Algumas considerações sobre o Leitecondensadogate.
A primeira e mais importante é que não virou um "gate". Não vejo JN mas leio a repercussão. Ignoraram. Esta manhã, a versão on-line dos principais jornais e os principais portais também passam pano, só vi uma chamada meia bomba no Estadão sobre o Portal da Transparência ter ficado fora do ar e alguns colunistas do Uol.
Por um lado, entendo a necessidade de cautela. Quando a coisa pipocou nas redes via Metrópoles pareciam ser gastos pessoais do inominável, mas eram do governo federal. Não há nada de ilegal, antiético ou imoral nas forças armadas oferecerem pudim no rancho. Por outro... pelo amor de Deus. Não precisou de 12 horas para internautas mais safos levantarem na rede indícios de superfaturamento, ausência de licitação e de que fornecedoras envolvidas em negócios de milhões careciam de credibilidade. Sem falar no aumento dos gastos em plena pandemia e de que muitos itens, de fato, são escandalosos. Repito que não vejo nada demais em soldado comer sobremesa, mas dois milhões em chiclete é (mais) um atentado à saúde pública.
Ademais, o assunto segue o mais comentado do Twitter e já teve parlamentar se movimentando para pedir investigação no TCU, na PGR e até abrir CPI. O silêncio da grande imprensa é ensurdecedor.
Torna-se ainda mais ensurdecedor se lembrarmos do estrondo em torno do Fiat Elba, da tapioca de oito reais e da mãe de todas as fake news, o tríplex do Guarujá. E ainda mais ensurdecedor se lembrarmos que no fim de semana Estadão, Folha e O Globo pediam, em editoriais ou artigos de colunista-estrela, o impeachment do sacolé de leite moça azedo.
Mais estrondoso ainda se associarmos esse silêncio à falência generalizada do governo em todas as outras áreas e que há um genocídio em curso sem precedentes neste século. (Detalhe: Ibovespa está há seis dias em queda, sinal de que o Mercado está sentindo o baque).
A Sylvia Moretzsohn tem alertado aqui para o potencial popular de um escândalo em torno de leite condensado. Seria capaz de abalar até a base mais fanática do genocida. Mas até agora, tudo indica que a grande imprensa, a voz do poder, dos donos do dinheiro, não pretende potencializá-lo e ele morrerá na divisão em bolhas das redes sociais.
A única explicação possível é que o apoio explícito ao impeachment era falso. Querem Bolsonaro fraco, acuado, mas querem ele lá. E com o uso do sujeito indeterminado não me refiro apenas à imprensa, mas a quem fala através dela.
Pelo que leio, tudo indica que dentre os dois candidatos bolsonaristas à presidência da Câmara, o favorito do bolsonarismo será o eleito.
E assim chegaremos a 2022 com 500 mil mortos e 350 pedidos de impeachment pegando poeira.
Como sempre, espero estar errado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário