El País
Preso há pouco mais de um ano em uma sala montada especialmente para ele na carceragem da Polícia Federal, o ex-presidente Lula conta que sua rotina envolve assistir a cursos por meio de pendrives que recebe das visitas. Também afirma que curte a solidão tentando desenvolver sua espiritualidade. Leia os trechos abaixo.
Pergunta. Queria saber como é a rotina do senhor. Passa muitos momentos sozinho?
Resposta. Passo o tempo inteiro sozinho.
P. E como é essa coisa de o tempo não passar?
R. Eu leio. Eu vejo pendrive que o pessoal me manda. Assisto a muitos filmes, muitas séries, muitos discursos, muitas aulas. Por exemplo, fiz na minha cela —trato como sala por que é melhor, não como cela— um curso sobre Canudos. O canal Paz e Bem tem um curso recontando as histórias, mostrando as mentiras que Euclides da Cunha contou sobre Canudos. A história não é aquela. Fiz um curso de oito aulas. Sugeri ao Mauro Lopes, do canal Paz e Bem, um curso com o retrato do Brasil, sobre todas as lutas sociais do país. E agora acho que toda segunda-feira tem uma aula. Eu espero juntar umas quatro ou cinco, recebo um pen drive, vou assistindo e vou me aprimorando. Quando eu sair daqui, sairei doutor.
...
P. Tem um grupo de militantes aí na porta que diz bom dia, boa tarde e boa noite para o senhor todos os dias. O senhor escuta esse grito? Como é para o senhor?
R. Escuto todo santo dia. Quando tem atividade, que eles colocam um carro de som um pouquinho melhor, eu escuto o discurso das 9h as 21h. Eu sinceramente não sei como um dia eu vou poder agradecer essa gente. Tem gente que está aqui exatamente desde o dia que eu cheguei aqui. Vai para a casa, lava a roupa e volta. Então eu serei eternamente grato. Não sei se isso já aconteceu alguma vez na história com alguém, mas eu não sei o que fazer para agradecer. Já disse para todos que certamente a polícia tem as suas regras, o meu pessoal tem as suas regras, mas quando eu sair daqui quero sair a pé e ir lá no meio deles. A primeira cachaça eu quero tomar com eles. E brindar.
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