Celso Rocha de Barros
Todos os 'adultos no recinto' fracassaram na tentativa de moderar Bolsonaro
Desde o começo do governo Bolsonaro, tivemos vários candidatos a “adultos no recinto”, a voz de moderação que deveria, em tese, moderar Bolsonaro e impedi-lo de embarcar em aventuras autoritárias. Todos, sem exceção, fracassaram abjetamente.
Eu mesmo acreditei que Sergio Moro seria capaz de ser o adulto no recinto. Até agora, não há sinal disso. Moro vem se calando sistematicamente diante dos abusos do presidente da República.
E não só diante dos abusos contra a democracia e a liberdade de imprensa, a mesma imprensa sem quem Moro não seria ninguém: Moro também não veio a público se pronunciar contra o desmantelamento das instituições de combate à corrupção iniciado por Bolsonaro.
Apesar de todo o apoio da imprensa à Lava Jato, Moro foi cúmplice do bolsonarismo na guerra contra a revista Época, um passo importante na marcha autoritária em curso.
Diante dos resultados até agora, não faria diferença se o ministro da Justiça fosse o Onyx ao invés do Moro.
Os militares foram outro fracasso. Carlos Alberto dos Santos Cruz, o general de maior prestígio nas Forças Armadas brasileiras, brigou com a facção extremista de Eduardo Bolsonaro e Olavo de Carvalho no início do ano. O demitido foi Santos Cruz.
O vice-presidente Mourão, que por um tempo assumiu o papel de bombeiro dos incêndios que Bolsonaro causava, deixou de se pronunciar. Na discussão da Amazônia, parece haver pouca diferença entre a posição dos militares e a dos extremistas bolsonaristas.
E vários dos candidatos a adultos no recinto aceitaram eles mesmos assumir o papel de crianças perversas. Não, Guedes, o que você disse sobre Brigitte Macron não é “coisa de brasileiro”. Nenhum ministro da Economia brasileiro disse coisa semelhante no passado. O que você disse é coisa de bolsonarista.
Mas há, entretanto, uma poderosa força que, de fato, vem forçando Bolsonaro a fazer acordos e aceitar o funcionamento das instituições: o cheque do Queiroz na conta da primeira-dama.
Foi para se proteger das investigações que Bolsonaro aceitou uma trégua e fez acordos com políticos e ministros do STF. Nas negociações políticas, Bolsonaro resolveu começar pelas piores, e há um risco real de que se limite a elas.
O extremismo bolsonarista não tem intenção de aceitar esse limite permanentemente. A guerra bolsonarista ao lavajatismo se aprofunda diariamente. Na escolha do novo procurador-geral da República, os bolsonaristas diziam que Deltan Dallagnol tinha posições políticas próximas ao PSOL.
Olavo de Carvalho, que atua como propagandista dos filhos do presidente, já vende a ideia de que combater a corrupção não é importante, o importante é atacar a imprensa e as universidades. E propõe a formação de um movimento que não defenda ideias, não defenda o cristianismo ou o conservadorismo, mas sim o chefe.
Ao que parece, Fabrício Queiroz seguirá fora de cena, em meio a um duro tratamento contra um câncer e sem poder fazer delação, e a única coisa que fez Bolsonaro moderar seu discurso até aqui permanecerá desaparecida. Se os cúmplices da molecagem bolsonarista já não tiverem tomado vergonha na cara, o risco à democracia brasileira é real. Enquanto não voltarmos a falar de política de verdade, de problemas de verdade, enquanto os partidos não se reorganizarem, a vida será sempre assim.
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