sexta-feira, 27 de março de 2020

Bolsonaro mente compulsivamente e, também compulsivamente, quer naturalizar o extermínio


Alceu Castilho


"O BRASIL NÃO VAI PARAR" É O ANÚNCIO DE UM GENOCÍDIO

Bérgamo e Milão, na Itália, adotaram em fevereiro slogans idênticos ao de Jair Bolsonaro, "o Brasil não pode parar". Tornaram-se símbolos da matança do coronavírus. Uma aliança entre o micro-organismo e a pulsão de morte dos políticos que dizem pensar na economia.

Quem observou a semelhança entre a campanha brasileira e o slogan "Bergamo non si ferma", ou seja, "Bérgamo não para", foi a brasileira Nina Paduani, que mora na Itália. O slogan foi também utilizado em Milão: "Milano non si ferma". Com hashtags e tudo.

"A maioria das lojas colocou o slogan nas vitrines, Bergamo non si ferma!", relata Nina. "E as pessoas desfilavam pelas ruas ignorando os apelos pela quarentena, pois a cidade não ia parar!" A psicóloga constata: "Isso tem um mês, amigos. Só um mês. Bergamo parou, sim. Parou devastada pela doença".

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A região da Lombardia, que abrange os dois municípios, já contabiliza quase 5 mil mortos pelo coronavírus. Quase o dobro do número de mortos em toda a China. E a progressão é consistente. Entre os mortos por Covid-19 em Bérgamo estão 36 médicos. Quatro deles entre ontem e anteontem.

Um município de 120 mil habitantes, Bérgamo teve, em média, 45 mortes por semana nos últimos dez anos. Entre 15 e 21 de março, teve 313 mortes. Sete vezes mais. Foi em Bérgamo que os mortos pelo vírus tiveram de ser carregados para crematórios em tanques do Exército.

Um dia antes desse intervalo, Giuseppe Conte assinou com sindicatos um protocolo sobre segurança durante o trabalho. E anunciou desta forma o acordo, no Twitter: "Pelo bem do país, para a garantia da saúde das trabalhadoras e dos trabalhadores. A Itália não para".

A Itália caminha nas próximas horas para ser o segundo país com mais casos de coronavírus. Atrás somente dos Estados Unidos, à frente da China. Em boa parte pela omissão do primeiro-ministro, por sua reverência ao ritmo (literalmente) insano do capitalismo.

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E, mesmo assim, Jair Bolsonaro e seus cúmplices — políticos e empresários à frente — anunciam a ida às ruas e ao trabalho. Ou seja, uma matança de idosos e de jovens, não somente idosos e jovens com doenças anteriores. Atletas inclusive. Qualquer um de nós pode entrar nessa lista.

Ao contrário de Bolsonaro, esses números não mentem. Esse defensor da tortura projetou-se nos últimos anos ao som da palavra "mito". Curiosamente, a compulsão pela mentira atende pelo nome de mitomania. Uma patologia.

Bolsonaro mente compulsivamente e, também compulsivamente, quer naturalizar o extermínio.

Quem o parará?

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A história se repete como genocídio.

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