segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Justo Verissimo e a reforma da Previdência

Amir Khair

Na semana passada, o recém-eleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao defender a Reforma da Previdência, disse: “todo mundo consegue hoje trabalhar até os 80 anos”.

A reforma da Previdência proposta pelo Governo ao inserir a idade mínima de 65 anos, os 40 anos de contribuição para ter direito à aposentadoria integral, e os 25 anos como mínimo de contribuição, ignora a realidade da maioria dos brasileiros.

Uma realidade desigual que se expressa, inclusive, na expectativa de vida, não apenas em relação às regiões mais pobres do país, mas, também, na maior e mais rica metrópole do país, São Paulo.

Como aponta o Mapa da Desigualdade, elaborado pela Rede Nossa São Paulo, a partir dos dados do IBGE, em distritos mais pobres da capital Paulista, a expectativa de vida é próxima aos 55 anos de idade.

No mundo do trabalho, a maioria da população em sua trajetória laboral alterna alguns trabalhos com registro em carteira, outros tantos na informalidade, e por alguns períodos se vê obrigada a conviver com a situação de desempregado, sem seguro desemprego, a garantir a sobrevivência com uns bicos e ajuda da família.

São homens e mulheres que lutam arduamente por sua sobrevivência e de sua família. Mas, com o passar dos anos, as portas ficaram cada vez mais estreitas. Portas do mercado de trabalho, que se estreitam no decorrer da vida profissional mesmo daqueles que tem uma qualificação profissional e uma carreira.

Essa realidade, é bem diferente daqueles poucos privilegiados que se aposentam de forma precoce aos 50, 55 anos e passam a acumular rendimentos. Formas de aposentadorias especiais exclusivas do Poder Judiciário e de parlamentares, por exemplo. São poucos, mas consomem muitos recursos da Previdência.

Por outro lado, o discurso da Reforma da Previdência, também, ignora que a sonegação fiscal no Brasil chega a um valor de aproximadamente R$ 500 bilhões por ano, segundo os dados do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz).

O discurso a favor da Reforma da Previdência, ao coloca-la como a vilã da situação fiscal, busca esconder, que 80% (!) do déficit está no pagamento de juros, equivalente a aproximadamente 400 bilhões de reais todo ano, transferidos dos cofres públicos para o mercado financeiro.

O Ministro Paulo Guedes afirmou que a reforma da previdência irá economizar um trilhão de reais em10 anos. Bastariam dois anos e meio para obter o mesmo resultado caso economizassem os juros, que são, esses sim, anormais no Brasil. Mas nisso não falam, pois este governo está a serviço do mercado financeiro.

Bancos e rentistas que aplaudem o modelo de capitalização individual proposto por Paulo Guedes, economista de formação ultraliberal, que nos últimos anos trabalhou com a gestão e aplicação de recursos de fundos de previdência no mercado financeiro.

A defesa da Reforma da Previdência por parte de políticos, economistas do governo e do mercado financeiro, revive o personagem Justo Verissimo, criação do grande humorista Chico Anysio, com o seu bordão: "eu quero é que o pobre se exploda!"

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