"Economista libertário"
Luis Felipe Miguel
O novo colunista da Folha é Helio Beltrão, o filho, cujo objetivo expresso é difundir o "anarcocapitalismo" - a doutrina folclórica de que tudo, até mesmo a segurança pública e a justiça, deve ser provido por mecanismos de mercado. Eles usurpam parte do vocabulário dos anarquistas de verdade e se autodenominam "libertários". Mas eu só vou acreditar no apreço do Beltrãozinho pela liberdade quanto ele fizer autocrítica da participação do grupo empresarial Ultra, que herdou de seu pai (Helio Beltrão, o golpista de 1964), no financiamento dos porões da ditadura. E quando parar de apoiar o governo Bolsonaro.
Tenho a convicção de que nem os anarcocapitalistas acreditam nas bobagens que difundem. É uma isca para pegar uma parte da juventude, que se radicaliza à direita sem cair no fundamentalismo religioso ou em seitas bizarras como o olavismo. Embora, sempre que necessário - e é necessário sempre - acabem todos juntos para combater a classe trabalhadora.
O propósito de Beltrão, o filho, é esse: ele é financiador e autoinstituído mentor de organizações juvenis, como MBL, EPL e Mises Brasil. Ele próprio já deve ter passado dos 50 anos, embora esconda a idade e, nas fotos das colunas sociais, apresente um rosto indefinível, parecido com o de João Dória, com quem, aliás, partilha também o estilo de vestir.
O artigo de estreia na Folha é, como esperado, um fieira de dogmas ultraliberais apresentados de forma tanto rasa quanto enfática. A conclusão é exemplar:
"A ciência econômica respalda esse ensinamento [de que o Estado deve ser minimizado]. A alocação de recursos é considerada eficiente quando se dá por meio de trocas voluntárias, guiadas pelo sistema de preços em um mercado em livre competição; e tende a ser ineficiente se realizada de cima para baixo por burocratas, financiados compulsoriamente por impostos. A receita não é complexa: mais mercado, menos Estado."
Em que mundo a eficiência dos mercados desregulados foi comprovada? A experiência mostra, ao contrário, que sem a presença do Estado os mercados geram crises, destroem o tecido social e, no fim, tornam-se incapazes de reproduzir a si mesmos.
E a "eficiência" significa o quê? Não é possível estabelecer critérios abstratos de eficiência, desvinculados dos valores que desejamos ver realizados no mundo social. Um sistema que produza muita riqueza, mas ao custo da miséria de muitos, da negação da autonomia da maioria das pessoas e da degradação ecológica, talvez seja considerado eficiente por Beltrão - mas não por quem sonha com um mundo melhor.
É pena, mas não inesperado, que, com tanto debate econômico sério precisando ser feito, a Folha prefira dar espaço para essa mistificação.
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