Luis Felipe Miguel
A divulgação do estapafúrdio manifesto tem como objetivo evidente insuflar a base bolsonarista contra o que possa existir de Estado democrático de direito no país: respeito à lei, independência dos poderes, vigência de direitos.
Mas qual é o objetivo: fortalecer o ex-capitão, mostrando que ele mobiliza uma militância aguerrida grande o suficiente para inviabilizar outro governo, impedindo que a parcela cada vez maior da classe dominante insatisfeita com seu desempenho o apeie do poder? Ou pavimentar o caminho para um golpe pessoal, que lhe permita instaurar uma ditadura aberta e mergulhar o Brasil de vez no desvario?
Há dois fatores que precisam ser lembrados para tentar entender esse movimento de Bolsonaro. Um, evidente, é o caso Queiroz, que avançou com a quebra dos sigilos fiscais e promete logo tornar insustentável não apenas a posição de Flávio, mas de todo o clã.
O outro fator é a massiva mobilização da quarta-feira. Até então, com a oposição desorientada e com baixíssima capacidade de reação, parecia que a política brasileira seria protagonizada por três grupos: o clã Bolsonaro com os olavistas, os generais no governo e o centrão sob a liderança de Rodrigo Maia, guindado ao improvável papel de guardião da república.
O 15M mostra que isso está mudando e que o campo democrático está de novo entrando no jogo. Ao compartilhar o manifesto conspiratório neste momento, Bolsonaro passa o recado de que é necessário fechar o regime para impedir que as forças derrotadas com o golpe de 2016 retornem à cena.
Seja qual for a interpretação, está ficado claro que o regime híbrido inaugurado pelo golpe tem dificuldade para se sustentar a longo prazo. Ou se aprofunda a transição à ditadura ou teremos que reencontrar o caminho da democracia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário