sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Os jornais impressos estão morrendo e isso não é boa notícia


Tendência da década: o fim dos jornais impressos.

Hoje a Folha chegou aqui em casa com 24 páginas. E sem publicidade.

(A rigor o jornal traz dois editais de leilões de imóveis e um comunicado igualmente pequeno da Vivo. E apenas um quadradinho de divulgação de óbito. Absolutamente nenhum anúncio propriamente dito, anúncio de empresa ou governo, aquilo que financiava os jornais.)

Isso a Folha, uma das únicas candidatas a entrar sujando nossos dedos na década de 30, junto com O Globo. O Estadão e tantos jornais regionais moribundos ficarão, no máximo, com suas plataformas digitais.

Nada disso é necessariamente positivo. Pois não existe vácuo na política (e jornais fazem política). Esse vácuo já está sendo ocupado por gente pior ainda que os donos dos meios de comunicação brasileiros — aquela nossa velha oligarquia estúpida e golpista.

Apenas residualmente os veículos pequenos se esgueiram nesse cenário. E somente uma fatia desses veículos pequenos são comprometidos com o que de melhor fazia o jornalismo (quando fazia), por exemplo a defesa de direitos elementares, com uma ou outra prática civilizatória.

Influenciadores, em sua imensa maioria, não têm compromisso nenhum com certos modos da imprensa burguesa. Estão inseridos de forma egoica na sociedade do espetáculo sem aquelas preocupações, aqueles pruridos e aqueles disfarces. E sem, como já aconteceu e não mais acontece, um mínimo de influência dos trabalhadores que faziam os jornalões, de gráficos a jornalistas.

A Folha de S. Paulo de hoje tem 24 páginas e quase nenhuma delas relevante. À exceção de um texto sobre idosos e Covid, destacado na capa e escanteado na página interna, temos de fazer um exercício para localizar algo que seja próximo do que um dia chamamos de notícia ou reportagem. Algo que fique, algo que suscite, algo que nos arrebate e faça diferença para o debate público.

E a tendência é que tudo isso piore. Piore nos jornais e piore nas redes sem contenção (alguns veem nisso pura democracia) que construímos, no mesmo tecido caótico onde foi erigida a cultura do ódio e dos cancelamentos. Aquilo que circula no whatsapp dos tiozões é a escória daquilo que criticávamos — mais ou menos como se tivéssemos de sentir saudade dos sequestradores anteriores.

Enquanto isso, os setores contra-hegemônicos continuam a se preocupar muito pouco com comunicação. Muitos estão convictos de que, de quatro em quatro anos, em meio a esse cenário estarrecedor, virá muita coisa boa, algo redentor e politizado e libertador e poético.

Não, não virá. Se deixarmos a disputa pela comunicação no ponto morto, à deriva, estaremos lutando com carrinhos de choque (aqueles dos parquinhos) contra veículos rebaixados — a regressão também é estética, afinal — e armados até os dentes.

Imaginem o naipe de cada piloto dessa frota fascista. E adivinhem de que lado nossas togas cafonas ficarão.

Seremos esmagados.

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