Bernardo Mello Franco
Numa entrevista recente, Jair Bolsonaro reclamou dos radares de velocidade e disse que o brasileiro teria perdido o “prazer de dirigir”. A declaração ajuda a entender a obsessão presidencial em afrouxar as leis de trânsito.
Ontem o governo apresentou medidas que dificultam a punição de motoristas infratores. Eles poderão acumular o dobro de pontos na carteira até perderem o direito de dirigir.
A proposta vai na contramão do que defende a maioria dos especialistas. “O Brasil é o quarto país do mundo em mortes no trânsito. Deveríamos esperar medidas para aumentar a fiscalização, não o contrário”, critica o sociólogo Eduardo Biavati.
Ex-coordenador de prevenção de acidentes da Rede Sarah de hospitais, ele teme um aumento no número de mortos e feridos nas estradas. “A mensagem que o governo passa é de aumento da tolerância com a violação das leis de trânsito. Este pacote decreta que o Brasil vai voltar a andar para trás”, lamenta.
Uma das medidas propostas ontem é o fim do exame de drogas para os motoristas de ônibus, caminhões e carretas. É mais uma vitória do lobby dos caminhoneiros, que só não mandam mais neste governo do que os fabricantes de armas.
Na entrevista em que atacou os radares, Bolsonaro disse que os motoristas estão perdendo a carteira “com muita facilidade”. Faz sentido. Em abril, a “Folha de S.Paulo” mostrou que a família dele acumulou ao menos 44 multas nos últimos cinco anos.
A primeira-dama e o filho Zero Um ultrapassaram o limite de 20 pontos em um ano, o que em tese resultaria na suspensão do direito de dirigir. E depois ainda dizem que o presidente toma decisões sem conhecimento de causa.
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