Luis Felipe Miguel
De todas as medidas práticas em contraposição ao discurso criminoso de Bolsonaro, de "perder vidas para salvar a economia", a mais importante até agora foi a aprovação na Câmara do auxílio emergencial que deve socorrer 100 milhões de brasileiros. Ganha força também, com o apoio até de renomados economistas de direita, a ideia de empréstimo subsidiado de longo prazo para pequenas empresas, para garantir o pagamento dos salários e com o compromisso de preservar todos os empregos.
Mas isso não significa que, como dizem alguns, seja possível "olhar para a frente" e esquecer Bolsonaro.
No momento, é necessário conter a pandemia para evitar o colapso do sistema de saúde e salvar vidas. E também adotar medidas que evitem o colapso da economia.
Bolsonaro age contra nas duas frentes.
Divulga mentiras, aposta na desinformação, incentiva o boicote ao isolamento social e ele mesmo faz o que pode para restringir sua efetividade, como no decreto de ontem que definiu os "serviços essenciais". Basta ver o vídeo do governo federal com o mote "o Brasil não pode parar", em circulação nas redes desde ontem. Vídeo oficial, com a logomarca do governo.
E segue fiel a Guedes na recusa a entender o papel do Estado nesse momento. Não é capaz de perceber que a hora é de gasto público e de socorro aos mais pobres, coisa que até liberais extremados estão dizendo.
Governadores e prefeitos podem muita coisa. Mas podem menos quando a União vacila em liberar recursos e suprimentos. Podem menos quando a União não faz sua parte, seja no controle das fronteiras, seja na garantia do abastecimento das diversas regiões. Podem menos quando o presidente da República promove a desobediência às medidas sanitárias, liderando a corja de empresários gananciosos e obtusos que desprezam a vida das pessoas, e edita medidas de sabotagem à eficácia delas.
Nunca é um bom momento para ter, na presidência da República, um demente perverso. Mas o pior momento é agora.
Há clima para construir, entre as lideranças políticas do Brasil, um consenso sobre a necessidade de destituição imediata de Bolsonaro, já que a continuidade de sua presidência é um risco para o combate à pandemia - no país e no mundo. O que eu não consigo entender é que lideranças de partidos de esquerda trabalhem contra a construção desse consenso.
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