quarta-feira, 25 de março de 2020

Não há tempo sequer de seguir com o ritual do impeachment. Cabe forçá-lo a renunciar ou impor uma interdição psiquiátrica.


 Luis Felipe Miguel

No pronunciamento de ontem, Bolsonaro pregou a sabotagem às medidas de contenção da pandemia. São medidas, todos sabemos, que não têm como vingar sem a adesão maciça da população.

Bolsonaro agiu, concretamente, em favor do vírus e contra os brasileiros.

Irresponsabilidade, insanidade, cálculo político? De tudo um pouco.

Nos últimas dias, Bolsonaro alternou discursos, oscilou entre mais e menos insanidade. Parece que agora entendeu que, do lado da sanidade, não há espaço para ele. Ele não tem as condições intelectuais ou morais para liderar um esforço sério de combate ao coronavírus.

Optou, então, por ser o chefe do bando da insanidade.

É uma aposta de fôlego curto. Quando, daqui a pouco, as mortes começarem a ser contadas aos milhares e os doentes se amontoarem nos corredores de hospitais sem leitos disponíveis, não será mais possível para Bolsonaro negar o que fez.

As consequências serão dramáticas.

A maior parte dos apoiadores importantes de Bolsonaro, me parece, bradam seu entusiasmo nas redes sociais, mas permanecem trancadinhos dentro de casa, obedecendo ao isolamento.

Ou alguém vê Rodrigo Constantino, Bernardo Küster, o véio do Madero, o dono do Giraffas, algum deles saracoteando por aí, lambendo corrimão de escada?

Muitos, no entanto, vão minimizar as medidas de proteção. E, claro, vão impor comportamentos de risco a seus empregados - domésticos ou de suas empresas.

A saúde da economia é - para aqueles um pouco mais sofisticados, que precisam arranjar um argumento que justifique a irresponsabilidade - o motivo para evitar o confinamento.

No entanto, o governo não produz nenhum projeto que busque de fato salvar a economia das consequências da pandemia.

Bolsonaro e Guedes - e, quanto a isso, também uma grande parcela de seus aliados, semi-aliados e ex-aliados da direita "provida de racionalidade" - julgam que a solução é cortar salário. Salário que se transforma em consumo e que é, portanto, essencial para evitar o colapso da economia.

É hora de proteger emprego e renda. É hora do governo gastar, emitir moeda e buscar recursos naqueles setores que não movimentam a economia real - o patrimônio acumulado, o capital especulativo.

Bolsonaro no governo impede até que o debate sobre as medidas necessárias seja aprofundado.

Ao mesmo tempo, enquanto estamos preocupados com a pandemia, o governo federal continua com sua política obscurantista e miúda.

Faz o que pode para atrapalhar a vida das universidades, como no caso assombroso da nomeação do novo reitor da UFES. Baixou uma portaria absurda que simplesmente elimina as ciências humanas e a pesquisa de base do sistema nacional de ciência e tecnologia. Restringiu a abrangência da Lei de Acesso à Informação.

Em suma: não há um único gesto que contribua para manter a serenidade, para desarmar os ânimos, para buscar encaminhamentos sensatos numa situação de emergência tão grave quanto a que atravessamos.

O governo federal se guia por preocupações de curto prazo, por brigas de ego, por provocações, por birras, com a maturidade de um pré-adolescente.

Cada dia a mais com Bolsonaro na presidência representa a expectativa de uma tragédia ainda maior à nossa frente.

É necessário retirá-lo do cargo imediatamente.

Essa ficha já caiu, há tempo, para milhões de brasileiros. Menos para nossas lideranças políticas.

Os presidentes do Congresso, da Câmara e do Supremo lançam delicados olhares de reprovação às sandices de Bolsonaro - e acham que com isso cumprem seu dever.

A oposição é uma piada. Ontem, depois do pronunciamento de Bolsonaro na TV, o senador petista Humberto Costa disse que a fala era criminosa, mas ainda não é hora de pensar em impeachment: "Temos que conduzir este processo com tranquilidade".

Que tranquilidade? Em que país ele está vivendo?

O presidente do PSOL tuitou que Bolsonaro precisa ser detido, mas continua desautorizando agressivamente os parlamentares de seu partido que pedem o impeachment.

Bolsonaro tem que cair já. Estamos diante de uma emergência de grandes proporções e precisamos limpar o terreno para passar a discutir, a sério, como enfrentá-la.

Não há tempo sequer de seguir com o ritual do impeachment. Cabe forçá-lo a renunciar ou impor uma interdição psiquiátrica.

Deixá-lo na presidência é assistir ao colapso do Brasil.

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