quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Sem lenço, sem documento


SEM LEME E SEM DOCUMENTO

(Idéias soltas a partir de uma conversa com Artur Araújo)

Há uma deterioração acelerada do governo e - a partir do final de semana (17) - há uma mudança significativa na conjuntura.

Tenho sérias dúvidas se a questão central neste momento é a queda de Gustavo Bebianno. Ela serve para mostrar que o Boçal é incapaz de liderar ou coesionar o que quer que seja e que não tem qualquer pudor em jogar aliados na fogueira.

Mas há briga de cachorro grande acontecendo: a turma do dinheiro está se descolando de Bolsonaro, criando um cenário absolutamente imprevisível.

Matérias na Folha de S. Paulo, domingo, e a coluna de Pedro Cafardo, editor do Valor, ontem, dão conta que os planos de Paulo Guedes não levantam a economia. Trafegam em sentido oposto, de comprimir a demanda e afugentar investimentos.

Mesmo a reforma da Previdência terá efeito nulo sobre uma hipotética recuperação. Aliás, deprimirá a economia ainda mais, ao retirar a pensão dos velhinhos que sustentam o consumo em milhares de cidades do interior. Vovô e vovó hoje são arrimos de levas de famílias de desempregados.

Hoje tivemos violentos editoriais do Estadão e do Globo contra o Boçal. Quem não leu, corra ler. Desancam a inépcia e falta de respeito que o imbecil se dá. O noticiário dá conta que a bancada do Boi está sumamente descontente com a redução do crédito. O episódio - depois revertido - do fim das tarifas aduaneiras de importação de leite acendeu a luz amarela para o setor.

A fila de más notícias do governo vem também do mercado financeiro, via Infomoney. Um colunista do site foi ao alvo, com a seguinte manchete: "Hora de acordar: este governo é uma várzea".

(Para culminar, a Ford anuncia o fechamento de sua fábrica em São Bernardo do Campo. São três mil empregos diretos e dez vezes mais, se computarmos o efeito multiplicador do emprego na indústria automobilística).

Dois cenários são possíveis:

1. Queda do governo (menos provável) ou

2. Uma tutela militar crescente. Bolsonaro pode ser um novo Juán Maria Bordaberry. Trata-se de um ex-presidente uruguaio (1972-76), rico estancieiro, que governou como ditador. A partir do primeiro ano de seu mandato, foi tutelado pelos militares, que administravam de fato o país. (A lembrança é de Mauro Lopes).

Situação difícil. Muito difícil para o governo, que foi derrotado em votação da Câmara hoje...

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