segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Política não se faz com torcida, mas com participação e luta

Cadu de Castro

Quando leio ou ouço alguém falar em “torcida" para que tudo dê certo e o governo seja bom, lamento. Lamento pela passionalidade equivocada e profunda despolitização. “Torcemos” para clube de futebol - seja contra ou a favor -, pois o esporte aceita a passionalidade, a política não. Política não se faz com torcida, mas com participação e luta, como muitos de nós fazemos. A política não é espaço de paixões, e ainda menos de messianismos.

A multidão que sempre disse odiar política, que sempre reproduziu a máxima da ditadura “política não se discute”, que sempre bateu no peito e se gabou de não entender de política, hoje se sente ou se diz politizada. É parte desta população que fala na necessidade de se torcer para o novo DESgoverno que se descortina.

Não, caros amigos. Torcida não mudará as posturas e ações catastróficas que se anunciam ou se desenham. O que talvez mude é enfrentamento e luta. Torcida não mudará o fato do país estar desacreditado e se tornar piada no estrangeiro. O que talvez mude é enfrentamento e luta. Torcida não impedirá o fascismo desvelado, o machismo, a misoginia, o racismo, o classismo, a xenofobia. O que talvez mude é enfrentamento e luta. Torcida não influenciará na competência e intenções do iminente presidente e sua equipe tosca, recheada de investigados e condenados. O que talvez mude é enfrentamento e luta.

Assim, clamar por “torcida" é ostentar passionalidade, despolitização, hipocrisia ou má fé - caso dos membros ou agregados do governo que produzem essas falácias. Quando Adolf Hitler chegou a presidência da Alemanha, em 1934, a maior parte da população torceu a favor. Na política pouco importa a torcida, seja a favor ou seja contra. A tragédia humanitária do nazi-fascismo é prova cabal disso. Deveríamos aprender com a História.

Política se faz com engajamento, conhecimento, racionalidade e luta. Portanto, não ostente alienação, não peça torcida. Ao contrário, lute junto. Se a indignação contra a corrupção não foi só falácia, comece por cobrar o Ministério Público do caso claro de peculato da família Bolsonaro. Se a indignação contra a corrupção não foi só hipocrisia, exija uma postura minimamente digna com relação a nomeação de Ricardo Salles, condenado por corrupção. Se a indignação contra a corrupção não foi só ódio partidário, nem ira seletiva, posicione-se contra o arquivamento do processo de Onix Lorenzoni, que assumiu o crime de caixa 2, mas teve o caso arquivado pelo venal Fux. Só não ostente ignorância, não peça torcida.

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