Luis Felipe Miguel
Decotelli parecia um triunfo daqueles que planejam "educar" o governo Bolsonaro. Um sujeito discreto, que garantia nem ter perfil em redes sociais. Nomeado com o intuito de reduzir tensões com os outros poderes - mas, quem sabe, também com escolas e universidades.
Decotelli parecia um triunfo daqueles que planejam "educar" o governo Bolsonaro. Um sujeito discreto, que garantia nem ter perfil em redes sociais. Nomeado com o intuito de reduzir tensões com os outros poderes - mas, quem sabe, também com escolas e universidades.
Entrou falando em fazer uma gestão "técnica", embora não entenda nada da área de seu ministério. Mas tinha o aval do Guedes e sinais, fortes sinais de uma radical inclinação privatista.
Para alguns, um ministro quase perfeito.
Rapidamente, porém, ele se revelou culpado de crime de falsidade ideológica, tal como tipificado no artigo 299 do Código Penal. Apresentava-se como doutor pela Universidad Nacional de Rosario, embora sua tese tenha sido reprovada pela banca.
É tipo um time dizendo que foi campeão, embora tenha perdido a final.
É curiosa a relação dessa direita com a universidade. Vivem nos agredindo, tentam nos destruir. Dizem que não fazemos nada que presta, que somos um desperdício, que nossa influência é perversa.
Afirmam que exigências legais de diplomas são "reservas de mercado" nocivas à livre concorrência.
Desprezam acadêmicos. Guiam-se por youtubers.
No entanto, não resistem a inventar títulos universitários, na tentativa de ganhar legitimidade.
Witzel criou para si um doutorado em Harvard. Ricardo Salles, um mestrado em Yale. Sara Winter falou em entrevista que era bacharel em Relações Internacionais. Damares chutou forte: atribuiu-se o título de mestre em Educação e Direito Constitucional e da Família. (Depois, saiu-se com a melhor explicação de todas: "Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico".)
É grave, mas é mais grave ainda para alguém nomeado para o MEC - órgão que é, afinal, o responsável último pela legitimidade dos diplomas acadêmicos no Brasil.
Depois da denúncia, Decotelli alterou seu currículo Lattes. Até o momento, não veio a público dar nenhuma desculpa.
Um desqualificado no ministério Bolsonaro não causa espanto. Nem por isso devemos julgar normal.
O novo ministro não tem condições - nem técnicas, nem morais - de ocupar o cargo. Precisa ser substituído.
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