terça-feira, 24 de setembro de 2019

Bozo fez o que se esperava que fizesse na ONU


Ao atacar Raoni na ONU, Bolsonaro reforça candidatura ao Nobel

Bernardo Mello Franco

Em sua estreia na Assembleia-Geral da ONU, Jair Bolsonaro fez um discurso deslocado no tempo e no espaço. O presidente investiu numa retórica anticomunista, como se o mundo ainda estivesse na Guerra Fria. Ao descrever uma suposta ameaça socialista, atacou dois líderes mortos: Fidel Castro e Hugo Chávez.

Bolsonaro se comportou como um típico autocrata. Atacou a imprensa, a ciência e as universidades. Adotou um tom conspiratório contra ambientalistas e líderes indígenas que resistem à destruição da Amazônia. Apesar dos ataques, disse defender a liberdade e a democracia.

Ele também evocou o nome de Deus em seu favor. Em algumas passagens, ecoou as falas paranoicas do chanceler Ernesto Araújo, símbolo da facção extremista do governo. "A ideologia invadiu a própria alma humana, para dela expulsar Deus e a dignidade com que ele nos revestiu", delirou o presidente.

Foi um discurso agressivo, como temiam diplomatas assombrados com o Itamaraty da "nova era". Em vez de buscar a pacificação, Bolsonaro voltou a criticar países amigos. Insinuou que a França é "colonialista" e que os patrocinadores do Fundo Amazônia só querem roubar o nosso nióbio.

O presidente só guardou elogios para os Estados Unidos. Exaltou o aliado Donald Trump e enalteceu sua própria decisão de abolir, unilateralmente, o visto para turistas americanos que vêm ao Brasil. Os brasileiros que vão à Disney continuam a enfrentar filas para carimbar o passaporte.

Bolsonaro também usou a tribuna da ONU para agradar sua base eleitoral. Elogiou policiais, militares e o ministro Sergio Moro, num momento em que a militância lavajatista começa a se distanciar do governo. Ele também acenou aos evangélicos, que apresentou como vítimas de intolerância religiosa. Sobre os ataques a locais de culto afrobrasileiro, não deu nenhuma palavra.

Num plenário lotado de diplomatas e chefes de Estado, Bolsonaro atacou por duas vezes o cacique Raoni, mais conhecido líder indígena do país. Aos 89 anos, o caiapó acaba de ser lançado candidato ao Prêmio Nobel da Paz. Ao atacá-lo em Nova York, Bolsonaro parece ter dado um forte impulso à campanha.

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