domingo, 27 de janeiro de 2019

Como um deficiente cognitivo como Jair Bolsonaro torna-se presidente da república?

Rebaixamento dos padrões de inteligência da Revolução Industrial 4.0 criou Bolsonaro


No momento em que o presidente eleito Jair Bolsonaro saiu da sua zona de conforto e se expôs em cenários não controlados como o Fórum Econômico de Davos ou a tragédia humano-ambiental de Brumadinho/MG, revela-se a sua condição limítrofe, com sérias deficiências cognitivas. E diante de pesquisas de opinião cujos resultados se colocam contra as principais linhas da sua “plataforma de governo”, muitos questionaram: mas afinal, como ele foi eleito? Discurso fascista? Anti-petismo? Há um fator ainda não tematizado - as relações intrínsecas entre a chamada “alt-right” (direita alternativa) e as redes sociais não é um mero acaso ou oportunismo. Personagens como Bolsonaro ou Trump são produtos das tecnologias de convergência da Revolução Industrial 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos e redes sociais estruturada na noção algorítmica de “Inteligência Artificial”, que consiste em rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

Em postagens anteriores, este humilde blogueiro vem apontando para a importância do fator da canastrice na política – acostumados com simulacros televisivos e fílmicos, a opinião pública veria nos candidatos canastrões, que emulam personagens ficcionais, políticos verossímeis ou críveis... por lembrarem personagens da ficção.  Trump e o reality show televisivo "O Aprendiz" ou Doria Jr. e o meme do “Rei do Camarote”. E as “mitagens” de Bolsonaro, iniciadas como um personagem bizarro de humor em programas como Pânico na TV ("as mitagens do Bolsonabo”) ou no quadro “O Povo Quer Saber” no CQC da Band seriam os exemplos mais atuais.

Mas o fenômeno da canastrice na política ainda está associado às mídias clássicas de massas como Cinema e TV.

Bolsonaro e a alt-right vão além disso: também são produtos das tecnologias de convergência da RI 4.0. Tecnologias que criaram uma cultura de aplicativos assentada sobre a noção dúbia de “inteligência artificial”. 

Rebaixamento dos padrões de inteligência

Dúbia, porque, para muitos pesquisadores, a noção de “inteligência” trabalhada pelos cientistas computacionais e designers de softwares e aplicativos pressupõe uma autoabdicação humana: rebaixar os padrões do que entendemos como “inteligência”, enquanto os usuários se tornam simples processadores de informação.

Por exemplo, segundo o engenheiro computacional Jaron Lanier, para acreditarmos que aplicativos e algoritmos são realmente “inteligentes” temos que obrigatoriamente reduzir os nossos padrões de inteligência humana – o exercício diário de tratar máquinas ou aplicativos, como por exemplo Waze ou Google Maps, como formas de inteligência reais. O que resulta num senso de realidade mais flexível.

Isso sem falar nos aplicativos de relacionamentos que reduzem as relações afetivas à probabilidade estatística. Chama-se isso de “inteligência emocional” – a capacidade de adaptação irrefletida em um ambiente como forma de sobrevivência emocional.

Inteligência coletiva, nuvem, algoritmo ou qualquer outro objeto cibernético é aceito como uma super-inteligência por que reduzimos os nossos padrões e expectativas sobre a inteligência. As pessoas se degradariam o tempo todo para fazerem os aplicativos parecerem espertos. 

Por exemplo, a ideia de amizade nas redes sociais é vulgarizada e reduzida. Uma pessoa se orgulha em dizer que possui milhares de amigos no Facebook. Essa afirmação só poderia ser verdadeira se a ideia de amizade for restrita. Ignora-se que a verdadeira amizade deve expor à estranheza inesperada do outro.

Talvez não seja mera coincidência ou determinismo tecnológico (Trump e Bolsonaro apenas teriam sido espertos em se aproveitar das mídias em ascensão no momento, assim como Goebbels se apropriou do cinema e rádio à sua época) essa relação íntima entre a atual direita alternativa e as redes sociais como locus privilegiado para a guerra semiótica.

Mais do que o discurso fascistoide, beligerante e que apela mais ao fígado do que à mente dos receptores, a normatização ou verossimilhança de uma figura tão limítrofe como Bolsonaro (achar “aceitável” o capitão da reserva, com explícitas limitações cognitivas, ser um candidato a chefe de Estado), está sincronizada a esse projeto hipertecnológico que consiste em rebaixar o conceito de “inteligência”.

Uma das consequências mais importantes da precarização do conceito de inteligência com a cultura dos aplicativos e das redes sociais é, principalmente, o rebaixamento das expectativas sobre o que seja um debate político ou de ideias. E a confusão entre uma importante categoria civilizatória: a distinção entre público e privado.
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O clã Bolsonaro apenas foi o meio para que o projeto neoliberal (ruim de voto em qualquer eleição democrática) passasse incólume numa campanha eleitoral sem debates. O vice General Mourão é o núcleo duro militar e racional que garantirá a permanência do projeto da pulverização de direitos e garantias sociais com as “reformas” visadas pela “Casa Grande” (banca financeira e grande mídia).

E Bolsonaro, assim como Trump e tantos outros tantos “líderes” que ainda virão pela cruzada internacional da nova direita populista nacionalista comandada pelo norte-americano Steve Bannon, foi apenas um avatar criado para surfar na cultura de redes sociais e aplicativos.

A precarização das noções de inteligência e política é o meio para hackear a Democracia. Enquanto no mundo real, fora das bolhas digitais, as políticas de controle e extermínio de garantias e direitos sociais e econômicos passam sem nenhum debate público e inteligente.
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