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segunda-feira, 12 de abril de 2021
Uma revista cínica
sábado, 27 de março de 2021
Maria da Graça Meneghel, empresária
Uma das coisas curiosas em relação a cidadã Maria da Graça Meneghel, recriada como Xuxa, é que mesmo as pessoas no campo crítico continuam tratando-a apenas como se fosse a "rainha dos baixinhos", uma eterna apresentadora de televisão, no máximo fazem referência à encarnação anterior dela, como modelo.
Xuxa é uma capitalista. Uma empresária. Com uma vasta capivara relativa a essa condição — de dona de empresas.
Uma singela busca em um nome como Parque da Xuxa mostra tentáculos dela com a Justiça que a amante dos animais talvez queira esquecer. Antes Parque do Gugu, depois Parque da Mônica, o empreendimento no SP Market, em São Paulo, era gerido pela Lar's Empreendimentos (hoje na mão de outro grupo empresarial), que chegou a ser condenada por forjar a extorsão de um advogado — um cliente que tivera problemas no parque.
Outro braço da empresária (essa condição eterna de apresentadora apenas infantiliza o debate) era o Xuxa Water Park, que teve sérios problemas com o Ibama. A amiga dos animais queria construir o parque temático em uma área no litoral paulista, em Itanhaém, que era, segundo o Ibama, "abrigo de fauna e flora silvestre ameaçadas de extinção".
Jornalistas que não queiram apenas ser caixa de ressonância de um debate pueril podem também checar as aventuras da Xuxa International Corporation pelo mundo. Dica: fica nas Ilhas Cayman. Em 2005, durante uma investigação sobre lavagem de dinheiro, a PF ficou intrigada com uma movimentação de US$ 27 milhões da empresa. "Não trabalhamos com doleiros brasileiros", disseram os advogados dela na época. "Se alguma empresa que fizemos pagamentos usou a Beacon Hill, paciência". (A Beacon Hill era uma conta de doleiros.)
Xuxa tem e sempre terá vasto direito à defesa em relação a esse e quaisquer outros casos relativos às suas empresas. Até pela capacidade de pagar advogados gordos que os frequentadores de penitenciárias — aqueles que ela quer ver como cobaias — não costumam ter.
O que não pode acontecer é que, além de advogados graúdos, ela seja protegida por nossa imprensa miúda, como se fosse apenas uma moça sapeca com vozinha de criança.
Não, meus senhores e minhas senhoras. Xuxa é uma "International Corporation". A voz dela é bem mais grossa.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
100 anos de podridão
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Quantos mortos são necessários para que jornalistas chamem genocídio de genocídio?
No ano passado, no De Olho Nos Ruralistas, criamos uma editoria chamada De Olho no Genocídio.
Com esse nome: genocídio. Por que tanta gente resistiu e resiste tanto a dar o nome preciso?
Quantos mortos são necessários para que jornalistas chamem genocídio de genocídio?
Em meio à cobertura, busquei, como editor, ser ainda mais específico: cobrar cada ministro por seu papel na matança.
A série se chamou Esplanada da Morte. (Uma pessoa da equipe achou o nome forte demais. Todos os demais acharam que era isso mesmo.)
Mas... bem. Eu não acho que nossa bolha supostamente mais indignada tenha dado a repercussão devida ao material que produzimos.
De lá para cá, mais morte, mais genocídio. Com a assinatura desses ministros e de Bolsonaro e de outros personagens que (eu fiz questão) apareceram como cúmplices: os ministros do STF, o presidente da Câmara, o presidente do Senado.
Mas até agora não caiu completamente a ficha nos campos da resistência. Nem em nossa bolha.
Bolsonaro é um psicopata cercado de outros psicopatas. E agirá como tal — sem freios e sem remorsos.
Fux e Maia precisam ser cobrados com a ênfase devida. Suas prisões (com esse nome), solicitadas. Eles precisam ser escrachados. Pressionados para que a punição internacional de cada um seja ainda maior — caso continuem a não fazer nada — do que aquela já merecida.
Seus nomes precisam ser conhecidos mundialmente.
Os jornais estrangeiros não podem falar apenas de Bolsonaro.
Ele existe porque existe também Fux, o Genocida. Maia, o Exterminador. Alcolumbre, o Capanga. Toffoli, o Fiador.
Mas tudo bem que se comece com Fux e Maia.
Com quem está no topo dessa cadeia da morte. Não apenas brasileira, como se vê.
Eles são criminosos de porte internacional. Que respondam por isso.
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
O Brasil está o quê?
"Chefe, o Brasil está quebrado".
Algumas frases têm farta chance de entrar para a história. Negativamente. Basta uma palavra mal escolhida.
O Brasil está o quê?
"Quebrado", diz Bolsonaro.
Fico a imaginar o presidente em um treinamento de mídia, repleto das próprias razões, a considerar suas soluções espontâneas melhores que as sugeridas pelos profissionais da comunicação.
E dizendo: "O Brasil está quebrado. Quebrado".
Os treinadores se olhando, coçando a cabeça, procurando um jeito de contar a ele que algumas palavras nunca devem ser ditas. "Presidente, veja bem..."
"O quê? Eu disse uma mentira?"
"Não, presidente, é que talvez isso não seja conv..."
"Está quebrado, pô! Eu não consigo fazer nada!"
"Sim, presidente, é que isso não se diz".
"O Brasil está quebrado! Culpa minha? Não. Culpa dessa imprensa. Dessa Folha de S. Paulo que não quer que eu governe".
"Presidente, essa parte da imprensa é boa, mas..."
"Mídia sem caráter! Com interesses escusos!"
"Certo, presidente, vamos desenvolver isso de uma forma, então, que não soe como se o senhor fosse o responsável por uma frase tão forte como aquela do início".
"Que frase? O Brasil está quebrado, pô".
"Quebradinho da silva".
"Que-bra-do!"
"Onde foi que vocês não entenderam isso daí?"
"O Brasil está quebrado e eu não consigo fazer nada, o Brasil está quebrado, chefe!"
sexta-feira, 1 de janeiro de 2021
Os jornais impressos estão morrendo e isso não é boa notícia
terça-feira, 22 de dezembro de 2020
Se viralizou, boa coisa não é
Cheguei a um ponto da carreira (e de um estado de desânimo em relação à humanidade) que quando um texto meu viraliza muito eu me pergunto: "Será que errei em algo?"
Digo isto em relação a uma publicação escrita na madrugada de ontem, no embalo do Fantástico, sobre o professor de Zootecnia em Minas que, segundo o Ministério do Trabalho, escravizava uma mulher chamada Madalena. E que, em uma tese de doutorado, escreveu: "Aos suínos, meu eterno respeito”.
(Não que o post original tenha viralizado tanto. Mas a publicação de um sociólogo dando crédito a um certo @castilhoalceu, meu perfil no Instagram, rede onde nunca publiquei nada, sim.)
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Eu me pergunto se errei em algo porque os fenômenos de viralização costumam estar vinculados a certo efeito de manada, acrítico. Não necessariamente, é bem verdade. Mas em muitos casos, sim. Certamente o professor Dalton terá de se ver com a Justiça, mas fico a pensar se não ajudei a sociedade a saciar sua necessidade cíclica de se proclamar civilizada. Como se, em uma sociedade especificamente sem Daltons (e seus irmãos de fé), fôssemos nos tornar melhores.
Em princípio a ideia do texto era soar humanista. Mostrar que o professor que explorava uma mulher negra não se lembrou dela em um momento-chave. Preferiu agradecer aos porcos. Teve gente que pensou no documentário "Ilha das Flores". Houve até quem invocasse George Orwell. (O máximo que fiz foi me lembrar do "Animals" do Pink Floyd.)
Mas aí li muito comentário desumanizador. Como se a reação civilizada fosse pendurar o professor em algum poste, arrancar dele qualquer resquício de dignidade. E nessas horas eu temo, sinceramente, que uma crônica sobre as dedicatórias de um doutor escravista possa ter soado parecida com a vociferação de algum Datena qualquer, tenha dialogado excessivamente com o jornalismo cão — já que estamos no campo das metáforas bestiais.
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Claro que avaliar depois o resultado do que escrevemos pode soar injusto em relação às motivações. De qualquer forma eu me sinto não arrependido, mas cabreiro. Por que tanta coisa elaborada que a gente escreve, sem algum vilão definido no discurso, ganha repercussões pífias? Por que textos com nuances, com reflexões supostamente mais sutis (nesse caso até tive alguma pretensão nesse sentido, não sei se bem sucedida) entram em um limbo das publicações, mesmo entre pessoas acostumadas a raciocínios mais elaborados, mesmo em nosso acanhado campo da resistência?
Até porque, como escrevi no texto sobre Madalena, a família Dalton é uma família de classe média. Sim, ele é um professor universitário, o que torna a história mais macabra. Mas não é — apesar da violência explícita que protagonizou — o representante mais exato de nossas elites genocidas. E eu creio (sinceramente creio) que precisamos tomar as elites genocidas como alvos preferenciais de nossas exclamações e mobilizações e protestos.
(Espero que ninguém distorça o texto. Sou a favor de uma punição dura para esse senhor e aquelas senhoras. Mas que seja reparadora, em termos financeiros. E sou a favor de que sejam discutidas políticas públicas de prevenção. Que voltemos a discutir a miséria e a fome e a infância e a exploração do trabalho, para muito além de casos caricaturais.)
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Sei que tudo isso soa muito rabugento. "Alceu nunca está feliz". (Este texto não será viralizado e ninguém dirá que @castilhoalceu nunca está feliz.) E, bom, é isso mesmo. Nós, eremitas e leitores vorazes do "Lobo da Estepe", podemos até nos sentir injustiçados em relação a certas hostilidades e invisibilidades (tanta gente por aí sem ter o que dizer com tanto espaço) intrínsecas a esta nossa sociedade adoecida, mas ao mesmo tempo... desconfiamos.
Essencialmente desconfiamos. Não deixo de reconhecer que o mundo e este país implodido precisem de reações mais contundentes em relação à desigualdade estrutural. Que passa pelo racismo. Em algum momento, porém, desconfio que esta nossa gramática não seja exatamente o contraponto devido ao massacre — a partir do momento que seja percebida também como massacre, e não algo que contribua para algum resgate civilizatório.
terça-feira, 17 de novembro de 2020
Direita nadou de braçada na eleição e esquerda acha que ganhou
Como estou em dia sincericida, vamos lá: é assustador o quanto a esquerda brasileira enxerga o país a partir de sua bolha urbana.
Não, gente, o PSOL não venceu as eleições. O PSOL elegeu 89 dos 58 mil vereadores espalhados pelo Brasil.
Vou repetir: 89. De quantos? 58 mil. Porcentagem: 0,15%.
Essa renovação ocorre principalmente em determinadas capitais do Sudeste, Sul e Nordeste. Espalha-se por algumas cidades das regiões metropolitanas, algo do interior paulista. E só.
Nem tudo é negativo (Boulos é, de fato, uma novidade na política brasileira) e não é preciso se jogar na linha do trem, mas também não é o caso de hipertrofiar o caminho eleitoral de forma redentora — porque o que continua a vir aí é chumbo grosso.
Literalmente. A quantidade de gente violenta eleita ao longo do país deveria nos soar como assustadora. Muito legal acenarmos para um país que eleja mulheres negras e transexuais, mas isso significa exatamente uma mudança para quando? Décadas?
Até lá essa gente violenta terá destruído a Amazônia e o Pantanal e acabará de destruir o Cerrado. E o clima e o planeta.
Estamos a comemorar de forma hipertrofiada (sim, comemoremos) as migalhas e a esquecer o conjunto da obra — esse país extraordinariamente desigual e violento e não exatamente configurado a partir de uma ou outra ilha civilizatória.
Durante algumas semanas, como editor do De Olho nos Ruralistas, tentei emplacar algumas pautas sobre esse país dos grotões. Essas pautas, sinto dizer, foram solenemente ignoradas. Por quê? Porque o país se lixa — a esquerda inclusive se lixa — para os povos do campo, para a centralidade da questão agrária na formação de sua identidade. Urbana inclusive.
No domingo fizemos cinco lives em uma, das 17 às 22 horas, para algumas testemunhas. Para discutir o quadro eleitoral no conjunto dos 5.570 municípios (para além de nossas bolhas), impacto da eleição na Amazônia, contexto mundial etc. Bloco menos visto? Aquele com os povos do campo: uma quilombola, um indígena, uma camponesa.
Precisamos deixar de fazer inclusão para inglês ver. Ou para aplacar nossa consciência de classe média subserviente ao poder, ao poder de fato, o poder dessa violência patrimonialista de 500 anos, reciclável, uma reciclagem que ocorre também a partir dessa nossa distração estatística — a de enxergar enxurrada onde a mudança acontece a conta-gotas.
Por aqui eu votei nas indígenas do Jaraguá e elas não foram eleitas. Em Porto Seguro a candidata do PT renunciou, a mando do governador e do senador, esses líderes que a gente sintomaticamente chama de caciques (no país do voto de cabresto e do curral eleitoral), para desespero do candidato a vice, um cacique de fato, um indígena. E o candidato apoiado pelo governador e pelo senador, no fim das contas, foi derrotado.
Vivemos uma Síndrome de Estocolmo da realpolitik. A gente começa a chamar um canalha como Eduardo Paes de Dudu na mesma medida que chama ácido de "doce" ou drogas sintéticas de "bala". A gente infantiliza a violência e age como avestruz, como se não estivéssemos vivendo um golpe, como se não estivéssemos assistindo a um genocídio, como se não vivêssemos em um país que celebrou torturadores e passou a se mover sob o signo das arminhas.
O que queremos ser? O Barroso? Incorporar essa falsa polidez, essa condição de arautos do bem estar, vestais do otimismo (enquanto ele e os colegas legitimam a barbárie), desenvolver aquele rosto corado, a fazer de conta que toda a violência absurda que vivemos no campo e na cidade não esta aí, com a boca escancarada e cheia de dentes, deflagrada por aqueles mesmos com quem a gente passa a pactuar? Em que momento exato a gente passou a acreditar na tal "festa da democracia"?
quinta-feira, 24 de setembro de 2020
Cinco minutos para Hitler, cinco minutos para os judeus
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Falta iogurte em Buenos Aires e jornalismo na Folha
A correspondente da Folha em Buenos Aires não encontra seu iogurte no supermercado e decide escrever uma reportagem. Vejam, não uma crônica, mas uma reportagem sobre os "produtos que somem das lojas" e a política de preços do governo argentino.
Ela não ouviu, digamos, uma dúzia de pessoas sobre a falta de produtos, não fez o que chamamos no jornalismo de "fala, povo". Algo que poderia dar uma certa aura empírica ao levantamento. O relato é testemunhal: falta iogurte no supermercado de Palermo.
A partir daí, como observa o Eduardo Sterzi, ela passa a ouvir vozes contrárias à política de controle de preços — ligada à pandemia — de Alberto Fernández. Mais precisamente, dois economistas e o presidente da Federação Argentina de Supermercados.
Poucos relatos poderiam ser tão representativos dos rumos do jornalismo. Um iogurte. No meio do caminho não havia um iogurte. O iogurte específico que ela compra, natural, não qualquer iogurte. Em pauta, a política de preços do governo argentino.
Correspondentes brasileiros em Buenos Aires não existem para cobrir apenas a Argentina, são uma espécie de "enviados especiais à América Latina". De Palermo ela fala sobre Maduro (outro dia tirou foto com Guaidó) e Bolívia, Paraguai e México, igual.
Mais ou menos como os correspondentes em Nova York, que se sentem autorizados a decidir sobre o mundo (política, economia, guerra, insurreições, ambiente, gastronomia e futebol) a partir das redações — ou, agora, diante de suas estantes.
Buenos Aires e Nova York seriam, mais ou menos, equivalentes ao tal iogurte. Um jornalismo por amostragem mínima. Você lê o NY Times e... voilá: estaria ali o microcosmo de todas as tendências econômicas e políticas deste planeta, este cantinho do universo.
Fiquei a procurar um conto que eu julgava de Borges, mas não achei. Nele o narrador se propõe a fazer a descrição do globo a partir dos mínimos detalhes geográficos de um determinado canto, digamos, do nor-noroeste da Argentina. A obra levará décadas.
O jornalismo e a ciência têm a pretensão de flagrar determinadas sínteses. Para que não caiamos naquele império (aqui sim eu sei que o microconto é de Jorge Luis Borges) onde o colégio de cartógrafos passou a fazer um mapa do tamanho exato do globo.
E aí a gente busca o universal em alguma situação particular. Com títulos e manchetes que tentem sintetizar o tema. O que não significa bater o olho numa gôndola e gritar "eureca". A política de preços na Argentina, por exemplo, não gira em torno do iogurte.
segunda-feira, 6 de julho de 2020
A música sublime de Ennio Morricone
Morricone soube ser sublime em um gênero muito específico, o spaghetti western. Ao musicar as obras mais importantes de Sergio Leone.Alceu Castilho
Quando Ennio Morricone recebeu o Oscar honorário pela carreira, em 2007, disse — ele falava com a voz embargada — que aquilo não representava um ponto de chegada, mas um ponto de partida.
Aquele homem com uma boina era Ennio Morricone.
‡ (1928-2020)
quarta-feira, 1 de julho de 2020
Quem participa de governo genocida, é genocida
terça-feira, 23 de junho de 2020
Divertindo-se até a morte
Alceu Castilho
sexta-feira, 12 de junho de 2020
Quem não está na resistência a Bolsonaro também é genocida
Alceu Castilho
terça-feira, 9 de junho de 2020
Um genocídio dentro do genocídio
Alceu Castilho
segunda-feira, 27 de abril de 2020
Doria também faz parte da história brasileira do horror
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Nota de repúdio às notas de repúdio
sábado, 18 de abril de 2020
É hora de enfrentar os milicianos, fascistas e genocidas
Alceu Castilho
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Precisamos derrubar Bolsonaro, urgentemente, em nome da vida
Alceu Castilho
terça-feira, 7 de abril de 2020
Eleitorado de Bolsonaro não tem nada a ver com gado
Alceu Castilho