sexta-feira, 12 de junho de 2020

Quem não está na resistência a Bolsonaro também é genocida


Alceu Castilho

Vejo o seguinte título: "Manifestação em Paris denuncia genocídio em andamento no Brasil".

(Observem: em Paris.)

No primeiro parágrafo, a palavra genocídio entre aspas.

Por que entre aspas?

Neste momento, aqueles que precisam denunciar a matança política em curso (o genocídio) ainda colocam a palavra entre aspas.

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Vivemos ainda uma etiqueta de milênios atrás, aqueles meses anteriores à pandemia. Como se ainda fosse possível ter modos diante dos assassinos, uma certa compostura para pedir, a quem tenha alguma nesga de poder, alguma eventual intervenção.

— O senhor poderia pedir àqueles senhores para não fazer isso? Dizem que morrerão algumas centenas de milhares de pessoas. (Pigarro.) Passe-me o sal, por favor.

As pessoas na sala de jantar são as pessoas na sala do genocídio.

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Enquanto isso, a barbárie avança e a assistimos nesse tom abaixo, como se a nossa estupefação fosse uma arma cândida contra os raivosos.

Os raivosos são os fascistas de mãos dadas com os histéricos. E aí não haverá mesmo respeito a leitos ou cruzes ou qualquer projeto de temperança.

Essa gente tem um líder genocida e (como um vírus) se alastra de forma destruidora, com a seguinte característica: destruição pela destruição.

E nós vamos nos esforçando para ter a mesma contenção implosiva de um Barroso, o mesmo alheamento insípido de um Toffoli, a mesma inexistência calhorda de um Aras.

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Lutamos contra a pandemia nas cordas, sem os restos de energia de algum boxeador estratégico para um contragolpe eficaz.

Decidimos apanhar nas cordas, sem reagir, sem ajudar o homem que perdeu o filho e recoloca as cruzes, assistindo (bem antes da pandemia, é verdade) à reunião dos covardes para dar pontapés em cada um de nós e nós seremos os próximos e mesmo assim nós (que nos entorpecemos tanto) paramos até de gritar nas janelas.

A doutrina do choque dos genocidas ocorre de forma verborrágica, ela substituiu a "violência da calma" da qual falava Viviane Forrester.

A violência da calma somos nós mesmos que a praticamos agora, nós, as vítimas, ou aqueles que deveriam proteger as vítimas, agora uma violência suicida e da autocensura, uma síndrome de Estocolmo na qual a cada dia se sequestra um resquício de capacidade de reação.

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Como se tivessem colocado kriptonita nas máscaras.

Sugaram nossas energias. E esses vampiros fascistas berram cada vez mais para que essa energia continue desaparecendo, a kriptonita são os próprios berros, ela vem em forme de aerossóis e perdigotos.

Precisamos reagir e isso não passa somente pelo lamento tímido de cada erupção do horror.

Não basta também apenas chamarmos o Bolsonaro de genocida.

(Sem aspas, por favor.)

Genocida é cada um daqueles que tem algum milímetro de poder.

Devemos agir como se cada um deles (Aras, Toffoli e suas turmas) fosse muito mais perigoso que esses invasores de hospitais e destruidores de cruzes.

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Quem não estiver do lado da resistência é fascista (e genocida) e precisa ser enfrentado como tal.

Sem palavras chocas.

Neste momento sobram tumbas e faltam heróis.

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