Simples
Luis Fernando Verissimo
Jair Bolsonaro chegou ao poder levado pelo mesmo gosto pela simplicidade que elegeu Fernando Collor. Lembra do “Caçador de marajás”? Cansado de corrupção, descrente da política, seduzido pelo perfil de jovem empreendedor do candidato o eleitor brasileiro viu em Collor a simplificação que queria e, no seu slogan fácil, um resumo do que o Brasil precisava. Não se tem notícia de um único marajá caçado por Collor, mas a imagem do moço intrépido perdurou até quase a autodestruição do seu governo. O fenômeno Bolsonaro também aconteceu como reação à corrupção e ao descrédito da classe política, mas sua maior semelhança à vitória de Collor foi o mesmo apelo feito ao pensamento reducionista de um eleitor que quer tudo simples e inteligível.
Me admirei com a campanha eleitoral do Collor, naquela época. No primeiro filme da campanha, o candidato aparecia na nascente do São Francisco e comparava a trajetória do rio com a sua campanha, que começava pequena, sem o apoio de um partido importante e sem dinheiro, mas cresceria e em breve teria a força do grande rio. Não faltou dinheiro para o Collor, claro, a campanha foi um sucesso e vendeu a ideia de um presidente diferente, puro como uma vertente.
Não se pode negar a competência de quem elegeu o Bolsonaro, transformando um político medíocre com o mau hábito, para um candidato, de dizer o que pensa e depois negar que disse, no presidente mais improvável da história do Brasil. Faz pouco tempo que faixas pedindo intervenção militar começaram a aparecer nas manifestações de rua, vistas com reservas por alguns e indiferença por outros. Afinal, ninguém mais se lembrava da ditadura militar e dos seus excessos? Somos um país sem memória, paciência. As faixas se multiplicaram, e as primeiras pesquisas de intenção de votos mostraram Bolsonaro na frente, uma posição que não se alterou até sua eleição. Com Bolsonaro voltaram os militares. (São tantos os militares no governo Bolsonaro que tem gente perguntando quem está cuidando dos quartéis.)
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