segunda-feira, 23 de março de 2020

Banco Central dos EUA anuncia ajuda ilimitada a pessoas físicas e jurídicas


Fed aciona bazuca para enfrentar crise comparada à Grande Depressão

Kennedy Alencar
WASHINGTON

Repetindo estratégia da crise de 2008 com mais intensidade, o Fed, o banco central dos Estados Unidos, decidiu socorrer pessoas jurídicas e físicas de forma ilimitada. Na prática, vai comprar dívidas de empresas e cidadãos para financiar uma estratégia de sobrevivência em meio aos efeitos econômicos negativos da pandemia do coronavírus.

Na crise de 2008, o Fed agiu com limite. Agora, decidiu acionar uma bazuca para evitar uma depressão comparada à dos anos 30 do século passado.

Apesar da magnitude da ação do Fed, que vai socorrer cidadãos e pequenas, médias e grandes empresas, as Bolsas de Nova York estavam caindo no fim da manhã desta segunda. Detalhe importante: ver o detalhamento das regras da ajuda federal para socorro de hipotecas e dívidas de cartão de crédito das pessoas físicas.

*

Semelhanças políticas

A exemplo do que acontece no Brasil, há um confronto nos EUA entre governadores de Estado e o presidente Donald Trump. Houve pedido para o governo federal organizar compras de equipamentos médicos, como máscaras e aparelhos de respiração assistida. Mas Trump se recusou.

Governadores querem evitar um leilão que já está ocorrendo entre Estados, beneficiando empresas, que subiram os preços. Desejam que Trump utilize lei dos anos 50, criada na época da Guerra da Coreia, para obrigar empresas a fabricar determinados equipamentos. Mas a Casa Branca tem dito que prefere lidar com empresas que estão se voluntariando para essa produção.

Em relação ao pedido para liberar fabricação de testes por laboratórios estaduais, o governo federal acatou. Em Nova York, que tem cerca de 200 laboratórios, será possível fabricar testes nos Estados. Uma discussão aqui é testar as pessoas e ver quem já contraiu anticorpos para liberá-las para trabalhar normalmente, sem necessidade de ficar em casa.

*

Trump oscila

O presidente dos EUA já fala em rever ordens de restrição ao final de 15 dias (estamos no oitavo dia da contabilidade trumpista). Enquanto isso, Andrew Cuomo, governador de Nova York, diz que não dá para prever por quanto tempo a crise vai durar, mas serão meses. O governador de Nova York voltou a pedir nesta segunda que o governo federal utilize a legislação para obrigar empresas a fabricar equipamentos médicos necessários.

A diferença entre republicanos e democratas é, grosso modo, a seguinte. Os republicanos estão mais preocupados em defender as empresas. Os democratas, as pessoas. Esse foi o impasse entre os dois partidos na discussão de um pacote de quase 2 trilhões de dólares que está sendo aprovado pelo Congresso. Ou seja, quem receberá o grosso do dinheiro, quem terá prioridade? Pessoas físicas ou jurídicas?

Aqui a proteção às pessoas está sendo feito na marra. No Brasil, também precisará ser feito algo assim. O projeto do presidente Jair Bolsonaro e dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça) é ofertar aos brasileiros a paz dos cemitérios.

Como a desigualdade social no Brasil é muito maior do que nos EUA, os efeitos serão mais graves aí. Hoje, o cirurgião-geral dos EUA, general Jerome Adams, disse que a crise vai piorar nesta semana. Ele é o chefe do Corpo de Comissionados do Serviço de Saúde Pública dos EUA. O pior está por vir nos EUA. O mesmo vale para o Brasil.

Ouça o comentário abaixo:

Nenhum comentário:

Postar um comentário