constituição e apoia a política intervencionista de Donald Trump!

Qual o pretexto (pois razão não há) para o garrote vil que é o cerco imposto, há décadas, pelos EUA e seus aliados ao país vizinho? O pretexto é a suposta “ilegitimidade” do governo Maduro, um falso problema que não leva os EUA a intervir em países onde não têm interesses, ou onde seus interesses estão devidamente atendidos.

Qual a base política ou jurídica para decretar essa ilegitimidade?

Maduro foi eleito em 2018 em pleito acompanhado por jornalistas e observadores e organismos internacionais, do qual participaram 16 partidos políticos. Concorreu com cinco adversários, e obteve 67,85% dos votos. A oposição, que negociara a antecipação das eleições de dezembro para maio, dividiu-se na disputa eleitoral e perdeu, mais uma vez.

A propósito, Maduro, ao contrário de Trump, teve mais votos do que seu concorrente.

Qual o malabarismo jurídico para a decisão de Trump, seguido pelo Brasil e outros satélites de sua política externa, de exigir a renúncia de um presidente de um país independente? A questão democrática? Ora, nessa hipótese ninguém pode apostar, afora os néscios e os muito sabidos.

Qual a autoridade moral de que podem se revestir neste tocante os EUA, histórico sustentáculo de todas as ditaduras modernas, seja na África, seja na Europa, seja na Ásia (uma só menção, o Vietnã do Norte), no Oriente Médio (exemplo, a Arábia Saudita)? Que autoridade tem esse país para falar em democracia entre nós, se aqui amparou (e delas muito usufruiu) as ditaduras de Batista (Cuba), Somoza (Nicarágua), Trujillo (República Dominicana), Stroessner (Paraguai) e todos os sátrapas venezuelanos até a ascensão de Chávez que tentou depor na tentativa, frustrada, de golpe que patrocinou em 2002? EUA que apoiaram a implantação das luciferinas ditaduras militares do Brasil, da Argentina, do Chile e do Uruguai, e o regime tão perverso quanto corrupto de Fujimori, no Peru? Invadiu Granada e com as tropas brasileiras (Castello Branco) destroçou a democracia dominicana?

Em socorro dessa política intervencionista corre a União Europeia, mãe de Salazar, Franco, Mussolini e Hitler, cúmplice do stalinismo e sócia dos coronéis que sufocaram a Grécia nos anos 1967-1974.

O que essa UE nos tem a dizer dos regimes protofascistas na Polônia e na Hungria? Nada? Não lhes vai dar prazo de oito dias para se converterem à democracia? Mas caberia questionar: o ultimato prepotente seria um modo adequado, aceitável, de encaminhar solução para o Brexit, para a autonomia da Catalunha, para a crise dos “coletes-amarelos”, ou ainda para o impasse entre democratas e republicanos que paralisou o governo dos EUA por vários dias, causando sofrimento e prejuízos de monta?

Por que a União Europeia não deu prazo a Putin para devolver a Crimeia? Ou à China para entregar o Tibete ao Dalai-Lama? Por que não dedicar um pouco desse furor democrático para encerrar os dias do regime de Rodrigo Duterte nas Filipinas?

O governo Maduro é passível de críticas e os caminhos da revolução bolivariana podem e devem ser discutidos.

Mas, quando se fala em sua crise a grande imprensa omite as tentativas de inviabilização econômica da Venezuela, vítima de perversa “guerra econômica”. A hiperinflação venezuelana é induzida e sua capacidade de importação é inviabilizada pelo sufoco cambial. Seus ativos estão sendo sequestrados por europeus e pelos EUA que acabam de bloquear recursos da PDVSA, devidos pelo fornecimento de petróleo ao império, que também bloqueou seus bens. Qual é o nome disso? Pirataria? A proeza de Maduro é mesmo a de sobreviver, em que pese esse terrível boicote, que, atingindo o governo, mais penaliza os venezuelanos pobres.

Ao lado de muitos acertos – e como esquecer os esforços do chavismo visando a atender às gritantes demandas sociais !– muitos erros, sem dúvida, podem ser apontados. Mas não é nada disso o que está em jogo, bem longe passam as convicções democráticas e as preocupações com o povo venezuelano. Todo o mundo sabe disso, desde aquela senhora que viu Cristo dependurado em um galho de goiabeira até o irrequieto general Mourão, para quem o único erro dos golpistas de 2002 foi não haverem assassinado Chávez, quando o prenderam.

O que está na ordem do dia é a falsa disputa Ocidente versus Oriente inventada pelo Pentágono, que, na verdade, é a explicitação da disputa (real) entre o cansaço econômico dos EUA e a emergência da China como potência que lhe pode fazer face e que precisa ser afastada antes de se tornar uma ameaça militar, com a aliança nuclear oferecida pela Rússia.

O que está em jogo é o papel do Atlântico Sul no conflito programado, e, nele, o da América do Sul e nela, por sua vez, o destino da maior reserva de petróleo do mundo, que, para azar seu, está nos campos da Venezuela.

Não pensem os democratas brasileiros sinceros que terão vida fácil se o golpe contra Maduro for bem-sucedido.

Ministra Damares sequestrou uma criança indígena de seis anos.

Natália Portinari

Estive no Xingu e ouvi a família de Lulu, a menina adotada por Damares, para a @RevistaEpoca.

(1) segundo a ministra, Lulu foi adotada aos 6 anos. é preciso que fique claro: Lulu não foi salva de ser enterrada por Damares. isso só ocorre com recém-nascidos.

(2) a história que me contaram é simples. Damares e a amiga, Márcia Suzuki, levaram a menina para a cidade para tratar dos dentes. prometeram que ela voltaria depois, mas isso nunca aconteceu. os Kamayurá pedem: "Queremos Lulu de volta." dizem que ela não era maltratada.
(3) circula por aí um vídeo dizendo que a reportagem entrou no Xingu sem autorização e que fomos "expulsos" pelos índios. é mentira, é claro. a coordenação autorizou nossa entrada, temos tudo documentado com gravações. fomos bem recebidos. os Kamayurá quiseram falar com a gente.

(4) a lei exige que a adoção de crianças indígenas passe pela Justiça, com aval do MPF e da Funai. perguntamos a Damares se havia alguma decisão judicial desse tipo. ela não apresentou. perguntamos se Lulu sofria risco de vida, como alega a ministra. ela não informou.

(5) a matéria que fiz com o colega @viniciussassine é extensa e mostra, com detalhes, a versão da história de Lulu contada por Damares, a versão contada pela aldeia e, ainda, uma terceira versão oferecida por indígenas amigos de Damares aqui em Brasília. em breve, no site.

Direita defende os crimes da Vale e a privataria

Luis Felipe Miguel

Os escribas da direita se esforçam para negar qualquer relação entre a privatização da Vale e as tragédias que se sucedem por negligência e irresponsabilidade da empresa. Hoje, Roberto Dias afirmou que se trata de um "argumento torpe" contra as privatizações. Ontem, também na Folha, foi Alexandre Schwartsman - como de costume, disparando coices contra seus desafetos e com argumentação ao nível do relincho.

Eles citam desastres ocorridos com empresas públicas e julgam que, assim, liquidaram a questão: não existe relação entre ser privado ou ser público e ter menos ou mais cuidado com a proteção ao trabalho ou ao meio ambiente. O fato de que a Vale do Rio Doce passou mais de 50 anos como empresa pública sem que ocorresse qualquer desastre digno de nota seria mero fruto do acaso.

É claro que ocorrem desastres com empresas públicas. Ocorrem desastres propriamente ditos (a origem da palavra remete aos "astros desfavoráveis"), advindos de causas incontroláveis ou de uma sucessão de pequenos equívocos, cada um sem maiores consequências quando isolado. E ocorrem tragédias causadas por irresponsabilidade e negligência.

Mas é de se esperar que, quando mais uma empresa for verdadeiramente pública, isto é, prestando contas à sociedade, maior será a pressão para que mantenha padrões elevados de segurança e maior será a capacidade de resistência de seus profissionais contra decisões de risco. Por outro lado, quanto mais as empresas públicas passam a emular as empresas privadas e a projetar o lucro como alfa e ômega de suas ações, que é a régua pela qual são medidas pelos economistas liberais, maior será a tendência de afrouxamento de seus padrões.

Para as empresas privadas, que prestam contas a acionistas sequiosos por dividendos suculentos, tudo entra num cálculo de custo-benefício - incluindo a vida humana, a dignidade humana, a segurança do trabalho, a proteção ambiental. Não é só a Vale. Das empresas automobilísticas fraudando a certificação de emissão de poluentes às grandes confecções operando com trabalho escravo, o registro das corporações é um show de horrores. E quando um escândalo ocorre, a resposta é muito mais uma ofensiva de relações públicas do que a alteração de práticas.

O que está em questão, portanto, é mais do que a oposição entre empresa pública e empresa privada. É a posição que a obtenção do lucro deve ocupar na nossa escala de valores. Empresas públicas estão mais bem posicionadas do que empresas privadas para resistir à pressão por lucro a qualquer custo; mas, para isso, devem resistir também à ideologia liberal que tudo avalia pela lucratividade.

É assim que as empresas públicas podem cumprir suas funções de estimular o desenvolvimento, combater desigualdades e garantir a soberania. Se o lucro for seu único ou principal objetivo, estarão desvirtuadas.

A discussão ganha urgência porque o governo Bolsonaro anuncia sua intenção de tudo privatizar. A ladainha é a mesma de sempre: as empresas públicas são deficitárias, ineficientes, incompetentes. Aliás, o primeiro adjetivo define os outros, já que eficiência e competência são definidas em função da capacidade de gerar lucros. Os ganhos prometidos de eficiência são tão grande que justificariam a venda das empresas por uma fração de seu real valor, como é de praxe na privataria brasileira.

Nos vinte anos de sua privatização, a Vale gerou lucros assombrosos para seus acionistas. Mas os brasileiros ganharam ou perderam?

Diário do Bozo: o juiz ladrão

José Roberto Torero Fernandes Junior

Diário, que vida boa!

Aqui no hospital não entra jornalista, a cama tem uns botõezinhos que deixam ela do jeito que eu quero e a tevê tem uns duzentos canais, fora a Neflix (Opa! Vai aqui uma reclamação: a Netflix não tem nenhum filme do Charles Bronson. Tem que ver isso daí!).

Também passo o dia todo sem cueca (só no camisolão), a persiana abre e fecha por controle remoto e de vez em quando vem alguém fazer uma fisioterapiazinha em mim.

O melhor de tudo é que eu não tenho que participar daquelas reuniões cheias de ministros. Não nasci para isso. Nunca presidi um partido, nunca comandei um movimento social, nunca fui prefeito, governador ou síndico de prédio. O meu negócio não é reunião. Por mim a gente fazia um grupo de zap e resolvia tudo por ali.

Ainda bem que aqui no hospital não tem nada disso. Estou no paraíso. Devia mudar o gabinete para cá de uma vez.

A única hora estranha é quando eu durmo. É que ando tendo uns sonhos meio doidos. Devem ser esses remédios que tão me dando.

Por exemplo, hoje eu sonhei com uma partida de futebol. Era a final do campeonato. O campo estava meio enlameado e tinha um time de amarelo e outro de vermelho.

O juiz marcava tudo contra o time de vermelho. Invertia lateral, não via as faltas dos amarelos, só dava impedimento dos vermelhos e acabou até expulsando o 10 deles.

Quando o juiz apitou o fim do jogo, o time amarelo tinha vencido de 5 a 4. E aí, em vez do cara ir pro vestiário, ele tirou a camisa preta, colocou uma amarela e foi comemorar o título. Abraçou todo mundo, deu beijo na taça e até fez a volta olímpica com os campeões.

Pô, agora que eu me livrei dos ministros, será que cada noite eu vou sonhar com um deles?

@DiariodoBolso

Bandidos de toga não ficarão impunes


O Judiciário não reconhece em Lula um cidadão portador de direitos. Para essa sub juíza, Carolina Lebbos, e a turminha de Curitiba o ex presidente deve ser proscrito da face da Terra. Todos, um dia, vão ter que prestar contas ao povo brasileiro por seus atos. São todos criminosos.

Wadih Damous

Ministra fanática religiosa inventou títulos acadêmicos que não tem

Revista Fórum
Damares mente ao dizer em discurso que é “mestre em educação e em direito constitucional e da família”
Própria assessoria negou que ministra ostenta os diplomas. Damares diz, no entanto, que seu título tem a ver com o ensino bíblico. “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico”
Reportagem de Anna Virginia Balloussier, na edição desta quinta-feira (31) da Folha de S.Paulo, revela que a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, mentiu ao se apresentar em discurso como “advogada” que é também “mestre em educação” e “em direito constitucional e direito da família”.

A própria assessoria de imprensa do Ministério confirmou à jornalista que Damares não têm os títulos acadêmicos, após ser indagada por três semanas sobre quais eram as instituições em que ela adquirira os alegados mestrados.

Damares afirmou, no entanto, que seu título tem a ver com o ensino bíblico. “Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico.”

Segundo a reportagem, uma pessoa com trânsito na bancada evangélica no Congresso, para a qual Damares já trabalhou como assessora jurídica, afirmou à Folha que ela já ostentou o título em outras ocasiões.

A ministra pinça uma passagem bíblica (Efésios 4:11) para justificar a designação: “E Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

José Padilha tem as mãos sujas de sangue

Luiz Antônio Simas

Li o texto do José Padilha. É mais um que ajudou a abrir a tampa do bueiro de onde saíram fascistas, fanáticos, assassinos de aluguel, etc. e não sabe como mandar a cloaca de volta pro esgoto. Tropa de Elite deu verniz pop aos esquadrões da morte e alimentou o culto ao "mito".

André Forastieri

Desconheço criador que mais colaborou para a Ascensão do pensamento Bolsonaro/Moro que Padilha. Escrevi sobre sua visão simplista, classista da política quando saiu Tropa de Elite 2.  Agora é tarde pra se arrepender, Bro.

Lula é um prisioneiro de guerra

Miguel Nicolelis

Fica claro que Lula não é nem preso comum, nem mesmo preso político: Lula é um prisioneiro de guerra. Só isto explica como ele é tratado. O único brasileiro mantido em prisão solitária há quase um ano, acima do alcance de qualquer lei ou Constituição, e que não merece qualquer empatia humana.


O mínimo do mínimo


É inacreditável como parte de nossa elite destrata, ignora, pisa em cima de símbolos importantes para o país. Lula foi presidente por oito anos e saiu com 80% de ótimo e bom. Ele é um grande símbolo para enorme parte de nossa população. Qualquer país necessita de símbolos assim.

Por isso, ainda que se ignorem todas as injustiças e parcialidades cometidas, não é possível passar por cima da consideração e dignidade humanas. O mínimo que parte de nossa elite deveria fazer é tratar Lula com consideração. É o mínimo do mínimo.

Ódio ao Lula acima de tudo, Lava Jato acima de todos


A melhor analogia que li sobre esse caso Lula é a da tragédia grega Antígona, primeiro texto que li na faculdade de Direito, sobre distinção legalidade x justiça. Creonte - autoridade competente (rei) - proibiu enterrar o irmão de Antígona. Ela reivindica isso no direito natural.

No caso, Lula não precisa nem invocar o direito natural. O direito positivo - via literalidade da Lei de Execução Penal - respalda completamente seu pedido. Mas agora adotaram a interpretação conveniente de que é discricionariedade da autoridade a concessão de direito.

Lula está em Curitiba por conveniência do Estado, para instrução dos outros processos. Pela lógica da LEP, ele deveria estar em São Paulo, próximo da família e onde o irmão morreu. Não haveria nenhum problema de logística, conforme justificativa pragmática dada pra negar direito.

Mas eu não vou discutir com quem interpreta o direito com o fígado, com base no princípio hermenêutico do ódio ao Lula acima de tudo, Lava Jato acima de todos. Continuem tolerando arbitrariedade por conveniência política para ver onde vamos chegar.

Decisão de Dias Toffoli entra para os anais da canalhice universal


Vejam que decisão humilhante e acintosa essa de Dias Toffoli:
“Por essas razões, concedo ordem de habeas corpus de ofício para, na forma da lei, assegurar, ao requerente Luiz Inácio Lula da Silva, o direito de se encontrar exclusivamente com os seus familiares, na data de hoje, em Unidade Militar na Região, inclusive com a possibilidade do corpo do de cujos ser levado à referida unidade militar, a critério da família".
Em outras palavras, ele autoriza que Lula seja levado a uma unidade militar em São Paulo. Se a família quiser, que leve o corpo do irmão para esse local. Parece até que o habeas corpus foi concedido ao morto. Tudo isso faltando alguns minutos para o enterro. Inacreditável, intolerável, absurdo.

É revoltante o grau de canalhice do judiciário brasileiro


É revoltante o grau de canalhice do judiciário brasileiro. Essa decisão pela metade, na hora do sepultamento de Vavá, é uma cuspida na cara de quem ainda acredita na existência de um pleno estado democrático de direito.

O judiciário brasileiro, através de Dias Toffoli, simplesmente autorizou a ida a um velório depois do enterro e em outro lugar e, para não ser estranho, autorizou a presença do morto, já enterrado, desde que ele fosse até o outro lugar. 

Parece loucura, mas o nome disso é Brasil.

“Lula teve negado um direito que não se nega a ninguém há 2000 anos”, diz Lenio Streck


Publicado por Paulo Henrique Arantes - DCM

A decisão meia-boca do ministro Dias Toffoli em favor do ex-presidente Lula, dotada de viés restritivo e tardia, não deixa de retratar o momento da Justiça brasileira. Para o jurista Lenio Streck, a contraposição do STF às decisões da Vara de Execução Penal e do TRF-4 não deve ser comemorada.

“O Toffoli concedeu aquilo que há 2000 anos não se nega a ninguém, que é o direito de velar nossos mortos”, disse Streck ao DCM, lembrando que, quando preso político na ditadura militar, Lula pôde ir ao sepultamento da mãe. “Na democracia, Lula foi impedido por Vara de Execução e Tribunal Regional de ir ao velório do irmão”, ressaltou.

De fato, com o Supremo manifestando-se tardiamente e impondo restrições a Lula, acabaram prevalecendo na prática as decisões das instâncias inferiores.

Streck também criticou os argumentos da Polícia Federal quanto a dificuldades logísticas para que Lula fizesse a viagem ao encontro do irmão falecido.

“A Lei de Execução Penal, quando autoriza a visitar o irmão ou o parente, ela não especifica nada quanto à logística, isso não é um problema. Ou o sujeito tem ou não tem o direito”, observou, antes de destacar que houve dois pesos e duas medidas.

“Quando foram fazer a condução coercitiva do Lula, tinha contingente, não tinha? Para ele ver o irmão, não tem? Quando alguém quer ser consequencialista, tem que ser sempre, e não só quando lhe interessa”, completou o jurista.

Sérgio Mallandro Moro é um canalha

JornalismoWando

Sergio Moro não é apenas um juiz covarde e um ministro-bunda. É também um ser humano desprezível.


Toffoli foi para o deboche


Toffoli foi para o deboche: concedeu habeas corpus para o morto visitar o irmão preso. Era melhor ter deixado para um general assessor despachar ou simplesmente ter indeferido de verdade e não de brincadeirinha. Escarneceu da família de Lula no momento dar dor maior.



É CRUELDADE. É TORTURA. É UM ESCÁRNIO. É UMA VERGONHA. 

O corpo de Vavá, um senhor que faleceu com câncer, já foi enterrado. Lula não poderá se despedir do irmão. Decisão de Dias Toffoli vem tarde e vem pra tentar limpar a barra do Judiciário brasileiro.

Jornalistas Livres

Esse "HC" do Toffoli "liberando" que o corpo já sepultado de Vavá possa "fazer uma visita" a @LulaOficial é das coisas mais baixas que a "justiça" brasileira já protagonizou.

Desde quando entrei na Facuidade de Direito da UFMG em 2006 não vi tamanha canalhice.

Revoltante.

Nane

O presidente Lula não vai para São Bernardo do Campo  porque ele não irá se  submeter ao circo que Sérgio Moro armou.

Lula não tem motivos para se encontrar às escondidas com a família como se isso fosse um favor do MPF e do Judiciário da turma da #LavaJato

#LulaPresoPolitico

Paulo Pimenta

Pinto no lixo



Bostonaro é a materialização do atraso

O conservador e o atrasado
Elio Gaspari

Fernando Henrique Cardoso (O Príncipe da Privataria) gosta de relembrar uma cena na qual o historiador Sérgio Buarque de Holanda discutia o tamanho de algumas figuras do Império e ensinou: "Doutora, eles eram atrasados. Nós não temos conservadores no Brasil. Nós temos gente atrasada."

Foi a gente atrasada que levou o Brasil a ser um dos últimos países a abolir a escravidão e a adotar o sistema de milhagem para os passageiros de aviões, deixando a rota Rio-São Paulo de fora.

É a gente atrasada quem trava os projetos de segurança das barragens que tramitam no Senado, na Câmara e na Assembleia de Minas Gerais.

Essa gente atrasada estagnou a economia durante o século 19 e, no 20, faliu as grandes companhias de aviação brasileiras. No 21, produziu os desastres de Mariana e Brumadinho.

Jair Bolsonaro elegeu-se presidente da República com uma plataforma conservadora, amparado pelo atraso. Sua campanha contra os organismos defensores do meio ambiente foi a prova disso. Não falava em nome do empresariado moderno do agronegócio, mas da banda troglodita que se confunde com ele. Felizmente, preservou o Ministério do Meio Ambiente (e nomeou um criminoso ambiental para o cargo).

Outra bandeira de sua ascensão foi a defesa da lei e da ordem. A conexão dos "rolos" de Fabrício Queiroz com as milícias do Rio de Janeiro ilustrou quanto havia de atraso na sua retórica. (O Esquadrão da Morte do Rio surgiu em 1958 e anos depois alguns de seus "homens de ouro" tinham um pé no crime.)

Nos anos 70, o presidente de Scuderie Le Cocq era contrabandista, e o delegado Sérgio Fleury, grão-mestre do esquadrão paulista, ilustre janízaro da repressão política, protegia traficantes de drogas.

Ronald Reagan e Margaret Thatcher foram conservadores, já os patronos dos esquadrões foram e são simplesmente atrasados. Por isso, Nova York e Londres são cidades seguras, enquanto o Rio é o que é. O detento Sérgio Cabral dizia que favelas eram fábricas de marginais.

As mineradoras nacionais moveram-se nos escurinhos do poder, e mesmo depois do desastre de Mariana bloquearam as iniciativas que aumentariam a segurança das barragens. Deu Brumadinho. As perdas da Vale nas Bolsas e com as faturas dos advogados superarão de muito o que custaria a proteção de Brumadinho. Será a conta do atraso.

Com menos de um mês de governo, Jair Bolsonaro foi confrontado pela diferença entre conservadorismo e atraso. Seu mandato popular (comprado em eleição fraudada pelo Judiciário, Forças Armadas e Mídia) ampara-se numa plataforma conservadora com propostas atrasadas. Muita gente que votou nele pode detestar o Ibama e as ONGs do meio ambiente. Também pode achar que bandido bom é bandido morto.

Quando acontecem desgraças como Brumadinho ou quando são expostas as vísceras das milícias e seus mensalinhos, essas mesmas pessoas mudam de assunto e o presidente fica só, como ficou o general João Figueiredo depois do atentado do Riocentro.

O atraso é camaleônico. Escravocratas do Império tornaram-se presidentes na República Velha. A Federação das Indústrias de São Paulo financiou o DOI, aderiu à Nova República e varreu os crimes da ditadura para a porta dos quartéis.

Trogloditas do agronegócio e espertalhões das mineradoras sabem o que querem. Conviveram com o comissariado petista esperando por um Messias. Tiveram-no. Quando a Vale caiu na frigideira, fizeram o que deviam e, num só dia, venderam suas ações derrubando em R$ 71 bilhões o seu valor de mercado.

Durante a campanha eleitoral, quando confrontado com os problemas que encontraria na Presidência, Bolsonaro repetia um versículo do Evangelho de João:

"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Brumadinho e suas relações com Fabrício Queiroz mostraram a Jair Bolsonaro o verdadeiro rosto do atraso.

Lula é preso político de um regime nazifascista

Regime nazista impede Lula de ir ao enterro do irmão


  • Preso injustamente há quase 300 dias, o ex-presidente já teve diversos direitos violados. Dessa vez, a Justiça o proíbe de se despedir de Vavá, um de seus irmãos mais próximos.
  • Se existia alguma dúvida de que Lula é um preso político não existe mais. Impedir Lula de ir ao velório do irmão mostra que há sempre uma exceção na lei quando envolve o nome do petista. Não bastou ser condenado sem provas. 
  • Vamos supor que não queiram ler a Lei de Execução Penal. Que então leiam a Bíblia. Ou quem sabe Antígona ? Estamos diante de um caso em que direito positivo e direito natural convergem para uma só resposta: Lula tem o DIREITO de sepultar o seu irmão. Flávio Dino
  • Impedir Lula de velar e enterrar seu irmão, mais do que violação a lei, é ato desumano, abjeto e cruel. O tratamento inumano dispensado a Lula é, dentre tantos motivos, mais um pelo qual o ex-presidente deve ser colocado em liberdade, antes que o matem na prisão.
  • Juíza Carolina Lebbos levando o Brasil a um nível ainda pior que o da ditadura. Nem o regime militar impediu Lula de velar um familiar. A perseguição política no Brasil não tem limites. Do que eles tem medo? Da força de Lula como líder popular.
  • Polícia Federal também pode ser chamada de Gestapo! Não tem lógica, nem sentido impedir Lula de participar do Velório de seu irmão Vavá.
  • Isso só demonstra o viés dolorosamente ideológico dessa policia que envergonha por essa postura mesquinha e nojenta!
  • Enquanto o povo não se revoltar e enforcar esses juízes canalhas, em praça pública, o Brasil não tem conserto. Isso não é democracia. É uma ditadura orgânica de Juízes, Mídia e Parlamento comprados com nosso suado dinheiro de impostos. 
  • Atitude covarde, mesquinha, abusiva e ilegal impedir Lula de se despedir do irmão falecido. 
  • O Judiciário apodrecido, o MPF partidarizado e a PF vingativa jamais concederam a Lula qualquer solicitação feita, num corporativismo cruzado e recíproco com que se blindam uns ao outros.
  • Além de ilegal, a decisão de impedir Lula de se despedir do seu irmão é desumana. Nem a ditadura foi tão cruel, e permitiu que ele fosse ao velório de sua mãe.
  • O ato covarde e desumano da Justiça brasileira em Impedir Lula de ir ao enterro do seu irmão Vavá, apenas mostra aos brasileiros, em geral, que eles não podem esperar dela! Já não temos qualquer garantia de que os nossos direitos serão respeitados pelo Moro, pelo STJ ou pelo STF! 
  • Impedir Lula de ir ao velório do irmão, mostra o lado mais cruel e podre das nossas elites. Boçalidade, preconceito e maldade que eles escondem atrás de roupas, carros e casas aparece com a perseguição absurda a um senhor de 73 anos.
  • A ditadura permitiu que Lula fosse ao velório de sua mãe.
  • A lei é clara mas não é para todos!
  • Não basta prender sem provas, encarcerar, limitar visitas, querem também impedir Lula de se despedir do irmão? Crueldade sem limites!
Twitter


Não permitiram que Lula se despedisse do irmão. O artigo 120 da Lei de Execução Penal lhe garantia esse direito. Mas, na chicana promovida por agentes públicos, entraram a impossibilidade logística do transporte, a crise financeira dos estados e até a ajuda às vítimas de Brumadinho. A trama cruel é um retrato do país, governado por milícias e com justiceiros togados a serviços dos prazeres mais mesquinhos. O medo de Lula explica tanto ódio.


terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Se você apoia o golpe na Venezuela, você não é gente



Por quê a Venezuela está tão mal, Fernando?

Bom, existem inúmeras razões e muita gente boa já explicou várias delas. Aqui, vou falar de uma que acho que você desconhece:

Existem mais de 50 bilhões de dólares em ouro e moeda americana da Venezuela "retidos" em bancos europeus e norte-americanos.

Você não leu errado ... são quase 50 bi de dólares ...

Estas são as "sanções" à Venezuela, impostas pelos EUA. Agora você entende porque o país não consegue comprar alimento ...

E, para piorar a coisa, os bancos ingleses querem liberar o dinheiro para o deputado que subiu no púlpito e se disse presidente sem concorrer a eleição nenhuma ...

Se você apoia o golpe na Venezuela, você não é gente.

Imbecilidade do ex-capitão é seu grande trunfo

Luis Felipe Miguel

A origem popular sempre pesou contra Lula. O slogan "Um trabalhador igual a você" gerava reações contrárias em muitas pessoas, em muitos trabalhadores, que haviam introjetado a incompetência política a que são condenados e definitivamente não queriam alguém igual a eles no poder. Lembro do porteiro do prédio em que eu morava dizendo que não votava no Lula porque não ia votar em um "analfabeto" - ele, que não conseguia produzir um bilhete para avisar que o elevador estava quebrado. Certo ou errado, em Lula, ele via a si mesmo. E não gostava do que via.

Das primeiras campanhas até a vitória em 2002, muita coisa mudou em Lula e no PT, que se foram moderando, reduzindo os horizontes de transformação social, ampliando as parcerias ao centro e à direita, criando pontes com o capital, aderindo às formas tradicionais da política no Brasil. Lula foi deixando de ser o "trabalhador igual a você" para se tornar o líder mundial e o grande negociador. Duda Mendonça explicou como a chapa com José de Alencar seria vendida ao público: dois meninos pobres que subiram na vida, um na política, outro nos negócios. Uma guinada consistente com a mudança no valor central do discurso do partido, da igualdade social substantiva para a "igualdade de oportunidades" liberal.

Parece que com Bolsonaro é diferente. A "simplicidade"do ex-capitão é seu grande trunfo. Mesmo a evidente debilidade cognitiva dele (e de muito de sua equipe) produz uma identificação positiva com o eleitorado. É uma poderosa proteção que tem garantido que o desastroso início de governo não leve a uma queda brusca de popularidade.

Não é difícil decifrar a charada. Ela ilustra a penetração do preconceito de classe no Brasil.

Peleja entre o capitão Bozo e o general Mourão

O retrato de Moro Gray


Por que deixei de ser olavete

Por que deixei de ser olavete: ex-simpatizantes narram rompimento com guru Olavo de Carvalho
Discordâncias filosóficas e retóricas com ideólogo da nova direita marcam desilusão de antigos admiradores
Jan Niklas e Victor Calcagno

Na casa de Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca, Olavo de Carvalho comandou a prece antes do jantar
Foto: Josias Teófilo / TWITTER

“Guru”, “um tipo de mestre”, “professor”, “ideólogo”, “intelectual”, “filósofo”, “mentor” e “espécie de guia intelectual”, mas também “charlatão”, “aliciador”, “impostor”, “aproveitador” e por vezes até “líder de seita”. Os termos utilizados para descrever o pensador conservador Olavo de Carvalho, de 71 anos, cujos seguidores já ocupam cargos de importância no governo de Jair Bolsonaro, são diversos entre os ex-alunos ou ex-simpatizantes do brasileiro natural de Campinas, desde 2005 autoexilado nos Estados Unidos. Em comum, todos eles compartilham, além de alguma admiração passada por Carvalho, seja pela “rebeldia” em desafiar paradigmas acadêmicos ou por acusar problemas da esquerda, a desilusão com o professor expressa em desavenças intelectuais, religiosas, políticas e pessoais em um momento específico — além da surpresa em ver sua autoridade potencializada nos últimos meses. Nesta semana, em que foi convidado pelo Departamento de Estado dos EUA para uma reunião a portas fechadas em Washington e aproveitou para se encontrar por três vezes com o ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon, a influência de Carvalho mostrou-se em expansão.

Em jantar, Bannon sabatinou Carvalho sobre o Brasil e seus líderes e estimulou-o a se contrapor ao “cara de Chicago”, em referência ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que obteve doutorado na univesidade americana. Num momento devidamente registrado por um dos convidados, que o definiu como símbolo da nova era, Bannon, que é católico, pediu para Olavo de Carvalho fazer uma prece antes da refeição. Olavo rezou um pai-nosso, no que foi seguido por todos. Bannon pediu que Carvalho explicasse o curso on-line que oferece. Ele não soube explicar e pediu socorro aos demais brasileiros presentes. “Passamos um bom tempo tentando, e não foi fácil. Bannon ficou impressionado com a amplitude do tema tratado”, escreveu o cineasta Josias Teófilo, que dirigiu documentário sobre o professor de filosofia. Carvalho por vezes se mostra orgulhoso do protagonismo no governo Bolsonaro, mas, por vezes, rejeita-o. “E eu sou o guru dessa porcaria? Eu não sou o guru de m... nenhuma”, reclamou antes mesmo que a nova gestão completasse um mês. A contradição, como se verá aqui, é uma de suas marcas intelectuais.

Morador da zona rural perto da cidade de Ovar, no Norte português, o luso-brasileiro Carlos Velasco não se define no passado, quando começou a frequentar o Curso On-line de Filosofia (COF, ministrado por Carvalho desde 2009), como um legítimo “olavete”, termo depreciativo usado pelos adversários para caracterizar os seguidores mais assíduos de Olavo de Carvalho. Com 42 anos, o empresário do ramo de importação e exportação relembrou o primeiro contato que teve com o professor, por meio da internet e das colunas que mantinha na imprensa durante os anos 2000, história parecida com a de grande parte dos seguidores, antigos ou atuais, acima dos 30 anos.

“Por volta de 2003, me impressionou o fato de ele ser o único que escrevia em português com capacidade sobre temas que me interessavam na época, como a centralização dos poderes e a diluição do Estado institucional. Fui acompanhando até decidir fazer o COF no fim de 2009”, disse Velasco. Apesar de ter assinado as aulas — uma por semana — até o fim de 2013, quando teve uma ruptura total com Carvalho, Velasco afirmou que seu interesse começou a decrescer após algumas sessões. Segundo ele, além do professor ser pouco pontual, as aulas, que deveriam ser de filosofia, “entravam constantemente em assuntos paralelos, que só compreenderia, dizia o Olavo, quem assinasse outros cursos especializados que ele oferecia ou acompanhasse seu trabalho por fora”. Além disso, incomodava o empresário a virulência com que Carvalho atacava simpatizantes da esquerda, “como se quisesse iniciar uma guerra civil, sem lugar para a discussão saudável”. O ponto final de discordância, no entanto, veio dos desdobramentos da guerra na Síria e da Primavera Árabe: segundo Velasco, o pensador tentava justificar os acontecimentos baseado numa espécie de “globalismo islâmico”, “como se houvesse uma agenda comum à religião no mundo inteiro”, algo que jamais o convenceu.

“Como todo aluno, questionei o professor, primeiro por e-mail, depois pelas redes sociais, mas ele se esquivava. Então comecei a escrever sobre isso publicamente, como ele ensinava que devia ser feito.” Desde 2013, Carlos mantém uma cruzada anti-Olavo de Carvalho por meio de um blog em que rebate Carvalho, o que também rendeu alguns vídeos no YouTube com o irmão, Jorge Velasco — em uma das gravações, houve uma conversa com Heloisa de Carvalho, filha e desafeto de Carvalho, que em 2017 publicou uma carta aberta contra o pai. As críticas tiveram reação: contra o empresário há pelo menos 30 postagens na página oficial do pensador no Facebook desde 2014, algumas em que Velasco é xingado de “celerado”, “satanista” ou “criminoso”, principalmente quando o assunto é o passado de Carvalho ligado ao islã.

Discordância pouco encorajada
Não são todos os ex-alunos que têm a disposição de questionar publicamente o antigo mestre, com receio de perseguições dele ou dos olavetes, catapultadas pelas redes sociais. Depois de frequentar o seminário de filosofia que Carvalho oferecia presencialmente enquanto ainda morava no Brasil, entre o fim da década de 90 e o início dos anos 2000, um aluno que prefere se identificar como Paulo resolveu se afastar das aulas silenciosamente por causa de divergências nos posicionamentos religiosos e no que classificou como “contradições” do discurso olavista. Segundo ele, foi o único que recebeu com desconfiança a súbita mudança de opinião de Carvalho quanto à invasão americana ao Iraque, passando a apoiá-la. Paulo descreveu sua relação com o professor como de “alguém próximo”, tendo lido seus principais trabalhos até então e contribuído para a difusão de seus posicionamentos, o que perdurou em diversas aulas de Carvalho. A dinâmica delas e a relação com os alunos, segundo contou, tinham uma natureza sutil de acordo tácito, no qual o guru não era questionado, ainda que os alunos, em tese, pudessem fazê-lo a qualquer momento. “Nunca vi, nas aulas, alguém discordar do Olavo sem ter o pensamento ridicularizado de algum jeito.”

“Teoricamente, você pode discordar, mas, na prática, não há clima e ninguém faz. Tudo isso é muito sutil, claro, e a dinâmica não favorecia o questionamento. Se você discorda, ele diz: ‘Mas isso é um ponto de vista idiota’. Nessa, descobri que era idiota, mas resolvi ter minha opinião”, afirmou ele. Ainda sobre as aulas, Paulo destacou a ausência de exercícios, de produção escrita ou oral, para testar os alunos, como num curso normal, além de não terem um fim definido: o COF já passa das 450 aulas, uma por semana, ao custo de R$ 60 por mês e não dá sinais de que vai parar tão cedo, o que justifica a classificação do ex-simpatizante de “não ser um curso, mas uma espécie de seita”. A falta de uma área definida das exposições, que, apesar de se rotularem como filosofia, pulam nos ramos da política, da religião, literatura, moral e ética, também o incomodou: “No começo, era realmente sobre filosofia, mas depois a aula se resumia no Olavo abrindo o jornal e falando mal do PT. Ele justificava dizendo que era preciso ‘filosofar em tempo real contra a ameaça do comunismo’”, disse Paulo, que se definiu como liberal.

O ex-aluno não esconde o motivo que o levou até o professor: a capacidade retórica de Carvalho, que o faz “vender geladeira no Polo Norte”. Como é um “ótimo escritor”, Paulo afirmou que o filósofo consegue ser um expert no mundo da linguagem, trazendo seguidores pela retórica enfática, mordaz, belicosa, que “atinge quem não tem a capacidade de julgar as referências”. Apesar das críticas, ele elenca dois bons fatores trazidos pelo guru: a divulgação e publicação de autores conservadores no país e a difusão do pensamento liberal num primeiro momento. O ex-aluno classificou Carvalho como intelectualmente fraco, apesar de conseguir influenciar muitos com argumentos virulentos: “Ele fala com o máximo de ênfase e o máximo de ambiguidade para, se errar, poder sair quanto antes”.

'Olavo não resistiu à tentação de estar certo'
A mesma crítica ao conhecimento de Carvalho fazem o mestre em filosofia Joel Pinheiro da Fonseca, que, apesar de jamais ter sido seu aluno, foi influenciado pelo professor nos anos 2000, e Francisco Razzo, escritor e doutor em filosofia que se desentendeu com o guru depois de ter negado, por ocasião de uma entrevista, que lhe devia “pedágio intelectual”.

Tendo conhecido Carvalho em 2004 como leitor das colunas e de seus livros, Fonseca chegou a publicar artigos de Carvalho em uma revista cultural que mantinha, além de cultivar interações on-line com o professor. Na época, o filósofo lhe pareceu interessante por ser alguém “fora do cânone”, tanto por sua formação, já que nunca cursou faculdade, quanto pelo conteúdo divulgado, “sem medo de argumentar, de uma forma debochada, mas muito assertiva”. A relação degringolou quando os dois se envolveram num debate sobre filosofia medieval, evidenciado em posts na internet, o que rendeu desavenças, segundo Fonseca. Ele contou que acusou Carvalho publicamente de sempre tentar diminuir seus oponentes de forma desleal e pouco respeitosa, com “xingos” — o professor então teria questionado a existência da palavra e, comprovado o erro na dedução, bloqueado Fonseca das redes sociais. O episódio é ilustrado por Fonseca para atacar a erudição de Carvalho: “Ele tem, sim, uma erudição, mas a aumenta muito além do que ela é. Por exemplo, ele não sabe grego, mas quer discutir Aristóteles com uma autoridade de quem já leu no original perfeitamente. Fora que há sempre espaço para alguma teoria da conspiração na boca dele, desde FHC com maçonaria até programação neurolinguística, entre outros”.

Razzo, que se define como um “conservador não militante” e diz ser um ex-simpatizante do professor, mas nunca olavete, acusou Carvalho de subverter ideias básicas quando se trata de conceitos filosóficos, cometendo erros que “estudantes do segundo ano de filosofia jamais fariam”. Como exemplo, cita o pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), dos maiores expoentes do idealismo alemão e frequentemente citado pelo guru em suas aulas no COF: “Para Kant, todo sujeito só conhece as interpretações dos objetos, esse é o cerne do idealismo. Olavo diz que, se Kant estivesse certo, você nem poderia ler os livros dele, uma vez que não seria possível conhecer a obra em si. Ele dizia: ‘Como pode se promover um pensamento que não é em si mesmo conhecido’? Erro básico. Kant partilha com seus leitores não a obra em si, mas as representações expressas na linguagem, enquanto um sujeito do idealismo. De tão básico, chega a ser vergonhoso que alguém afirme o contrário”, disse o escritor.

Outro problema de Carvalho, para Razzo, é o fato de defender a filosofia de forma unitária, de modo que o conhecimento também se expressasse nas práticas do indivíduo e em seus afazeres cotidianos. O escritor, por sua vez, afirma que a filosofia do ideólogo “pretende a síntese, mas não apresenta acabamento de pensamento unificado”, já que a conceituação de Carvalho passa por vários ramos de forma enfática e grandiosa, mas fragmentada. Para ele, “Olavo de Carvalho apenas não resistiu à tentação de estar sempre certo”.

A relação entre os dois azedou oficialmente depois de uma discussão no Facebook em 2014. Entrevistado por um blog, foi perguntado a Razzo sobre os pensadores que mais o influenciaram. Não citou Carvalho, apesar de então estar envolvido com a “nova direita”, o que despertou o rechaço do guru: num post, o professor escreveu que “é natural um estudante universitário só reconhecer a influência dos seus professores imediatos, sem ter em conta a atmosfera cultural criada por um antecessor”.

Esoterismo marca pensamento de guru
Razzo, Fonseca, Paulo e Velasco destacaram todos a fascinação que Carvalho exerce sobre os alunos, principalmente os mais jovens. Fonseca afirmou que a maior parte dos olavetes são pessoas à procura desesperada de certezas, ainda em processo de formação intelectual, que encontram abrigo nas vociferações do filósofo autoexilado. Já Razzo colocou o interesse na conta de uma desilusão intelectual — vindos de uma formação da qual não gostaram ou consideram atingida pelo esquerdismo, os alunos encontram em Carvalho alguém que não só sempre tem razão, como também elege um culpado para os desencantos acadêmicos passados. Paulo destacou a capacidade do guru de ter organizado intelectualmente parte da direita e “ter feito Bolsonaro possível”, já Velasco creditou o fato à capacidade de Carvalho em se apresentar como o único pensador existente num mar de lama dominado pela esquerda e pelo marxismo cultural. O professor de inglês Caio Rossi, no entanto, acredita que a principal influência no pensamento do professor, e, por consequência, no que é passado aos alunos, venha de sua ligação com o esoterismo.

Com a leitura de O imbecil coletivo, Rossi foi fisgado pelo texto de Carvalho e tornou-se um dos colaboradores do portal Mídia sem Máscara, site à direita do espectro político, fundado e mantido pelo professor em 2002. Ele afirmou que a capacidade do filósofo em citar e refletir sobre autores nunca discutidos nas universidades brasileiras era um enorme atrativo numa época sem internet. Tomou conhecimento, por esse meio, dos filósofos René Guénon e Frithjof Schuon, expoentes do perenialismo, ou tradicionalismo, linha de pensamento que defende a existência de uma verdade absoluta e transcendental comum às principais religiões do planeta. Schuon (1907-1998), explicou Rossi, aproximou-se do sufismo, ala esotérica do islã, tendo fundado uma tarica, ou confraria islâmica, da qual Carvalho fez parte e influenciou fortemente nos anos 80, antes de declarar-se católico: “Esses grupos têm a ideia de um resgate da ‘tradição’. O que eles querem construir é o retorno de uma mentalidade conservadora religiosa, porém coordenada por uma elite esotérica gnóstica. Tendo uma posição mais cristã e contrária a esse tipo de perspectiva, comecei a rejeitar”, disse Rossi.

Ex-estudante de psicologia e filosofia, Rossi afirmou que seu interesse por esses autores citados por Carvalho aconteceu porque resolveu, de fato, lê-los. A desilusão com o guru veio pela análise detalhada dessas leituras, o que lhe tomou tempo e energia: “Era muitas vezes uma interpretação pessoal do Olavo, e não raro as posições dele contrariavam as dos autores citados”. Rossi afirmou que chegou a conversar algumas vezes pessoalmente com Carvalho sobre o assunto, até que resolveu criticá-lo on-line. Como resposta, recebeu um vídeo, em que foi escrachado, além de ter sofrido ameaças, contou.

Os ex-simpatizantes de Carvalho veem de diferentes formas a relação dele com o governo Bolsonaro. Se Paulo disse “se perguntar o que quer” o guru da nova direita, Razzo afirmou que há um “projeto de poder”, mais importante que qualquer projeto de formação intelectual. Já Fonseca, que em 2015 já alertava para o crescimento da influência da “ala olavista”, agora disse que a questão é quanto o governo pode dar ouvidos a ela, principalmente via Eduardo Bolsonaro, olavete convicto. Rossi, por sua vez, expandiu os limites dessa influência: “O Olavo sabe exatamente aonde ele quer ir e, no meio do caminho, tenta se adequar à tendência. A relação dele com Bolsonaro é acidental. Já com Bannon, não, mas de outro nível: estão construindo algo”, completou. Olavo de Carvalho preferiu não conceder entrevista a respeito das críticas dos ex-simpatizantes.