O golpe atual parece mais patético do que o realizado em 2002. Neste, a oposição sequer conseguiu ocupar o Palácio de Miraflores. Ele tende a não dar certo. E por isso uma guerra contra a Venezuela operada pelos EUA usando bases no Brasil não pode mais ser descartada.
A Venezuela vive uma nova tentativa de golpe neste 23 de janeiro. O presidente do Congresso, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente da República e imediatamente foi reconhecido como tal pelo governo Trump e por Bolsonaro. A autoproclamação se deu numa manifestação de oposicionistas.
Não é o primeira vez que isso acontece. Em 11 de abril de 2002 o ex-presidente Hugo Chávez viveu algo parecido. Foi tirado do Palácio de Miraflores por militares insubordinados e ficou preso até o dia 14. O então presidente da federação das empresas do país, um tipo de Fiesp venezuelana, Pedro Carmona Estanga, foi escolhido como sucessor de Chávez e também se autoproclamou presidente. Neste caso, numa sala do Palácio. Mas não durou dois dias no cargo.
O golpe atual parece mais patético do que o outro. Porque a oposição não conseguiu sequer tirar Maduro de Miraflores. Ao contrário, há pouco ele fez um discurso forte mandando ao “carajo os yankes” e informando que rompia ali as relações diplomáticas com os EUA e o seu governo. E deu 72 horas para que todos os americanos saíssem do país.
Ao mesmo tempo as manifestações governistas parecem maiores do que as da oposição. Em abril de 2002, era ao contrário. Eram imensas as marchas contra Chávez.
A diferença é que há quase 17 anos o governo brasileiro, comandado por Fernando Henrique Cardoso, não se associou ao golpismo de Bush. Desta vez, Bolsonaro participou da articulação do golpe.
Mas por outro lado, nem o governo do México e nem o da Espanha se associaram a este novo intento. E Maduro conta com apoio militar da Rússia para resistir.
Este é o risco desta tentativa alucinada de golpe. Guaidó não tem condições de mobilizar internamente forças militares e sociais para derrubar Maduro. E por ter tentando o golpe, será preso.
O que isso pode gerar? Dificilmente Trump e Bolsonaro aceitarão essa derrota política. E o que parecia um devaneio, pode se concretizar. Está ligado o alerta vermelho de uma guerra na América do Sul. Bolsonaro e Trump estão envoltos em problemas internos e podem ver neste conflito uma saída para as suas crises.
Se isso vier a acontecer, a esquerda brasileira será perseguida em nome do Brasil acima de tudo. Não se pode mais descartar essa hipótese. Este golpe tem cheiro de ensaio para isso. Nada mais. Não deve prosperar em si mesmo.
Este é o verdadeiro risco.
Renato Rovai
Jornalista, mestre em Comunicação pela ECA/USP e doutor pela UFABC. Mantém o Blog do Rovai. É editor da Fórum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário