domingo, 6 de dezembro de 2020

O racismo estrutural

Nilson Lage

Não abro este espaço aqui à discussão, por três motivos:

1. discute-se, em redes sociais, não em busca da verdade, mas de aplauso, apoio, concordância;

2. não faço questão de estar certo; como minhas conclusões são geralmente péssimas, é tentador, imaginar que estou errado;

3. Uso isso aqui para expor ideias, não para defendê-las em batalhas verbais.

Bloqueio discussões, principalmente com militantes e apaixonados.

Isso posto, vamos ao “racismo estrutural”.

Se algo é estrutural, é de reparo inviável. Melhor destruir a estrutura danificada.

De cara, diria que se trata de imediatismo pequeno-burguês, tipo “tudo-ou-nada”, Apocalypse Now

Incomoda-me o uso de palavras, em Ciências Sociais, sem a definição precisa do que significam. “Estrutura” é um caso. Os modos de produção, as relações de classe podem ser estruturantes em uma sociedade. As trocas de bens, ideias e pessoas, não: fazem parte da dinâmica de sobrevivência, e se agregam às estruturas, que devem sustentá-las.

Isso nada tem que ver com a durabilidade de um contexto ou das ideologias que o prolongam..

O conceito objetivo de estrutura – organização das partes em um todo funcional – foi empregado metaforicamente, entre outros, por Levi Strauss, no seu estudo sobre relações de parentesco – que, ele, sabiamente, não associa a interdições de natureza genética, embora nelas devam inspirar-se, em última instância.

Tive oportunidade de debater essa representação ideológica da estrutura de parentesco com cientistas que estudavam estruturas proteicas de venenos de escorpiões. É uma viagem.

A consideração do racismo como comprometimento estrutural está presente há muito na sociedade – não apenas racista, mas, sobretudo, segregacionista – dos Estados Unidos. É a motivação das campanhas, persistentes até hoje, pela “repatriação” para a África dos descendentes de escravos (de uma dessas resultou a criação da Libéria, que não se perca pelo nome).

É falso.

O racismo, tal como aparece hoje na América, resulta de uma conjuntura colonial que se projeta no imaginário coletivo conforme um modelo de representação conveniente, binário, opositor e escamoteante da luta de classes. “Casa grande e senzala” serve ao modelo. Mas há o povo mestiço das minas, das periferias urbanadas, das vaquejadas que não serve.

Não é preciso demolir a estrutura. É bem mais fácil.

Abram institutos federais de ensino de segundo grau com acesso à universidade em lugares onde a população é pobre o miscigenada. Ofereçam condições financeiras para acesso aos cursos universitários mais prestigiados. Ensinem ciência em tempo integral às criancinhas – não só a ler, escrever e contar, mas as ciências todas. Digam a elas que estão sendo ansiosamente esperadas por gente de todas as cores.

Acreditem no povo!

E parem de brincar com as palavras.

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