Capitão atentou contra interesse nacional na ONU
Josias de Souza
Jair Bolsonaro conseguiu uma façanha internacional. Com seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente correspondeu a 100% das expectativas de quem não esperava que ele dissesse nada de proveitoso para o Brasil. Revelou-se um nanico diplomático. Seu pronunciamento foi um atentado contra o interesse nacional.
Incapaz de elevar a própria estatura, Bolsonaro apequenou a tribuna. Discursou na ONU como se pronunciasse uma das falas que transmite semanalmente aos súditos que o acompanham nas redes sociais —a mesma agressividade, as mesmas obsessões, os mesmos hipotéticos inimigos, o mesmo velho culto à ditadura militar.
Depois de contaminar o meio-ambiente com sua política antiambiental, Bolsonaro conseguiu estragar o ambiente inteiro. Com um discurso contaminado com pesticida ideológico, desperdiçou o que seria a melhor oportunidade para retirar da sua retórica a raiva que atrapalha os acordos internacionais, afugenta investidores estrangeiros e ameaça a pauta de exportações do agronegócio brasileiro.
O presidente desperdiçou a maior parte do seu tempo e da paciência da plateia expondo peças do seu museu particular de novidades: Cuba e Venezuela, o Foro de São Paulo, a "guerra" travada pelos militares contra os que "tentaram mudar o regime brasileiro".
Com os olhos grudados num retrovisor que estacionou na era da guerra fria, Bolsonaro esqueceu de falar para o para-brisas, de onde o espreitavam líderes mundiais, chefes de organizações multilaterais e homens de negócios ávidos por uma palavra qualquer que sinalizasse o desejo de injetar racionalidade na prosa.
Sobre a temática ambiental, epicentro da preocupação mundial, Bolsonaro militou-se a reiterar o lero-lero inverossímil que inclui da negativa do desmatamento ao compromisso com a preservação, dos ataques a ONGs à desqualificação da imprensa, do suposto respeito à cultura indígena à cobiça pelas riquezas que se escondem no subsolo das reservas indígenas.
Dizia-se no Planalto que Bolsonaro não atacaria líderes estrangeiros na ONU. Fez papel de bobo quem acreditou. Sem citar-lhe o nome, o capitão deu botinadas retóricas no francês Emmanoel Macron, acusando-o de usar "mentiras da imprensa internacional" para se portar "de forma desrespeitosa e colonialista, atacando nossa soberania".
Bolsonaro declarou que seu governo combate o déficit fiscal. Mas o principal déficit do Brasil no momento talvez esteja entre as orelhas do seu presidente.
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