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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Bolsonaro oferece 400 mil mortos ao lúmpen-milicianato

Bolsonaro deu voz aos que viviam nas sombras, esgueirando-se nos escuros da história nunca visitados pela teoria política

Tio Rei

A instalação da CPI da Covid mexe com os bofes de Jair Bolsonaro. Agride o seu senso de onipotência —injustificado segundo um crivo objetivo, mas compreensível se visto por lentes clínicas. O golpista de primeira hora, que nunca precisou de comissão de inquérito ou de oposição organizada para pregar o rompimento da ordem —como provam os atos antidemocráticos que patrocinou já em 2019—, não aceita que sua obra seja questionada. Os, até agora, mais de 400 mil mortos são o seu grande legado ao lúmpen-milicianato que o aplaude.

A política sempre deve ter precedência na análise da vida pública, embora os dados de personalidade não possam jamais ser ignorados. Uma leitura mais aberta de Maquiavel sugere que a “fortuna” e a “virtù” —a história herdada que condiciona alternativas e as escolhas ditadas pela personalidade— também podem ter um enlace negativo. Em vez de surgir o Príncipe, eis que aparece o ogro, que a democracia tem de esconjurar. Ou morreremos todos.

Assim, é claro que, ao não arredar um milímetro das posições as mais estúpidas e reacionárias, que muitos enxergam danosas e contraproducentes para seu próprio futuro político, Bolsonaro age com cálculo. Ele deu voz a esse público que existia nas sombras; que se esgueirava nos escuros da história; que se acoitava nos desvãos nunca visitados —não de modo suficiente ao menos— pela teoria política.

domingo, 14 de março de 2021

Nós e eles

O resto do mundo todo em um gigantesco esforço logístico para providenciar vacina, lockdown, máscara, respirador e o Brasil em um gigantesco esforço logístico pra organizar bingo secreto, balada clandestina, suruba itinerante, falso velório e botequim disfarçado de pet shop.

Ricardo Coimbra



quarta-feira, 3 de março de 2021

Brasil apostou em estratégia genocida para combater covid-19, diz Atila Iamarino

Coronavírus: Brasil apostou em estratégia genocida para combater covid-19, diz Atila Iamarino

Luis Barrucho

Da BBC News Brasil em Londres

O Brasil adotou uma estratégia "genocida" ao apostar na chamada imunidade de rebanho para combater a covid-19, o que possibilitou o surgimento de uma nova variante mais perigosa e que vem causando mais mortes, diz à BBC News Brasil o biólogo e divulgador científico Átila Iamarino.

A imunidade de grupo (também chamada imunidade de rebanho) ocorre quando uma parcela grande o suficiente da população desenvolver uma defesa imunológica contra o coronavírus. Nesse cenário, a doença não consegue se espalhar porque a maioria das pessoas é imune e ela passa a ter grande dificuldade para encontrar alguém suscetível.

O problema dessa estratégia, apontado desde o início por especialistas, é que ela teria um enorme custo humano — muitas mortes aconteceriam até que uma eventual imunidade de rebanho fosse alcançada. Outra questão importante nesse sentido é que não se sabe por quanto tempo a imunidade de alguém infectado pelo Sars-CoV-2 dura, se ela é de curto, médio ou longo prazo.

Em meio ao que especialistas consideram o pior momento da pandemia no país, Iamarino defende a adoção de um confinamento mais rígido e a aceleração da vacinação.

Ele critica ainda o governo federal, que acusa de ter "sabotado" Estados e municípios.

E vaticina que uma catástrofe pode estar prestes a acontecer se o que vimos em Manaus se repetir no restante do Brasil.

Doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), Iamarino concluiu dois pós-doutorados estudando a disseminação (ele prefere o termo "espalhamento") dos vírus e a forma como esses organismos evoluem. Um desses pós-doutorados foi na própria USP, e o outro na Universidade Yale, nos Estados Unidos.

Em sua carreira, o pesquisador de 37 anos estudou vírus como ebola e HIV.

Iamarino se tornou conhecido por sua participação no canal de YouTube do Nerdologia, um dos maiores do país. Desde o início da pandemia, tem feito transmissões ao vivo sobre o novo coronavírus, com milhões de visualizações.

Confira os principais trechos da entrevista a seguir.

BBC News Brasil - O Brasil parece viver o pior momento da pandemia, tendo registrado um recorde na média móvel de mortes. A que se deve isso?

Atila Iamarino - Sabemos que há um componente sazonal no novo coronavírus, com mais casos no inverno do que no verão. Portanto, o Brasil está muito adiantado no aumento de casos — isso só deveria estar acontecendo daqui a alguns meses. Mas por que os casos estão subindo tão cedo e tão rápido?

A resposta se deve a uma combinação de fatores. De um lado, houve um movimento de abertura no fim do ano passado, com mais pessoas circulando sem restrições. De outro — e que considero o principal fator — temos a variante P.1, inicialmente observada em Manaus.

Estudos recentes apontam que se trata de uma cepa mais transmissível e que "dribla" o sistema imunológico, reinfectando quem já se curou.

Quando falamos de vírus, é natural que eles sofram mutações e se tornem mais transmissíveis. O que não precisa ser um processo natural é termos linhagens que escapam da imunidade. Essas linhagens só serão selecionadas quando o vírus continua circulando na presença de pessoas que já tiveram o vírus.

Foi o que aconteceu no Brasil e na África do Sul.

Nesse sentido, a nossa variante é fruto direto da estratégia genocida do Brasil de contar com as pessoas circulando livremente e construindo imunidade. Não é por acaso que surgiu aqui uma das variantes mais perigosas, demonstradamente perigosa.

BBC News Brasil - O que as autoridades deveriam ter feito?

Iamarino - O Brasil deveria ter se preparado melhor. Em vez disso, adotamos uma estratégia que cultivou um monstro e que, ao que tudo indica, está causando um surto de casos fora de temporada.

De fato, os hábitos sociais permitiram uma maior circulação do vírus. Apesar de estarmos em um período de baixa transmissão de doenças respiratórias, várias cidades do país já registravam alta ocupação de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).

Em vez de decretar um lockdown para restringir a movimentação das pessoas e conter o vírus, a aposta do governo para prover o mínimo de dignidade humana foi e continua sendo criar mais leitos.

Isso é jogar nos profissionais de saúde toda a responsabilidade de resolver o problema. Não se resolvem mortes no trânsito criando mais leitos UTI, mas sim com leis de trânsito. O mesmo se aplica à covid-19. É preciso diminuir o número de casos.

Mas o Ministério da Saúde não faz campanha para o uso de máscara e distanciamento social. Tampouco reconhece o lockdown como medida necessária para conter o avanço da pandemia. Falta coordenação federal para ações locais.

Temos agora um país economicamente pior, socialmente mais cansado e com profissionais de saúde exaustos, explorados e usados da pior maneira possível.

BBC News Brasil - O que nos resta fazer, então?

Iamarino - O que o restante do mundo fez: decretar um lockdown mais rígido e correr com a vacinação. Isso é o mínimo. O problema é essa falta de coordenação a nível federal.

De que adianta um município ou um Estado decretar um confinamento se as pessoas de municípios ou Estados vizinhos continuarem circulando? Isso faz com que a localidade tenha todo o prejuízo econômico e político de confinar sua população, mas sem o sucesso que poderia ter se essa ação fosse coordenada. A falsa impressão é que o esforço não funciona, quando, na verdade, ele está sendo sabotado a nível federal.

Por isso, digo que temos dois inimigos para enfrentar no Brasil. Um é a nova variante e o outro é a falta de estratégia do governo federal.

Como resultado, temos pronta a receita para que mais variantes perigosas surjam.

BBC News Brasil - Se nada for feito, o que acontecer?

Iamarino - Nossa estratégia genocida já causou mais de 250 mil mortes. Manaus (AM) e Araraquara (SP) já registraram mais mortes no início deste ano do que durante todo o ano passado. Se isso se repetir no país todo, vai ser um outro massacre.

Mas o principal problema desse tipo de estratégia é que estamos dando ao vírus a oportunidade de sofrer novas mutações, mais perigosas. Eventualmente, as vacinas podem não ser mais eficazes — e, se esse cenário se concretizar, poderemos não ter mais solução.

O Brasil criou sua própria derrota. Estamos demorando para vacinar e deixando o vírus circular livremente.

Agora, com a escassez global de vacinas, entendo que a situação esteja muito mais difícil. E estamos tentando comprar uma vacina que ainda não tem eficácia comprovada (a indiana Covaxin).

Diferentemente dos Estados Unidos, o Brasil tem capilaridade de vacinação. Há postos de saúde por todo o território nacional que podem dar vazão as doses. Mas agora faltam as doses.

BBC News Brasil - Alguns países, como Israel, já começaram a flexibilizar as regras. O Reino Unido também anunciou o afrouxamento de suas medidas. Em um contexto em que o mundo tenta retomar a normalidade, o Brasil pode se tornar uma pária internacional?

Iamarino - Eu diria que o Brasil vai continuar a pária que virou. Já não podemos viajar para a maioria dos países, nem em condição emergencial, desde antes do surgimento dessa nova variante.

Essa nova linhagem só reforçou o fechamento das fronteiras e essa situação deve permanecer daqui em diante. Se não mudarmos as condições que propiciaram o surgimento dessa variante, vamos gerar outras e estaremos sempre renovando os motivos para o mundo não receber brasileiros.

BBC News Brasil - O senhor foi duramente criticado quando, no início da pandemia, previu que o Brasil teria 1 milhão de mortos. Essa previsão nunca se concretizou. Por quê? Acredita ter se equivocado?

Iamarino - Acredito que os extremos dessas previsões continuam muito válidos. De um lado, países como Coreia do Sul, Taiwan, Austrália, etc, mostraram que o número de mortes pode ser mínimo. Do outro, a mortalidade em locais como Manaus evidenciou que o cenário mais pessimista não é fantasioso.

A capital do Amazonas tem um excesso de enterros até o mês de fevereiro de mais de 430 pessoas por 100 mil habitantes. Se extrapolarmos isso para a totalidade da população brasileira, temos 900 mil mortos.

Se os extremos continuam válidos, o meio do caminho é onde está a faixa de erro e a incerteza. Disso dependem as ações humanas. Há uma série de fatores de que não sabíamos.

Por exemplo, a eficácia das máscaras se revelou muito maior do que esperávamos, principalmente para evitar contaminados de transmitir o vírus para os outros. Tampouco sabíamos qual eficácia as medidas de confinamento teriam.

Estávamos, portanto, lidando com uma doença nova, para a qual não havia dados preliminares.

De qualquer forma, sabemos hoje que o melhor cenário é viável e existe, como observamos na Ásia. E que o pior cenário é possível, como também observamos no interior do Peru, no interior da Bolívia, em Manaus, em países que não são transparentes com os dados e em regiões onde não há estatísticas disponíveis.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Pesadelo generalizado

Ricardo Costa de Oliveira

O que acontece em Manaus, mortes pela falta de oxigênio e de insumos, é o possível cenário para outras grandes capitais brasileiras. Manaus é um estudo de caso pela reação negacionista da direita, inclusive fazendo protestos contra o isolamento social e o fechamento do comércio. O pai do Pazuello era um dos maiores empresários de Manaus e a família sempre teve negócios e o maior haras da cidade equatorial, frequentado por muitos generais. 

Todos os epidemiologistas sérios sabem do crescimento da pandemia, nos Estados Unidos já morrem mais de 4000 pessoas por dia com outro incapaz como o moribundo Trump, a referência fracassada de Bolsonaro. 

Outra imensa vergonha é saber que o avião da FAB está incapacitado em levar oxigênio para Manaus e pedirão ajuda aos estrangeiros. 

O Brasil será o último grande país a iniciar a vacinação pela burrice e incapacidade dos bolsonaristas, tudo resume o fracasso e a incompetência destes militares de extrema direita, que ocupam o poder no Brasil desde o golpe de 2016 e a cada dia se aproxima a derrota muito mais grave pela Covid do que a derrota de outra ditradura militar vizinha nas Malvinas, lamentavelmente tudo para mostrar que militares são incompetentes na Saúde e na Presidência, o total fracasso dos bolsonaristas se aproxima e já chegou.

sábado, 27 de junho de 2020

A curiosa relação da direita com a universidade

Luis Felipe Miguel

Decotelli parecia um triunfo daqueles que planejam "educar" o governo Bolsonaro. Um sujeito discreto, que garantia nem ter perfil em redes sociais. Nomeado com o intuito de reduzir tensões com os outros poderes - mas, quem sabe, também com escolas e universidades.

Entrou falando em fazer uma gestão "técnica", embora não entenda nada da área de seu ministério. Mas tinha o aval do Guedes e sinais, fortes sinais de uma radical inclinação privatista.

Para alguns, um ministro quase perfeito.

Rapidamente, porém, ele se revelou culpado de crime de falsidade ideológica, tal como tipificado no artigo 299 do Código Penal. Apresentava-se como doutor pela Universidad Nacional de Rosario, embora sua tese tenha sido reprovada pela banca.

É tipo um time dizendo que foi campeão, embora tenha perdido a final.

É curiosa a relação dessa direita com a universidade. Vivem nos agredindo, tentam nos destruir. Dizem que não fazemos nada que presta, que somos um desperdício, que nossa influência é perversa.

Afirmam que exigências legais de diplomas são "reservas de mercado" nocivas à livre concorrência.

Desprezam acadêmicos. Guiam-se por youtubers.

No entanto, não resistem a inventar títulos universitários, na tentativa de ganhar legitimidade.

Witzel criou para si um doutorado em Harvard. Ricardo Salles, um mestrado em Yale. Sara Winter falou em entrevista que era bacharel em Relações Internacionais. Damares chutou forte: atribuiu-se o título de mestre em Educação e Direito Constitucional e da Família. (Depois, saiu-se com a melhor explicação de todas: "Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico".)

É grave, mas é mais grave ainda para alguém nomeado para o MEC - órgão que é, afinal, o responsável último pela legitimidade dos diplomas acadêmicos no Brasil.

Depois da denúncia, Decotelli alterou seu currículo Lattes. Até o momento, não veio a público dar nenhuma desculpa.

Um desqualificado no ministério Bolsonaro não causa espanto. Nem por isso devemos julgar normal. 

O novo ministro não tem condições - nem técnicas, nem morais - de ocupar o cargo. Precisa ser substituído.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Quem diria...

Tiago dos Santos Rodrigues

A Rosana Pinheiro-Machado disse ontem [com ressalva, é verdade] que o "eu avisei" seria "sintoma da vaidade política descomprometida".

Uma palavrinha quanto a isso:

Primo Levi narra [logo no início do seu "A trégua"] que assim que foi liberto do campo de concentração de Auschwitz pelos soviéticos, viu nos olhos dos soldados soviéticos algo que não via no olhar dos soldados alemães:

Vergonha.

Os soldados soviéticos sentiram vergonha - não de si, mas pelos alemães - ao se depararem com o horror de Auschwitz.

E não podia ser diferente. O fascismo é a ausência de vergonha - não somente da própria, mas da vergonha "alheia". O fascista não se escandaliza, não enxerga limites e interdições morais, seja em si, seja nos outros.

O fascismo só se cria no meio de uma sociedade desavergonhada, no meio de gente desavergonhada. É necessário que aprendamos a ter vergonha. É preciso ensinar as pessoas a terem vergonha. É forçoso fazermos as pessoas passarem vergonha.

O "eu avisei" é, nesse sentido, pedagógico. As pessoas precisam passar vergonha em razão de suas ações errôneas, por suas ações censuráveis - como, por exemplo, dar apoio a quem promove toda a sorte de discriminações.

As pessoas precisam perceber o quão cegas se encontravam, precisam perceber que a barbárie estava diante de seus olhos, e elas, estúpidas, se negaram, culpavelmente, em enxergar.

É imperioso que se jogue isso na cara delas.

Vergonha. A política tem que ter vergonha. Só há decência e responsabilidade onde há vergonha, vergonha própria e vergonha alheia.

Acréscimo [1]: certamente que eu não sugiro aqui que se deva "humilhar" as pessoas. Uma pessoa envergonhada é diferente de uma pessoa humilhada - ainda que a segunda possa ser, às vezes, as duas ao mesmo tempo. É preciso saber usar o "tom", ter um pouco de tato e de noção.

A questão, para mim, é demarcar aos nossos irmãos e irmãs que há coisas inaceitáveis e censuráveis, que não se tratam de simples erros.

Se eu faço um cálculo matemático e por uma desatenção ou ignorância qualquer da fórmula dou como resultado um produto falso, isso é [estritamente] um "erro" - e errar é humano, é passível, é aceitável.

No entanto, admitir que possa haver "sacrifícios humanos" [e o discurso e a política do ódio, o discurso e a política de discriminação são isso: a admissão de sacrifícios humanos] não é "erro", é "pecado".

É falta moral, é falta ético-política, não se opta por isso [pura e simplesmente] em razão de "ignorância", mas por "falta de vergonha". Claro que há de se distinguir as pessoas: eu me refiro àquelas que realmente tinham um mínimo de consciência do que o bolsonarismo se tratava.

E há muitas pessoas que tinham consciência da coisa - e essa consciência não pode ficar tranquila. A consciência tranquila é a pior assassina que há.