domingo, 21 de abril de 2019

Já que não tem emplastro universal para a cura da hipocondria política, vamos de marxismo cultural mesmo


Os riscos do marxismo cultural para a saúde
Para 97% dos cientistas, há quase 100% de chances de que as mudanças climáticas sejam causadas pelo homem. Mas chegou a hora de dar voz aos 3% de divergentes, não é mesmo?
Christian Dunker

Está em curso uma espécie de metadiagnóstico sobre o Brasil. Nossos problemas educacionais, nossa situação internacional de isolamento, nossos níveis precários de cidadania e a ascensão da violência e corrupção emanam de um único inimigo público comum: o marxismo cultural, esta fonte inesgotável de atraso econômico e moral. Em vez de apresentar a arqueologia da crítica social, de Marx a Horkheimer e Adorno a Gramsci e Zizek, gostaria de trazer à consideração de vocês um exemplar nacional vivo desta forma de pensar. Trata-se da obra Capitalismo e Colapso Ambiental, do professor Luiz Marques, da Unicamp. Baseado em centenas de pesquisas, ele mostra como a Terra está em um processo de aquecimento e que, se nada for feito em menos de 10 anos, as consequências serão drasticamente difíceis de reverter. 

Para 97% dos cientistas, há 95% a 99% de chances de que as mudanças climáticas sejam causadas pela ação do homem. Degelamento de glaciais, efeito estufa, redução de fitoplancton, extinção de espécies e aumento da superfície desmatada são fatos de amplas consequências para a saúde. Mas quem produziu tais fatos se comprova pela afiliação do próprio pesquisador: as universidades. Este antro de infiltrados comunistas. Portanto, chegou a hora de dar voz aos 3% de divergentes, não é mesmo?

O principal agente pesticida em uso no mundo é o glifosato, vendido no Brasil como Mata-Mato. O glifosato, produzido pela Monsanto, é conhecido por sua ação cancerígena. A Bayer é conhecida pela produção de remédios quimioterápicos para a reversão de tumores. Com a recente fusão das duas empresas, a mesma companhia que ganha vendendo agrotóxicos encarrega-se do tratamento para a doença que ela causa. Este é o tipo de raciocínio típico do marxista cultural. Ele atacará grandes companhias, que criam empregos e promovem desenvolvimento. Afinal, não há nada mais antiecológico que uma criança de barriga vazia, não é mesmo?

A terceira tese de Luiz Marques é de que há um motivo para que países como EUA e agora o Brasil retirem-se e tentem neutralizar acordos internacionais que tentam reduzir aquecimento global, emissão de poluentes e aumentar o controle de agrotóxicos: a concentração de renda e recursos naturais nas mãos de poucas pessoas e companhias. Não adianta dizer que 1% das pessoas mais ricas do mundo, como Donald Trump, detém mais dinheiro do que os 99% dos restantes, nem insinuar que esses deveriam ser mais taxados, ou ao menos incentivados a pensar soluções de sustentabilidade para o planeta. Não tente lembrar que, se a coisa continuar neste ritmo, em menos de 10 anos algo como 500 pessoas terão mais recursos do que todo o resto da humanidade. Um deles pode ser você. Ir contra o capitalismo prejudicaria suas chances, não é mesmo?

Agora vamos perguntar juntos: o marxismo cultural faz mal à saúde de quem? Dos 3% de cientistas, pagos pelos 2% de empresas, que são propriedade do 1% dos mais ricos. Como disse Virginia Wolf em seu ensaio “Estar Doente”, há uma pobreza da linguagem quando se trata de doença. Não possuímos palavras boas para descrever uma dor de dente ou um calafrio ou uma doença que nos torna sistemicamente doentes. Como disse Laenec, o inventor do estetoscópio, às vezes o ruído estranho da tuberculose se parece com o “arrulho do pombo Torquaz” ou com a “crepitação do sal na frigideira”. Como diria Brás Cubas: “Já que não tem emplastro universal para a cura da hipocondria política, vamos de marxismo cultural mesmo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário