terça-feira, 9 de junho de 2020

Um genocídio dentro do genocídio


Alceu Castilho

Homens públicos em todos os níveis (federal, estadual, municipal) estão a promover um genocídio dentro do genocídio.

Como se tivessem prazer em transportar a lógica das bonecas russas (uma dentro da outra) para o terreno da matança.

Penso isso a respeito da reabertura dos shoppings e de outros pontos de comércio. Não contentes em estimular o contato social em pleno crescimento da pandemia, os hipócritas que nos governam ainda restringem o horário. Claro. Se é para ter concentração de gente, por que não concentrar ainda mais, não é mesmo?

Aquela reabertura de shopping em Blumenau foi tomada como um capítulo especial da barbárie brasileira. A entrada macabra nas lojas ao som de saxofone.

Corria o longínquo dia de 22 de abril de 2020.

Um mês e meio depois, esse sax dos genocidas (Hamelin ficou desatualizado) inspira prefeitos e governadores de todo o país. 

(Bolsonaro, psicopata, não precisa de histeria de massas.)

No fundo estamos a adaptar a lógica destruidora do capitalismo — crises dentro das crises — para o campo do genocídio.

Já sem as máscaras da suposta alegria. As pessoas estão tristes nas filas dos shoppings, elas encarnam o horror. Mas ainda há quem veja nisso algum resquício de normalidade.

E com isso vamos nos acostumando a encaixotar indignações dentro de indignações, até que o último grito fique sufocado no último lamento triste de um simulacro de saxofone.

Da suposta alegria à entropia. Abraço de afogados a seco, sem álcool, sem carnaval, sem distrações, o consumo exacerbado pelo próprio consumo exacerbado, uma fila na lotérica para que os genocidas sorteiem o próximo que vai morrer.

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