sexta-feira, 7 de junho de 2019

O problema não é falar errado, é pensar errado


Jorge Furtado

"Essa passagem por aqui, como já se era de se esperar, está sendo simplesmente excepcional. E eu conclomo, canclomo... conclamo ao povo argentino que Deus abençoe a todos eles".

A dificuldade de pronunciar a palavra conclamo é o menor dos problemas do presidente. Seu governo é um desastre, a miséria e o desemprego aumentam, a economia está estagnada, o governo não tem plano algum para gerar empregos ou resolver os problemas da saúde, da educação, da segurança, está acabando com muitas conquistas sociais e direitos civis, e representa uma séria ameaça ao futuro, com sua ideia de distribuir armas e destruir a natureza. O melhor que se pode dizer sobre seus ministros é que sejam incompetentes, já que alguns - educação, cidadania, meio ambiente, relações exteriores - são figuras patéticas, só atingiriam o cargo de ministros no governo de um imbecil.

A passagem do presidente pela Argentina, como se era de esperar, ou como era de se esperar, é um abraço de afogados. Macri foi vendido - lá e aqui - como o super-herói do liberalismo que iria salvar a Argentina do populismo. Seu governo é um desastre, sua popularidade está no chão, a miséria cresce e a inflação também. Bolsonaro vai completar seis meses de um governo que só produziu escatologia, burrice e cenas constrangedoras, enquanto o país definha.

"Simplesmente excepcional" não quer dizer nada. Já "conclamar" é "clamar em conjunto", "soltar brados", ou "protestar em alta voz", ou "aclamar alguém conjuntamente" ou ainda "chamar amplamente, convocar", que é o sentido mais usado. ("Conclamo a nação tricolor a comparecer...") O presidente talvez use, ou tente usar, a palavra "conclamo" neste sentido, "convoco", mas a fazer o quê? Ou ele abandonou o raciocínio no meio da frase ou ele usa, ou tenta usar, o verbo conclamar como se fosse "saudar, felicitar". "Eu saúdo ao povo argentino...".

A ignorância e a burrice gritante do supremo mandatário da nação são problemas pequenos perto de sua má índole. Ao manifestar apoio incondicional a um homem acusado de estupro, o presidente justificou sua solidariedade alegando que a mulher que deu queixa na polícia "atravessa o continente..." para se encontrar com este homem e depois vem se queixar de estupro? Desta afirmação podemos concluir duas coisas. A primeira é que o presidente considera que o Oceano Atlântico é um continente, já que a mulher viajou do Brasil para Paris. A segunda é que, na opinião do presidente, uma mulher que aceita um convite de um homem para viajar está obrigada a fazer sexo com ele. E sem preservativo.

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