Ranier Bragon
Todo governo em seu início é beneficiado pela chamada “lua de mel” de que fala a surrada metáfora conjugal. Mas é preciso muito amor no coração, muita candura de espírito para considerar plausíveis as (não) explicações dadas até agora por Jair Bolsonaro sobre o suspeitíssimo caso de seu filho Flávio e do ex-motorista deste, Fabrício Queiroz.
Adota-se até aqui a covarde estratégia de cortes dessa e de todas as épocas de empurrar para auxiliares em desgraça —incluindo filhos— a responsabilidade exclusiva por desatinos. A velha tática do avestruz, a de “eu não tenho nada a ver com isso”.
Perdoem-me os embevecidos pela lua de mel, mas infelizmente Jair tem muita coisa a ver com isso.
O presidente recebeu na conta da mulher, Michelle, R$ 24 mil de Queiroz. Também empregou no gabinete em Brasília uma filha desse motorista, que repassava quase todo o salário ao pai e cuja atividade identificável era a de personal trainer no Rio.
A explicação de Jair Bolsonaro, para um caso, é a de que o dinheiro na conta da mulher era parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que ele fez a Queiroz. No outro caso, nem ele diz saber. Que perguntem ao seu chefe de gabinete, figura especialista em se manter calada e quase nunca atender jornalistas.
É plausível Bolsonaro emprestar R$ 40 mil a um sujeito que movimentava milhões, segundo o Coaf? É plausível que esse milionário fizesse o suposto reembolso não de uma vez, mas em uma espécie de carnê das Casas Bahia (dez parcelas)? É plausível o presidente não ter mostrado sequer um extratozinho bancário do suposto empréstimo? É plausível o pagamento ter ido para a mulher sob o argumento de que o marido, que recebia mensalmente R$ 33,7 mil na conta, não ter tempo de movimentar dinheiro? É plausível Bolsonaro não saber o que a filha de Queiroz fazia em seu gabinete? E, em não sabendo, não procurar se informar nem divulgar?
Que me perdoem os corações puros e generosos. Essas explicações podem ser tudo, menos plausíveis.
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