Luiz Antônio Simas
A PM matou uma criança. Vou insistir. A Polícia Militar do Rio de Janeiro foi criada por D. João, no início do século XIX, em um contexto em que a revolução dos pretos do Haiti apavorava, pelo poder de inspirar movimentos similares, as elites do Brasil.
A função original da polícia era defender a propriedade de terras e gente e seus donos. Não custa lembrar que o símbolo da PM/RJ traz um pé de açúcar, um pé de café, duas armas e a coroa imperial, Mais explícito é impossível: braço armado em defesa da propriedade e do poder
Sou dos que acham que não adianta dotar esta polícia de um suposto "perfil cidadão", ensinado em algumas aulas, e tá resolvido. O buraco é mais embaixo. A PM foi criada para matar e morrer e nesse sentido é uma das instituições mais bem sucedidas do Brasil: mata e morre.
Alguém conhece aí a fábula da natureza do escorpião, que não consegue deixar de usar o ferrão, a ponto mesmo de morrer durante a travessia de um rio porque picou o sapo que o carregava?
Há, evidentemente, policiais do bem, mas a missão que justifica a corporação, inscrita em sua história, é defender o status quo contra ameaças, fundamentando essa defesa no monopólio da violência, prioritariamente voltada contra os mesmos pretos e pobres dos tempos do rei.
A discussão sobre o que deu errado na polícia parte de um pressuposto equivocado. O problema das PMs não é ter dado errado. É ter até hoje dado certo. Escorpiões não foram feitos para voar como os pássaros.
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