O oncologista reflete sobre o resultado desastroso da crise de saúde no país e diz que Bolsonaro e os médicos que apoiam tratamentos não comprovados contra a doença são coautores da tragédia
sábado, 3 de abril de 2021
Drauzio Varella: o que a pandemia me ensinou sobre os irresponsáveis do Brasil
quarta-feira, 31 de março de 2021
Quando acaba a pandemia?
Quando acaba a pandemia? Do @drauziovarella , no Instagram. pic.twitter.com/KJQJw3wkPi
— Rita Machadø (@nesimachado) March 31, 2021
terça-feira, 30 de março de 2021
"Bolsonaro tem que responder criminalmente pelo que tem feito", diz Drauzio Varella
‘Ninguém tem ideia do caos nas UTIs’, diz Drauzio
Para o oncologista, o Sistema Único de Saúde é o maior programa de distribuição de renda do país, porque permite a qualquer pessoa ter acesso a procedimentos de alta complexidade
Por Leila Souza Lim
“Meu sentimento hoje é de revolta”, diz angustiado o médico Drauzio Varella, ao falar do campo arrasado que é a pandemia no Brasil. Depois de ver na última semana o país firmar posição no topo da curva de casos e baixas de vidas por covid-19 no mundo, o oncologista salienta que evitar mortes agora exige esforços que superam a capacidade hospitalar nacional e, no curto prazo, mesmo os de vacinação.
O oncologista frisa que a situação é de caos e não está mais circunscrita à covid-19. “Nossos hospitais entraram em colapso, todos eles, no país inteiro. E esse colapso não atinge só as pessoas com covid, mas também as que têm outras doenças”, afirma.
O médico cita a situação no Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos maiores centros médicos do país para cirurgias, destinado a tratamento de casos graves. A média de pedidos de internação ao longo de sete dias até quinta-feira passada, lembra ele, era de 364 por dia, dos quais 110 de pacientes graves não covid e 254 em estágio agudo da doença provocada pelo coronavírus.
Em tom de desabafo, lamenta que muitos ainda só tomem essa consciência quando perdem entes próximos ou tentam em vão vaga em UTIs nas unidades públicas, onde pessoas já experimentam a agonia de despertar da sedação intubadas por falta de anestésicos.
“O controle da pandemia escapou ao alcance dos serviços de saúde. Ninguém tem ideia do caos que são as UTIs hoje. Colegas na linha de frente veem acabar os medicamentos para a intubação. Agora, imagina você acordar com um tubo na garganta, sem entender nada”, relata.
“As pessoas não têm noção do que seja uma Unidade de Terapia Intensiva lotada, as equipes sem tempo, precisando reanimar um paciente, enquanto outro chora com dor”, continua o especialista, para quem a única saída agora é convencer a população de que esse combate está nas mãos de cada cidadão. Segundo Drauzio, nem mesmo o recente reposicionamento do governo em relação às vacinas traria resposta imediata.
Depois de mais de um ano desprezando o trabalho dos laboratórios e medidas sanitárias, o presidente Jair Bolsonaro (Milícia - RJ) se viu sob forte pressão no campo político e prometeu na semana passada o “ano da vacinação dos brasileiros contra a covid-19”. Na visão de Drauzio Varella, contudo, perdeu-se o timing para conter a segunda onda da covid-19 no curto prazo com imunização em massa, e a medida nunca poderia ter sido a principal aposta.
Razão de queixas diárias de técnicos em saúde, a vacinação progride claudicante no Brasil pelo fato de o Executivo federal não ter dado crédito à ciência, enquanto o resto do mundo corria para assegurar doses.
“Vacinação? Esquece, é como se as vacinas não existissem [neste momento, para conter o agravamento da doença]. Pensa comigo, se você pega o vírus hoje numa festa, os primeiros sintomas virão cinco, seis dias depois. Aí você perde o olfato, fica enjoada, sente dor no corpo, a primeira semana vai ser mais ou menos bem para todo mundo. As complicações vão surgindo pelo oitavo, nono, décimo dia. Não se morre de cara... Em grande parte dos casos, a pessoa morre quatro semanas depois de pegar o vírus”, observa o oncologista.
Para ele, a crise sanitária chegou a tal ponto de desgoverno que só uma grande mobilização em torno do isolamento social pode impedir que o país protagonize muito em breve a maior das catástrofes entre as nações atingidas. E para quem ficou assombrado ao ver o Brasil cruzar a barreira de 300 mil registros oficiais de óbitos na semana passada, Drauzio resigna-se por não ter perspectivas mais otimistas.
“Nesse ritmo, é questão de uns 70, 75 dias. Já no fim de maio, chegaremos às 400 mil mortes no Brasil. Como a saúde vai dar conta de uma coisa dessas? Impossível”, diz.
“Se conseguíssemos vacinar todos os brasileiros no fim de semana, o que ia acontecer com a mortalidade? Nada, absolutamente nada, porque o número de mortes conta a história da epidemia do passado. E nós teríamos pelo menos no mês de abril o mesmo número de óbitos, como se não houvéssemos vacinado. Agora, você imagina com essa imunização incipiente, a conta-gotas...”, comenta o médico.
O médico faz sua parte para informar ao máximo sobre a doença e os riscos. Mas argumenta que nem ele nem colegas médicos ou cientistas podem alterar a realidade sem que lideranças do país mudem as mensagens e o curso das políticas de enfrentamento à pandemia adotadas desde março de 2020.
“Negacionismo é uma palavra muito leve para caracterizar essas pessoas, isso é fingir que algo não existe. O que fizeram foi tomar atitudes para disseminar a epidemia. Agiram ativamente, comandados pelo presidente da República, que é o maior responsável por tudo o que estamos vendo”, afirma o especialista.
Drauzio diz reconhecer que uma nação com mais de 50 milhões de pessoas empobrecidas e acima de 10 milhões na pobreza extrema não poderia fazer um lockdown de fato. “Então já partimos da situação de um país com tremenda desigualdade social, uma das maiores do mundo, que não ia ter condição de fazer isolamento social como o fizeram países ricos da Europa e Ásia.”
Mas o médico faz questão de reafirmar, porém, que a aceleração dos indicadores de casos e mortes contou com colaboração decisiva do presidente da República. Segundo ressalta ele, Bolsonaro partiu do princípio de que a economia tinha que ser preservada e que as pessoas tinham que trabalhar. Para Drauzio, o mais grave foi que presidente não só tratou o distanciamento social como algo desimportante, mas deu exemplo contrário às medidas de proteção.
“Sim, ele. Ao não usar máscara, ao provocar aglomerações. E tem feito isso ininterruptamente durante toda epidemia, desde o primeiro caso no Brasil, até as 300 mil mortes.” Ao comentar que leu e gostou do manifesto assinado por economistas e banqueiros instando o governo federal a coordenar um plano nacional de combate à pandemia, faz ressalva para dizer que achou a atitude tardia. “Tem um problema de timing, um ano para fazer isso?”, indaga.
“O que paralisa a economia é a epidemia. Cinco montadoras deram férias coletivas para seus funcionários. Por que fazem isso? Porque temos uma epidemia descontrolada, e elas não têm condições de dar segurança aos funcionários no trabalho.”
É impossível não notar, em mais de 40 minutos de conversa, que o médico que sempre defendeu qualidade de vida, os mais pobres e o acesso universal à saúde não pronuncia uma só vez o nome do presidente. E preocupado por demonstrar irritação, o oncologista faz mais de uma pausa para pedir desculpas pela contrariedade com o descaso.
Ele faz alusão ainda à fala do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que afirmou que estava “apertando o sinal amarelo”, citando “erros primários, desnecessários e inúteis” de governos, embora sem especificar diretamente a quem se referia. “Agora? Foi necessário morrerem 300 mil pessoas para eles apertarem o botão amarelo? Então estava verde?”, questiona Drauzio.
Se fosse consultado sobre o que o governo deveria fazer de imediato, o médico diz que recomendaria ao presidente Bolsonaro que primeiramente pedisse desculpas por seus erros. “Ele deveria aparecer diante da nação e pedir desculpas, dizer que estava completamente errado, e que é preciso fazer distanciamento social, coisa que ele não vai fazer. E esquecer essa bobagem de tratamento precoce.” Quase ao fim da entrevista, porém, o oncologista e escritor endurece a opinião sobre o chefe de Estado: “Eu não queria falar com o presidente, não. Porque dizer a ele para pedir desculpas é muito pouco. Acho que ele tem que responder criminalmente pelo o que tem feito. Você não pode causar uma hecatombe, uma catástrofe dessa num país, e depois dizer: ‘olha, me desculpe, eu me enganei’”.
sábado, 27 de março de 2021
A epidemia fugiu do controle, e só podemos contar com nós mesmos
Brasileiros decretaram o fim do coronavírus em novembro sob a justificativa de que ninguém aguentava mais ficar em casa
Os brasileiros decretaram o fim da epidemia, em novembro do ano passado. Os bares lotaram, multidões nas praias, famílias reunidas no Natal e no Ano-Novo, festas clandestinas à luz da noite espalhadas pelas cidades, Carnaval.
A justificativa para esse comportamento estúpido era a de que ninguém aguentava mais ficar em casa.
Em janeiro, chegaram as férias. Os hotéis dos recantos turísticos voltaram a receber hóspedes, as ruas das metrópoles se encheram de gente aglomerada sem máscara e de ônibus e trens superlotados pelos que não tinham alternativa senão trabalhar.
Alheio a tudo, o presidente da República passeava de jet ski, cumprimentava admiradores e posava sem máscara para selfies, o Ministério da Saúde distribuía o kit Covid, deputados e senadores tentavam aprovar uma emenda à Constituição para livrá-los da prisão em flagrante e faltava coragem à maioria de governadores e prefeitos para decretar medidas rígidas de afastamento social.
Os médicos, os sanitaristas e os epidemiologistas que alertavam para as dimensões da tragédia em gestação eram considerados alarmistas e defensores de interesses políticos escusos.
Deu no que deu: 300 mil mortos, hospitais com UTIs sem leitos para oferecer aos doentes graves, milhares de pacientes morrendo à espera de uma vaga.
O que acontecerá nas próximas semanas? Chegaremos a 400 mil mortes?
Os hospitais brasileiros estão em colapso. Os infectados foram tantos que abrir mais leitos em UTI é enxugar gelo. Os gestores investem em equipamentos e profissionais para abrir vagas que serão ocupadas em menos de 24 horas.
O número de óbitos em casa e nas unidades básicas de saúde despreparadas para o atendimento é enorme. Os estoques de medicamentos para a sedação dos doentes entubados chegam ao fim. Começam a faltar até corticosteroides e anticoagulantes, medicações de baixo custo que o Ministério da Saúde não se preocupou em adquirir.
As vacinas perderam o "timing" para conter a escalada atual. Ainda que fosse possível vacinar todos os brasileiros neste fim de semana, as mortes continuariam a se suceder da mesma forma, pelo menos durante o mês de abril e uma parte de maio.
Vejam a situação de São Paulo, o estado que conta com o sistema de saúde mais organizado do país. No pico da primeira onda, dispúnhamos de cerca de 9.000 leitos de UTI, agora temos 14 mil, lotados. No dia 17 de março havia pelo menos 1.400 pessoas à espera de internação em UTI.
O maior complexo de saúde do Brasil, o Hospital das Clínicas, recebia, em fevereiro, a média de 56 pedidos de internação; nos últimos sete dias foram 364, dos quais 110 estavam em estado grave por outras doenças e 254 por Covid.
Se esse é o panorama no estado mais rico, caríssima leitora, dá para imaginar o caos no resto do país?
Parece que nossos dirigentes despertaram para as dimensões da tragédia que se abateu sobre nós. Empresários e economistas enviaram um recado duro ao presidente, pena que tardio. O ministro da Economia reconheceu que sem vacinação a economia não se recupera. Só agora percebeu? Por que não disse nada em julho, quando nos foram oferecidos os 70 milhões de doses da vacina da Pfizer que o Ministério da Saúde rejeitou? Receio de magoar o chefe?
O presidente da Câmara declarou que "tudo tem limite" e que apertava "o botão amarelo". Amarelo, excelência? Enquanto 300 mil famílias perdiam entes queridos, o sinal estava verde?
Deprimente ver os malabarismos circenses do novo ministro da Saúde, ao justificar que ficava a critério da liberdade milenar do médico prescrever o tratamento precoce com drogas inúteis. Como assim, ministro? Enquanto a medicina foi praticada como o senhor defende, os colegas que me antecederam receitavam sangrias e sanguessugas.
Finalmente, sob pressão, o presidente convocou os três Poderes para um convescote político, com o pretexto de criar um comitê para gerir a crise sanitária. Incrível, não? Imaginar que uma equipe comandada por ele será capaz de nos tirar dessa situação é acreditar que mulher casada com padre vira mula sem cabeça.
A consequência mais nefasta de tantos desmandos, caro leitor, foi a de que a epidemia fugiu do controle do sistema de saúde. Daqui em diante, só podemos contar com nós mesmos.
domingo, 28 de fevereiro de 2021
Transmissão da Covid deve persistir em várias regiões do mundo por anos
A dificuldade de erradicação não significa que as mortes e o isolamento continuarão na escala atual
domingo, 14 de fevereiro de 2021
A vacinação contra o coronavírus virou uma bagunça no Brasil
Tem cabimento vacinar terapeutas e personal trainers antes dos mais velhos, que representam 70% dos mortos?
domingo, 31 de janeiro de 2021
Bolsonaro é o grande responsável pela disseminação da epidemia no Brasil
Não é por acaso que somos o segundo país com o maior número de mortes
A explicação é que não há como explicar.
A formação em ciência exige humildade para analisar opiniões e ideias opostas às nossas, o contraditório é parte intrínseca do pensamento científico. Não fosse assim, até hoje acharíamos que a Terra é plana e que o Sol foi criado para girar em torno dela.
Em janeiro do ano passado, quando o novo coronavírus atormentava apenas os chineses, tive a impressão de que os casos de maior gravidade ficariam restritos aos mais velhos. Para boa parte dos especialistas a doença teria mortalidade semelhante à das gripes.
Hoje, eu me penitencio por ter feito essa avaliação apressada. Lembrar que ela foi influenciada por uma palestra do doutor Anthony Fauci, uma das maiores autoridades em moléstias infecciosas dos Estados Unidos, não me consola.
Foi em fevereiro, quando a doença semeou o terror nas UTIs da Itália, que o mundo entendeu a gravidade da ameaça. Imediatamente, os países adotaram medidas rígidas para reduzir a movimentação nas cidades e insistiram na necessidade do uso de máscaras protetoras.
No Brasil, o presidente da República contraindicou com veemência essas recomendações. O argumento foi o de que elas destruiriam a economia e matariam de fome um número maior de brasileiros, do que a doença seria capaz de fazê-lo.
Achei que ele estava errado. Primeiro, porque não havia dados para estimar o impacto de uma improvável epidemia de fome na mortalidade da população; depois, porque a história das epidemias nos mostra serem elas as responsáveis pelas repercussões negativas na economia, não o isolamento social. Enquanto circula um agente infeccioso potencialmente letal, é impossível convencer as pessoas a gastar dinheiro para estimular o crescimento econômico.
Considerei, no entanto, a possibilidade de que o empenho presidencial na defesa de estratégias para manter os empregos pudesse ter alguma lógica, hipótese abandonada quando o vi pela primeira vez sem máscara promovendo aglomerações, para delírio de apoiadores fanáticos. Se estivesse interessado em proteger a economia, de fato, qual o sentido de incentivar a adoção de comportamentos que disseminam o vírus? Por que razão não diria aos brasileiros: saiam de casa para trabalhar, mas usem máscara e evitem aglomerações?
Para enfrentar o medo de contrair o vírus repetiu à exaustão que não deveríamos acreditar nas “conversinhas” dos jornalistas, que a doença só matava os “bundões”, que deixássemos de ser “maricas” e que contávamos com a cloroquina, remédio milagroso quando administrado nas fases iniciais da doença. Não faltaram médicos que não têm o hábito de estudar ou formação científica suficiente para avaliar a qualidade dos trabalhos publicados, para lhe dar razão e preconizar a distribuição do inacreditável kit Covid.
A queda de dois ministros da Saúde que se negaram a adotar a cloroquina como política de combate à epidemia não bastou para evitar que a farmácia do Exército fosse obrigada a investir recursos preciosos na importação da droga, a preços inflacionados. A cegueira foi de tal ordem que deixamos o ex-presidente dos Estados Unidos desovar aqui os milhões de comprimidos encalhados que os médicos americanos se recusaram a prescrever, para não correr o risco de processos por más práticas.
Quando o mundo entendeu que estávamos próximos da obtenção das primeiras vacinas e os países iniciaram a corrida para comprá-las, o Brasil não estava entre eles.
Pelo contrário, o presidente se empenhou em afirmar que não seria vacinado, que ninguém era obrigado a fazê-lo contra a vontade e que os efeitos colaterais poderiam ser “terríveis”. Contra a visão dos economistas —inclusive a de seu ministro— de que a vacinação é a única forma de reativar a economia, insistiu em boicotar a imunização em massa com argumentos de fazer inveja aos grupos antivacina mais ignorantes.
Esse boicote sistemático justifica mais de 220 mil óbitos? Ele é o único culpado? É claro que não, a culpa é de muitos, especialmente dos egoístas estúpidos que se aglomeram sem máscara nos bares e nas festas. No entanto, pela natureza do cargo que ocupa, os absurdos que fala e a indignidade dos exemplos que dá, o presidente da República tem sido o grande responsável pela disseminação da epidemia. Não é por acaso que somos o segundo país com o maior número de mortes.
domingo, 25 de outubro de 2020
Fomos e seremos um experimento aleatório, único, da natureza
Isso acontece mesmo que venhamos a descobrir que o Universo conhecido é só um dos trilhões de outros espalhados por aí
É difícil contar o número de estrelas no firmamento. Primeiro, porque são muitas; depois, como estar certos de que encontramos todas?
Esse problema é discutido no livro "Space at the Speed of of Light", escrito por Rebecca Smerthurst, astrofísica da Universidade de Oxford.
Para o cálculo do número de estrelas existentes nas galáxias que compõem o Universo, a autora se concentrou nos dados das fotografias obtidas pelo Hubble Space Telescope, em órbita ao redor da Terra desde 1990, com a função de colher imagens de estruturas desconhecidas ou pouco observadas, para além da Via Láctea.
Os astrônomos têm usado essas informações, para perscrutar o espaço mais escuro do Universo conhecido: a constelação Fornax, localizada no hemisfério sul.
A partir do número de galáxias presentes nessa constelação, eles estimam que no Universo haveria no mínimo 100 trilhões de galáxias.
Como cada uma contém em média 100 bilhões de estrelas, o número total de estrelas seria da ordem de 100 sextilhões, ou seja, 100.000.000.000.000. 000.000.000.
Imagine, leitora, que haja condições favoráveis ao surgimento da vida apenas em um, de cada quintilhão desses corpos celestes. Existiriam, então, algumas centenas de milhares de planetas na vastidão do espaço, em que a competição das espécies pelos recursos e a seleção natural poderiam levar ao aparecimento de seres inteligentes.
A existência deles responderia à eterna questão filosófica: estamos sozinhos no Universo?
Nossos ancestrais mais distantes, as primeiras bactérias, surgiram assim que a Terra esfriou o suficiente, há 3,8 bilhões de anos. Portanto, o aparecimento aleatório da vida não parece fenômeno tão difícil de ocorrer.
No entanto, das 50 bilhões de espécies que um dia viveram ou ainda habitam nosso planeta, só uma levou ao gênero Homo, 2,5 a 3,2 milhões de anos atrás. Nesse gênero, sobreviveu só o Homo sapiens, espécie capaz de elaborar raciocínios abstratos, dominar a linguagem, a resolução de problemas complexos e a composição de sinfonias. Na história da vida na Terra, o Homo sapiens ocupa 0,005% do tempo.
A evolução não tem propósito algum, não segue qualquer linha na direção de determinado objetivo, não olha o interesse da espécie, mas o do indivíduo mais apto a espalhar seus genes.
As bactérias, seres unicelulares sem nenhuma atividade semelhante ao pensamento mais rudimentar, constituem o maior sucesso evolutivo de todos os tempos: 3,8 bilhões de anos. E ainda estão por aqui, sem dar sinal de que serão extintas ou deixarão de ser o que sempre foram: seres unicelulares.
Se a criação da vida pode ser repetida com relativa facilidade em outros planetas, o aparecimento da alta inteligência deve ser fenômeno muito raro, uma vez que apenas uma espécie entre 50 bilhões desenvolveu essa habilidade.
Imaginar que em algum das centenas de milhares de planetas habitados por alguma forma de vida surgiriam seres com capacidade cognitiva tão semelhante à nossa que tornasse viável a comunicação implicaria admitir não só que as condições geológicas e climáticas tenham sido idênticas às da Terra, mas que as pressões ecológicas estiveram sincronizadas às nossas durante milhões de anos, de modo a repetir as incontáveis mutações sofridas por nossos ancestrais, na longa jornada da unicelularidade, à vida multicelular que levou aos animais vertebrados, aos mamíferos e ao homem.
Vamos citar apenas um, entre centenas de milhares de eventos ocasionais que conduziram ao Homo sapiens, por mecanismo de seleção natural.
Se, 65 milhões de anos atrás, não caísse um meteoro no México, os mamíferos estariam limitados até hoje a grupos de pequenos roedores noturnos, apavorados pela presença de dinossauros na vizinhança. Qual a probabilidade de ocorrerem eventos decisivos como esse, na mesma sequência temporal, em outro planeta?
Vamos imaginar que, a despeito da alta improbabilidade, identificássemos extraterrestres em tudo semelhantes a nós; digamos, com 99% de identidade genética.
Ainda assim, estaríamos sós, não haveria comunicação possível. Esse é o número de genes que compartilhamos com os chimpanzés.
Fomos e seremos um experimento aleatório, único, da natureza, mesmo que venhamos a descobrir que o Universo conhecido é apenas um dos trilhões de outros espalhados pelo espaço infinito.
Drauzio Varella
Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.
domingo, 30 de agosto de 2020
No vale-tudo da internet, conhecimento científico e opinião pessoal virou a mesma coisa
Ativistas antivacina, terraplanistas, charlatães e defensores de teorias conspiratórias divulgam ideias estapafúrdias como se tivessem o nível de conhecimento de cientistas brilhantes
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Drauzio Varella fala sobre o caso da menina estuprada em 2009 e perseguida pelos cristãos de Pernambuco
domingo, 16 de agosto de 2020
Tragédia brasileira não tem data para acabar
O aguardado pico da curva, que seria seguido de queda abrupta do número de infectados, infelizmente não aconteceu
domingo, 2 de agosto de 2020
As consequências nefastas do ódio
O ódio não admite hesitações, interpretações alternativas ou neutralidades, quem não estiver conosco é contra nós
domingo, 24 de maio de 2020
Terrível pesadelo
No auge da maior crise sanitária do último século, assistimos à negação da realidade pelas autoridades federais
Drauzio Varella
Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.
domingo, 2 de fevereiro de 2020
Quando vi pela 1ª vez João de Deus, disse a minha mulher: é bandido
Em pleno século 21, como podem crer em curas mirabolantes e em personagens tão bizarros quanto esse senhor?