domingo, 24 de fevereiro de 2019

Racha no submundo da imbecilidade olavista


O racha no olavismo

Ana Clara Costa
Olavo de Carvalho promove racha entre seus fãs ao pregar o apoio incondicional a Bolsonaro
O caso Bebianno não serviu apenas para expor a falta de traquejo político do governo ao lidar com frituras de aliados, mas também para colocar em evidência a divisão no olavismo — a doutrina do filósofo Olavo de Carvalho que lastreia setores cada vez mais poderosos do governo Bolsonaro, em especial o núcleo dos filhos. Eduardo e Carlos são admiradores notórios do "professor Olavo”, como ele gosta de ser chamado. E Olavo tem respondido à altura. Desde a ascensão de Bolsonaro, o professor, conhecido por sua visão crítica e contra o “senso comum”, tem trabalhado como soldado incansável na defesa dos atos do presidente e de sua prole, sejam eles quais forem. Tamanha lealdade provocou ruídos entre os seguidores do professor — cuja visão crítica sobre a política ele mesmo atiçou, por meio de suas aulas online. Há olavetes frustrados — e eles não são poucos.

Felipe Moura Brasil, jornalista da Jovem Pan, admirador da obra de Olavo e autor do bestseller O Mínimo que Você Precisa Saber para Não ser Idiota, uma coletânea de textos do filósofo publicada pela Record, ousou criticar a forma como o governo conduziu a demissão de Gustavo Bebianno e foi defenestrado na internet porque sua conduta não estava alinhada com a posição de Olavo. De bastião da direita nas redes sociais, passou a ser chamado de “Xilique Moura Brasil”. O filósofo, por sua vez, intensificou as críticas a Bebianno, a quem hoje se refere como “Bebê Anus”, e, no auge do escândalo da divulgação dos áudios da conversa do presidente com o ex-ministro, chegou a fazer um apelo em sua conta no Facebook para que seus seguidores não abandonassem Bolsonaro.

Felipe Moura Brasil tem sido um dos principais arautos das ideias de Olavo desde a época em que o professor militava na marginalidade da política, criticando sozinho a esquerda e o lulismo. Ao abrir divergência pública com o filósofo, ganhou fãs e haters. Na terça-feira, dia em que os áudios de Bolsonaro foram divulgados pela Veja , Felipe era celebrado pela própria base de apoio do presidente no Congresso por ter dito em suas colunas aquilo que os parlamentares gostariam de ter externado sobre o episódio Bebianno — mas não podiam por razões políticas. No plenário da Câmara, perguntavam entre si quem tinha o número de celular de Felipe para parabenizá-lo por suas críticas.

Alunos de Olavo dizem que o professor não vê problemas em que um de seus porta-vozes mais notórios tenha ideias distintas das suas. Mas os ataques de Olavo ao pensamento divergente são públicos a quem se arrisque ler suas postagens no Facebook. Para conter ânsias de contestação de seus seguidores que passaram a se dizer “de direita”, porém, não necessariamente bolsonaristas, em razão das descobertas de Queiroz e candidatas-laranja do PSL, Olavo modulou o discurso com tons de totalitarismo.

— No Brasil ainda não há um discurso ideológico de direita, há apenas a unidade simbólica na pessoa de um lider, o Bolsonaro.

— A mim me parece que as contradições internas da direita são TOSCAS E NÃO TRABALHÁVEIS INTELECTUALMENTE, motivo pelo qual todos os conflitos se formam em torno da pessoa do líder.

— Quem subiu com o Bolsonaro, que fique ao lado dele até o fim ou acabará odiado pelo povo.

— Quando o partido que roubou oito trilhões de reais acusa os seus adversários de haver dado 400 mil a uma candidata laranja, a única coisa que fica provada é a absoluta impossibilidade de conviver democraticamente com esse partido.

Em outros tempos, discutir o alcance e o tom do discurso de Olavo de Carvalho era perda de tempo. Hoje, ele acalenta o núcleo duro do governo com doses supremas de bajulação virtual — e indicou quase vinte cargos no governo.

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