Claudio Guedes
A Folha de S. Paulo rifou o PT. A família proprietária detestava Lula e seu jeitão popular. Nunca engoliu a desenvoltura que o líder petista demonstrava nos seus contatos com a elite endinheirada paulista (a nova, tipo os Frias, já que a antiga, dos quatrocentões, nunca abriu os braços ao petismo).
Os Frias queriam reverência. Lula não estava nem aí para eles. Dilma também, pois a petista não faz, nem nunca fez, graça para ninguém. Deu errado.
O grupo midiático Folha/UOL participou do massacre ao PT, não poupando nem mesmo a face branda, educada e intelectual petista (Fernando Haddad). Fez um papel mais sutil que Veja, Isto É e mesmo do que a Rede Globo, mas foi também letal no processo de linchamento do partido.
Quando percebeu, na última campanha, que o tucano Alckmin e o neófito nas artes da política Henrique Meirelles não iriam para lugar nenhum optou por Bolsonaro. A Folha mais discreta, mas dando os impulsos na hora certa ao ex-capitão e batendo no PT e Haddad nos momentos importantes, e o UOL, liderado pela estrela da casa, o mau-caráter Josias de Souza, não tão discreto, sentou a lenha em Lula, Dilma e Haddad, poupando o truculento. Acho, e posso estar enganado, que parte expressiva do apoio inusitado que Bolsonaro conquistou entre os mais ricos e escolarizados paulistanos veio deste apoio qualificado.
Mas a opção por JB foi apenas tática. Para derrotar o petismo. A Folha ainda têm alguns jornalistas e colunistas de valor - quatro ou cinco, na minha modesta opinião de leitor diário do jornal desde 1978 e lá vão quatro décadas - e de vez em quando alguma boa reportagem lá aparece. E duas dessas incomodaram bastante JB & Família: em janeiro deste ano a sobre o patrimônio imobiliário deles e a de outubro, da boa jornalista Patrícia Melo Campos, sobre o financiamento empresarial de msgs falsas contra o PT e Haddad bancado por empresários bolsonaristas.
Por causa dessas matérias, o presidente eleito anunciou guerra contra a Folha. Fez um mau negócio. Por quê? Primeiro, porque jornal tem uma situação econômica confortável. O grupo econômico do qual faz parte surfa, feliz, nos fabulosos lucros do PagSeguro. Segundo, porque o jornal precisa, agora, derrotado o PT, buscar novas ligações com o campo da centro-esquerda. E, em terceiro lugar, porque o clã Bolsonaro - como todos que possuem informações dos bastidores da política sabem - tem uma imensa janela de vidro em casos de pequena (sic) corrupção, típicos de políticos, como eles, do chamado baixo clero.
Essa nova ofensiva contra o presidente eleito é a Folha mostrando ao ex-capitão que não aceitou e não aceitará ser acuada. A Folha vai trabalhar para desgastar o truculento e os boçais que o cercam. São, para os controladores e os editores do Grupo Folha, muito grosseiros e vulgares para representarem o país.
O sonho dos donos da Folha/UOL é que o país seja dirigido por um liberal fofinho, cheiroso, inteligente e antenado com o mercado. Imaginaram que seria o Doria, mas desconfiam da agressividade e do apetite desmesurado do janota. Acho que pensaram no Moro, mas sabem que o juiz cometeu, talvez, um erro fatal em se lançar, cedo demais, nos braços do Bolsonaro.
Vão trabalhar por alguém com o perfil de um Zema e acho que aceitam um governo Mourão/Guedes na transição. O projeto da Folha é o do liberalismo ilustrado, tipo FHC, a banca cosmopolita (Setúbal, Moreira Salles e os Safra) e os mega-empresários discretos (tipo Lafer, Klabin, Gerdau).
Não darão trégua a Bolsonaro.
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