Roberto Romano da Silva (antipetista furibundo)
Sobre o arrependimento de Lya Luft.
A responsabilidade de uma pessoa aumenta na medida de suas informações intelectuais. Quando alguém chega ao ponto de escrever livros destinados ao público, sua capacidade de compreensão de fenômenos sociais, econômicos, políticos, ideológicos deve ser mais ampla e profunda. Se tal pessoa decide, apesar de conhecer bem a cena em que os interesses se movem, apoiar alguém que faz o elogio da tortura, despreza as mulheres, odeia os homossexuais, debocha de quilombolas e de indígenas, temos duas razões. Ou possui a mesma ideologia assassina ou é covardemente cúmplice. Até hoje se discute a opção de Heidegger pelo nazismo. Tratando-se de um filósofo poderoso, a opção não permite desculpas. No máximo é possível relativizar sua atitude para tentar colher em seus livros algo útil para entender a tragédia humana.
Não sou rigorista. Todo mundo erra. Mas existe graduação nos erros. Dizer não existir alternativa na eleição de 2018 não exime de responsabilidade, agrava. Existia sim alternativa. Livremente a escritora optou pelo pior. Ela, com certeza, conhece as teses de Sartre e de toda a filosofia sobre a liberdade. Ninguém apertou seus dedos para que aplicasse na urna eletrônica o número de Bolsonaro. Aceite que errou, confesse. Mas não queira enganar os outros seres humanos com sofismas. Havia coisa menos ruim na falta de coisa melhor como ela diz. E cá para nós, entre um professor de filosofia e um fascista, a escolha no rumo do melhor não era tão árdua. Bastava pensar que, para além dos erros, o partido de Haddad nunca prometeu matar oponentes, nunca desprezou negros, índios, mulheres, nunca elogiou a ditadura e o assassino Ustra. Volto a Sartre: a desculpa da escritora é evidência clara de má fé. Que ela e todos releiam O Ser e o Nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário