Painel S.A.
As incertezas que o país vive em torno da reforma da Previdência e das declarações do presidente Jair Bolsonaro prejudicam o setor produtivo e preocupam o empresariado, além de colocar os investidores estrangeiros em compasso de espera.
Mas o Brasil ainda não saiu do radar, de acordo com o hoje investidor Lawrence Pih.
Deputado Delegado Waldir (PSL-GO)
Como o senhor avalia esse início de governo?
Vamos voltar nosso relógio para a época da eleição. Bolsonaro foi eleito com 39% dos votos. Uma quantidade não desprezível eram votos não a favor, mas contra o candidato do PT. Na primeira pesquisa [de opinião], a aprovação dele caiu 15 pontos no Ibope.
Eles conceituam o governo entre política nova e velha, defendem que tudo o que é política velha tem de ser erradicado. Eu concordo que há muitas falhas, mas é um fato histórico, não apareceu ontem. Sempre foi assim.
Mas ele próprio participou da política velha.
[Ele está há] 27 anos no Congresso. Deveria entender quão difícil é implementar uma mudança tão radical em uma estrutura tão enraizada no fisiologismo e agendas próprias dos políticos.
Se não fizer isso ele vai manter economia travada?
Tudo travado. Estamos a um passo do abismo.
E o que é esse abismo? Descrédito?
Esse abismo é o colapso total da economia. Não é só descrédito. Estamos em um mundo em transição. A economia mundial está em declínio acelerado.
O Japão é um caso perdido. Europa vem desacelerando significativamente no último ano. Nos EUA, os economistas preveem uma possível recessão. A China vem desacelerando num ritmo assustador.
E para nós, quando o primeiro mundo tem um resfriado, a gente pega pneumonia. A desaceleração da China significa uma queda brutal de exportações do Brasil. Hoje o Brasil só tem um pilar macroeconômico sólido: as nossas reservas externas, que estão em US$ 382 bilhões.
O presidente é um mau estrategista?
Eu não entendi até hoje. Acompanho todos os tuítes dele e eu não consegui ainda definir exatamente qual é a estratégia do presidente Bolsonaro. [Base de] Alcântara, Bolívia, Venezuela, são assuntos importantes, mas secundários perante o desafio do país neste momento.
O que um investidor que está lá fora pensa quando vê esse tipo de coisa?
O investidor sempre procura onde é a melhor oportunidade. E o que o investidor do exterior quer é estabilidade, previsibilidade e boa governança. Como investidor com capital, estou aguardando oportunidades no Brasil e no mundo. No Brasil, só depois do quadro político e econômico se estabilizarem. Por enquanto não há condições de investir aqui.
A conclusão ainda é a de que não se pode ter certeza? Não é ainda a de que não vai dar certo? É isso?
Lá fora eles [investidores] nunca descartam um país. Estamos na expectativa, mas não se esperam grandes investimentos sem que haja estabilidade e previsibilidade.
O investidor já começa a olhar para outros países como alternativa?
Sim. Agora, não podemos esquecer que estamos falando em um contexto de desaceleração mundial. Então a vontade de investir já é menor. Com essa turbulência aqui no Brasil, fica mais difícil. O mercado brasileiro está dando muito peso para a reforma da Previdência.
Esse peso dado à reforma é exagerado?
Mesmo se ocorrer a reforma da Previdência, não vai resolver o problema. Não é uma bala de prata. Estão dando um peso muito além do que essa reforma pode proporcionar em termos de elevar a economia para poder levar a um crescimento sustentável.
A renovação do Congresso era outra esperança do empresariado?
Sim. Muitos diziam que Bolsonaro iria revolucionar a maneira de fazer política no Brasil e enquadrar o Congresso.
E o que o senhor diz?
Eu dizia que nessa renovação cresceu o PSL, um partido que não é um partido, mas um aglomerado de egos com nível intelectual sofrível. O presidente da Câmara encarna a essência da política velha. O do Senado é um ilustre desconhecido. A que ponto chegou o país? O que você espera que pode mudar no Congresso? Não mudou absolutamente nada. O nível moral e ético está no mesmo lugar em que estava antes. O poder do Congresso é enorme e pode inviabilizar um governo. E o número mágico é 342, que são os votos necessários para um impeachment.
E o que seria a base para impeachment?
Não tem base nenhuma hoje. Mas afastaram Dilma por pedalada, que evidentemente é uma irregularidade, e ninguém nega isso. Mas dependeu muito mais do que está acontecendo com o país, que foi ladeira abaixo, do que pelo ato em si da pedalada.
E o Mourão? Andou visitando empresários...
Eu chamo ele de “primeiro bombeiro da República”. Evidentemente, o setor privado está preocupado. Não conheço Mourão, mas ele me parece uma pessoa equilibrada e moderada. É difícil prever o que vai acontecer.
A essa altura do governo já estamos falando nas qualificações do vice-presidente para assumir o cargo?
Não para assumir cargo. Só estamos falando das qualificações dele.
É simbólico que o vice-presidente esteja visitando o empresariado? Michel Temer fez esse movimento lá atrás, não?
Você conhece algum empresário que não tenha um plano B? Eu não. O país passa por uma dificuldade grande, estamos vendo um governo que está com dificuldade de implementar as medidas necessárias para o país e os empresários evidentemente gostariam de ouvir o vice-presidente que está no centro do poder. Essa turbulência toda evidentemente está prejudicando o setor empresarial.
Lamentavel o que estão fazendo com nosso país. Levará décadas para voltarmos ao patamar que estávamos há poucos anos atrás. Éramos felizez e eu sabia!
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